- Noome Rapace -
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MEPHISTÓPHELES
Cuidado!!! Ele é o Mefisto! O
Diabo! Satanás!!! Numa noite de inverno a escuridão emudecia a todos em suas
casas nobres e pobres onde a luz havia apenas de candeeiro e lamparina. Quando
não se enxergava nada, usava-se uma lama grossa e pegajosa nos cantos da sala,
se fosse gente rica. A lama era uma espécie de betume. Em outros casarões se
usava a vela e nada mais. Nesse tempo não havia motor a diesel. Quando chegava
as seis horas da tarde, era, então, tudo um breu. Um silencio lúgubre onde
ninguém mais saía de seu domicílio. Nessa temível ocasião os hediondos e
carnívoros animais noturnos erguiam suas bocarras e bramiam feito loucos com
terrível esganação. Era o tempo do pavor sepulcral. Tudo isso podia ser em um
casarão de fazenda como também em uma casa de taipa em uma cidade não muito
vasta. Noite de inverno era uma noite sem lua onde em cada casa de taipa os
ratos grunhiam como o cão. Dentre todos esses malefícios, havia o temível grito
estridente do Mefisto como uma gargalhada mortífera e assombrosa. Essa era a tragédia de tempos distantes.
Em certo tempo invernal, na casa
grande estavam os seus proprietários todos ele a jantar. Em silêncio lutuoso
apenas a chuva a cair com o uivar da ventania e as árvores a balançar com o seu
vai e vem, eis que surge entre os demais o senhor bem vestido com verdadeiro
silêncio em seus lábios aquietando-se apenas a cumprimentar os demais.
Mefisto
--- Boa noite, damas e
cavalheiros. Desculpe-me a intromissão. Adentrei por encontra a porta aberta.
Há chuva torrencial por toda a cercania. A minha capa não é suficiente para
tal. Mas, quanto a isso pouca importância tem. O meu servidor está a ocupação
de repor uma roda do meu velho coche e eu peço vossa licença para aguardar com
paciência em sua mansão. – falou educado.
O senhor da casa grande, sempre
atento ao pronunciar, apesar do imediato temor, se fez a vontade oferecendo-lhe
as acomodações as quais se fizesse importante.
Senhor;
--- Ora mais que coisa alguma.
Somos solícitos em atende-lo com certeza. – disse o senhor a incentivar mais
luz no interior da sua mansão.
Senhor;
--- Luz! Luz! Acendam todas! –
falou com cavilações as domesticas
Mefisto;
--- Não se dê a importância.
Afinal a demora é pouca. Apenas o conserto do coche. – falou suave
Senhor:
--- Que nada. Acerque-se da mesa.
Que jante também. – convidou o senhor.
A criadagem em festa animou as
moças da casa por ter vista de última hora a chegar. E o senhor fez a
apresentação de sua esposa e as demais moças, essas castas e sem amores a
vista. E gritava o senhor:
Senhor:
--- Música! Musica! – aludia que
se pusesse o piano a tocar.
Madalena, a mais jovem, era a
preferida do seu pai e fez menção de ir poder tocar uma valsa de tamanho
encanto. As demais damas fizeram cortesia ao misterioso cavalheiro. Um criado,
com o chapéu preso entra as mãos se fez rogado das ordens emanadas do senhor da
casa.
Senhor
--- As bebidas! Tragam o vinho, a
champanhe. Algo de nome para o senhor.... – e esqueceu de saber o nome do
forasteiro e olhou com pressa a querer saber
Mefisto:
--- Mefisto, meu nobre senhor. É
o meu nome. – sorriu com quietude.
Senhor:
--- Ah. Mefisto. Com muita honra.
O meu é Garret. Bernardo Garret, às suas ordens meu caro senhor. – e fez cumprimento
cordial
Mefisto
--- Eu sou da Espanha. E meu nome
de origem é Pablo, senhor. Pablo Mefisto. Encantado! – lembrou com
cordialidade.
Garret:
--- Belo nome. Pudera ser eu da
Espanha! – desanimou
Mefisto:
--- Mas, o senhor é francês?
França e Espanha sempre juntas. – sorriu com polidez.
Garret:
--- França! França! Os meus
parentes eram franceses. Eu não sou de lá. Apenas o nome! – lacrimou tedioso.
Mefisto:
--- A minha falecida esposa era
francesa. Nicole Depardieu– sorriu.
Garret:
--- Nicole. Nicole! Belo nome. –
falou acanhado
Mefisto:
--- Meus pais eram alemães. Veio
a Guerra. O senhor sabe. – demonstrou em silêncio
Após o jantar, veio a conversa, a
valsa e as canções francesas, alemães e italianas com as valsas sempre no
assento da virgem bela Madalena. A chuva perseguia a toda hora. E se fez
presente o momento da dança. Nessa festa de contentamento, a segunda moça foi
ao piano. Seu nome era Dalya, a garota do meio. Bem como a mais nova, a moça Dalya
era uma virtuose ao piano. A todos ela encantava, inclusive ao senhor
visitante, Pablo Mefisto. A festa, em meio a trovejada, raios e ventania,
continuava por horas a fio, com as luminárias de velas, todas acesas. Algumas
de feitas de betume. E o folguedo era animado, mesmo com interminável vendaval.
E o coche do homem ainda estava em serviço com um negro retinto mergulhado na
lama a correr por baixo do magnífico e garboso carro como assim já era chamado.
Em outros países se chamava o carro de “diligência”. Porém o nome certo era coche. Já era quase à
meia noite quando a diversão continuava. O dono da festa, completamente
embriagado, a sua mulher, já um tanto sonolenta, e ficaram apenas as três
jovens e o homem chamado Mefisto todo impetuoso e alegre.
Madalena
--- Olha o meu quarto! – e
apontou, sorrindo.
Era um magnífico quarto de
dormir. Uma alcova toda branca. Paredes de cima a baixo a brilhar de tanta
indelével alvura. A toalete, um armário, as cortinas, os mosqueteiros, o
colchão da cama, a cama, os travesseiros, cadeiras, mesas, lustres. Tudo era de
cor branca. Uma brancura imensurável.
Madalena
--- Não gosto desse quarto. Tudo
branco. Textura horrorosa! – e torceu a face de modo a não gostar de tanto
branco. Aquele imaculado simples.
Mefisto
--- Faz parte de tua alma! –
falou muito devagar
Madalena olhou para o homem e o
seu traje negro com um sinal de deboche para o seu cômodo. Na verdade, Mefisto
vestia negro. A capa do pescoço como uma gola alteada, era negra e seguia até o
final, aos pés. Roupa negra e também de negro eram as luvas e os sapatos. O seu
chapéu, negro, do mesmo modo. Tudo, enfim, negro. Contraste banal com a alvura
do quarto da bela dama. E, os dois continuaram com a sua peregrinação vendo os
lustres da sala grande, retratos da família esquecida, abajur, candelabro,
estantes repletas de livros. Um gato a dormir, por sinal, branco.
O temporal não parava com faíscas
dos relâmpagos e o ribombar dos trovões. Nesse momento, Mefisto convidou a
esplêndida dama a conhecer o seu belo coche com as luminárias acessas clareando
todo o ambiente. As montarias estavam prontas. Todas elas eram negras. Da pele
às vestes. O convite foi aceito. As duas irmãs de Madalena estava para dentro
do casarão. Os pais estavam a dormir. Fora, estava o cavaleiro, um negro só de branco
tinha ele os seus olhos. O coche estava todo polido e pronto para sair a
qualquer instante. Mefisto refez o convite para Madalena adentrar no coche. E a
bela dama cumpriu.
Madalena:
--- Eu estou às suas ordens. – e
sorriu com gesto simples
O homem negro da cabine de marcha,
fez finca-pé, e os cavalos sumiram no molhado caminho por onde seguiam os
andarilhos corcéis de um tempo passado. A virgem tomou assento e assim caminhou
os momentos do infinito.
Mefisto:
--- Seguirás o teu destino. –
falou sombrio.
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