segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

SUSPEITA - 03 =

- Jane Fonda -

- 03 -

SUSPEITA

O policial ficou atento a suspeita com relação à doméstica como a pessoa a saber de algo mais do que reportara ao seu patrão Otto Câmara. Em plena noite o militar então falou ao delegado Delfino colher maiores informações da doméstica, Dalva. Por certo, a moça saberia dizer de onde viera o homem morto, pois não existia explicação para se sacudir um cadáver no chão de uma casa, pelo menos, nas casas do centro da cidade.
Soldado:
--- Que acha? – indagou.
Delegado
---Eu já tomei depoimento da moça. Ela não sabe de nada. – falou com severidade.
O médico, ao fazer os exames, declarou não saber como o fato ocorreu.
Medico:
--- Eu não tenho explicação. Só caindo do céu. – reclamou a coçar a cabeça
Delegado:
--- A casa ao lado? – indagou surpreso
Médico;
--- Fechada. O homem, Otto, falou que o pessoal saiu há mais de uma semana. Todos foram para um sítio. – declarou.
E o delegado foi novamente falar com Otto Câmara sobre o paradeiro da família ao lado. E voltou com a mesma resposta. Enquanto isso, o soldado subiu no muro de trás da casa onde estava o defunto. Ele apenas inspecionou o local. Voltou, declarando;
Soldado:
--- Tem uma casa nos fundos dessa morada. – relatou
Delegado:
--- Eu já sei. O advogado falou que ali mora um coronel. –
Nicácio
--- Isso mesmo. E, por sinal, aleijado. Ele sofreu trombose. Não se locomove e nem fala. Algo mais? – indagou.
Delegado:
--- Por enquanto, não. – respondeu inquieto
Médico:
--- Vou levar o cadáver para o necrotério. Fazer exames totais. – relatou.
E determinou remover o cadáver para o necrotério do ITEP. Os auxiliares removeram o corpo em um ataúde semelhante a um caixa feito de lata ou alumínio. O “caveirão” estava próximo do portão da moradia do senhor Otto Câmara e pelo o mesmo caminho os auxiliares caminharam para pôr a embalagem dentro do carro. Após uma série de recomendações, o motorista do caveirão pegou o carro e seguiu caminho. A pouca gente estava ao largo e todos queriam ver o defunto. Porém, o caixão estava bem trancado e não dava para reconhecer quem o carro conduzia. Depois, o delegado formulou anotações e guardou o impresso. Otto seguiu caminho para a casa dos pais de Clara, onde a esposa foi dormir, junto com os filhos e a doméstica. O advogado Nicácio Lopes simplesmente acenou para o seu novo cliente desejando boa sorte.
Otto:
--- Infelizmente nem sei se vou dormir. Esse cadáver não sai do pensar. – relatou chateado
Houve dispersão dos curiosos. A habitação foi trancafiada com as luminárias desativadas. Apenas, Otto deixou acesa a Árvore do Natal. O advogado Nicácio fez um aceno cordial para o seu vizinho em naufragada tristeza. A noite seguia tranquila no restante da cidade, excluindo os cabarés, onde a atividade era frenética. A guarda noturna seguia o seu curso agitando o seu apito noturno a chamar o segundo e terceiro guardas. O homem das frutas caminhava logo de madrugada para o Mercado da Cidade. Outras domésticas voltavam já pela madrugada de um forró onde foram dançar na antevéspera do dia de festas. Os impressos seguiam o seu curso normal para a saída do “forno” às primeiras horas da manhã.
De manhã, logo cedo, Otto Câmara, seguiu até a sua moradia para inspecionar se estava tudo em ordem após uma intranquila noite. Já era a manhã do dia 23 de dezembro. As repartições municipais, estaduais e federais teriam meio expediente, menos o setor bancário e os locais de atendimento aos de urgência. Um carro de bombeiro passou em velocidade, provavelmente para algum socorro. Logo após vinha um jeep. Otto olhou com pressa e nada atinou. Apenas desejava seguir o seu destino.
Gazeteiro:
--- Jornais do dia! Caso do homem caído do céu! – gritava o rapaz.
Otto reclamou com insistência por conta do alarde do gazeteiro. Por isso, nem quis apreciar para o matutino. Apenas seguiu em seu veículo até chegar a sua residência.  Bem à frente topou com o advogado com as suas mãos para trás, batendo uma na outra e ainda de leve pijama. Ele, o advogado, estava a verificar apenas o prédio. O portão trancado. Ele sacolejou para ver. O automóvel estacionou com leveza e Otto desceu.
Otto:
--- Bom dia, doutor Nicácio! Algo a falar? – relatou com frieza.
Nicácio:
--- Ó! Bom dia! Desperto? - (sorriu) – Nada não. Apenas, olhando a cena! Engraçado! Uma casa comum a se notar, hoje, está nas manchetes. – falou com vagar.
Otto:
--- A minha mulher já está comovida e prefere não mais vir morar nesse “templo”. – relatou entristecido.
Nicácio:
--- Isso passa! Com o tempo, passa! – declarou com a mesma calma de sempre.
Otto:
--- Nada! Ela tem razão! Vou pôr à venda essa espelunca. – abaixou a fronte
O advogado Nicácio Lopes sorriu sem querer. E, em seguida decidiu falar.
Nicácio:
--- Isso é difícil de reportar. A mãe perde uma criança. Ela não olha mais o futuro. E se em sua casa morre um parente. Volta-se ao mesmo drama. E se ter um homem morto no quintal, é ainda bem pior. Se bem, não é esse o caso. Mas se o senhor olhar bem, verá que, seguidamente vai ter temor de até passar pelo local onde o cadáver foi encontrado. – falou com simplicidade
Otto:
--- Isso. Isso. Eu vou vender essa pocilga. – falou abalado
Nicácio:
--- E o galinheiro! Ninguém pensou no galinheiro. O cadáver pode ter sido sacudido por cima do galinheiro de uma casa por detrás – falou pensativo.
Otto
--- Mas é isso! O galinheiro! – falou o homem com entusiasmo
Nicácio:
--- E disse que o caso era uma hipótese. – relatou com maior severidade
Otto
--- Mas é isso! Vamos a delegacia! – fomentou como despertar da lucidez.
Nicácio;
--- Não agora. Seria muito fácil, pois que matou quem seria? – indagou.
Otto:
--- Quem seria! Mas o senhor pensa em tudo! Quem que seria! – deixou o homem a repensar
Nicácio:
--- Podia ser da casa vizinha. – relatou
Otto:
--- Vizinha? Mas está desocupada. O pessoal está no interior. – relatou
Nicácio:
--- E só uma volta acidental? A pessoa entrou na casa. E o vigia ou mesmo o dono voltou? E pegou o ladrão dentro da casa? E se não era um ladrão? Quem era? - pesquisou 

domingo, 28 de dezembro de 2014

SUSPEITA - 02 -

- Gong Li -

- 02 -

ACHADO

Enquanto o automóvel tomava o seu destino, o doutor Nicácio começava a ouvir o relato de Otto como localizado o achado do corpo do cadáver. A senhora Clara, esposa de Otto ficou mais conformada com a vinda da mulher do advogado, senhora Constância para tecer conversa e ficar as duas a dialogar. A doméstica ficou no quarto com os garotos, por pedido de dona Clara e maneira a não deixá-los sozinhos, na casa onde residiam. A questão era o defunto. A moça o encontrou no terreno de trás. A doméstica quase morre de medo por isso. Quando Otto chegou ao distrito, tinha apenas um soldado a cochilar com a boca aberta e babando. Otto permitiu ao advogado falar por sua vez. Para despertar o soldado, o doutor Nicácio teve que bater forte na mesa onde o militar estava. E em consequência, pigarreou;
Nicácio:
--- Dormindo, ê? – sorriu para o soldado.
Com isso, apesar do sono e coçar o busto, o soldado de forma de quem não estava a dormir, foi logo a questão.
Soldado:
--- O delegado só volta amanhã. Hoje não tem expediente. – falou a se espreguiçar.
Nicácio:
--- Sei. Sei. Mas tem outros soldados. Como é o seu nome? – indagou a olhar atento
Soldado:
--- Soldado Oliveira! – respondeu com um abrir de boca
Nicácio:
--- Com certeza. Agora, anote. Eu sou advogado. Esse a meu lado é o meu constituinte. Bem. Surgiu em sua casa... a dele. Um cadáver! Certo? Parece-me que caiu do Céu. Eu quero registrar essa ocorrência e solicitar do Delegado uma vistoria ambiental. Acontece que o cadáver está ainda no mesmo local. Pronto! – falou com pausa o advogado.
Soldado:
--- Ca. Ca. Cadáver? Caiu? – indagou com espanto.
Nicácio:
--- Isso. Isso. Agora: onde está o delegado? – perguntou altivo.
Soldado:
--- Espere! Cadáver? Como é que pode? Deixa eu telefonar. Um momento. – disse ele ainda sonolento.
E Doutor Nicácio observou Otto e piscou a vista entendendo que então o Delegado aparecia de vez, onde estivesse. Otto, ainda aturdido pela causa, ficou a decifrar o acontecido de momento. O soldado ligava para o delegado e depois de uns incertos minutos alguém atendeu. A conversa foi vagarosa até que o Delegado atendeu. E pelo falar, o homem dizia amplos desaforos, pois estava dormindo àquela hora e não queria saber de nenhuma ocorrência distrital. Nesse ponto, o advogado foi para próximo do policial e pediu o telefone, pois assim o caso ficava mais simples uma vez que o delegado parecia não querer resolver a situação. E logo, Nicácio falou com voz de um bom advogado.
Nicácio:
--- Boa noite senhor delegado. Prazer em poder falar com vossa senhoria. Permita-me informar, se é que estou certo. Há um cadáver para se investigar. Pelo menos, ele caiu do céu. Zip-bum! Só isso! – falou compenetrado
O delegado calou por alguns segundos e após indagou:
Delegado:
--- Com quem eu falo? – numa voz embrutecida.
Nicácio:
--- Ah. Desculpe-me. Eu sou o doutor Nicácio. Nicácio Lopes, advogado. – falou altivo.
O silencio foi ainda um tormento. Mas o delegado desconversou.
Delegado:
--- O senhor pode deixar registrado na Chefatura e amanhã nós veremos! – falou mais brando
Nicácio.
--- Compreendo a vossa atenção. Mas é um cadáver. E não vai esperar tanto tempo assim. É bem melhor se começar logo! – falou brioso.
O delegado, aonde estava, disse um monte de pornografias. Ele chegou a tapar o fone para poder falar de modo estupido. Após esses instantes, voltou a conversar.
Delegado;
--- Deixe-me o seu endereço que providencio o reboque com o “caveirão” ainda hoje. – reclamou
Nicácio:
--- Excelência. Parece que eu não fui entendido! O senhor conhece o vosso comandante da Polícia? Pois bem. Eu vou falar com aquela autoridade para saber qual o destino do senhor! – reclamou
Entre palavras de baixo calão, o delegado resolveu aceder e, mesmo revoltado, de imediato, foi logo a ditar ter ele resolvido averiguar o crime ou seja lá o que era. Por isso, o Delegado Delfino, em meio a obscenidades, vista-se a pronto para chegar a residência do senhor Otto Câmara, como o combinado.
Delfino:
--- Diabos de praga! Logo hoje! Isso é uma molecagem! – reclama o policial.
Otto Câmara, acompanhado do advogado Nicácio Lopes já estava em sua residência em companhia da mulher, Clara, e de uma multidão, moradores da mesma rua. Logo que ouviram falar em defunto, o pessoal correu para ver de quem. A zoadeira se ouvia de longe. Carros a buzinar para ter o privilégio de ingressar no seu destino. Alguns motoristas a indagar o havido naquela residência em uma artéria tranquila. A molecagem a correr de um ponto a outros a fazer piruetas. As domesticas a saber o havido. Todos, afinal, queriam saber os detalhes. Na casa ao lado, pessoas se esticavam para ver decerto. Os namorados faziam cócegas nas suas garotas a aventar a possibilidade do defunto ser alguém da maldição.
Rapaz:
--- Olha o defunto!!! – fazia o rapaz à virgem com a cabeça retorcida e voz agourenta.
Virgem:
--- Ô! Pára! Deixa disso! Eu vou pra casa! – respondia amenina um tanto desgostosa.
Senhora:
--- Hoje eu não durmo! Que horror! – reclamava uma anciã.
Rapaz:
--- Ora, vovó! É só um cadáver! – sorriu o moço
Moça:
--- Deixa eu ver! Deixa eu ver! – relatava a moça querendo pular o muro da casa ao lado
O delegado Delfino procurava o ângulo certo de o morto ter caído do céu ou ter sido jogado de outro terreno, por trás, onde havia casa com amplos terrenos de outro ponto da rua distante. Eram casas vizinhas de um lado a outro separadas por grandiosos terrenos. Delfino anotava todos os pormenores enquanto o técnico do ITEP fazia as averiguações necessária para chegar a alguma conclusão.  Todos os policiais estavam em um drama crucial de poder saber como o defunto foi jogado naquele quintal onde havia poucas árvores, inclusive mangueiras e cajueiros.
Técnico:
--- Como podia saltar esse homem? – indagou paciente.
Medico:
--- Não tem marcas de ferimentos! E se caiu, deve ter batido em algum pé de pau. – hipótese
Policial:
--- Ele foi jogado já sem vida. – declarou
Delegado:
--- A questão é: de onde? – indagou o homem a se escorar do moro de trás da moradia.
Policial:
--- E a doméstica? – indagou


sábado, 27 de dezembro de 2014

SUSPEITA - 01 -

- Milla Jovovich -

- 01 -

INÍCIO

Otto Câmara chegou na hora de sempre, quando era o fim do expediente em sua repartição do Governo, antes mesmo das sete horas. Ele trazia um monte de mercadoria e presentes a doar aos meninos – Alva e Dalmo – e esposa – Clara – para alegria da petizada. A mulher, dos vinte e sete anos, apenas sorriu como a ditar: “Ora, ora. Quanta fantasia em desmantelo”. E ajudou ao esposo querido a conduzir até a sala aquele maior “desmantelo”. Dentro de mais dois dias se comemorava a festa do Natal, quando a cristandade se alegrava com sorrisos abertos. A petizada animada procurava saber do pai quais eram os seus presentes. E diziam isso a sorrir. Os meninos eram de 5 e 6 anos. Alva com 5 anos. Dalmo, 6 anos. Ele, o primogênito. À esposa, um brinde especial. Para a véspera do Natal, Otto comprou todo o necessário. Vinhos, peru, champanhe, doces de frutas, bolos entre outros eventos sempre necessários, quando as visitas chegassem ao lar dos Câmara, inclusive os pais de ambos e mais os irmãos e irmãs com esposos e senhoras, além da raça miúda. Como gerente da repartição, Otto Câmara vivia dias de glórias com as manifestações dos servidores a viver o melhor dia de festa. Era assim o festival da gloriosa data natalina a repercutir em demais habitações de toda a Capital com a mais divertida ufania. A noite calma da antevéspera de festas era um regozijo real. Havia brincadeiras infantis em toda ampla rua com os desmantelos dos infantes e os amores escondidos das moças e rapazes. Dentre esses desatentos romances havia os escapes para um cinema feito por moças e rapazes na noite quieta de dezembro.
Grito:
--- Socorro! Socorro! – um grito foi ouvido.
Naquela noite, já quase oito horas, despertou a atenção do homem. De imediato, Otto sacudiu para fora a cadeira onde estava na hora do jantar e correu em procura de quem bradou. E foi logo a falar:
Otto:
--- Mulher? Aqui? – e na residência só havia uma doméstica.
E não foi muito para encontrar a doméstica. Com a mão na boca, totalmente desatenta, a moça apenas olhava com maior atenção para um corpo caído no quintal da casa. E Otto também viu o cadáver de um homem ainda jovem. Calara, a sua esposa, chegou de imediato em companhia de seus dois filhos. O homem a olhar o cadáver, recomendou a mulher a sair e levar as crianças para longe do quintal. Àquela hora da noite, havia lua cheia. Isso não foi observado por Otto. Apenas o homem se referiu ao cadáver.
Otto:
--- Quem é o homem? – indagou assustado.
Doméstica:
--- Não, senhor. Eu vim apanhar a roupa no varal quando me topei com esse… – falou sem completar o achado.
Otto:
--- Ladrão? – perguntou cheio de espanto
Doméstica;
--- Talvez. Não sei. - - falou a doméstica a lacrimar ainda bastante tensa.
Otto:
--- A senhora conhecia esse tal? – indagou preocupado.
Doméstica:
--- Não. Nunca. Parece de família! – alertou a visualizar as roupas que o morto usava.
Otto:
--- Família? Que família? – indagou assustado.
Doméstica:
--- As roupas! Veja! – apontou a doméstica bem para cima do cadáver.
Otto:
--- E ele está morto de verdade? – indagou a observar mais perto.
Doméstica:
--- Só pode. Não se mexe. – respondeu aturdida.
Otto chegou mais próximo do cadáver e chutou para ver se o morto não estaria ao desmaio.
Otto:
--- É bom chamar a Polícia! Não mexa em nada! – falou com espanto.
A doméstica se afastou do corpo do rapaz de modo vagaroso com a mão ainda na boca e a lacrimar de vez.
Otto saiu com pressa e foi discar para o Distrito Policial afirmando ter um cadáver em seu quintal ainda cedo da noite. A chamada demorou a ser atendida. Passaram-se minutos. De imediato, alguém foi receber a informação. Porém desligou por pensar ser um trote. O telefone tocou outra vez e ninguém quis atender.
Otto:
--- Merda! Merda! Merda! Eu lá. Agora! – falou com raiva.
Clara:
--- Que houve? – indagou assustada.
Otto:
--- A merda do policial não atende! Eu vou na Chefatura!!! Merda! – e vestiu o casaco para sair a recomentar não permitir a mulher averiguar algum fato
Clara
--- Eu? Achou que vou para casa de meu pai. – e juntou seus dois filhos.
Otto:
--- Nem pensar! Ninguém sai ou entra. Ponha os meninos no quarto de dormir! Eu vou e volto logo! – falou apressado.
Clara:
--- E vai me deixar só aqui? – indagou a mulher de forma preocupada.
Otto:
--- É verdade. Então chame o Guarda Noturno! – lamentou pela decisão
Clara:
--- Guarda? Eu nem sei quem é! E só aparece lá pra meia noite. – alertou aflita
Otto:
--- Merda! Chame a doméstica! Não saia da frente da casa! Ouviu? – falou alterado.
E o homem saiu ligeiro entrando no seu automóvel e olhou com pressa para a esposa tendo de novo feito a advertência.
Otto;
--- Não saia da frente de casa! Chame a doméstica. Os meninos, no quarto! – gritou alterado.
Quando saiu, Otto esbarou em um homem – o seu vizinho – conhecido por Nicácio. Ele era advogado e fazia o rotineiro passeio antes de ir dormir, com certeza. Otto brecou o carro e pediu desculpas. O advogado deu-lhe toda e ainda perguntou.
Nicácio:
--- Pressa? – falou cordial
Otto:
--- Eu acho que estou. Tem um cadáver no quintal de casa. Eu chamei a Polícia e ninguém atendeu. Assim, eu vou na Chefatura. – relatou com pressa.
Nicácio:
--- Ah. Assim, eu também vou. E o senhor me conte a história no trajeto – formulou com absoluta paciência
Otto;
--- Um morto caiu do Céu! No meu quintal, ainda por cima! – disse sem a mínima conta
Nicácio:
--- O senhor vai deixar a casa ao leu? Acho prudente conseguir a proteção de alguém. Eu vejo apenas sua esposa! – e apontou para a dona Clara.
O homem coçou a cabeça e indagou;
Otto:
--- Quem? Não quis aborrecer ninguém da vizinhança! - articulou 

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

À LUZ DA LUA - 50 -


- Alice Braga -

- 50 -

A GUERRILHA 

O Volks circulava a total velocidade permitida pelo próprio motor do veículo. Dentro, estavam cinco guerrilheiros bem armados, com capuz e armas. No banco de trás do Fusca, uma mochila. Dentro, coquetéis Molotov, pistolas e três metralhadoras. O veículo a trafegar à toda pressa para alcançar em breve tempo o Quartel General. Gente a passar na rua; uma oficina de jornal impresso; Igreja com pouca gente; a Câmara Municipal; casas de residência; o Palácio Episcopal da Igreja Católica. Era tudo o que se podia ver. A Guarnição do Exército estava protegida por sacos de areia entre fuzis e metralhadoras. Tudo era quieto. Um oficial buscava entrar no Quartel àquela hora. Entre os sacos de areia, apenas a guarnição. Era hora de compras no Mercado da cidade. Um militar sacudia um cantil para outro. Conversas vãs. O relógio da Catedral marcava pouco menos das oito horas da manhã. Um soldado militar com a sua corneta marcava um aviso qualquer. Um casal de namorados a sorrir por uma fútil conversa em frente à Catedral. Um veículo vagaroso a transitar. Tudo era enervante paz.
De repente, o espocar de um coquetel. E outros na sequência. Tiros de metralhadoras rugiam a todo tempo. Um soldado a cair. E outro mais. A ação da guerrilha foi rápida. O auto desviou e percorreu em sentido contrário. A ação militar foi rápida. O Jipão iniciou com as suas tropas a perseguição ao Volks. Carros a atrapalhar a corrida do veículo do Exército. O Volks corria célere a desviar de um e de outro obstáculo. Lá na frente um outro auto já estava a postos. Os guerrilheiros desembarcaram do seu veículo para tomar assento em um segundo carro. O veículo, sem conta de dúvidas, embarcou os cinco guerrilheiros e subiu a estrada tendo logo em seguida desaparecido por completo.  
Uma caçada humana ocorreu a partir daquele instante. Veículos das Forças Armadas assumiam o controle de toda a capital. Uma peça programada para ser apresentada o teatro, foi, em tempo desmarcada. Soldados da Polícia foram alertados para proibir toda e qualquer apresentação do espetáculo, naquele em outros dias. Havia uma onda de militares a guarnecer o Teatro. Nos encontros de pessoas, nada além de dois companheiros podiam estar próximos a conversar. A patrulha de militares vigiava todas as artérias da cidade. Ouvia-se um tiroteio em algum local e as pessoas se resguardaram em suas moradias. As sessões de cinema foram suspensas até aquietar-se a situação. A Assembleia Legislativa apenas se ouvia pronunciamento de políticos da direita. Não havia políticos de esquerda. Apenas dois partidos: um de “direita” ligado a uma força política e outra, também de “direita” ligada a outro líder, com certeza, político. Na verdade, o Estado era governado por duas partes, ambas de “direita”. O pessoal de “esquerda”, esse vivia marginalizado. A sua ação era momentânea e intempestiva.
Esquerda:
--- Cuidado! A ação foi rápida! Mesmo assim, vale a pena ter cuidado! – comentou
Esquerda 2:
--- Mas temos pessoas na “direta esquerdista”. – disse o outro
Esquerda
--- Certo. Certo. Mas, é ter cuidado!
Esquerda 2:
--- E a Câmara?  -
Esquerda
--- Essa, é a turma que fala de lado. Nada a comentar. –
Esquerda 2;
--- E o chefe? –
Esquerda:
--- Ele pediu cautela! – aconselhou
A revolta da conflagração socialista era muito vaga. Tudo era baseado em Cuba e na China. No Brasil, as Forças Aramadas estavam em constante vigilância. Houve uma vitoriosa ação de estabelecimento por parte de integrantes comunistas em partes da região Nordeste. Porém, a repressão era mais ativa. Os comunistas, na verdade, tinham gente, mesmo assim desarmada. O combate entre guerrilheiros e militares era uma constante desigual para os militantes de suma esquerda. A ação guerrilheira era derrubar o Governo há qualquer preço. Um levante popular, ao modo de dizer. Os guerrilheiros, com orientação de Cuba e China sem contar com a URRS, detonariam um fortemente assalto o estilo da própria Cuba e esse levante começaria pela zona rural.
Sindicalista:
--- É bom começar pelos Sindicatos Rurais e as Ligas Camponesas. – falou um líder
Sindicalista 2;
--- A ação só vigora nos centos urbanos com a vitória do campo! – falou com maestria.
Sindicalista:
--- Falaste certo. O palco das operações será o campo! – determinou
O grupo era formado por uns poucos jovens, todos ou quase de classe média, entre os quais, estudantes universitários e profissionais liberais. E o empenho era formar a luta armada. Em cidades pequenas do interior nordestinos o pessoal estava no combate de ferro e fogo. A luta protegida por uma cortina de silêncio.
Camponês
--- Lutamos por uma revolta popular! Esse é o nosso lema! Armados e sempre juntos! – relatava.
Camponês – 2
--- A justiça contra os latifundiários! Sempre sem receio! – gritava como se estivesse em uma ação popular.
A política das guerrilhas vinha antes do tempo de 1964 com a linha de guerra popular ditada pela China. Os guerrilheiros estavam prontos para uma linha de guerra popular prolongada de inspiração maoísta. Para tanto, eles contavam com treinamento militar da China. As Ligas Camponesas foram organizações de camponeses formadas pelo PCB, o Partidão, a partir de 1945. Ele era um dos movimentos mais importantes em prol da reforma agrária e da melhoria das condições de vida no campo no Brasil. Em 1954, as Ligas surgiram no Estado de Pernambuco e, posteriormente, na Paraíba. As Ligas eram estabelecidas em vários municípios entre trabalhadores rurais de todo o tipo. No início da década de 60, as Ligas já haviam se difundido pelo nordeste brasileiro com repercussão internacional no contexto da Revolução de Cuba. Com o surgimento da agitação de Havana, as Ligas passaram a ser um rigoroso movimento agrário contagiando setores rurais e urbanos. No final de 1963 o movimento estava concentrado nos Estados de Pernambuco e Paraíba e seu apogeu como organização de trabalhadores rurais ocorreu no início de 1964 com cerca de 80 mil filiados, inclusive no Rio Grande do Norte, unindo aos Sindicatos Rurais:
Camponês:
--- “Reforma Agrária na Lei ou na marra!” – era o dito
Desse momento em diante, os guerrilheiros urbanos propagaram de forma armada os ataques aos Quarteis Militares, apesar de vir a sofrer duras perseguições. Nada podia se articular no dia. Apenas o rigor teria ação pela noite e madrugada. O movimento dos guerrilheiros estava apenas se iniciando. Mesmo sem recursos, os rapazes angariavam donativos com os de maior poder, então formavam a ação libertadora, como surgiu, nesse tempo, a Ação Libertadora Nacional. Os comunistas, apesar de serem fracos em recursos, eles eram fortes em decisões. A decisão de criar a ANL – Ação Libertadora Nacional – veio da mente de um ex-militar baiano, Carlos Marighela. Criar uma organização clandestina que teria como principal objetivo treinar grupos guerrilheiros com o objetivo de formar um expressivo movimento armado urbano. Outra ação de Marighela era arrecadar meio milhão de dólares com a realização de uma série de assaltos a estabelecimentos bancários, no sul do país. Assim, o homem se tornou conhecido pela imprensa nacional como sendo o “líder terrorista” de expressão do país.
Comunistas;
--- O caso de Marighela está piorando! – comentava um guerrilheiro.
Comunista 2;
--- É melhor guardar silencio. Ninguém sabe de onde vem a revolução! – falou com cautela
Comunista:
--- A Ditadura está bem armada. Os norte-americanos dão apoio integral à morte dos nossos homens. – falou taciturno.
Comunista 2:
--- O capitão Carlos Lamarca está com a Vanguarda Popular Revolucionária. – alertou
Comunista:
--- Consciência política! – complementou
O veículo dos guerrilheiros de esquerda atingiu em sua fuga, a cidade de São José do Mipibu, com os rapazes a gargalhar com ação feita horas antes, contra o Quartel General, na Capital. Plenamente esgotados, eles ainda defendiam, acima de tudo, a integral luta armada. Em sua fuga, os guerrilheiros avistaram topas do Exército em sua perseguição.

À LUZ DA LUA - 49 -


- Chloe Grace Moretz -

- 49 -

CARVOEIRO
José Carvoeiro tinha um sítio à margem da estrada de Parnamirim, nos idos de 1964. Ele fazia carvão para negociar na cidade (Natal) durante o dia. Quase todos os dias ouvia-se o homem a pregar a sua mercadoria feita de galhos velhos de madeira – a lenha -. Homem alto e musculoso, andava em trapos, roupas surradas feitas de um pano qualquer. Ele usava um blusão e uma calça feita de algum tecido de pouca qualidade. Assim era José Carvoeiro, pois ele vendia o seu carvão e nada mais. Certa vez, a estar na colheita de galhos secos de lenha, Carvoeiro notou a presença de um jeep a passar em alta velocidade, chega o homem se espantou. O jeep entrou de mato a dentro conduzido por seu motorista e mais cinco ou seis ocupantes. Ele notou dois homens plenamente amordaçados virados por suas costas, pés atados, mãos amarradas para trás entre outras indelicadezas. Carvoeiro coçou a cabeça e apenas indagou consigo.
Carvoeiro:
--- Oxe! Pra onde danado vai aquele jeep? Por ali só tem mato! – falou consigo o morador.
Então, Carvoeiro voltou a sua labuta: colhendo pau seco e imprestável para fazer o forno de lenha a demorar uma semana até torrar. O seu, Traíra, comichava o seu pescoço para matar os carrapatos quando ouviu o soar de uns tiros. O cachorro aguçou as orelhas e fez um “buf” como que dissesse: “quem atirou lá dentro?”.  E Carvoeiro também escutou os estampidos. Ele se soergueu e olhou em direção ao deserto monte. O cachorro, então, latiu algumas vezes. Carvoeiro mandou calar.
Carvoeiro:
--- Te aquieta, cão! – foi o que ele mandou fazer.
E o homem ficou a escutar alguns disparos, o que não houve mais logo após daquele tempo. Ele coçou novamente a cabeça para em seguida dizer:
Carvoeiro:
--- Quem diabo desovaram na serra? – indagou pouco preocupado.
Após alguns minutos o jeep voltou em sua ampla velocidade, passando por sobre mato e lenha não custando a ingressar na pista e, daí, sumiu de vez. E o morador que cuidava dos seus fornos de carvão tornou a falar quando o cachorro latiu de muito.
Carvoeiro:
--- Calado! Tá vendo? Esses homens desovaram alguém! – relatou com sua face enrugada.
Na calada da noite, Carvoeiro foi procurar os defuntos. E os encontrou plenamente atados. Seus corpos, quase despidos, estavam emborcados com a cara para baixo. Traíra, o cão, cheirava tudo em volta dos cadáveres como a procura de alguma identificação. O homem, Carvoeiro, chutou um cadáver para ver a sua cara. Nada falou. Buscou nas roupas algum documento e nada encontrou de verdade. Apenas as marcas dos tiros. O segundo cadáver também não fornecia nenhum assunto que pudesse definir.
Carvoeiro:
--- Deve ser os homens das guerrilhas, por certo! – comentou desiludido.
Logo após, José Carvoeiro retornou ao seu miserável casebre onde se entrava por uma porta cerrada ao meio. A porta era tão pobre chega a estar presa por uma tira de couro, logo em cima quando em baixo estava uma dobradiça. Toda vez que o homem trancava ou destrancava, a porta fazia um arremedo de como alguém a chorar ou um carneiro a berrar. Na outra parte do casebre havia uma janela. Por cuidado, o homem não abria hora alguma. Essa era a “mansão” de José Carvoeiro. Por sinal, Carvoeiro morava só e Deus. A mulher o tinha abandonado fazia tempo. Ele não dava importância para tal. Na tapera, ele só cuidava da alimentação e atentava os porcos, cabras e galinhas. No restante, era fazer carvão para vender na cidade. Com os fornos acessos, Carvoeiro foi madornar com o cão, Traíra, sempre a seu lado a madornar também ao longo, onde o homem punha os pés em sua rede de pano.
Coisa de quatro horas ou mais um pouco, Carvoeiro despertou por força de uma zoada de carro a passar com pressa para os montes. Ele divisou com o olhar pela brecha da porta e notou um caminhão e, logo após, um jeep.  O mesmo jeep que passara logo cedo da noite. Com ao cachorro Traíra, também despertou. E veio de novo o bufo. Carvoeiro mandou calar.
Carvoeiro:
--- Te aquieta bicho sarnento! – fez ver o homem.
E mesmo assim, com o cachorro dentro da tapera, o homem continuou a olhar os carros – sendo um Jipão, desses bem grandes. E os carros demoraram mais tempo para retornar.  A lua, era só uma banda. As estrelas começavam a sumir. Apenas a estrela da manhã teimava em arder, como se arde no fogo. Mais um pouco de tempo, Carvoeiro ouviu a zoada dos carros. O comboio passava em alta velocidade, se dava para acreditar, pois o local era só de areia fofa. De repente, o jeep parou. Desceu de dentro um aparente sargento. E veio até a casa de Carvoeiro para bater palmas. O homem se assustou e deixou a banda da porta escorada. E, por pouco mais de tempo, o sargento bateu palmas. Não tão de imediato, Carvoeiro abriu um pouco mais o que dava para ver. O sargento então falou
Sargento:
--- O senhor não viu nada, entendeu? – indagou com voz grossa.
Carvoeiro:
--- Não viu o que, sô? – perguntou alheio.
O sargento, então, saiu às pressas e olhou para Carvoeiro, com uma cara trancada, entrou no jeep e partiu com seu destino ignorado. Carvoeiro ainda olhou por mais algum tempo quando o jeep sumia e voltou a coçar a sua cabeça, divagando.
Carvoeiro:
--- Eles matam quando acabar não se pode dizer? – indagou.
Foram passados alguns minutos, o sol já estava claro, coisa de 5.30 horas da manhã, Carvoeiro não ficou apenas magoado na cruel advertência do sargento e migrou para o cercado perto do longínquo monte do seu cercado e decidiu procurar os dois corpos da noite passada. Apesar da procura ser intensa, Carvoeiro nada encontrou, a não ser uma pequena estrela caída do chão. Ele olhou a estrela, porém nada significou de momento. Os corpos tinham sido resgatados, provavelmente, no Jipão, para desterrar em algum canto mais ao longe de onde foi jogado. Talvez em outro provável município. O homem retornou om o pensamento vago por não ter a meticulosa certeza de foram os comunistas, por assim falar.
Carvoeiro
--- Quem diabo eram os comunistas? – fez ver o homem do carvão.
Ao meio dia, José Carvoeiro estava na feira do Carrasco procurando vender toda a sua carga de produtos feitos à mão, tirados do forno de lenha: o popular carvão. Foi então que ele ouviu dos homens a conversar muito baixo alegando o número dos desaparecidos há uma semana. José Carvoeiro não se intrometeu no chafurdo. Apenas quis ouvir mais de perto. Enquanto o pessoal oferecia os seus langanhos, ele ouvia os dois companheiros a trocar conversa.
Companheiro Um:
--- Já faz uma semana que não se tem notícia. – confidenciou
Companheiro Dois.
--- Quantos? – indagou baixinho.
Companheiro Um
--- Talvez oito. É o que se supõe. - falou o primeiro.
Companheiro Dois
--- Eles não estarão escondidos em algum local? – indagou.
Companheiro Um;
--- Não. Não. Tudo já foi vasculhado. – falou murmurando
Companheiro Dois:
--- Não se desaparece assim, como um fantasma. – comentou alarmado.
Companheiro Um.
--- Eu soube que tem um sargento atrás de tudo. Pode ser sequestro. – informou
Companheiro Dois:
--- Hum! Isso é perigo! – articulou com surpresa.
Companheiro Um.
--- Demais até. Onde tem catinga, tem carniça! Não duvide de nada! – aludiu.
José Carvoeiro teve a oportunidade de falar o que ele conseguira ver na noite e madrugada do dia. Mas, nesse instante, uma patrulha do Exército invadiu a feira e todos os negociantes se postaram a fugir para local seguro. Os dois companheiros também fugiram com a máxima precaução passando por cima de bancas e sacos enveredando pela linha do trem e, assim, desapareceram por completo.  Carvoeiro ficou cismado com tudo o que ouvira falar.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

À LUZ DA LUA - 48 -


- Maria Casadevall

- 48 -

À SANGUE FRIO

Canindé, camponês, voltou do trabalho para a sua casa, um casebre de taipa, com uma janela e uma porta cerrada ao meio, a quase o anoitecer. O vento morno dava conta de não chover naquela noite. E já não chovia há três anos em toda a serra. Portanto, chover no sítio de Canindé seria uma ventura, quem sabe, salutar ou amarga. A chegar à sua porta Canindé ficou a observar de um lado para o outro, por pura precaução. Ele temia os “gorilas”, ou seja, o pelotão do Exército a chegar a qualquer instante. Na última reunião do Círculo Operário, um dia antes, pela noite, houve recomendação de pleno cuidado, pois os “gorilas” andavam por perto.
Camponês:
--- Cuidado! Há perigo na “esquina”! – alertou com severidade.
Canindé:
--- (Eu) estou sabendo! Na última semana degolaram um camponês. O corpo foi encontrado na estrada, longe de qualquer cidade. – fez ver.
Camponês:
--- E os “gorilas” andam sutis disfarçados em camponês. – relatou
E assim, o camponês teve todo o cuidado ao destrancar o ferrolho da meia porta. E de fora, com precaução alertou.
Canindé:
--- Maria!! Sou eu!! Cheguei! – e abriu a tranca da porta.
Ele estranhou por não haver nenhum dito de dentro do casebre. Mesmo assim, Canindé supôs estar a mulher apanhando as roupas no varal, tendo levado a menina, Letícia, sua filha, com ela para ajudar em segurar a rede de dormir e outros pertences. E, por isso, Canindé entrou no casebre.
De imediato, surgiu de dentro do quarto do casebre de dormir três jagunços com um capuz na face, fortemente armados a metralhar o camponês sem dá trégua ou defesa. O pobre camponês, de arma, tudo o que levava era um facão rabo de galo, e nada mais. Ao ser atingido pelo tiroteio caiu com os costados no chão, ficando atravancado com as pernas a fechar a passagem pelo corredor do casebre. Não houve grito, pois não deu tempo de gritar. Foi baque e morte. Os jagunços, com a face encoberta pelas máscaras, fugiram em correria para apanhar o seu jipe escondido em um matagal logo à frente. O pessoal da vizinhança – uma casa aqui e outra lá longe – ouviu o tiroteio e ficou apreensivo.
Vizinha;
--- Tiros? – perguntou assustada a mulher.
Outra;
--- Parece! Só sei que ninguém caça tatu com tato tiro assim! - relatou amedrontada
Vizinha;
--- Tenho medo! Quem terá sido? – indagou apavorada.
Outra;
--- P’rás bandas do cercado de Canindé! – aludiu atormentada.
Vizinha;
--- Morte? – indagou com a mão à boca.
Outra:
--- Só vendo! – disse às tontas.
Com pouco tempo a porta da casa estava entupida de gente. Cada um que perguntasse. Era o homem? Onde estava Maria? E a menina? – A zoeira era tremenda. Alguém quis entrar na tapera mas foi desaconselhado de pronto.
Homem:
--- Ninguém entra! – falou severo
Dois:
--- E por que não? – indagou assustado.
Homem:
--- Tem um corpo estendido no chão! – apontou para o corredor da tapera.
Dois:
--- Quem é aquele? – perguntou mais espantado.
Homem:
--- Canindé! Só pode! – respondeu vexado.
Nesse momento surgiu um sargento da Policia, sem fardamento, mas por todos conhecido. E então indagou.
Sargento:
--- Mataram quem? – perguntou o policial querendo entrar
Homem:
--- Só pode ter sido Canindé. Olhe o corpo estendido? – argumentou meio confuso.
O sargento então foi ver o morto para saber, na verdade, de quem era. E viu. E disse.
Sargento:
--- Na verdade é o morto Canindé! – e passou sobre o corpo a procura de mais pista.
O Sargento encontrou atada pelas mãos e pelas pernas a mulher Maria e a sua filha, Letícia. Elas estavam severamente atadas e com um chumaço de pano na boca empatando de dar alarme. Então, o Sargento mandou as mulheres arrodearem pelo beco para cuidar das reféns.
Sargento:
--- (Eu) vou buscar a polícia para fazer as anotações. Vocês cuidem das duas – mulheres – que eu volto num pinote. – falou com voz de comando
E foi assim que se deu. A mulher, Maria, quando posta em liberdade, correu para ver o seu morto, Canindé, seguida de perto pela filha Letícia, menina dos seus dez anos de vida e, por lá, chorou às penas de ter perdido seu homem. As mulheres da vizinhança de acercaram de Maria e, após algum tempo, retiraram a mulher e a filha do local, pois nada havia a ser feito. O homem morreu crivado de balas. Foi tiro p’ra daná. Dentro de instantes, os coveiros – e eram três – chegaram para levar o corpo em um caixão de levar mortos acompanhados por três policiais e mais um Sargento – o dito - para ser examinado no necrotério do povoado por um farmacêutico, pois no lugarejo não havia médico apropriado para tal caso. E nem para outros casos quaisquer. A vila era simplesmente uma vila. E nada mais.
O murmúrio correu o mundo. E na cidade já era uma gritaria.
Povo:
--- Mataram Canindé! – dizia um, alarmado
Outro;
--- Quem? O homem do Círculo? Foi mesmo? – indagou assustado
Gente:
--- E pudera ser? Ele esteve com a gente essa semana e foi prevenido! – alertou.
Quais:
--- Mas não pode ficar desse jeito! Arrume a turma e vamos prá lá. – relatou com entusiasmo
E foram eles para a casebre de Canindé gritando lemas contra os criminosos fardados. Os truculentos “gorilas” E por fim agitaram bandeiras do marxismo e bandeira nacional. Era uma turba enorme de se poder avistar por todo amplo caminho. Agitaram-se com lemas guevaristas a ditar:
Povo:
--- Urra! Urra! “Jamais deterão a primavera” - - slogan de che Guevara.
Povo;
--- “Derrota após derrota até a vitória final!” – gritava-se com maestria
Povo:
--- “A luta para sempre” – eu o grito da esperança.
Por toda a noite, madruga e manhã do dia seguintes os simpatizantes Circulo Operário estavam eufóricos para a luta armada mesmo sem ter armamentos. Quando uma espingarda de soca ou apenas um estilingue. Mesmo assim entusiasmados com o desmando sofrido pelo Circulo, a turma protestava aos desmandos praticados naquela hedionda hora. O povo queria a vingança operaria contra os homens a farda verde.


À LUZ DA LUA - 47 -


- Josie Pessoa -

- 47 -

NIBELUNGOS

Adriano Berg estava na banca de casos antigos revendo DVDs espalhados por todo o magazine, colhendo informes sobre os expressivos arquivos de datas de 1920. Entre o vasto acervo, ele encontrou um sobre um poema épico escrito em 1200, passado na mitologia germânica dos tempos medievais. Tratava-se do Anel dos Nibelungos do expressionista alemão, Fritz Lang. A questão no Anel, foi dividida em quatro partes quando chegou a ser encenada na ópera de Richard Wagner: “O OURO DO RENO”; “A VALQUÍRIA” e “O CREPÚSCULO DOS DEUSES” subdividida em duas partes essa história. Adriano Berg estava a ponto de adquirir esse “milagre” dos eternos. Fritz Lang era um perene expoente do expressionismo. Nesse ponto, se acercou do rapaz um gorducho mal vestido, com a camisa desabotoada e as calças rotas a engolir, ao que parece, uma empada e com a boca cheia do tal pastel, e fez a vista em lhe informar como quem conhecia de todo.
Gorducho
--- Tem algo mais recente! – e pois seu dedo no DVD mais antigo. 
Na boca cheia de gosma, o gorducho mastigava, sem cessar, a porção de empada, cujos dentes faziam um matraquear indecente. Aquele triturar ruminante causava náuseas a Adriano a observar a boca do robusto homem, além do mais muito alto, de cabelos crespos e severamente poucos, o os pés a calçar sandálias. Era o fim da picada. De momento o jovem observou quem falava e o homenzarrão achou graça a mostrar as suas dentuças mescladas da gosma da empada. E repostou.
Adriano:
--- Eu procuro filmes antigos! – relatou sem achar simpatia no debochado.
Gorducho
--- Têm muito aí! É só procurar! – e saiu vagando a tirar mais uma empada do bolso da calça.
Adriano
--- “Verme! Tem cada qual!”. – supôs dizer com a face enrugada.
O gorducho vagava a passos lentos com os seus pés como se fosse dez para as duas no relógio, entre bancas do velho sebo a olhar de perto os incertos instrumentos postos, por certo, à venda nas incomodas bancas do camelódromo armadas em becos sujos, mal cheirosos e sumamente estreitos. Alguns desses becos não davam nem passagem a alguém por demais corpulento. O pois era por demais incômodo, cheio de brechas e tampas de caixa de gordura. Em certo pondo havia ladeiras tronchas não permitindo passagem algum deficiente físico. Gente saindo às presas por conta, talvez, de uma latrina no meio da porção de estreitas bancas e derramar fétidos pedaços de usados papeis de jornal.
Em sua pesquisa, Adriano Berg procurava mais DVDs antigos para completar o seu prazer de assistir filmes da idade remota de algum certo tempo.
Atendente;
--- Tenho outro. Nosferatu. Antigo. Murnau! – relatou sem sorrir.
Adriano:
--- Hum! Esse é ótimo! Sinfonia do Horror! – sorriu breve.
À noite, após assistiu o grandioso filme Nosferatu, o jovem Adriano Berg deixou o equipamento desligado então foi até o seu cômodo onde, de imediato, se pois a dormir sempre a pensar no caso de Nosferatu a sinfonia do horror. Já era a meia-noite quando um vento frio soprou pela janela do quarto de Adriano. Ele estava a sonhar com uma preciosa dama a qual ele queria bastante. Seu nome era Isabelle. Meiga, singela, olhos escuros, cabelos lisos e longos, cor clara como uma deusa do arcano, misteriosa e enigmática, cheia de segredos e maviosos encantos. Isabelle era uma deusa plena de poesias e seduções, ocultas e desconhecidas, místicas e fascinantes.
Isabelle:
--- Vamos cavalgar pelas quimeras das ilusões, meu grandioso amado! – falou tão delicada
Adriano
--- Para onde tu queres ir, amada minha? – indagou prazeroso o rapaz
Isabelle:
--- Para o cimo das estepes perdidas, amado meu. – respondeu com muito ardor.
Adriano:
--- Como encontrarás as estepes? – indagou extasiado aquele novo amante.
Isabelle.
--- Querido anjo meu. Não conheces as estepes? – sorriu com profundidade.
Adriano:
--- Ó doce amada! Sempre às vejo em sonhos meus! – delirou acabado.
Isabelle:
--- Os teus braços me aquecem em aflição, amado meu! – falou delicadamente.
Adriano:
--- Ó queria inocente amada! Junte-se a mim nas estepes perdidas. – resolveu falar.
Isabelle
--- Ó meu anjo amado. Es mais doce que o mel de favo das abelhas. Penetra-me nas minhas estepes. – delirou em seu sonhar
Adriano:
--- Os bosques do teu amor, deixa-me inebriado de louca paixão, ó minha amada. – ansiou no coito
A lua em doce crescente deitava seus raios pelo fino da janela onde a musa encantada sonhava com divagante afeição.  
Isabelle;
--- Seduze-me! – soluçou pecaminosa.
Adriano
--- Encanto-te! – respondia o garbo ousado.
Isabelle:
--- Meu pôr do sol primaveril! – delirou em ânsia incontida
Adriano:
--- O teu olhar me atrai! – conquistou.
Isabelle:
--- Ama-me para a eternidade! – sugou para o mar.
Adriano;
--- Amo-te por amar-te assim. – delirou ao tocar o mais louco
Anseios e devaneios formaram a ânsia do desejo incomum para todo o sempre. No inebriante desejo tão fecundo, o macho e a felina e delicada deusa se extasiaram enfim de contentamento e misteriosas ilusões. Era o infinito da agonia distante.
Isabelle
--- No sonho nós pudemos nos encontrar. –afirmou com absoluta calma
Adriano:
--- Somente assim, nós pudemos em trocar afagos. – desiludido disse ele.
Isabelle
--- Sempre eu vivi tempestades e pesadelos para te encontrar, amado meu. – comentou
Adriano
--- Acalentar o desejo de tuas quimeras é o meu suave sentido. - alimentou a alma.
O suave encanto de um amor de plena candura se encerrou ao amanhecer do tempo. O rapaz Adriano Berg quase enlouquece desse apego tardio onde as ilíadas fecundam para sempre o seu inocente encanto. No decorrer da madrugada Adriano ainda pode ouvir o canto nostálgico da sedutora Isabelle igual a maestria do evidente ser quando ouviu falar pela boca da mulher amada em busca da lisonjeira afeição do destino
Isabelle não mais voltou a seu eterno e fecundo ambiente de apego. Poucos dias após, Adriano estava para entrar na loja de DVD quando notou a presença do homem gordo. E de imediato, falo consigo.
Adriano:
--- Será possível? Mais empadas? – comentou sem o gorducho perceber.


segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

À LUZ DA LUA - 46 -


- Noome Rapace -

- 46 -

MEPHISTÓPHELES

Cuidado!!! Ele é o Mefisto! O Diabo! Satanás!!! Numa noite de inverno a escuridão emudecia a todos em suas casas nobres e pobres onde a luz havia apenas de candeeiro e lamparina. Quando não se enxergava nada, usava-se uma lama grossa e pegajosa nos cantos da sala, se fosse gente rica. A lama era uma espécie de betume. Em outros casarões se usava a vela e nada mais. Nesse tempo não havia motor a diesel. Quando chegava as seis horas da tarde, era, então, tudo um breu. Um silencio lúgubre onde ninguém mais saía de seu domicílio. Nessa temível ocasião os hediondos e carnívoros animais noturnos erguiam suas bocarras e bramiam feito loucos com terrível esganação. Era o tempo do pavor sepulcral. Tudo isso podia ser em um casarão de fazenda como também em uma casa de taipa em uma cidade não muito vasta. Noite de inverno era uma noite sem lua onde em cada casa de taipa os ratos grunhiam como o cão. Dentre todos esses malefícios, havia o temível grito estridente do Mefisto como uma gargalhada mortífera e assombrosa.  Essa era a tragédia de tempos distantes.
Em certo tempo invernal, na casa grande estavam os seus proprietários todos ele a jantar. Em silêncio lutuoso apenas a chuva a cair com o uivar da ventania e as árvores a balançar com o seu vai e vem, eis que surge entre os demais o senhor bem vestido com verdadeiro silêncio em seus lábios aquietando-se apenas a cumprimentar os demais.
Mefisto
--- Boa noite, damas e cavalheiros. Desculpe-me a intromissão. Adentrei por encontra a porta aberta. Há chuva torrencial por toda a cercania. A minha capa não é suficiente para tal. Mas, quanto a isso pouca importância tem. O meu servidor está a ocupação de repor uma roda do meu velho coche e eu peço vossa licença para aguardar com paciência em sua mansão. – falou educado.
O senhor da casa grande, sempre atento ao pronunciar, apesar do imediato temor, se fez a vontade oferecendo-lhe as acomodações as quais se fizesse importante.
Senhor;
--- Ora mais que coisa alguma. Somos solícitos em atende-lo com certeza. – disse o senhor a incentivar mais luz no interior da sua mansão.
Senhor;
--- Luz! Luz! Acendam todas! – falou com cavilações as domesticas
Mefisto;
--- Não se dê a importância. Afinal a demora é pouca. Apenas o conserto do coche. – falou suave
Senhor:
--- Que nada. Acerque-se da mesa. Que jante também. – convidou o senhor.
A criadagem em festa animou as moças da casa por ter vista de última hora a chegar. E o senhor fez a apresentação de sua esposa e as demais moças, essas castas e sem amores a vista. E gritava o senhor:
Senhor:
--- Música! Musica! – aludia que se pusesse o piano a tocar.
Madalena, a mais jovem, era a preferida do seu pai e fez menção de ir poder tocar uma valsa de tamanho encanto. As demais damas fizeram cortesia ao misterioso cavalheiro. Um criado, com o chapéu preso entra as mãos se fez rogado das ordens emanadas do senhor da casa.
Senhor
--- As bebidas! Tragam o vinho, a champanhe. Algo de nome para o senhor.... – e esqueceu de saber o nome do forasteiro e olhou com pressa a querer saber
Mefisto:
--- Mefisto, meu nobre senhor. É o meu nome. – sorriu com quietude.
Senhor:
--- Ah. Mefisto. Com muita honra. O meu é Garret. Bernardo Garret, às suas ordens meu caro senhor. – e fez cumprimento cordial
Mefisto
--- Eu sou da Espanha. E meu nome de origem é Pablo, senhor. Pablo Mefisto. Encantado! – lembrou com cordialidade.
Garret:
--- Belo nome. Pudera ser eu da Espanha! – desanimou
Mefisto:
--- Mas, o senhor é francês? França e Espanha sempre juntas. – sorriu com polidez.
Garret:
--- França! França! Os meus parentes eram franceses. Eu não sou de lá. Apenas o nome! – lacrimou tedioso.
Mefisto:
--- A minha falecida esposa era francesa.  Nicole Depardieu– sorriu.
Garret:
--- Nicole. Nicole! Belo nome. – falou acanhado
Mefisto:
--- Meus pais eram alemães. Veio a Guerra. O senhor sabe. – demonstrou em silêncio
Após o jantar, veio a conversa, a valsa e as canções francesas, alemães e italianas com as valsas sempre no assento da virgem bela Madalena. A chuva perseguia a toda hora. E se fez presente o momento da dança. Nessa festa de contentamento, a segunda moça foi ao piano. Seu nome era Dalya, a garota do meio. Bem como a mais nova, a moça Dalya era uma virtuose ao piano. A todos ela encantava, inclusive ao senhor visitante, Pablo Mefisto. A festa, em meio a trovejada, raios e ventania, continuava por horas a fio, com as luminárias de velas, todas acesas. Algumas de feitas de betume. E o folguedo era animado, mesmo com interminável vendaval. E o coche do homem ainda estava em serviço com um negro retinto mergulhado na lama a correr por baixo do magnífico e garboso carro como assim já era chamado. Em outros países se chamava o carro de “diligência”.  Porém o nome certo era coche. Já era quase à meia noite quando a diversão continuava. O dono da festa, completamente embriagado, a sua mulher, já um tanto sonolenta, e ficaram apenas as três jovens e o homem chamado Mefisto todo impetuoso e alegre.
Madalena
--- Olha o meu quarto! – e apontou, sorrindo.
Era um magnífico quarto de dormir. Uma alcova toda branca. Paredes de cima a baixo a brilhar de tanta indelével alvura. A toalete, um armário, as cortinas, os mosqueteiros, o colchão da cama, a cama, os travesseiros, cadeiras, mesas, lustres. Tudo era de cor branca. Uma brancura imensurável.
Madalena
--- Não gosto desse quarto. Tudo branco. Textura horrorosa! – e torceu a face de modo a não gostar de tanto branco. Aquele imaculado simples.
Mefisto
--- Faz parte de tua alma! – falou muito devagar
Madalena olhou para o homem e o seu traje negro com um sinal de deboche para o seu cômodo. Na verdade, Mefisto vestia negro. A capa do pescoço como uma gola alteada, era negra e seguia até o final, aos pés. Roupa negra e também de negro eram as luvas e os sapatos. O seu chapéu, negro, do mesmo modo. Tudo, enfim, negro. Contraste banal com a alvura do quarto da bela dama. E, os dois continuaram com a sua peregrinação vendo os lustres da sala grande, retratos da família esquecida, abajur, candelabro, estantes repletas de livros. Um gato a dormir, por sinal, branco.
O temporal não parava com faíscas dos relâmpagos e o ribombar dos trovões. Nesse momento, Mefisto convidou a esplêndida dama a conhecer o seu belo coche com as luminárias acessas clareando todo o ambiente. As montarias estavam prontas. Todas elas eram negras. Da pele às vestes. O convite foi aceito. As duas irmãs de Madalena estava para dentro do casarão. Os pais estavam a dormir. Fora, estava o cavaleiro, um negro só de branco tinha ele os seus olhos. O coche estava todo polido e pronto para sair a qualquer instante. Mefisto refez o convite para Madalena adentrar no coche. E a bela dama cumpriu.
Madalena:
--- Eu estou às suas ordens. – e sorriu com gesto simples
O homem negro da cabine de marcha, fez finca-pé, e os cavalos sumiram no molhado caminho por onde seguiam os andarilhos corcéis de um tempo passado. A virgem tomou assento e assim caminhou os momentos do infinito.
Mefisto:
--- Seguirás o teu destino. – falou sombrio.

domingo, 21 de dezembro de 2014

À LUZ DA LUA - 45 -


- Sophie Charlotte -

- 45 -

O SANGUE

Esse é um caso verídico e ocorreu há alguns anos. O nome da criatura será trocado para evitar constrangimentos a terceiros. Mas, o fato em si, é verdadeiro e espera-se no acreditar de todos, pois foi uma pessoa que pediu para contar, reservando-se o nome. Na verdade, o caso ocorreu em 1970 ou coisa assim. Uma mulher ou moça, de nome Odete (sugerido) certa vez se apaixonou por certo de um rapaz. Esse rapaz era casado. Então, viviam os dois, mas separados. Apenas se encontravam nas madrugadas da vida. Certa vez, uma mulher que atendia casos no “terreiro” de sua casa, recebeu Odete a querer pedir que se fizesse um “despacho”. Pois bem. A dona do “terreiro” aceitou a oferta e disse por quanto era feito o tal “despacho”. E foi arranjado o negócio.
Passado o tempo, muitos anos depois, um ser, criatura ou coisa assim, veio de encontro a Odete e lhe disse.
Ser:
--- Olha! O acerto foi feito! Agora eu vim cobrar o que você me deve! – falou o macabro.
A mulher se espantou com aquilo pois nem mais se lembrava de tal feito. A moça pensava em mil outras coisas e não no ajustado há vários anos. E então perguntou:
Odete:
--- Quem é você? Eu te conheço? – indagou de forma estúpida.
O ser macabro sorriu e demorou pouco tempo a falar. E quando falou foi para ditar.
Ser.
--- Conhece, sim. Eu sou o demônio que vim buscar o meu quinhão. – falou o Diabo sem receio.
Com essa fala a moça desmaiou. Mas desmaiou não de toda. Quer dizer: ficou zonza, aluada! Ela está falando com o tal do belzebu, isso era incrível. E ainda por causa de namorado do passado, era mais incrível. Bem. A moça, então largou conversa e foi logo dizendo:
Odete:
--- Pois é seu Belzé. Aquele caso não durou nem um dia. E eu sinto por você. Vamos deixar isso prá lá e estamos conversados, Né? – e a moça sorrio com a cara troncha.
Ser:
--- Né, não! A senhora fez um trato e eu vim receber o pagamento. Se deu certo ou não, isso pouco importa. Eu quero receber o que a senhora está me devendo. – falou ríspido
A mulher sorriu e pôs as mãos não cintura, balançado os quartos a perguntar com a cara limpa.  
Odete:
--- É? E quando eu devo seu belzé? – indagou bem astuta a sorrir.
Ser:
--- Faz 15 anos! O tempo do contrato! Agora eu quero o pagamento! (e foi interrompido pela dama a sorrir) ....
Odete:
--- Em dólar ou em Real? – sorriu balançado os quartos com a face para um lado e para outro.
Ser:
--- Não se faça de besta! Eu quero é sangue! Até a última gota! – vociferou o Satã.
Odete se alarmou e arregalou os olhos para cima do Diabo e indagou.
Odete:
--- Como? De que forma? Sangue? Meu sangue?  NUNCA!!! – relatou irritada.
O demônio sorriu e fez de conta que nem ouviu. E então, falou.
Ser:
--- Bem! Estamos entendidos! Todos os dias eu venho buscar o meu sangue! Você se vire! – disse Satã com voz cavernosa. E sumiu.
E a moça olhou para um lado e outro e nada pode enxergar. E comentou:
Odete:
--- Você é besta! Tirar meu sangue? Hum! – comentou e deu de pé como se nada tivesse ouvido
No dia seguinte, quando ainda dormia à toda proza, em plena nudez em seu leito acolchoado, Odete foi despertada pelo Demônio. Ela se assustou de momento. E indagou.
Odete:
--- Você aqui seu Demo? Vai dormir, vai! – desse a dama querendo adormecer por mais tempo
Ser:
--- O sangue! Vai! Tá na hora! – relatou satanás
Odete nem deu por “elas” e, no mesmo instante deixou sair gases podres do intestino. Satanás sentiu o fedor nauseante e ainda declarou:
Ser:
--- ‘Tás podre, heim? Não tem importância! O sangue! Bora! – e sugou a sua parte da goela de Odete.
Odete:
--- Que está fazendo? – e sentiu a fisgada em seu pescoço. Em seguida, Satanás sumiu.
No dia seguinte, às mesmas horas, Lúcifer estava encravando suas dentuças na garganta de Odete. E assim foi passado um mês e até um ano. Certa feita, Lúcifer desenganou a mulher, pois daquele instante para frente, ele teria pouco tempo de vida.
Ser:
--- Tu vai ter pouco tempo de vida. Teu sangue amarelou. Já nem sinto nem gosto! – e cuspiu para um lado.
Odete:
--- Tô fraca mesmo! Olha as minhas veias? Nem um pingo de sangue! Acho que vou morrer em poucos dias! – disse a moça esmaecendo de cansaço.
Ser:
--- É verdade. O negócio é você ir embora. Sumir. Nada mais posso fazer! –e cuspiu mancha de cor amarela
Odete:
--- Ai meu Deus? O que eu fiz? – lamentou angustiada.
Ser:
--- O negócio é você partir. Está na hora de me ir. A senhora já não tem mais um pingo de sangue. Está concluído o seu acordo. – e voou para o além
Odete morreu seca, sem uma gota de sangue nas veias. Quando passou para a outra vida, ela sentiu remorso pelo trato feito com Satanás. E, certa vez, a surgir em um terreiro de macumba, Odete apenas observou os serviços feitos e a figura de Lúcifer a contempla-la. Ela estava um pouco adormecida, porém o demônio se voltou para lhe falar.
Ser:
--- Quer conhecer a hora do Demônio? – perguntou com polidez.
Odete:
--- Hora? Por que? Onde estou? – respondeu de certo modo.
Ser:
--- A senhora está no caminho do inferno! Vamos! – chamou o demônio
Odete:
--- Vamos aonde? – indagou sem saber ao certo
Ser:
--- À minha hora. A hora das trevas onde se pode chegar ao mais alto apogeu. No inferno a senhora vai conhecer os números enigmáticos da ciência, do saber. Os rituais obscuros. O mundo dos mortos. Segue-me. – falou o nobre Satanás.
E a moça foi seguindo para conhecer todos os encantos e magias onde havia a lenda do terror, algo tenebroso e sepulcral com os locais mais aterradores do Universo. Cadáveres de crianças envolvidos com os corpos dos anciões. A noite sombria onde os espíritos se arrastavam com o declínio do morticínio cruel.