- Jane Fonda -
- 03 -
SUSPEITA
O policial ficou atento a
suspeita com relação à doméstica como a pessoa a saber de algo mais do que
reportara ao seu patrão Otto Câmara. Em plena noite o militar então falou ao
delegado Delfino colher maiores informações da doméstica, Dalva. Por certo, a
moça saberia dizer de onde viera o homem morto, pois não existia explicação
para se sacudir um cadáver no chão de uma casa, pelo menos, nas casas do centro
da cidade.
Soldado:
--- Que acha? – indagou.
Delegado
---Eu já tomei depoimento da
moça. Ela não sabe de nada. – falou com severidade.
O médico, ao fazer os exames,
declarou não saber como o fato ocorreu.
Medico:
--- Eu não tenho explicação. Só
caindo do céu. – reclamou a coçar a cabeça
Delegado:
--- A casa ao lado? – indagou
surpreso
Médico;
--- Fechada. O homem, Otto, falou
que o pessoal saiu há mais de uma semana. Todos foram para um sítio. –
declarou.
E o delegado foi novamente falar
com Otto Câmara sobre o paradeiro da família ao lado. E voltou com a mesma
resposta. Enquanto isso, o soldado subiu no muro de trás da casa onde estava o
defunto. Ele apenas inspecionou o local. Voltou, declarando;
Soldado:
--- Tem uma casa nos fundos dessa
morada. – relatou
Delegado:
--- Eu já sei. O advogado falou
que ali mora um coronel. –
Nicácio
--- Isso mesmo. E, por sinal,
aleijado. Ele sofreu trombose. Não se locomove e nem fala. Algo mais? –
indagou.
Delegado:
--- Por enquanto, não. –
respondeu inquieto
Médico:
--- Vou levar o cadáver para o
necrotério. Fazer exames totais. – relatou.
E determinou remover o cadáver
para o necrotério do ITEP. Os auxiliares removeram o corpo em um ataúde
semelhante a um caixa feito de lata ou alumínio. O “caveirão” estava próximo do
portão da moradia do senhor Otto Câmara e pelo o mesmo caminho os auxiliares
caminharam para pôr a embalagem dentro do carro. Após uma série de
recomendações, o motorista do caveirão pegou o carro e seguiu caminho. A pouca
gente estava ao largo e todos queriam ver o defunto. Porém, o caixão estava bem
trancado e não dava para reconhecer quem o carro conduzia. Depois, o delegado
formulou anotações e guardou o impresso. Otto seguiu caminho para a casa dos
pais de Clara, onde a esposa foi dormir, junto com os filhos e a doméstica. O
advogado Nicácio Lopes simplesmente acenou para o seu novo cliente desejando
boa sorte.
Otto:
--- Infelizmente nem sei se vou
dormir. Esse cadáver não sai do pensar. – relatou chateado
Houve dispersão dos curiosos. A
habitação foi trancafiada com as luminárias desativadas. Apenas, Otto deixou
acesa a Árvore do Natal. O advogado Nicácio fez um aceno cordial para o seu
vizinho em naufragada tristeza. A noite seguia tranquila no restante da cidade,
excluindo os cabarés, onde a atividade era frenética. A guarda noturna seguia o
seu curso agitando o seu apito noturno a chamar o segundo e terceiro guardas. O
homem das frutas caminhava logo de madrugada para o Mercado da Cidade. Outras
domésticas voltavam já pela madrugada de um forró onde foram dançar na
antevéspera do dia de festas. Os impressos seguiam o seu curso normal para a
saída do “forno” às primeiras horas da manhã.
De manhã, logo cedo, Otto Câmara,
seguiu até a sua moradia para inspecionar se estava tudo em ordem após uma
intranquila noite. Já era a manhã do dia 23 de dezembro. As repartições
municipais, estaduais e federais teriam meio expediente, menos o setor bancário
e os locais de atendimento aos de urgência. Um carro de bombeiro passou em
velocidade, provavelmente para algum socorro. Logo após vinha um jeep. Otto
olhou com pressa e nada atinou. Apenas desejava seguir o seu destino.
Gazeteiro:
--- Jornais do dia! Caso do homem
caído do céu! – gritava o rapaz.
Otto reclamou com insistência por
conta do alarde do gazeteiro. Por isso, nem quis apreciar para o matutino.
Apenas seguiu em seu veículo até chegar a sua residência. Bem à frente topou com o advogado com as suas
mãos para trás, batendo uma na outra e ainda de leve pijama. Ele, o advogado,
estava a verificar apenas o prédio. O portão trancado. Ele sacolejou para ver.
O automóvel estacionou com leveza e Otto desceu.
Otto:
--- Bom dia, doutor Nicácio! Algo
a falar? – relatou com frieza.
Nicácio:
--- Ó! Bom dia! Desperto? -
(sorriu) – Nada não. Apenas, olhando a cena! Engraçado! Uma casa comum a se
notar, hoje, está nas manchetes. – falou com vagar.
Otto:
--- A minha mulher já está
comovida e prefere não mais vir morar nesse “templo”. – relatou entristecido.
Nicácio:
--- Isso passa! Com o tempo,
passa! – declarou com a mesma calma de sempre.
Otto:
--- Nada! Ela tem razão! Vou pôr
à venda essa espelunca. – abaixou a fronte
O advogado Nicácio Lopes sorriu
sem querer. E, em seguida decidiu falar.
Nicácio:
--- Isso é difícil de reportar. A
mãe perde uma criança. Ela não olha mais o futuro. E se em sua casa morre um
parente. Volta-se ao mesmo drama. E se ter um homem morto no quintal, é ainda
bem pior. Se bem, não é esse o caso. Mas se o senhor olhar bem, verá que,
seguidamente vai ter temor de até passar pelo local onde o cadáver foi
encontrado. – falou com simplicidade
Otto:
--- Isso. Isso. Eu vou vender
essa pocilga. – falou abalado
Nicácio:
--- E o galinheiro! Ninguém
pensou no galinheiro. O cadáver pode ter sido sacudido por cima do galinheiro
de uma casa por detrás – falou pensativo.
Otto
--- Mas é isso! O galinheiro! –
falou o homem com entusiasmo
Nicácio:
--- E disse que o caso era uma
hipótese. – relatou com maior severidade
Otto
--- Mas é isso! Vamos a
delegacia! – fomentou como despertar da lucidez.
Nicácio;
--- Não agora. Seria muito fácil,
pois que matou quem seria? – indagou.
Otto:
--- Quem seria! Mas o senhor
pensa em tudo! Quem que seria! – deixou o homem a repensar
Nicácio:
--- Podia ser da casa vizinha. –
relatou
Otto:
--- Vizinha? Mas está desocupada.
O pessoal está no interior. – relatou
Nicácio:
--- E só uma volta acidental? A
pessoa entrou na casa. E o vigia ou mesmo o dono voltou? E pegou o ladrão
dentro da casa? E se não era um ladrão? Quem era? - pesquisou
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