quinta-feira, 30 de novembro de 2017

ENCANTOS DE RACILVA - 01 -


ENCANTOS DE RACILVA

01

PRICIPIO


Eram pouco mais das cinco horas da tarde e o local estava repleto de gente, em sua maior parte, os bebedores de cerveja, rom, uísque além da pura cachaça. Na entrada da quitanda tinha afixada a placa com o nome sugestivo: “O Bezerro de Ouro”. Alguém colocou essa placa, não se sabe quem. Contudo, a comenda estava lá, afixada e sempre a balançar com sua zoada característica quanto o vento soprava de um lado para outro. Carros passavam, outros ficavam parados, mecânicos entravam e saíam do Bar, poucos dormiam o sono da verdade, encostados na parede do lado de fora. Coisas de Bar. De imediato, um carro estacionou logo em frente e logo desceu um homem robusto, não gordo. Seu nome era Othon. Para se livrar da lama sacudida por outros carros, Othon se esquivou, passando pela frente do seu carro. Logo em seguida ainda limpou o cós da calça e, de imediato, entrou no Bar repleto de gente, como era de costume nos finais da tarde, em dias de semana, menos aos domingos, depois do meio dia. À sua frente, vinha Mirtes, de braços abertos para abraça-lo, incontinente ao soltar pilherias gostosas
Mirtes
--- Meu amado! Há quanto tempo? - - relatou cheia de graça
Othon
--- Ora, ora! Eu estive aqui há dois dias! - - e se deixou abraçar
Othon nem prestou a atenção as gorduras de peixes, carnes, frangos que a mulher tinha pregada no corpo. A zoada dos beberrões era mais tensa que a sujeira do corpo da mulher, baixa e gorda. Logo em seguida, Mirtes arrastou pelo braço o senhor Othon para um lugar mais agradável, longe dos demais. Damas passavam com bebidas e comidas em suas mãos para servir aos seus clientes e logo avisado ao homem do Caixa.
Dama
--- Mesa 33! - - relatava.
Outras voltavam bem compostas e nem ligavam o novo cliente. Com certeza, já o conheciam, por certo. Mirtes chamou uma moça, novata, 22 anos, aparentemente, para seguir o homem que já estava sentado em uma cadeira com uma mesa quadrada e apensa um paliteiro como enfeite. Seu nome era Racilva. E foi lhe falando.
Mirtes
--- Cuide-a bem. É uma preciosidade da casa. - - piscou a vista.
E a conversa foi de imediato cuidada. Racilva, de poucas carnes, respondia apenas o que Othon indagava. De início, o homem declarou ser também do interior e há algum tempo se transferido para a Capital onde concluiu os seus estudos. Então, Othon trabalhava na Universidade e vivia solitário em um apartamento. Nunca fora casado até aquela data.
Othon
--- E a senhora já é casada? - - indagou curioso
Racilva
--- Eu, não. Sou do interior onde meu pai morreu de uma doença não sei qual. Eu trabalhei em casa de família, por pouco tempo. Após a morte de meu pai eu resolvi viajar para Natal. Eu já conhecia a cidade de poucas vezes. Mesmo assim, com dona Mirtes, que eu já conheço há tempos, mulher também do sertão, eu resolvi ficar até conseguir um trabalho.
Othon
--- Nunca teve namorado? - - indagou
Racilva
--- Só paquera de colégio. Quer dizer: escola, grupo. Mas dei de conta. Vivi em casa, trabalhando. Ou nas casas dos outros. Trabalhei, por algum tempo, na casa do coronel Ferreira como cozinheira. É o que faço de melhor. - -
Othon
--- A propósito: eu estou à procura de uma moça que saiba cozinhar. Eu moro só, em um apartamento. Faço minhas refeições da rua. Eu pergunto: você quer ir trabalhar em minha casa?
Racilva
--- E sua mulher? Não tem? –
Othon
--- Nunca tive. Nem separado ou desquitado. Vivo só e Deus. - - afirmou
Racilva
--- Será que é do seu gosto o que eu preparo? - - indagou sorrindo
Othon
--- Para quem se acostuma a comer em restaurante, come em qualquer canto. Não achas? Não culpo você. Certa vez, eu pedi um peixe e me trouxeram um caranguejo. Veja bem! –
Racilva
--- Que coisa! Como é que pode? - - sorriu
Othon
--- E você aceita ir trabalhar no meu AP? Pago mais de um salário. Tem folgas. A não ser que não queira o trabalho! –
Racilva
--- Vou ter que falar com Mirtes. Eu, aqui, não tenho salário. Pelo menos até agora. Ela não falou. Eu também não peço. Já tenho de tudo, um pouco.
Othon
--- Mirtes pode por areia? - -
Racilva
--- Areia? O que é isso? - - indagou curiosa
Othon
--- Negar, quero dizer. Você é linda, moça, tem seus bustos. Não lhe falta nada.
Racilva
--- O que eu tenho é somente meu. Ninguém pode mexer! - - alegou carrancuda
Othon
--- Eu sei disso. Um dia você pode casa, ter filhos. E por isso tem que se guardar. –
Racilva
--- Eu sou matuta. Mas matuta não quer dizer das brenhas. Moça do mato, por assim dizer.
Othon
--- Então! A minha oferta? –
Racilva
--- Vou falar. É longe a casa? –
Othon
--- Perto. Indo de carro, mais perto ainda. Você se acostuma logo! –
Racilva
--- Imagino! Tem praias? –
Othon
--- Só tem. Um mar e tanto! - - alegrou
Racilva
--- Eu quero conhecer o mar. Deve ser muito bonito. –
Othon
--- É um encanto. Pescadores, vendedores de peixe, o marulhar das ondas batendo nos rochedos além de peixes miúdos de pagar com a mão. Maravilhoso! - -
Racilva
--- Deve ser, sim. Eu lembro o rio de minha terra. Quando está cheio, é uma maravilha. Ninguém passa de um lado para outro. Nem caminhões. A pista fica coalhada de um lado a outro. Incrível!
Othon
--- No Nordeste, quando chove, o tempo muda.
Racilva calou.