quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

À LUZ DA LUA - 29 -


- Cameron Diaz -

- 29 -

O GRITO

Um grito estranho e abrasador eclodiu no ar naquela tarde de domingo no meio da praça quando todo o povo presente assistia ao jogo pela televisão. Muita gente pensou de ser algum torcedor a aclamar um dos seus times favoritos. Porém, que estava mais próximo do homem logo ouviu o baque surdo e abafado no chão morno pela quentura do tempo. Homem caiu de morto, foi o que se deu. Vieram os comentários logo a seguir:
Um
--- Que foi isso? – perguntou assustada a moça que assistia à partida de futebol.
Dois
--- Um grito? Torcedor? Oxe! – indagou outra moça procurando quem gritou.
Três:
--- Um bêbado! – explicou algum dos assistentes da partida.
Essas eram as perguntas e respostas para o grito de terror. Um homem que estava próximo do elemento apenas comentou:
Torcedor:
--- Foi um camarada aqui! – despertou pôr fim a atenção dos demais 
Outro:
--- E ele caiu? –indagou com o olhar inquisidor.
Mais um
--- Levanta! Ele está bêbado! – recomendou um terceiro
Mais outro:
--- Ele está morto!!! – disse alarmado uma quarta pessoa
Alguém:
--- Morto? Como está morto? – indagou assustado
Outro:
--- Morreu na queda!!! – falou o outro;
Alguém:
--- Queda? Que queda? – perguntou espantado
Outro:
--- Ele subiu com as mãos nos peitos e desceu caindo no chão! Foi queda e bufo! Morreu!! – explicou temeroso
Mais outro:
--- Levanta ele! – correu para socorrer o homem morto.
Quem:
--- Espera! Ninguém mexe no caído! Se ele está morto é chamar a polícia. – reclamou
Qual
--- Polícia? Pra que polícia? O homem está mortinho da silva! – disse alarmado.
Quem:
--- Mas é assunto da polícia! – reclamou o homem dispersando quem estava por perto.
Um moleque saiu na carreira em busca da polícia. Na certa tinha alguma patrulha ali por perto. Os circunstantes ficaram a comentar sobre o grito do morto.
Um:
--- Eu ouvi! – disse um alarmado
Dois:
--- Pensei que fosse torcedor exaltado. – falou outro com a mão a boca
Três
--- Foi cana muita! – falou olhando o cadáver.
Quatro:
--- E ele bebia? – perguntou alarmado
Três:
--- Não. Comia com farinha. É Aderbal da água. Ele entregava água em barris puxando um burro. – explicou com apatia.
E foi o tempo do moleque chegar com a patrulha da polícia. Os policiais foram logo afastando os circunstantes.
Policial:
--- Arreda! Arreda! Arreda! Deixa o morto! – disse um policial
Policial 2
--- Quem viu o crime? – indagou o segundo policial com uma caderneta e um lápis a mão.
Quem:
--- Crime? Não foi crime! O morto suspendeu e caiu ao solo. Foi isso! – disse meio desconfiado
Quarto:
--- Eu vou embora que isso vai dar em confusão! – alertou o homem e saiu
Com um pouco de tempo chegou mais policiais em um carro radiopatrulha comandado por um sargento. E esse foi logo indagando quem era a vítima, como se deu a morte e de imediato despachou o carro para ir buscar o médico de plantão no Departamento de Saúde. Foi longo o tempo para o médico poder deixar de assistir ao jogo e vir ver de verdade o morto já todo rebentado pela queda ao solo.
Uma filha de Aderbal já estava no pátio olhando o morto e segurando a cabeça do homem a verter lágrimas e insistir em declarar ter seu pai nunca bebido e não sabia alegar a razão da morte do velho entre tantos circunstantes.
Neto:
--- É verdade. Ele nunca bebeu. Sofria do coração e, mesmo assim, todo dia entregava água nas barricas em casas mais humildes da lapa. – falou chorando.
Uma mulher:
--- Coitado. Faz pena! Deus tenha dó do mesmo! – destacou uma mulher.
No dia seguinte, o sepultamento. Prantos da sua mulher, filhos entre muitas outras pessoas no cemitério da cidade. Um padre vestindo sua túnica seguia o lento cortejo enquanto os diáconos levavam os incensos e outros leigos, na Igreja, repicavam o sino em sinal de luto. O paupérrimo homem, nunca a ser lembrado pelas autoridades estaduais, municipais e eclesiásticas tinha o seu momento de “fecho” de seus familiares e amigos chegados. Enterrar e ocultar o corpo de um morto é uma forma de aliviar a dor e a perda física do ente querido. Por isso mesmo, houve o sepultamento com maior rigor do que se podia ter.  O esquife seguia em um carro todo de cor negra com as grinaldas em volta acobertando o ataúde. As casas comerciais tiveram que fechar as suas portas no instante da passagem do féretro. O povo então se acotovelava para ver pelo menos o ataúde do morto. Todos seguiam esse ato de penitencia incontida. Era a funérea morte a seguidora de todos os viventes que m dia também seriam os finados. E não faltaram lágrimas por parte das pessoas a estarem a ver o sepultamento de Aderbal da água, homem simples e de bons costumes sem ter nada a reclamar durante sua parte de existência. Durante a parte do funeral, as carpideiras faziam preces e choros como ato de penitencia em sufrágio da alma do homem falecido. E na margem das calçadas, mulheres humildes reclamavam contritas.
Mulheres:
--- Quem vai trazer a água agora para as nossas casas? – repreendiam as piedosas.
Outras:
--- Talvez o filho do morto. É o mais provável! – relatou.
Bêbado:
--- Será preciso fazer um plebiscito para o caso! – dizia o bêbado em tom descompassado.
Na hora do sepultamento, como de costume, caiu uma tempestade para irrigar a terra. E todos procuraram se abrigar da chuva torrencial. 

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