quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

À LUZ DA LUA - 37 -

- Charlize Theron -

- 37 -

ASSOMBROS

Rodrigo estava no mês do seu aniversário. O dia era o 10. Ele nem mais se lembrava de tal data, pois a sua memória era por demais carregada com assuntos da sua repartição. Eram pais para cá, papeis para lá, um chope gelado no final do expediente e logo depois: cama.  Todos os dias e até mesmo aos domingos e, se possível, aos feriados era uma rotina só. Às vezes, Rodrigo desligava o seu telefone celular para se esquecer que ele existia e podia, desse modo, dormir sossegado. E, finalmente, chegou o dia 10 de Outubro. Todos, na rua, corriam apavorados como se um cão raivoso estivesse a persegui-los para matar. Todos, menos Rodrigo. Esse, ainda dormia nos instantes da manhã sem sol. Sem sol? Como?
Povo:
--- Estamos fritos! O sol apagou! – era o clamor geral.
Povo:
--- Socorro! Santo Deus! O mundo vai acabar!!! – era o que diziam.
Na verdade, esse era o clamor real. O dia 10 de Outubro o sol apagou. Nada era visível na Terra. O apagão total. Geladeiras sem funcionar. As lâmpadas estavam apagadas. Rádios da cidade nada emitiam. Televisão, era a escuridão total. Água a faltar. Nem os postos de combustíveis tinham o poder de fornecer o óleo. Foi então que Rodrigo despertou a sair da sua cama. Ele procurou vislumbrar a gente e, apenas podia enxergar a multidão apavorada a desencaminhar para um lado e outro sem saber para onde caminhar. A beatas se ajoelhavam e rezavam um relicário a pedir aos Céus a clemencia do Protetor. Os evangélicos conclamavam:
Evangélicos:
--- Orem! Orem! Orem! É o poder do demônio! – relatavam eles de onde estavam
A danação do diabo! Era essa a vertiginosa calamidade do próprio insidioso mal. Não se tinha comunicação com nenhuma parte da Terra, o planeta sacrificado. E foi assim, nesse pandemônio que o a rapaz acordou. Nos corredores de seu apartamento o movimento era tamanho como se houvesse um estrondo arrebatador sendo capaz de toda sorte degradante. Tão de repente o rapaz acordou. Apesar dos estrondos no corredor serem fortes, Rodrigo não se abateu. Devagar, com imenso cuidado ele foi até a porta de entrada por onde os estrondos se reverberavam com tamanho impacto, mesmo assim, ele abriu a porta. Um baque surdo e Rodrigo caiu por terra. O corredor era tomado de gente apavorada. Aos gritos, a turba clamava por se fazer algo.
Turba:
--- Socorro! Meu Deus! Estamos morrendo! - alarmavam  
Ainda zonzo do terror inimaginável, o rapaz procurou se levantar e, com bastante cuidado foi novamente até a porta apenas para indagar da confusão intermitente. O alarme soou da boca de algumas pessoas a perseguir em debandada.
Passantes:
--- É alarme do demônio. – alertou um fugitivo.
E Rodrigo de nada sabia. Apenas, ainda um pouco zonzo, procurou enxergar por entre aqueles que escapava do eterno furor e avistou uma escassa luz por a claro o bando de fugidios a correr sem tréguas procurando alcançar os temíveis corredores de descida. E perguntou mais severo a alguém o que estava a ocorrer:
Rodrigo:
--- É fogo? – indagou alarmado
Fugidio:
--- Antes fosse! Antes fosse! É o céu a desabar! Corra! Fuja!!!! – respondeu
Rodrigo:
--- Céu? Que céu? – indagou perplexo.
Outro que passava ainda teve tempo de falar:
Passante:
--- Só pode ser a besta-fera! Corra! Corra! – alertou com tamanho medo.
E Rodrigo se encaminhou devagar por entre a turba enfurecida, galgando a escada para poder chegar ao seu final. Gente muita. Todos a clamar a proteção divina. Crianças. Meninos de colo. Velhos, mulheres, rapazes e moças. Todos, na rua. Era o caos. A correria louca a assombrar até mesmo os mais deficientes, aleijados, pobres e ricos. E ouvia-se apenas o clamor.
Parceiras:
--- ô meu Deus! Onde está meu velho? Me perdoe Senhor. Não desobedeço mais os seus conselhos! – relatava com prantos eternos
E assim, era o mundo todo. A correria era maior ainda a se chegar mais ao centro da cidade. Não havia claridade do sol. Havia apenas as trevas. Na verdade, o sol pagou de vez. Um estrondo abrasador foi ouvido como de um gigante desalmado a querer tragar todos os seres vivos. Esse era o aniquilamento fatal para ninguém escapar. Não se sabia de onde vinha tal fragor, pois de todas as partes o estertor era anunciado.
Alguém
--- O Príncipe das Trevas! Ele veio para levar todos nós! – gritava assombrado um ser terrificante
Gente caída por terra. Outros agonizantes. Crianças aos berros. Moça a se abraçar com seu noivo e rogar para ele se compadecer do havia feito. A hecatombe final. Todos os edifícios saiam gente em real pavor. Alguns ligavam os seus celulares para alguém em outra região. No entanto nada conseguia.
Gente:
--- Não atende! Não atende! Ai meu Deus! É o final de tudo! É a escuridão da morte! – dizia-se
Carros empilhados sobre os demais de uma tragédia universal. Fogos enormes desses veículos pondo em risco todo vivente. O oceano encrespado jogava suas ostensivas marés por cima de todos e de tudo enveredando para dentro das enormes residências. Tão logo os edifícios eram invadidos, ouvia-se o estrondar das ruínas a descer como carta de baralho. O sol impingia sua força total aos pequenos seres humanos viventes na Terra. Era a escuridão catastrófica da maior força de uma explosão do Astro Rei. Não seria possível antever quando essa explosão perderia tal efeito. Poder-se-ia supor ser de alguns meses ou até mesmo um ano. A garantia era de estar tudo arruinado dentre de uma semana. A falta de energia estaria gerando a incapacidade de se rever aquilo que o homem, com muito sacrifício, construiu nos recentes anos. Temia-se por mais algum tempo essa tempestade solar. Porém, o Sol não deu aviso. Explodiu. Apenas Explodiu. O mar revolto de energia solar durou apenas seis horas para chegar a Terra. Sua imensa força desgastou todos os complexos de satélites artificiais mantidos no espaço e em, no mínimo, questão de minutos, sem dar oportunidade de onde estava vindo tal mancha, eclodiu sem aviso. O Sol é uma enorme mancha de hélio em perfeita combustão e, quando há esse momento, acaba-se tudo, em questão de minutos ou, até, de segundos. A humanidade como todo se viu atrelado e caído no chão. Uma chuva ácida se fez presente a sufocar os seres vivos da Terra.
Alguém
--- Estou morrendo sufocado! Ah Meu Deus! – alertava sem mais respiração.
Em sufocante forma, o Sol foi encoberto a deixar todos os aflitos apenas a morrer sufocado. As maiores usinas elétricas ficaram sem força em todas as partes do Globo terrestre. Não havia luz, nem água e os alimentos, por mais que se fizesse, acabaram por ruir.  Era, na verdade, o fim de tudo. Quando o Sol recobraria sua força, não era de se supor. Ele agora estava, nesse instante, degradado
Rodrigo, alcançou algum tempo o mais alto das montanhas, e por lá ficou, a espera de ver ainda um pouco da sombria luz solar. Não sabia como. Não sabia quando. Mas esperaria o seu tempo pois sem a luz do sol nem mesmo as repartições públicas estariam voltando ao seu verdadeiro terreno de guerra.
Rodrigo
--- Meu Deus. Quanto tempo vou ter que aguardar? – era com desânimo
A luz ofuscante do Sol não chegou como Rodrigo esperava. Ele se lembrava da era glacial e que durou milênios para se poder ver a claridade solar. Um porco do mato surgiu como por milagre e o rapaz pegou o animal. Após os esguichados e enormes sacrifícios, Rodrigo conseguiu matar o animal e poder dar sucesso a sua maltratada fome pode a carne do porco para assar em uma fogueira feita de trempe com cinco paus. Após matar a sua fome, o rapaz adormeceu naquela tardia noite ou dia.
Passaram-se os tempos sem nenhuma claridade solar. A cabana improvisada por Rodrigo era a única novidade no alto da colina. De cima, ele não enxergaria mais nenhuma alma perdida. Apenas os animais do mato, com a sua certeza. Galinha de Angola, touro brabo ou até mesmo alguma espécie variada de animais silvestres.
Rodrigo:
--- Aquilo é macaco! – falava quando notava algo diverso.
Um ano de escuridão total. Para Rodrigo aquele tempo era melhor que os deluz. Se havia pesca no rio, ele estava atento por lá.
Rodrigo:
--- Peixe? É bom! – dizia a apanhar algum pescado e frito em uma trempe.

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