quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

A MORTE NA ESTAÇÃO - 46 -

TUMULO
- 46 -
TRISTEZA 

O avião tocou o solo de Mossoró às três e meia da manhã do dia do sepultamento de Osni, pai de Othon e do restante da gente que o velho criou às custas de muito sacrifício na sua vida. Osni tinha 75 anos de idade quando morreu. O seu sepultamento ficou marcado para a manhã daquele dia, quando chegaram Othon, sua mulher Alice, os filhos Racílva e Hervê, engrossando na fila, a governanta Neta. Logo que desembarcou, Othon foi recebido por seu irmão Orlando e outro cavalheiro. Eles foram cumprimenta-lo cheio de muita tristeza com a morte de velho pai. Naquela oportunidade, a conversa girou em torno da morte de Osni
Orlando
--- Eu ainda estava em casa. Minha mãe estava por perto. Na ocasião eu vi o velho ficar de pé e indaguei o que ele sentia e nada me respondeu. Em seguida eu notei que ele ia cai por chão e de repente eu o segurei para evitá-lo vir ao barro. Nós estávamos na entrada de casa. Eu segurei com toda presa e fui ajudado por dois outros sobrinhos e levamos já sem sentido, ao pronto socorro do Hospital. Minha mãe veio em um carro logo após com outros familiares. Nós chegamos ao hospital e de imediato colocamos o pai nas mãos dos maqueiros que seguiram para uma UTI. Eu fui até a recepcionista e coloquei as identidades. Foi um horror. A minha mãe chegou calada e assim ficou. As9.30 os médicos deram a notícia que o velho não resistira ao derrame. Ele morreu sem nem saber que estava morto. Foi esse o drama. - - destacou choroso.
Othon
--- E nossa mãe? Como está aguentando? - -
Orlando
--- Ele é como sempre. Não reclama, não diz coisa alguma, não lamenta. Vive só calada. Calada mesmo. Não come coisa alguma. Água? Só quando alguém lhe fornece. Passa o dia junto ao caixão apenas a olhar, pensativa. - - relatou
Othon
--- É assim. Quantos anos de casada? - -
Orlando
--- Ela casou quando tinha 20 anos. Mas desde mocinha, ela se namorava com o pai. 15 ou16 anos. Era aquele namoro de sertão. Foi perdendo os irmãos. Tristeza. - - falou magoado.
Othon
--- É a vida. Vamos? - -
Eles chegaram em sua casa. Othon tomou a benção a sua mãe e esse o beijou. Ele apresentou a esposa, os filhos e a governanta Neta. Após às sete horas da manhã, a rua estava plena de carros, motocicletas e até um ônibus para levar gente. Apenas para levar. Um café para a anciã Anna e a mulher não quis. Forçou-se. Mas, mesmo assim, a mulher de 70 anos não quis ser servida. Anna e Osni era um casal que vivia a vida que Deus lhe deu. Até pouco tempo, ele dirigia seu carro levando cargas para municípios vizinhos. Depois parou com esse serviço. Já estava cansado do labor. Mas não deixou de lado o jogo de gamão com outros companheiros na bodega do bairro onde morava. Era de manhã e à tarde, de domingo a domingo. Conversas sobre política e custo de vida. Naquele dia, não tinha gamão e política. Era a hora sagrada do seu sepultamento. Morrera mais um jogador de gamão. Os demais jogadores já estavam a postos para os sermões quando chegassem a porta do tumulo. A anciã Constança, velha de busto amplo que segurava na porta de sua casa, estava apenas a olhar o movimento na residência do velho Osni. A mulher tinha uma encrenca com Anna desde que a mulher começou a namorar com Osni, pois as duas ficaram de mau. Havia uma aposta de quem segurava o moço, e Constança, no fim da polêmica, terminou por perder. Isso era história que se contava há muito tempo. Naquele dia, Constança se deu por vingada.  Osni morrera para o seu desamor eterno. Ela fez colocar uma melodia que muito gostava: “Réquiem” de Hector Berlioz, o grande mestre francês de música clássica, da época da música romântica. Constança colocou a música na sua radiola como uma terna despedida de dois mundos do homem que tanto amou sem se meter em novas deus-nos-acuda.  Apenas o amou. Por todo esse tempo, não mais casou. Ela apenas quis sofrer de modo calada. Por seu sinal, a viúva Anna não mais pisou na calçada de Constança. Quando precisava ir ao Mercado, torcia o caminho por outra calçada na rua da frente.
As dez horas da manhã do dia seguinte, o enterro de Osni. O carro fúnebre não frente, em seguida o carro da viúva Anna e duas filhas, logo atrás se acercavam os filhos, netos e demais companheiros de jornadas. O ambiente era de profundo silencio. Na verdade, era uma prefeita marcha fúnebre como teria dito Constança em seu mundo soturno com seu traje de luto pelo amor sentido por toda sua vida. A neta de Anna, vindo em um carro atrás, declarou da demora do féretro.
Racílva
--- Que demora! Eu vi uma velha toda de luto olhando o enterro passar! Sabe que era, pai?  - - indagou a pequena
Othon
--- Onde estava? - -
Racílva
--- Uma casa atrás da de vô Osni. Ela só observava o enterro. - - relatou
Othon
--- Todo mundo é assim, no interior. - -
Racílva
--- Mas ela era diferente. Velha de mais. Parecia uma viúva também. Sei não!  - fez com a boca torcida
Neta
--- Aqui tem as carpideiras! - -
Racílva
--- Carpideiras? Que é isso? - -
Neta
--- Mulher que choram e fazem o povo chorar. - -
Racílva
--- Por que isso? - -
Neta
--- É para se chorar também quando o morto vai ser enterrado –
Othon
--- Vá ver que era uma carpideira. - - prendeu o riso
A menina se voltou para o pai e mais nada quis saber
O enterro chegou pouco depois das dez horas da manhã. Houve preces, discursos, homenagem ao morto, grinaldas, flores e tudo o que havia para se homenagear o falecido. O local tinha uma cobertura de pano verde e no lugar do caixa, era todo coberto não se vendo nada de terra. Após longos discursos, teve lugar o enterro por quatro homens segurando as cordas presas nas aldrabas até chegar ao seu fim. Dona Anna não chorou. Apenas uma das filhas de Osni foi quem chorou bastante. Os homens, filhos de Osni também ficaram sisudos, calados, quietos. A filha de Othon foi quem notou, ao largo uma figura estranha a observar tudo o que era feito naquela melancólica hora.
Racílva
--- Quem aquele lá distante? - - indagou a Neta
Neta
--- Quem? No fundo? Deve ser um empregado. –
Racílva
--- Estranho! Ele deu adeus para mim e desapareceu. - - relatou com estranheza
Neta
--- Não faz barulho! É um homem e pronto! - - relatou meio abusada.

FIM

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

A MORTE NA ESTAÇÃO - 45 -

A ESTRADA
- 45 -
DIAS DEPOIS

Dias depois tudo certo. Hervê ficou são e não sentiu mais coisa alguma. De qualquer modo, chocolate nunca mais. Ele foi proibido de comer chocolates, precaução de Neta, a mãe segunda por ele e Racilva tida. Quando tinha a fazer algo, logo Hervê perguntava de podia comer “aquilo”, para receber um “sim”. Na vida de Neta, o conhecer os dois era por demais afeição. Ela mesma se entusiasmou pelos meninos, sendo uma, a menina Racilva. Com a idade de 4 anos e mais, já era tempo de jardim. Com Neta não sabia procurar jardim de infância, foi o pai quem o procurou. Orientado por Alice, sua esposa, Othon, depois a vasculhar os jornais, encontrou um próximo a residência. Apesar de estarem com 4 anos, um pouco à frente do estudo, os dois se matricularam. No início, os dois choravam por não saber onde estavam. Com a continuação, a causa passou e eles já estava bem sabido fazendo tudo o que se mandava. Os dois brincavam alegre com os garotos de igual idade ou um pouco mais. Certa vez, a menina Racílva, disse algo preocupante às mestras.
Racílva
--- Tia. Eu vi uma coisa. - - disse a menina
Tia
--- Coisa? Que coisa? Uma boneca? - - salientou
Racilva
--- Não, tia. Um homem forte. Grande. Eu vi. Não foi, Hervê? - - perguntou ao irmão
Hervê
--- Foi. Ela viu. Um homem grande. - - relatou o irmão fazendo um gesto de homem forte
Tia
--- Não foi o jardineiro? - - quis saber a mulher
Racílva
--- Não. Foi não. Era o meu avô. Ele veio se despedir. - - falou elegante
Tia
--- Ah sim. Ele veio até você? - - indagou a professora
Racílva
--- Sim. Ele veio. E disse que estava indo para o Céu. E saiu. - -
Tia
--- Para o Ceu? E saiu? Foi embora? - - perguntou com espanto
Racilva
--- Sim. Ele foi embora. Desapareceu. - - ressaltou
Tia
--- Menina. Você está com conversa? - - disse a mulher com espanto
Racílva
--- Verdade. Eu vi inda agora meu avô. A senhora tem avô? - - perguntou
A mulher saiu correndo para a Diretoria onde poderia informa que uma aluna viu um homem que, possivelmente, morreu há poucos instantes. Tremendo de medo, horrorizada, tomando um copo de água pediu a Diretora que a deixasse ir para casa pois estava sem meios de voltar ao parquinho. A Diretora compreendeu o desassossego da tia e deixou que ela fosse embora. Em seguida chamou outra professora para cuidar dos alunos. Isso ocorreu em horas da manhã. Ao meio dia, os alunos foram levados para suas casas no transporte escolar. Em casa a garota foi recebida por Neta, a secretária, cuidando das mochilas dos dois rebeldes. Naquela hora, Othon estava ao celular conversando com alguém.
Othon
--- Agora? - - perguntou com pressa.
Pessoa
--- Às dez horas, mais ou menos. Ele estava hospitalizado alguns dias. - -
Othon
--- Para mim é impossível eu ir. Eu peço que cuidem do sepultamento. - - deligou
Em seguida, veio a menina Racilva batendo no braço do pai e falando.
Racilva.
--- Painho, eu vi vovô. Ele veio se despedir. Foi para o Céu, viu painho. - -
Othon
--- Eu soube. Quem disse a você? - -
Racílva
--- Ele mesmo. Veio só se despedir. Foi para o Ceu. - - relatou a menina
Neta
--- Você viu o seu avô? Como? - - indagou assombrada
Racílva
--- Na escola. Ele estava sorrindo. Disse que ia para o Céu. Pronto! - -
Othon
--- Você seu avô? - - voltou a indagar
Racílva
--- Sim. Eu disse ao senhor, agora. Não ouviu? - -
Othon
--- Como era o seu avô? - - espantado pois Racilva jamais vira o avô
Racilva
--- Bem forte. Barrigudo. Ele, de calça e camisa. Parece que trabalhava de motorista. Foi. –
Othon
--- Ele fazia a linha de Currais Novos. Só você foi quem viu? - - indagou com tremendo susto
Racílva
--- Hervê também viu. –
Othon
--- Você também viu, meu filho? - - perguntou
Hervê
--- Vi. Mas ele não falou comigo. Só me pediu a benção. - - respondeu
Racilva
--- Depois, saiu como numa nuvem. Ele foi para o Céu. - - sustentou o que disse
Nesse tempo chegava a esposa de Othon, a senhora Alice, pegando os depoimentos das crianças.
Alice
--- Que houve? - - espantada
Neta
--- Os meninos viram o avô. Eles nem conheciam. - -
Othon
--- Meu pai morreu por volta das dez horas. Que é que eu faço? - -
Alice
--- Vai lá. - - recomendou
Othon
--- Eu não posso. Não tenho tempo. - -
Alice
--- Ora se pode. Arrume as malas. Vá embora. O velho veio falar com os seus filhos, - - angustiada.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

A MORTE NA ESTAÇÃO - 44 -

- CASAMENTO -
- 44 -
CASAMENTO


Quando o tempo passou mais um pouco, certa vez, Othon estava em um restaurante com Alice conversando sem motivo algum e, no bem entender, apenas asneiras como Discos Voadores.  Foi quando a situação mudou por completo. Fazia já alguns meses que os dois estavam juntos. Apenas, cada um morando separado. Nos dias de sábados ou domingos, a situação se invertia. Era então, nesses dias que amigos ou namorados, ficavam mais próximos e sempre almoçavam em restaurantes chiques da aldeia paulista. Foi um supetão quando Othon pergunto em cima da bucha.
Othon
--- Vamos casar? - - perguntou sem medo.
A moça estava preocupada com Racílva de ouvir casos e nem deu importância, de imediato. Só então quando virou o rosto para Othon foi que quis saber, de verdade.
Alice
--- O que você falou? Eu não ouvi bem! Você perguntou se queria casar? Foi? Você está louco? Na minha idade? Nossa! Pergunte de novo! - - declarou desencantada
Othon
--- Eu disse: Vamos casar. Só isso. Não quer? - - indagou novamente.
Alice
--- Meu Deus do Céu! O homem enlouqueceu, mesmo! Casar? Só uma idiota pode querer casar, com a minha idade! –
Othon
--- Qual o problema? Eu sou livre. Acredito que você também é. Juntamos os panos e nos casamos! - - sorriu
Alice
--- Você é louco! Casamento é coisa séria! Eu! Como é que pode? - - indagou
Othon
--- É coisa séria mesmo. Por isso que te peço em casamento! - - declarou
Alice ficou a olhar o homem, sem dizer nada. Seus olhos se fecharam um pouco. Ela fitou bem para ver se tudo aquilo era verdade ou apenas uma brincadeira. Por isso mesmo Alice encarou de perto seu afetuoso companheiro. Ela jamais casou com ninguém. Um namoro ou outro, Alice teve no Colégio e na Universidade. Mas foram casos passageiros. Ela decidiu se apartar da vida sentimental e se dedicar a profissão predileta: olhar as estrelas à noite, quando o tempo permitisse. 
Alice
--- Bem. De princípio eu indago: que idade eu tenho? - - quis saber.
Othon
--- Ora essa. Lá vem você. Eu quero lá saber de idade. O que importa é você e nada mais! - - adiantou
Alice
--- Está bem. Vamos casar. Eu aceito. Porém quando vai ser? - - cismada
Othon
--- Amanhã eu entro no Cartório levando os papeis. Você tem os seus? - - indagou
Alice
--- Você é louco varrido. Quem quiser que acredite! - - disse a mulher.
O casamento foi sem grande importância. Tipo de casamento americano. Os dois, e pronto. O Juiz de Paz foi o homem quem proclamou. Testemunhas? Apenas duas. Pessoas que estavam sentadas no balcão a espera de outros que estavam para chegar. Othon perguntou se eles podiam testemunhar, e ouviram o “sim”. Ambos felizes e de reboque voltaram aos seus apartamentos para arrumar alguns objetos simples. Desde esse tempo, Alice foi residir no AP de Othon, deixando fechado o outro. Alguns livros ficaram na estante. Outros, ela levava consigo junto com trajes de sair e de ficar para não mais se preocupar. Ambos fizeram uma festa americana, sem convidados. Apenas as duas crianças e a secretária Neta. Não havia mais ninguém. Taças de champanhe, peru assado e leves brindes. Othon gargalhou pela festa sem opulência. Ambos combinaram passar o domingo, levando as crianças e a secretaria, para ver as irmãs de Alice e anunciar que eles estavam casados de verdade. Então, nessa bagunça, houve a formalização da festa. Um grupo de sambistas estava próxima a redondeza da irmã Alice, a senhora Abigail a cantar um samba antigo – Só P’ra Chatear – que Othon achou até mesmo engraçado ao dizer.
Othon
--- Olha essa velha música? Meu pai gostava por demais. Como é o nome da melodia? - - indagou ao marido de Alice
Gustavo
--- Não sei. Mas eles sempre cantam esses sambas antigos. - - respondeu
Orlando
--- Eu sei. É assim. “Eu mandei fazer um terno – só p’ra chatear – com a gola amarela – só p’ra chatear -. Mandei bordar na lapela o nome que não era o dela – só p’ra chatear. Comprei um par de sapato branco. Mas sei que ela só gosta de marrom. Só p’ra chatear, só p’ra chatear. Cada par de sapato tem um tom. Comprei um bangalô p’ra chatear lá na favela, mas vou morar na Lapa perto dela. Só p’ra chatear. ”  - - gargalhou com sua caixa de fósforo na mãe para acertar o ritmo.
Todos sorriram com a improvisação, incluindo Amélia, a esposa de Gustavo e os rapazes e moças, seus filhos.
No dia em faziam 4 anos de idade, os meninos – Racílva e Hervê – tiveram festas bem mais tranquilas. Mesas de doces, sobremesas, coquetéis, bolos, jantar, entre outros para todos os convidados. Meninos, rapazes, moças e adultos inclusive os tios das duas crianças. Houve uma festança no melhor estilo. Cada mesa tinha os seus arranjos. Além de bolos tinham os seus arranjos com diversas flores em cachos. Em um salão amplo e decorado, não tinha espaço vazio nem mesmo para se ficar sentado. Alguem pedia um licor e mais que depressa o garçom estava ali. As luzes decoravam ainda mais o ambiente. Tapetes, por sinal para namorados a sugerir fazer algo de anormal. Flores em profusão. Era todo um ambiente de requinte. As duas crianças comeram tanto que vomitaram. Neta acudiu depressa passando os seus senões a quem mais vomitava.
Neta
--- Tá vendo, tá vendo! Quando em digo! Vomite, vomite! Chega o lenço! Cambada! - - falava a moça com arrogância
Alice
--- Tome água de coco! É o melhor. Procure um pediatra por aqui. Vou ver se acho! - - aconselhou
No mesmo instante, Alice encontrou um pediatra. Ela falou que garoto comeu muito doce chega encheu a barriga. O pediatra foi até ao garoto e verificou os seus sintomas acabando por ditar somente água fria.
Pediatra
--- Uma colher de sopa. Se não passar, eu o acompanho. - - disse o pediatra.
Othon estava por perto e declaro que a criança vomitou por ter comido muito chocolate.
Othon
--- Ele come chocolate a vontade. Neta, cuide do menino. Eu vou com você. - - aperreado
Pediatra
--- A conselho médico, dê soro. Não líquido em excesso. Vai ficar bom. - - receitou o médico
O garoto chorava as pampas e Neta procurava consola-lo. Racílva o amparava para que ele não chorasse mais. Ao certo, para o garoto de 4 anos a festa terminou naquele instante. Sua tia Abigail, estava por perto e também o consolava para que o menino não chorasse tanto. A outra tia, Amélia, procurou saber o que fazia primeiro.
Pediatra
--- Nada. Vamos aguardar. Meia hora e logo que ele reduza o vomito, vê se a barriga está inchada. - -  
Neta
--- Imagine! Ele está fazendo coco! Tô toda lambuzada. Vamos p’ra fora tomar banho! Ora! - - saiu correndo
Racilva fez fila. Ela queria também ajudar a sua “mãe” de segunda viagem a resolver tal situação.
Racílva
--- Catinga! Tá podre! - - disse a garota.
A menina pouco observou seu pai. Ele corria com a mesma pressa. Em seguida estava Alice. Com ela as duas irmães.
Abigail
--- Ta podre mesmo! - - e soltou bela gargalhada.
Othon
--- Cagão! - - e sorriu
E todos sorriram. 

A MORTE NA ESTAÇÃO - 43 -

- MULTIVERSOR -
- 43 -
INFINITO -

Após alguns dias, tempo em que houve o sepultamento de Maria com a inscrição “desconhecida” na lápide, foi mesmo o tempo de se ajustar tudo o que se fazia em casa de Othon. Como ninguém a procurou, o caso foi dado por encerrado. O homem recomentou a Neta a jogar fora tudo o que era da moça. Nada havia para guardar. Neta obedeceu até por a ausência de Maria não era efeito para ela e mesmo para nenhum dos que estavam em casa: Racílva e Hervê, irmãos gêmeos para todos os efeitos. Das tenras crianças Neta tomava conta dos peraltas. No tempo, seria maior cuidado para Neta. E as crianças cresciam vagarosas já com mais de 3 anos de vida. Nem houve festa nesse novo espaço de tempo. Neta fez um carrinho decorado, bolos, chocolates, confeitos, doces, bolas de enfeite penduradas em uma cortina de cor avermelhada, brinquedos entre mais alguns detalhes. Nesse tempo estava presente a doutora Alice para dar maior apoio a festinha das crianças e Othon, o pai. Mais ninguém. São Paulo era uma cidade fechada. Se houvesse maior divulgação, crianças dos AP vizinhos podiam ou não vir a festa de pouca emoção. Duas mortes. Esse era o destino de não se fazer pomposa atração.
Othon
--- Deixa passar o tempo. No próximo ano, talvez. Eles estão muito amadurecidos. - - falou o homem
Alice
--- Eu penso assim. Faz pouco tempo em que a mãe se foi. Mesmo Maria não faz tanto tempo assim. Deixa levar; -
As crianças foram as mais conformadas por causa de não se fazer festa. E foi Racilva quem falou naquele instante. Todos estava sorrindo por causa das brincadeiras, dos trens, dos carrinhos de presentes. Ela foi quem falou primeiro.
Racílva
--- A senhora é irmã de minha mãe? - - quis saber apresada
Seu semblante era de estranheza quando se virou para Alice. Ela fez a pergunta não se sabe por que. Toda admirada com a feição de Alice, talvez tenha sido por isso. E a mulher, tão de repente aguçou seu olhar se virando para Racilva. Como que não ouvira direito a pergunta, fez atenção melhor.
Alice
---Como? Eu? Não. Por que perguntas? - - falou estranho e com surpresa.
Racílva
--- Parecida. Tem a cara de minha mãe. - - e lambeu os dedos molhados de chocolate.
Alice
--- Eu já ouvi essa pergunta. Mas eu não sou a irmã de sua mãe. - - e abraçou a menina levantado ao alto.
Racílva
--- Mas a minha mãe foi quem disse. Foi. Ela sabe. Ela me disse. - - argumentou em troca.
Alice
--- Ela disse a você? Como? Ela está no Céu! - - gargalho a mulher
Racílva
--- Mas ela volta. Sempre volta. Brinca comigo. Veja alí na parede. É ela sorrindo. - - declarou
Alice
--- Que parede? Ali não tem nem retratos. Imagine! - - disse a mulher
Racílva
--- Tem. Ela está olhando para você. Ela está. - - relatou a menina.
Nesse ponto Alice colocou a menina para baixo, no chão, e voltou a comentar.
Alice
--- Aqui? Onde? Eu não a vejo! - - falou com espanto
Racílva
--- Ela saiu. Agora tem eu. Veja onde estou. - - relatou apontando
E o pai, Othon, voltou para Racilva e quis saber.
Othon
--- O que você está vendo, menina? Na parede não tem nada. Apenas uma folhinha. - -
Racílva
--- Mas tem eu. Eu vou brincar comigo. - - escapuliu.
Alice
--- Que menina! Ela diz que está na parede. Mas olha! - - com olhar aguçado
Othon
--- Brincadeira de criança. - - disse o homem a sorrir
Racílva
---Brincadeira, não. Eu estou sentada junto a parede brincando comigo. Eu venho tido o dia, só para brincar. - -
Alice
--- Está bom. Está bom. Pois brinque. - - achou graça na atitude de Racilva.
Othon
--- Engraçado. Quando eu era criança, brincava com meu amigo. O engraçado era o nome dele. Sabe como era? Era “Aziza”. Era como eu o chamava. Aziza! - - soltou bela gargalhada
Alice
---Eu, também, tinha uma boneca de pano com quem brincava. Interessante é que eu a chamava apenas de “bruxa”! - -
E gargalhou em seguida.
Othon
--- Bruxa? Imagine só. Eu também tive várias bonecas. Eu me lembro de uma. Era grandona. Agora, não sei o nome que eu dei a boneca. Mas, eu me lembro muito bem. Bruxa! Ora vejam só! Que nome! - - gargalhou
Neta
--- Eu tinha várias bonecas. Não me lembro os nomes. Parece que eu as chamavas de “sujas”. - - sorriu
Alice
--- Certa vez eu saí. As vezes nem saia mesmo. Ou ia para o banheiro ou no fundo do quintal. Mas saia só com minha amiga. Era só como eu a chamava. Amiga. Saíamos conversando um bla bla bla do trem com essa outra amiga.  - - sorriu
Racílva
--- Olha aqui, o que ela me deu! Biscoitos! Ela é eu! - - disse a menina, sorrindo.
Othon
--- Interessante. Essa menina é Racílva. A minha outra “noiva” era também Racílva. Há coincidências nos nomes? - -
Alice
--- Pode ser que aja. Você colocar um nome em um filho em uma pessoa que não mais existe, pode até ser uma verdade. Às vezes, essa pessoa que já morreu, volta por causa do nome ser igual. Não sei bem. Mas pode haver semelhança.  - -
Neta
--- Eu, certa vez, ouvi uma anciã dizer que não se deve colocar nomes de parentes que já morreram em seus filhos. Porque isso atrai. Quem está morto, na verdade não está morto. Se a pessoa coloca o nome de um filho em um avô ou mesmo em um filho mais velho que já morreu, ele, esse filho, retorna, pensando que é ele e não o mais moço. Uma coisa dessas.
Othon
--- Pode ser. Não sei. Bem pode ser. Eu, vamos dizer, eu retorno por ser eu e não o outro eu. Coisa desse tipo. - -
Alice
--- Na Ásia, pelo menos no Vietnã, lá se coloca sobrenome em inúmeras pessoas da família em recordação a um Rei que um dia governo aquele Estado. Um caso desses é Nguyen. O nome significa mesmo “Original”. Mas esse Original vem de tempos remotos. De um governante que teve no país. Nguyen. - -
Othon
--- É como Silva, Bezerra, Suassuna. - - lembrou o homem.
Alice
--- Silva vem de um nome de um imperador da Itália. Silva. Não sei bem em qual ano. - - 

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

A MORTE NA ESTAÇÃO - 42 -

- MARAVILHAS -
- 42 -
A MORTE -

O necrotério estava com várias pessoas. Uns chorando, outros a conversar e alguns a esperar com ou sem veículos. No interior do espaço tinha corpos para ser ainda examinados. Os médicos tratavam e passavam os atestados de óbitos mando em seguida para a secretaria. Gente muita. Othon e Alice atravessaram corpos de indigentes e chegaram até a Secretaria do Necrotério para ver o corpo de Maria. Uma moça o levou e falou com um rapaz que estava atendendo várias pessoas. Esse moço os mandou esperar em um corredor que cheirava apenas a corpos mutilados. Era o fim do mundo. Um passe-passe de pessoas, uns chorando, outros consolados pela perda de um corpo. Enfim, após longa espera chegou a vez do casal ir ver o corpo da morta.
Othon
--- Você a conhecia? - - quis saber
Alice
--- Duas ou três vezes. Conheci porque fui no seu escritório da Receita. Ela estava sentada em frente a um Computador.
Othon
--- E ela mesma. Coitada! Por que ela fez isso? Parece uma sina! - - lamentou
Dito isso o rapaz que trabalha no setor de necropsia engavetou a vítima fazendo um estrondo assustador. O cadáver tinha uma etiqueta em um dos pés para identificar a morta. O odor de cloro se impregnava por todo por todo o ambiente. Mais que depressa os dois saíram do ambiente e foram para a Secretaria assinar os papeis e receber o corpo da vítima.
Alice
--- Que pensa em fazer? - - quis sabe
Othon
--- Eu? Nada. Vou sepultar em um cemitério mais próximo. Não tinha mãe. O seu pai mora em Natal. Eu não tenho nada com isso. Apenas estou ajudando na sua identificação. - - comentou
Alice
--- Você nem vai avisar? - -
Othon
--- A quem? Nem sei do seu passado. Morreu, acabou! - - disse o homem
Alice fez uma careta ligeira como quem define que o caso está encerrado. Nesse momento, Othon teve uma virtual surpresa e pediu licença a Alice saindo correndo em direção a um corredor onde havia várias pessoas para serem atendias em um balcão. Othon, quase sem pedir licença, adentrou o corredor em busca de uma moça que ele viu passar ao longe quando estava ainda discutindo com o sepultamento de Maria. Uma moça de tamanho regular, passou e entrou em seguida na continuação do corredor. Com evidencia, a moça não era a morta. Apenas ele procurou encontra-la para saber ao certo de quem se tratava, por acaso. De imediato, Othon adentrou no outo corredor que fazia uma travessa com o anterior e de nada encontro ali por perto. O homem ficou perplexo sem saber o que fazer nem a ninguém indagar.
Othon
--- Oxe! Sumiu? - - indagou com dúvidas.
Ele, ainda deus umas voltas pelo segundo corredor e nada ali encontrou. Sem maior atropelo, deu o assunto por encerrado naquele instante. E sem mais bem menos, Othon retornou ao seu lugar tendo que contar uma história bem ao caso a sua companheira.
Othon
--- Você, que estudas as estrelas e até o multiverso, por favor, diga um assunto? Quanto a gente morrer para nós seguimos além do chão? - - quis saber
Alice
--- Há estudos nesse sentido que a pessoa não morre. Apenas se transfere. Mas outro caso em que no multiverso tem mais de um “eu”. Somos vários. Eu posso estar nesse planeta e ao mesmo tempo viver em outro Universo. Posso está em dois, três, quatro, seja lá quanto for. Por que? - - indagou
Othon
--- Por nada. Apenas curiosidade. - -
Alice
--- Está bem. Obrigada. Mas não esqueça que, apenas, são estudos. Nada de concreto! - -
Othon
--- Eu sei, eu sei. Estudos. Mas esses estudos levam a algum lugar? - -
Alice
--- Durante séculos a humanidade acreditou que a vida existia apenas na Terra. Mas o negócio difere. A ciência procura respostas de que não estamos sozinhos aqui. Há outros lugares fora da Terra e do espaço e em outro espaço bem distante que abrigam seres humanos semelhantes aos humanos da Terra. Há prova de que não estamos sozinhos no Cosmos. - -
Othon
--- Isso quer dizer que pode existir no espaço uma pessoa diferente como eu? - - indagou
Alice
--- É possível. Veja bem. Há inúmeros relatos de gente que vem do espaço e retorna de imediato. Entra e sai. Há inúmeros casos. Você está aqui e, de imediato, atravessa a barreira para um outro local. É um vai e vem! - - gracejou com as mãos
Othon
--- Uma espécie de estou aqui, agora e vou para ali em instantes. - - falou incerto
Alice
--- Uma mutação controlada. Uma geração em todo o mundo que vai e vem. Digamos: uma Santa aqui, uma pecadora acolá. Vai para um lado e vem para outro mundo. É assim. Bate e volta. Entendeu? É como um jogo de ping-pong. Vai e volta. - - sorriu
Othon
--- E se a pessoa morrer? - - perguntou
Alice
--- Somos extra-terrestres. Estamos vivendo em várias partes do mundo. Eu posso morrer aqui. Mas a questão que essa morte é física. Na verdade, ninguém não morre. Eu estou aqui e ao mesmo tempo estou no multiverso. Eu sou eu lá. –
Othon
--- Difícil de entender. Vou ter que estudar de novo. Uma coisa tão simples para quem conhece. Eu queria te dizer. Pois bem. Agora, eu vi uma moça semelhante a Racilva, a outra. Eu tive um noivado com uma moça chamada Racilva. Acontece que ela morreu antes de nós nos casarmos. Simplesmente morreu. E agora eu vi uma moça bem semelhante a primeira Racilva, a morta. Eu procurei encontra-la e a moça sumiu. De repente, sumiu. Evaporou! - - disse o homem.
Alice
--- Evaporou, foi o que você disse. Apenas sumiu. Alguém que viaja na velocidade da luz pode muito bem saltar para o futuro. Eu já dei o exemplo. Racilva não está somente aqui. Ela pode se encontrar em outros mundos bem distantes de nós. O que ocorre é que nós vivemos em um mundo onde outros estão passando a cada instante ao nosso redor. Eu estou aqui, mas posso está ali, acolá. Em muitos planetas distantes desse planeta e próximo demais de mim mesma. Eu em outros Mundos. - - explicou
Othon
--- E essa moça, era ou não era ela? - - indagou
Alice
--- Ela desapareceu em um instante. Há tese de novas vidas, como já te disse, de novas galáxias muito distantes. As tecnologias podem acontecer mais cedo do que pensamos. A transmissão pelos diferentes pontos. O teleporte. Um teleprocessador. Ele desmonta a pessoa, átomo por átomo para remonta-lo num segundo em outro espaço ou mesmo no planeta distante. E há casos que nem se precisa de máquinas. A pessoa vem em um trem e passa de imediato para outro sem precisar nem mesmo parar. É como se saltar de um canto a outro. Uma espécie de replica quântica. - -
Othon
--- Isso é verdade? - -
Alice
--- É o que se faz. Isso já vem de há muito. Não precisa de morrer para estar em outro espaço. É como um estalar de dedos. Clique - - fez a mulher
Othon
--- É danado! Eu acho que não preciso morrer mais. - - sorriu
Alice
--- Tente! - - disse a mulher.

A MORTE NA ESTAÇÃO - 41 -

- CRIANÇA -
- 41 -
ESPANTO

Alice ficou afastada enquanto Othon corria até o quarto onde as crianças dormiam. A novata Neta, ficou de braços cruzados olhando para Alice de forma bem acentuada. No pensar de Neta ela também tinha a mesma opinião de homem. Porém resolveu calar. Apenas a olhava com a cara sisuda e seu estilo consciente. Nada podia espanta a moça. Os autos passavam céleres, em baixo, na rua. Pela altura do prédio, nada se ouvia de alguém fuxicando ou até gargalhando. Era tudo silencio. Os equipamentos de som presente na sala, estava desligado. Alice pensou que a moça não saber ligar ou mesmo conservar tudo quieto. Othon entrou no quarto das crianças e verificou todos e cada um, principalmente a menina Racilva. Ele viu que a menina dormia. Ainda mexeu para ver se dormia mesmo, e a menina, de certo modo, acordou e olhou tranquila, o seu pai. Elevou a mão tomando a benção e adormeceu novamente. No seu canto, estava Hervê. Othon balançou o garoto e esse continuou a dormir. O homem coçou a cabeça e declarou.
Othon
--- Diabos! Mas eu ouvi a voz! - - declarou em baixa voz.
Neta
--- Não estão dormindo? Foram dormir logo cedo! Eu preparei a janta e logo depois caíra na cama. - - sorriu
Alice
--- Está vendo? Nada de mais ocorreu! - - sorriu
Othon
--- Sim. É verdade. Mas eu tive um sonho. Eu fiquei inquieto. E Maria? - - perguntou a Neta.
Neta
--- Saiu! Acho que não volta. - -
Othon
--- Não volta? Como não volta? - - alarmado
Neta
--- Ela levou todas as tralhas. Não me disse nem boa tarde. Eu também não perguntei. - - com cara feia
Othon
--- Mas, não volta? - - espantado
Neta
--- Não. Eu já disse! Mas era toda abusada! Eu heim? - - de braços cruzados
Othon
--- Houve briga entre as duas? - - quis saber
Neta
--- Eu não tomei nem a benção a ela! P’ra mim nem fede e nem cheira. Já vai tarde. - - respondeu
Othon
--- Tá vendo, tá vendo, tá vendo? Nem fede e nem cheira! Vá ver que tem bicho escondido aí! - -
Alice soltou uma bela gargalhada, coisa até do outro mundo. Coisa que nem se podia empatar. E sorria a larga escala que de imediato caio no sofá.
Alice
--- “Nem fede e nem cheira”! Eu nunca mais tinha ouvido tal expressão. - - gargalhou
O homem ficou alheio procurando entender a risada de Alice. E olhava para Alice e se voltava para Neta. Após alguns instantes, também sorriu porque Neta, com a cara limpa, nem ligava.
No dia seguinte, Othon estava no seu emprego após ter buscado seu carro. E notou a cadeira vazia onde Maria sentava para fazer de conta que escrevia. Ele não preocupou porque a moça devia ter saído para algum mandado. Mesmo assim, para ter mandado, somente a ele a moça obedecia. E nenhum outro teria a importância de mandar Maria fazer qualquer coisa. Com o passar das horas, Maria não comparecia ao serviço. Nesse ponto, Othon indagou a outro servidor.
Othon
--- Onde está a moça que ocupa aquele lugar? - - quis saber
Servidor
--- Não sei, senhor. Há tempos que ela não vem. O senhor a despejou? - -
Othon
--- Eu? Claro que não! Pôr para fora? Imagine! Ela mora lá em meu AP. - - salientou
Servidor
--- Pois não sei mesmo. Será que está doente? - - indagou
Othon
--- Doente? Claro que não. Ontem ela estava em casa. - - salientou
Servidor
--- Pode ter sofrido um acidente, no percurso. Ela saiu de casa, hoje? - -
Othon
--- Sabe que não sei. Eu nem me preocupei. Eu estava se carro. Por isso não sei.  Aliás, não a vi nem ao menos se estava no AP. Sai logo cedo para buscar meu carro. - -
Servidor
--- Tem greve nos transportes. Acho que é por isso. Tem gente que não veio por causa da greve. - - explicou
Othon
--- Greve? Pode ser. Greve. Por que essa greve?  - -
Servidor
--- Questões de salários. Coisa assim! - - explicou
Othon então voltou ao serviço preocupado com Neta. A moça teve razão de sobra ao falar ter Maria saído de casa. Mas a questão era saber por que. Houve brigas entre as duas, por certo. Certo período, o telefone tocou. Othon atendeu pensado até que fosse Maria. Na ligação alguém pediu um instante. Ele então aguardou. A ligação, de imediato, caiu. Ele apenas desligou. Passados alguns minutos, o telefone voltou a tocar. Othon voltou a atender. E a voz sem pedir desculpas, disse que era do necrotério. E estava informando que tinha um corpo de uma moça precisando identificação.
Othon
--- Como eu vou saber? - - indagou
Telefonista
--- Ela deixou um bilhete antes de se atirar em baixo do trem. - - falou
Othon
--- Como? Quem era essa moça? - - de olhos bem apertos
A telefonista confirmou que se tratava de Maria. Sua morte ocorreu na noite do dia passado. O setor identificou a mensagem e queria saber se de fato era alguém de sua família. E nesse momento, Othon saiu apresado pensado na moça Maria que ele trouxera do Norte quando veio para São Paulo.
Othon
--- Só pode ser Maria. - - disse durante a viagem e em seguida ligou para Alice pedindo apoio nesse caso
Alice
--- E onde você está agora? - - perguntou
Othon
--- Estou a caminho. Eu peço que você vá até o necrotério. O corpo está no depósito. - - afirmou
Alice
--- Vou já. Estou em aula, mas suspendo o que eu faço. - -
Othon
--- Por favor. - - disse já lacrimando
Alice
--- Espere. Chego já. - - com vexame. 

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

A MORTE NA ESTAÇÃO - 40 -

- RESTAURANTE -
- 40 -
- CONHECIMENTO -

Othon ficou sério por alguns instantes e logo após admirou a beleza estonteantes de Alice, para ele, semelhante a Norma, quando viva. Ele procurou um detalhe que a diferenciasse da sua ex-amada sem encontrar por certo. E fitou com maior precisão para enxergar os mínimos detalhes de encontro à face, sem nada observar de fato. Ali esteva uma deidade do Olimpo onde o ocaso divino faz da mulher um patamar do destino. Quanto menos esperava ouviu-lhe a sua suave voz, delicada e terna a falar.
Alice
--- Que buscas? - - com olhos intensos
Othon
--- Não é nada. Apenas não ser possível. Em canto algum eu encontraria feliz semelhança. - - relatou em busca.
Alice
--- Você está enfeitiçado pela perda de Norma. Juro! - - relatou com a máxima calma
Othon
---- Não. Não. Isso, não! Eu queria encontrar em sua feição que me mostrasse estar enganado. Juro. - -
Alice
--- Tem tantos cantos que você não conhece. - - sorriu por causa dos recantos que o homem não conhecia
Othon
--- Disso, eu sei. O que você prefere, como comida? Refeição? - -
Alice
--- O que vier, eu traço! - - gargalhou.
Othon
--- Não. Fora de brincadeira. O que você menos gosta, para digerir? - -
Alice
--- Não cabe a lembrança. Talvez aratu ou cágado. Esses eu não prefiro falar. - -
Othon
--- Mas tem cachorros, cobras. Aliás, hoje em dia não se alimentar de comidas gordurosas por causa do colesterol. Vem aí os alimentos de origem animal como carnes, leite integral, manteiga, queijo, chocolates. São alimentos prejudiciais a saúde. - - reportou
Alice
--- Assim, o Brasil vai à falência! Aqui, não se come ferro. Mas se leva chumbo. - - gargalhou
Othon
--- Isso sim. A questão do cachorro e gato. Isso é verdade. Mesmo assim os meninos matam passarinhos, os velhos matam tatu e tem a caça das arribaçãs. Uma nesga de carne. Não tem nada o que comer. Mas, sua caça é, de certa forma, permitida.
Alice
--- Sem falar nas tanajuras, vamos pedir lagostas? - - com seu rosto alegre.
Após matar a fome que os embaraçava, Alice e Othon não tinha mais nada a fazer, a não ser um teatro ou cinema, pois os locais favoritos para se passear, ficavam distantes da capital. As três horas da tarde,   o homem aceitou convite para poder ir até o AP de Alice pois, com certeza encontraria o que demais o divertia. Conversa fiada. Após o sexo, o homem adormeceu. Ele estava alcoolizado pelo que bebeu durante o almoço. Era vinho Rosê misturado com frutos do mar, ostras, lagostas e carnes brancas. Nunca o homem consumira por tanto tempo vinhos e comidas que nem a ocasião podia dizer “basta”. Ao voltar para o AP de Alice o homem cantava às mil maravilhas com músicas que nem mesmo se lembrava mais pelo tempo que deixara de ouvir, como “Fígaro”.  Foi o que ocorreu. Após longo sono ele teve um sonho que o despertou assombrado. Uma voz o chamara por causa de sua filha, Racilva. A menina corria perigo.
Othon
--- Racilva! - - acordou desesperado
Alice
--- Que foi? - - a mulher dormira um tempo e estava na cama, porém a cordada
Othon
--- Alguem falou. Foi você? - - perguntou com espanto
Alice
--- Eu não. O que houve? Racilva? É a sua filha? - - falou com olhos abertos como em sinal de perigo
Othon
--- Meus trajes, depressa! Celular! Meu celular! Onde eu coloquei? - - falou de modo vexado
Alice
--- Está em seu bolso! Como você acordou tão de repente? - - indagou preocupada
Othon
--- Uma voz! Uma voz! Vou ligar para casa! - - declarou desesperado.
Alice
--- Uma voz? Que voz? Nossa! Estou preocupada! - - disse a mulher sentindo-se responsável
E Othon pegou o celular e fez a ligação. Um tempo enorme. Depois de longo espaço, ninguém atendeu. Ele se preocupou ainda mais a ponto de ter um derrame cerebral. Para Othon, só havia um motivo: passar no hospital. Era isso tenebroso. Maria podia ter saído. Neta não sabia de nada em levar a criança para o pronto-socorro. E Othon ficou aflito. De repente falou para a mulher.
Othon
--- Vou ter que ir! - - disse isso com pressa
Alice
--- Eu vou com você. Espere um instante! - - disse alarmada
Othon
--- Meu carro! - - relatou
Alice
--- Vamos no meu. Você ainda está tonto! - -
Othon
--- Tonto? Eu? - - e cambaleou como um boneco de pano
Alice
--- Está vendo? - - indagou diante da tontice do homem
E os dois pegaram o carro de Alice e então saíram bem mais que depressa. Othon variava no tempo a indagar sobre o sucedido. Parecia então uma besta anormal. Não via nem o sinal de transito quando a moça teve que parar de repente.
Othon
--- Que foi isso? - - indagou sem sentido
Alice
--- Sua cabeça. - - disse a moça
De vez, o carro chegou ao local onde era o AP de Othon. Ele ficou deprimido sem saber onde estava. De imediato, saltou e foi mais que depressa para o elevador apenas rezando com todo tormento. Ao chegar na sua moradia abriu a porta e se deparou com a secretaria. E foi logo a indagar.
Othon
--- Onde estão os meninos? - - a olhar confuso para um canto e outro, tremendo de medo já adentrado na sala.
Neta
--- No quarto! Que houve? - - indagou a moça
Othon
--- No quarto? No quarto? Deixa eu ver! -  - disse o homem, apressado

domingo, 11 de dezembro de 2016

A MORTE NA ESTAÇÃO - 39 -

- RESTAURANTE -
- 39 -
VISITAS

Othon estava pronto para sair. Um encontro marcado com Alice. Olhou as horas no seu relógio de pulso. Ainda era cedo. Os meninos estavam a brincar. A nova capital era uma estonteante maravilha para Hervê e Racilva, talvez. O homem sorriu pôr os garotos brincarem. Coisa fútil, porém, interessante. Neta estava por perto com duas canecas de sucos. Ela findara por aceitar em ir para São Paulo, a capital do luxo. De repente, Neta olhou o seu patrão. Quis indagar as horas. Porém em seu relógio também marcava o tempo exato. E não perguntou por ver o patrão ter um relógio semelhante. Maria, tinha saído para um local qualquer. Pouco importava a Othon. Novamente ele olhou as horas e de vez, o tempo. Nada de chuva. Ainda bem. Na rua, o transito. Carros a passar com pressa. Ônibus, carroças, vendedor ambulante, mulher a ver umas roupas na vitrine de uma loja. Rapazes tagarelando a passar. A zoada de um trem. Gente a ir para a Catedral da Sé. Ele torceu os lábios. Logo a seguir, Othon falou ter que ir. Neta não esperasse para o almoço.
Othon
--- Vou seguir. Não me espere. Cuide das crianças. - - falou
Neta
--- Está bem. E a outra? - - indagou
Othon
--- Ela resolve. Talvez volte para Natal. - - relatou.
Logo a seguir, entrou no elevador após abençoar as crianças. Rumou para a garagem e acionou o carro. Deu meia volta e seguiu em direção a praça. Dia de domingo. Othon verificou as horas. Nada de carro. Alice teria que vir em seu auto do mesmo lado que ele estava. Por perto, um cheira-cola, garoto de 13 anos a passar como quem vai para lugar algum. Nesse momento, um carro buzinou. Era Alice. E comentou para ir em sua direção. Othon sorriu. Após alguns instantes, Othon estava no Terraço Itália, restaurante de excepcional qualidade onde os pobres não entram. Naquele ambiente, ele e Alice estava a prosear contentes
Alice
--- Que chique, heim? - - falou e sorriu.
Othon
--- É um esmero. É luxo só. Requinte para qualquer vaidade. Estamos no topo do mundo. 41º andar. - - sorriu
Alice
--- Os “esmoleis” da vida! - - sorriu a doutora.
Othon
--- Exato. Quase na Itália. Garçons de primeira linha. - - disse mais
Ela sorriu e logo a seguir indagou
Alice
--- E os infantes? - -
Othon
--- Deixei-os em casa. Mas me conte como vai o Céu? - -sorriu
Alice
--- Tudo está “d’antes como no quartel de Abrantes”. Aqui, no Brasil, temos pouco a contar. Vamos para os Estados Unidos, a França, Rússia, Japão, China. Por esse mundo afora. - - relatou sorrindo - - E você. Conte-me quais os seus segredos. –
Othon
--- Eu? Não tenho nada a contar. Desde o dia em que te vi, tenho dúvidas na minha vida. Mas, você é daqui mesmo? –
Alice
--- Não. Sou de Natal. Mas faz tempo que moro em São Paulo. Só posso dizer que ainda estudo. Nunca se consegue terminar esses estudos. - - olhou para um lado
Othon
--- É verdade. Em seu ofício, quanto mais se estuda, mais se procurar as estrelas. No meu caso, sou totalmente leigo. Nada sei do que não sei. Eu estou em uma função que não me agrada. Apenas isso. Se eu dou um passo à frente, então vou um pouco mais distante, sendo em outra função. Eu queria saber esse tipo de estudo que você faz. Isso é importante. - -
Alice
--- Na verdade, tem nomes célebres. Por exemplo: Carl Sagan e Ann Druyan. Eu estou em um trabalho de pesquisa sobre Além do Cosmos. Mecânica Quântica. O Multiverso. Depois desse nosso Universo. É um tratado infinito. É o que eu posso falar. De restos, é o nada.  - - sorriu
Othon
--- Esse é um mundo fascinante onde tudo o que se compreende sobre o Universo está errado. - - delirando
Alice
--- É verdade. Mas, troque de estudo. Faça de novo a Universidade. Então você vai entender. - -
Othon
--- É verdade. Pode até que eu faça. Mas para onde eu vou? - - perguntou
Alice
--- Para o Multiverso. Troca de um lado e vai para outro. É como se faz. Troca-se de carro ou de ônibus. Você caminha para um lado e, de repente, passa a seguir para outro. Fácil - - sorriu
Othon
--- Começar de novo? Vê que está errado! Estou velho. - - divagou
Alice
--- Então você fica no mesmo local. Eu estava a pensar quando a conversa fluiu. Conte-me de Norma. Você se divorciou da pessoa? - - indagou
Othon
--- Sim. Eu assumi a direção da Receita e ao que me cabe pensar, ela rejeitou a ideia. Talvez não quisesse mudar de ambiente. Não sei bem. O caso é que terminou em divórcio. Eu já estava divorciado quando me chamaram e disseram que era preciso eu ir a Natal para identificar o corpo. Então, eu fui. Identifiquei. Mas era até impossível. Não estava para se ver os restos de Norma. - - fez cara feia.
Alice
--- Como se deu o acidente? - -
Othon

--- Sabe? Eu nem sei dizer. Somente que ela pulou na frente do trem. Ficou toda espedaçada. Tudo desconforme. Coisa triste. - - fez careta