- Cameron Diaz -
- 29 -
O GRITO
Um grito estranho e abrasador
eclodiu no ar naquela tarde de domingo no meio da praça quando todo o povo
presente assistia ao jogo pela televisão. Muita gente pensou de ser algum
torcedor a aclamar um dos seus times favoritos. Porém, que estava mais próximo
do homem logo ouviu o baque surdo e abafado no chão morno pela quentura do
tempo. Homem caiu de morto, foi o que se deu. Vieram os comentários logo a
seguir:
Um
--- Que foi isso? – perguntou
assustada a moça que assistia à partida de futebol.
Dois
--- Um grito? Torcedor? Oxe! –
indagou outra moça procurando quem gritou.
Três:
--- Um bêbado! – explicou algum
dos assistentes da partida.
Essas eram as perguntas e
respostas para o grito de terror. Um homem que estava próximo do elemento
apenas comentou:
Torcedor:
--- Foi um camarada aqui! –
despertou pôr fim a atenção dos demais
Outro:
--- E ele caiu? –indagou com o
olhar inquisidor.
Mais um
--- Levanta! Ele está bêbado! –
recomendou um terceiro
Mais outro:
--- Ele está morto!!! – disse
alarmado uma quarta pessoa
Alguém:
--- Morto? Como está morto? –
indagou assustado
Outro:
--- Morreu na queda!!! – falou o
outro;
Alguém:
--- Queda? Que queda? – perguntou
espantado
Outro:
--- Ele subiu com as mãos nos
peitos e desceu caindo no chão! Foi queda e bufo! Morreu!! – explicou temeroso
Mais outro:
--- Levanta ele! – correu para
socorrer o homem morto.
Quem:
--- Espera! Ninguém mexe no
caído! Se ele está morto é chamar a polícia. – reclamou
Qual
--- Polícia? Pra que polícia? O
homem está mortinho da silva! – disse alarmado.
Quem:
--- Mas é assunto da polícia! –
reclamou o homem dispersando quem estava por perto.
Um moleque saiu na carreira em
busca da polícia. Na certa tinha alguma patrulha ali por perto. Os
circunstantes ficaram a comentar sobre o grito do morto.
Um:
--- Eu ouvi! – disse um alarmado
Dois:
--- Pensei que fosse torcedor
exaltado. – falou outro com a mão a boca
Três
--- Foi cana muita! – falou
olhando o cadáver.
Quatro:
--- E ele bebia? – perguntou
alarmado
Três:
--- Não. Comia com farinha. É
Aderbal da água. Ele entregava água em barris puxando um burro. – explicou com
apatia.
E foi o tempo do moleque chegar
com a patrulha da polícia. Os policiais foram logo afastando os circunstantes.
Policial:
--- Arreda! Arreda! Arreda! Deixa
o morto! – disse um policial
Policial 2
--- Quem viu o crime? – indagou o
segundo policial com uma caderneta e um lápis a mão.
Quem:
--- Crime? Não foi crime! O morto
suspendeu e caiu ao solo. Foi isso! – disse meio desconfiado
Quarto:
--- Eu vou embora que isso vai
dar em confusão! – alertou o homem e saiu
Com um pouco de tempo chegou mais
policiais em um carro radiopatrulha comandado por um sargento. E esse foi logo
indagando quem era a vítima, como se deu a morte e de imediato despachou o
carro para ir buscar o médico de plantão no Departamento de Saúde. Foi longo o
tempo para o médico poder deixar de assistir ao jogo e vir ver de verdade o
morto já todo rebentado pela queda ao solo.
Uma filha de Aderbal já estava no
pátio olhando o morto e segurando a cabeça do homem a verter lágrimas e
insistir em declarar ter seu pai nunca bebido e não sabia alegar a razão da
morte do velho entre tantos circunstantes.
Neto:
--- É verdade. Ele nunca bebeu.
Sofria do coração e, mesmo assim, todo dia entregava água nas barricas em casas
mais humildes da lapa. – falou chorando.
Uma mulher:
--- Coitado. Faz pena! Deus tenha
dó do mesmo! – destacou uma mulher.
No dia seguinte, o sepultamento.
Prantos da sua mulher, filhos entre muitas outras pessoas no cemitério da
cidade. Um padre vestindo sua túnica seguia o lento cortejo enquanto os
diáconos levavam os incensos e outros leigos, na Igreja, repicavam o sino em sinal
de luto. O paupérrimo homem, nunca a ser lembrado pelas autoridades estaduais,
municipais e eclesiásticas tinha o seu momento de “fecho” de seus familiares e
amigos chegados. Enterrar e ocultar o corpo de um morto é uma forma de aliviar
a dor e a perda física do ente querido. Por isso mesmo, houve o sepultamento
com maior rigor do que se podia ter. O
esquife seguia em um carro todo de cor negra com as grinaldas em volta
acobertando o ataúde. As casas comerciais tiveram que fechar as suas portas no
instante da passagem do féretro. O povo então se acotovelava para ver pelo
menos o ataúde do morto. Todos seguiam esse ato de penitencia incontida. Era a
funérea morte a seguidora de todos os viventes que m dia também seriam os
finados. E não faltaram lágrimas por parte das pessoas a estarem a ver o
sepultamento de Aderbal da água, homem simples e de bons costumes sem ter nada
a reclamar durante sua parte de existência. Durante a parte do funeral, as
carpideiras faziam preces e choros como ato de penitencia em sufrágio da alma
do homem falecido. E na margem das calçadas, mulheres humildes reclamavam
contritas.
Mulheres:
--- Quem vai trazer a água agora
para as nossas casas? – repreendiam as piedosas.
Outras:
--- Talvez o filho do morto. É o
mais provável! – relatou.
Bêbado:
--- Será preciso fazer um
plebiscito para o caso! – dizia o bêbado em tom descompassado.
Na hora do sepultamento, como de
costume, caiu uma tempestade para irrigar a terra. E todos procuraram se
abrigar da chuva torrencial.
Nenhum comentário:
Postar um comentário