quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

SUPLÍCIO DE UM MISTÉRIO - 24 -

- CORONEL -
- 24 -
CORONEL -

Certo domingo, bateu â porta do elevador o Coronel Fortunato, homem rigoroso vindo do interior a procura de Gastão. Ao abrir a porta, Gastão tomou até um susto. A chegada daquele homem rude fazia medo a qualquer um. Gastão sabia que, ao que parece, seria ele era seu pai. De há muito não tinha notícias dele. A forma como chegou foi ainda maior surpresa. À porta aberta, o Coronel entrou, quase sem pedir licença. Seu porte era de um homem alto e forte, capaz de ser um homem gigante. Fazia tempo que o Coronel não aparecia na capital. E sua presença foi tomada como espanto. Após instantes, Gastão falou:
Gastão
--- Que houve? - - indagou com espanto
Coronel
--- Eu vim ver você, apenas! - - relatou o coronel.
Esse nome era dado a gente do interior, como sendo gente nobre. E o coronel Fortunato era um desses fazendeiros que nunca se alegrava. Apenas olhava o filho como se nada tivesse a ver, por sinal.
Gastão
--- Ada, é minha mulher. - - disse o homem
Coronel
--- Prazer em conhece-la. E a família? - - perguntou pesquisado o interior da casa.
Gastão
--- Só tenho um garoto! Esse! - - mostrou o menino Aldo.
Coronel
--- Muito bem. Garoto esperto! Seu nome? - - perguntou ao menino
Gastão
--- Tome a benção ao seu avô. E diga o seu nome! - - disse Gastão
O menino pediu a benção e logo depois disse o seu nome. O coronel o agarrou pela cintura e o pôs no colo, perguntando.
Coronel
--- Sabe montar cavalo? - - sorriu brando
Aldo
--- Eu monto quando meu pai deixa! - - respondeu com vergonha
Coronel
--- Você tem que montar com mais vontade. Sempre e sempre! - - disse o avô
Ada sorriu e continuou.
Ada
--- Ele sabe montar. Não tem problemas. Não é, Aldo? - - perguntou
Coronel
--- Pois é. Sempre monte. - - e fez cavalinho com sua perna
E nesse instante, Gastão perguntou.
Gastão
--- E minha mãe, como está? - -
Coronel
--- Ah. Está velha. Mas aguenta o tombo. Parece uma menina. - - relatou.
Gastão
--- Tenho serviços e nunca posso sair daqui. Além disso, a fazenda me toma tempo. – - se desculpou
Coronel
--- Por falar nisso, mataram um rapaz do sítio? - - perguntou sem motivo.
Gastão
--- Sim. Uma querela entre dois jagunços. Não sei bem o que houve. - - explicou
Coronel
--- Jagunço? Por acaso, o teu vaqueiro não seria Carcará? - - indagou sem receio
Gastão
--- Era assim que o chamavam. Homem das bandas das Alagoas! - - falou sem explicar
Coronel
--- Aquele homem foi mandado do teu avô, ouviu? Não era um pau mandado qualquer! –
Gastão
--- Eu sei. Eu sei. Meu avô foi quem mandou. Mas, é a vida! - - pediu desculpas.
Coronel
--- Sim. É fato. Mas, algo tenho a reportar. Carcará era um cangaceiro. O matador era outro. Se ele, veio para liquidar Carcará, claro, não esperava ser morto. Mesmo assim, o fim foi diferente. E Jeronimo foi morto. Acontece que ele matou a mando de alguém. E quem foi que ele cumpriu ordens? E preciso saber! - - disse o coronel.
Castão
--- Não sei de ninguém que quisesse liquidar o Carcará. Talvez rixa antiga entre os dois. Penso eu sem duvidar.
Coronel
--- O meu pai que é teu avô tem outra opinião. - -
Gastão
--- Qual é essa opinião? - - quis saber
Coronel
--- Isso envolve políticos. Gente grossa! Esse pessoal, camuflados em partidos políticos, são a água-ardente que não se quer beber. - -
Gastão
--- Não entendi nada! Vamos começar de novo! - -
Coronel
--- Pois bem. Você tem aqui ótimos políticos, não é verdade? Pois sim. Esses ótimos políticos são as fezes dos piores políticos, se eles existirem. Esses políticos têm hoje a fama de não fazer nada, apesar de não de enxergar um palmo à frente do nariz. Entendeu? - -
Gastão
--- Não entendo bem. Prossiga! - -
Coronel
--- Não entende? Pois bem! Você vota, hoje, em quem tem mais dinheiro. Entendeu? Mas, quem é que tem mais dinheiro? - -
Gastão
--- Talvez uns poucos dos muitos que existem; - -
Coronel
--- Muito bem. Mas quem são eles? Sabe dizer? - -
Gastão
--- Em Natal? - - quis saber
Coronel
--- Para o começo, em Natal ou no Rio Grande do Norte! - -
Gastão
--- Não sei bem. Mas há senadores, deputados federais, estaduais, prefeitos e mesmo um Governador. Os nomes sei muito bem quem são. –
Coronel
--- Ótimo. Ótimo. Além desses, tem outros. Acreditas? - -  quis saber. 

sábado, 18 de fevereiro de 2017

SUPLÍCIO DE UM MISTÉRIO - 23 -

- CRUS VAZIA - 
- 23 -

FICAR -

No dia seguinte, Corina chegou cedo ao AP de Gastão, trazendo o leite despachado todos os dias da fazenda para a Usina de Natal, vindo no caminhão do leite o qual deixava um litro na casa de Ada e depois seguia em frente. A mulher estava triste pela perda de Carcará e lembrava da calma havida por todos os tempos aquele homem. De conversa em conversa, Corina indagou a Ada se seria possível se dar abrigo a dona Maria, mulher de Carcará. A mulher ouviu com bastante atenção e declarou.
Ada
--- Ela falou alguma coisa nesse caso? - - preocupada
Corina
--- Nada falou. Sou eu que estou perguntando. - -
Ada
--- Bem. Se ela quiser vir, a casa está aberta. Não acredito muito nessa pretensão. - -
Corina
--- Eu também. Apenas indago. Só, naquele meio de gente, alguns que ela nem conhece. Sei não. Sei não! - - falou com desgosto
Ada
--- É a vida. Vejamos o que acontece. Gastão tem que resolver isso. O leite! Quem vai tomar conta dos animais? - - perguntou olhando Corina
Corina
--- Não sei. Talvez algum vaqueiro que se preste. Eu não sei nem os nomes de todos! - - dialogou
Ada
--- Nem eu. Talvez Lino, ou outro qualquer. Quem o mais ativo no sítio? - - indagou
Corina
--- Sei lá! Tem tantos. Eu não sei, pelo nome, de nenhum! - -
Ada
--- Então, vamos aguardar. Deixar o tempo seguir a rota. - -
Tempos passaram, quem estava à frente dos negócios era dona Maria. Ela não quis sair da fazenda. No dia seguinte da morte de Carcará, quem esteve à frente dos negócios do gado foi o vaqueiro Lino. Era o que mais confiança tinha o seu Gastão. Homem ativo de correr para um lado e para outro. Foi ele quem ficou despachando o leite, o queijo e de sorte, comprando ração para os bichos. De tudo isso, ele fazia as contas com dona Maria. E, depois começava tudo de novo. Tanger o gado, informar as ordens tomadas, vigiar os porcos, as cabras e ovelhas. Tudo isso ele fazia. Gastão, certa vez, apareceu com um mulato de nome Chicó. Era um homem carrancudo de cuspir fumo para um lado e para outro. Dessa vez, Gastão chamou dona Maria e apresentou Chicó como o homem a tomar conta do gado. Ela continuava a tomar conta da fazenda. Lino permanecia fazendo o que já sabia fazer.
No dia seguinte, estava Gastão ouvindo a TV quando sua mulher Ada o indagou sobre os programas.
Ada
--- Querido, você já ouviu falar no Imperador Constantino, do Roma? - -
Gastão estava distraído com o programa e disse então.
Gastão
--- Constantino? Ouvi falar! Não sei muito a seu respeito. Conte-me, por favor! - -
Ada
--- Ele era de família pobre. Mas, logo cresceu. Chegou a ser Imperador. Era um tempo de batalhas entre os romanos e o povo cristão. Isso foi em 313 depois de Cristo. Constantino não era católico. Porém, certa vez, ele viu no Céu uma luz brilhando. Logo, ele pensou que a luz era Jesus. - - explicou
Gastão
--- Ah Já ouvi falar nessa história. E era Jesus, mesmo? - - indagou meio duvidoso
Ada
--- Aí é que vem a história de verdade. Não era Jesus. Uma bola de fogo desceu à Terra e impactou nas montanas de Roma e o caso ficou em sigilo se pensando que era Jesus. Mas não era. Uma bola de fogo, um asteroide como sempre cai na Europa, Brasil, Estados Unidos. Como não se conhecia naquele tempo os esteroides, ficou o dito por não dito. - - sorriu
Gastão
--- Imagino! Ora que coisa! Asteroide! - - falou breve
Ada
--- Eu vi, agora, um asteroide e pensei no caso. A bola de fogo. - - calou o voltou a olhar o céu no seu telescópio
Gastão
--- Mas nas escolas não se ensina isso! - - disse mais
Ada
--- Isso é estudo mais para frente. - - disse a mulher olhando as estrelas
Gastão
--- Essa questão é muito severa. –
Ada
--- Sim. Por que um Imperador e seus guardiões viram, do Céu uma Cruz flamejante? E quem duvidaria da palavra de Constantino?  Ele era um imperador. E a Igreja Católica vivia em guerra com os hereges.  Isso era como se chamava os não cristãos. Os hereges. Imperadores de duas facções. - -
Gastão
--- E depois? - - Indagou
Ada
--- Depois? Bem. Constantino – dizem – caiu de joelhos no chão suplicando o perdão de Jesus. E, tornou-se cristão. Em 325, ele convocou um Concílio de Niceia com 300 bispos com a intenção de reformular a Doutrina Cristã e basicamente tudo o que conhecemos hoje.  Vários temas doutrinarias foram debatidos como a Páscoa e a    Quaresma, período de 40 dias que devia preceder a Pascoa iniciada na quarta-feira de Cinzas. A Bíblia, que hoje conhecemos, também foi modificada com a retirada dos livros considerados hipócrafos, como livro de Enoque. - -
Gastão
--- Quanta coisa mudou! Mais algo? - - quis saber
Ada
--- Muito mais. Muito mais. Foi a mudança do nascimento de Jesus para o dia 25 de dezembro, data que também que corresponde com o Deus Romano, Mitra. No mesmo período de outras comemorações pagas da época. Os protestantes de hoje também sofrem com essas manipulações. –
Gastão
--- Quer dizer: a religião é um interesse de alguns. Protestantes e Cristão. –
Ada
--- Isso. Isso. Quem quer ser cristão, será. Quem quer ser protestante, é a mesma coisa. –
Gastão
--- Isso quer dizer que um dos seus maiores legados da Igreja Católica é o cristianismo. –
Ada
--- Isso mesmo. Para os Cristãos, o evento essencial na fundação de sua fé é a crucificação. Esse conflito de perspectivas tem um mesmíssimo resultado: uma história épica com o dois mesmo resultados.
Gastão
--- Sacanagem. - - disse o senhor

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

SUPLÍCIO DE UM MISTÉRIO - 22 -

- CANGACEIRO -
- 22 -

MORTE -
Lino era um capanga do sítio de Gastão. Certo dia, ele vinha a cavalo, desembestado como um louco, passando por cima de pau e pedra, puxando pelos estribos o seu animal, se aguentando como podia, a cara de um homem apavorante, deixado a poeira cobrir até chegar a porteira do sítio já bastante exausto e sem poder nem falar de cansado que estava. Ele trazia uma notícia aterradora para contar a dona Maria e a quem mais tivesse para ouvir. Sem poder falar, Lino apenas balbuciou.
Lino
--- Dona....o seu ....marido....está morto...- e caiu da cima da cela postando-se ao chão.
Dona Maria nem ouviu direito o que o homem Lino acabara de falar. Apenas racionou ter sido o seu marido morto por alguém. E saiu da sala de janta indo para perto de Lino o sacudindo para ouvir melhor o que ele sabia. Outro capanga veio direto, logo após do primeiro, e logo disse a dona Maria.
Capanga
--- Matara Carcará, minha senhora! Foi no caminho de Macaíba. - - relatou nervoso
Maria
--- Mataram meu homem? Me dê seu cavalo! - - e empurrou o homem da cela perguntando de saída se tinha sido no caminho de Macaíba.
A capangada se juntou a dona Maria e logo foi para o local indicado. Tinha gente a olhar os mortos. Eram dois. Carcará e outro facínora. Eles estavam mortos à custa de bala. Após averiguar de quem mais sabia, chegou-se à conclusão de que os dois bandidos trocaram fogo. Não se sabe que atirou primeiro. Mas os dois atiraram em cima do coração de cada um ou mais ou menos isso.
Pessoa
--- Mataram Carcará? - - indagou alguém sem acreditar.
Pessoa-2
--- Dois tiros. Foi pei e bufo! - - explicou o outro com o rosto franzido.
O caso, quase explicados foi do jeito que o povo disse. Carcará já saíra das terras de Macaíba quando ouviu um grito vindo de trás, não muito longe. Era o outro matador, Jerônimo, cangaceiro de fama que vinha a procura do seu inimigo a mando de alguém e pago por certa quantia. Carcará, ouvindo o chamado, engatilhou a sua arma e se virou para a cara do matador. Ele o conhecia de longas datas. Os dois saltaram de suas montarias e houve pouca discussão.
Jerônimo
--- Vim te matar a mando de alguém! - – falou bravo
Carcara
--- Prove! - - respondeu o celerado com as mãos erguidas com duas armas.
Demorou-se alguns minutos e ambos ficaram à espera. Cada qual que fosse ágil. Não se podia decifrar qual de ambos eram o primeiro. A distância de dez passos, suando como quem. Os matadores esperavam a hora de puxar pelo gatilho. E não deu outra. Na hora precisa, ouviu-se os disparos. Cada qual que atirasse primeiro. E acertaram, os dois, no coração de cada qual. Jerônimo, mais forte que Carcará, ficou de pé por mais alguns instantes, mas logo caiu como um touro esbravejado. Talvez foi dessa forma como os dois caíram, mortos pelas balas de suas armas.
Enquanto isso, Maria chegou à cena da morte. Ela tão breve encontrou o corpo de Carcará. Era um homem forte, porém não gordo. O outro matador, era meio robusto de mais de 80 quilos. Ela nem se importou em vê-lo de perto. O seu homem estava caído de bruços no chão. A mulher chorou a perda de Carcará. A Polícia do local ainda não estava. Apenas homens, mulheres e crianças. Algumas comentavam.
Mulher
--- Ru-rum! Quem diria! - -
Mulher-2
--- E ele era matador? - - indagou assustada
Mulher-3
--- Ora essa! Foi bandoleiro do tempo de Lampião! - - argumentou outra.
Homem
--- Aqui é só o que tem. - - cuspiu fumo
Mulher-4
--- Cala tua boca, peste! Tu não sabes o que diz! Depois os outros tem vingança! - - embrutecida e olhando com a cara rancorosa
A Polícia só chegou uma hora após. Fez perguntas a mulher Maria sobre os dois criminosos e ela respondeu só saber falar de um, o seu marido
Maria
--- Ele era educado, trabalhador. Não tinha raiva de ninguém. É o que posso falar! - - discorreu triste.
Os corpos dos mortos foram levados para o Instituto de Criminalística para logo após identifica-los e formalmente identificá-los apenas como mortos. Corina foi que avisou a dona Ada e, por conseguinte, Ada a Gastão. O sepultamento se deu na tarde do mesmo dia. Gastão ficou calado na hora do enterro e remoendo a memória por causa de ter um assassino vindo tão perto de sua fazenda para matar um dos seus homens.
Ada
--- Quem era o tal Jeronimo? - - indagou murmurando
Gastão
--- Um caçador de recompensas. Um matador sem estrelas. - - respondeu
Ada
--- E veio por vingança ou por mando de alguém? - - inquieta
Gastão
--- Quem sabe? Talvez por apenas recompensa. - - informou
Ada
--- Você não sabe quem mandou? - - inquieta.
Gastão
--- Não. Eu não. Mas tenho minhas suspeitas. Jerônimo era um cangaceiro de muitos patrões. - - pensativo
Ada
--- Por que só matou Carcará? - - duvidosa.
Gastão
--- Por mulher, não foi. Eu penso ter sido por algum crime que ele fez antigamente. - -
Ada
--- Ele matava assim, sem dó nem piedade? - - indagou com suspeitas
Gastão
--- Meu pai pode saber. Jerônimo mata um para vingar outro. As vezes não nada a ver com quem ele matou. Ele, Carcará, nunca me falou do seu passado. Eu sabia de coisas por ouvir dizer. - -
Ada
--- Alguém tem interesse em te liquidar? - - cismada
Gastão
--- Pode ser que tenha. Pode ser que não. Tem um deputado, que eu nunca falei com ele. Somos intrigados. Mas, duvido que esse deputado tenha tanta coragem. - - cismado
Ada
--- É bom não duvidar de tal elemento! Pode ser que seja esse tal. - - inconformada
Gastão
--- Por que ele não vem tirar tem direto comigo? - - quis saber
Ada
--- É melhor se prevenir. Você nem anda armado! - - preveniu
Gastão
--- É verdade. É verdade. E vou continuar sem armas. - -

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

SUPLÍCIO DE UM MISTÉRIO - 21 -

- VIENA -
- 21 -
VIENA -

Um mês após, Gastão e Ada estavam em Viena, Áustria, conhecendo aquela parte do mundo. Não primavera do Norte, as ruas se enchiam de turistas além dos nativos. Nem parecia mais a cidade destroçada par Adolf Hitler, recanto onde o homem nascera a 20 de abril de 1889, na cidade de Braunau am Inn e se tornar o Líder da Áustria e da Alemanha despejando horrores de sua pátria desconhecida. Tantos anos após o seu nome não era ainda esquecido. Porém, o casal, passeava pelas ruas cheias de gentes, parques infantis, Teatros, estátuas monumentais e ricos adornos. Era um caso de se adorar a todo instante. Cafés de Viena, a todo instante. Hotéis, os mais luxuosos e requintados onde se podia beber e comer ao belo gosto. Teatros eram um caso à parte. Luxo e graça. Dá para perceber que Viena é muito focada em apresentações clássicas, óperas, peças teatrais e bailes vienenses. Imagine um boulevard no qual se encontra palácios e parques, muito próximos uns dos outros. Na parte elegante da cidade, há um “Quarteirão Dourado”, local dos antigos comerciantes da corte de imperadores e reis. Viena é considerada como a melhor cidade para se viver, cercada de estátua de mármore em todo seu recanto. Obras primas de Klimt, Monet e Van Gogh a se comtemplar. É o Belvedere do Turismo.
Ada
--- Maravilha! Tudo por tudo! - -
Gastão
--- E ainda tem mais. - - sorriu
Ada
--- Acredito. Um país destroçado pela Guerra, só podia ser assim. Em um ano, só havia cadáveres pelas ruas. Agora, volta ao seu apogeu. - -
Gastão
--- Um amigo me informou que tem aqui uma casa onde se guarda pertences de Paul Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda de Adolf Hitler. Algo sobrenatural. Quer visitar? - -
Ada
--- Onde fica? - - curiosa.
Gastão
--- Não muito longe. Era toda trancada. Tinha, na frente, uma galeria que a protegia de possíveis invasores. Dentro, as estantes com tudo que era de armamentos, fardas entre copos, bebidas, quadros de autores famosos. Outras coisas também. Vamos! - -
Após contratar um Guia que, acidentalmente, falava o português, o casal alugou o carro e se enveredou pelo Alpes de Viena, atravessando rios, inclusive o Danúbio, e bosques, para atingir o ponto alto daquele que eles pretendiam abordar: um bangalô antiquíssimo perdido no tempo e no espaço vindo da fase de ouros da velha Áustria, do tempo dos rouxinóis de Viena e de quando se cantava há-li-há-li há-lo por bardos nas florestas de encantos perdidos.   
Subindo os Alpes e descendo outra vez, caminho de pedras e dobras íngremes, vendo-se escarpas ao ponto de observa-se as nuvens, então ali estava a mansão perdida entre bosques.  Solidão, nostalgia, tristeza. A moça que servia de guia, saltou do carro e deu um grito para o fazendeiro que estava capinando o local. O homem, agachado, ouviu a moça e logo veio abrir a cancela para as visitas poderem entrar; O homem, já velho não falava outra língua a não ser o alemão. A Guia pediu licença para poder mostrar a Mansão aos visitantes perguntando se já estava na hora.
Fazendeiro
--- Sim. Pode entrar. À sua disposição. - - disse o homem em alemão.
A ordem foi cumprida. A Mansão era cuidada pela Prefeitura de Viena construída em uma arquitetura magnifica com praças e jardins. Logo em seguida, o homem abriu o portão de ferro e deu entrada ao automóvel com os seus visitantes. Na verdade, a Mansão era magnifica. Abrindo a sala ali se encontrava de tudo o que se podia ver entre estátuas de autores diversos, salões imperiais, diversos quadros de pintura, estantes e peças de relógios, mesa posta ao sinal de candelabros, cadeira acolchoada, salão de bilhar rodeado por quadros imensos de pinturas medievais, salões de dormir entre camas de esmero orgulho.
Ada
--- Lindo mesmo. Um primor! - - disse a mulher sentindo-se orgulhosa
Gastão
--- Mas tem mais. E é um segredo. Veja! - -
Gastão puxou um mecanismo por trás de uma estante e uma porta se abriu vagarosamente. Do lado de dentro havia estantes cobertas de retratos de pinturas artísticas de nomes dos mais importantes senhores da arte como Franz Xaver, Bremen, Kiesel, Menzler, Behmer e tantos mais artistas da Nobreza. Era um quarto imenso com obras de arte. E no daquilo tudo, havia um porão pouco visível. Dentro, estavam as fardas de Joseph Goebbels, homem que apoio o antissemitismo, devoto de Adolf Hitler e exterminou o povo judeu no Holocausto. Goebbels era Doutor em Filosofia e líder distrital do partido Nazista. Como tal, foi ele o Chanceler e Ministro da Propaganda da Alemanha.
Ada
--- Que horror! Um homem tão belo e se cai no ostracismo! - - falou desaprovando
Gastão
--- Ele morreu em 1945 no dia 1º de Maio. Ele e a família, mulher e filhos. Ele ingeriu cianureto.
Ada
--- Não deixa de ser um patife! - - tremendo
Gastão
--- É isso! Tanta riqueza para se suicidar de repente. –
Elas ainda visitaram a cozinha, os armários, os locais de aconchego, varandas, parques para os meninos além de patos, gansos, coelhos entre outros ainda existente no belo quintal. Foi mais de uma hora a visita a Mansão tão escondidas nas florestas de faia de Viena. Após esse tempo, assinado o livro de protocolo de visitantes, Gastão, a esposa Ada e mais a Guia e seu motorista rumaram para o centro da cidade onde repousaram até chegada a hora de Gastão estar presente a anunciada recepção aos demais visitantes, inclusive a senhorita Semíramis.  O auditório esteva repleto àquela hora da noite. Gente de vários países falando diversos idioma que ninguém quase não entendia. Era a noite de gala para todos os que fizeram suas artes da melhor qualidade. Do lado de fora bandeiras de diversas nações. Lado de dentro, o luxuoso teatro de música clássica: Musikverein. Nesse teatro se apresentaram as mais belas figuras da dança e do folclore da Áustria. Após tudo, começou a entrega dos troféus aos artistas convidados. A festa prosseguiu até altas horas da noite entrando pela madrugada. No dia seguinte, após um leve repouso, os convidados fizeram um tour pela cidade. Houve festas em partes diversas do país. Cafés, restaurantes, parques, jardins, belvederes, até mesmo um passeio sem medo em uma roda gigante, símbolo de Viena.
Ada
--- Encanto! A coisa mais sugestiva que eu participei. Roda Gigante! - - gargalhou
Gastão
--- Bela mesmo foi a Escola de Artes onde se pode assistir a obra de arte de Gustav Klimt mestre e pintor simbolista austríaco. –
Ada
--- Viveu até 1918. Um Mestre mesmo. Tem um quadro que ele fez mesmo mostrando a sua imagem. –
Gastão
--- Para você ver. Um artista pobre. - -  
E o casal continuou a sua peregrinação por Viena, o centro histórico um dos mais belos da Europa. Um caso bastante natural à sua época: Luis XVI, casado com Maria Antonieta, da Áustria, foi condenado à morte, sendo guilhotinado. As imagens dos dois, foi posto para se ver hoje em dia na Basílica de Saint-Denis, fora de Paris. Mas há as belas imagens da Áustria com as pessoas em visitas. Uma das quais é O MUNDO É NOSSO. Viena é uma cidade linda entre um mix de um clássico e o contemporâneo. Uma cidade de dois milhões de habitante, bem grande para o porte europeu. O transporte público é excelente. Os vienenses são amigáveis e os pontos turísticos são maravilhosos.
Ada
--- Eu não posso acreditar. Eu vivi em São Paulo e não tem nem aparência. –
Gastão
--- Pode-se dizer que é parecida com Natal, guardada as proporções. Em Natal não tem imagens, parques, passeios. Nada disso. - -
Ada
--- Pois é. Não se parece então. -   

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

SUPLÍCIO DE UM MISTÉRIO - 20 -

- ENERGIA -
- 20 -
LUZ -

Quase uma semana passou. Era domingo. Na fazenda era dia. Um cavaleiro vindo de fora, as pressas, logo foi dizendo que a energia havia chegado, pelo menos em Macaíba, cidade de onde ele estava chegando. Todo suado, cavalo bufando pela correria feita, querendo relinchar e nada podia fazer. O cavaleiro tem tapinhas na cernelha do animal para acalmá-lo. Seu chapéu de couro, o homem retirou da cabeça. E deu como certa a notícia.
Gastão
--- Agora? - - indagou com as mãos nos quadris.
Jacó
--- Faz pouco tempo. Logo que chegou, eu montei e sacudi para cá. - -
Gastão
--- Ponha a energia da rua, Ada. - - disse o homem
A mulher entrou dentro de casa e mando desligar o gerador para ver se a energia também chegara na fazenda.
Tiana
--- Luz? - - perguntou espantada
Ada
--- Veja se tem. Desligue o gerador e ligue a corrente da rua. - - falou a mulher
Tiana
--- Dá choque? - - perguntou assustada
Ada
--- Que choque? Ligue essa bosta. - - disse a mulher.
E a luz se fez. Gritaria em toda casa grande. A luz chegou. Vivas! Era a alegria total. E Gastão ficou aturdido pela falta de água no apartamento em Petrópolis, àquela altura. Recomendou que a esposa arrumasse a troçada e esperasse algum tempo, dois dias, no máximo para ter certeza de que a água também voltara. Nessa semana, as torneiras ficaram secas nas casas e muita gente teve que buscar o líquido, em bairros distantes. Com as torneiras gorgorejando, homens, mulheres, crianças buscavam água em pontos mais distante. A Empresa fez perfuração de poços tubulares para atender as necessidades de toda gente. Mesmo assim, homens e mulheres ainda estavam a conduzir a água dos poços.
Segunda-feira. Gastão seguiu direto para o seu AP, moendo do seu velho novo carro enquanto Ada rumou para a Universidade em seu novo carro. Aliás, o carro já estava até desgastado por seu tempo de uso. Mas, não deixava de ser um bom automóvel. A babá Tiana ficou no sítio tomando conta do menino Aldo. De manhã, bem cedo, ela foi buscar um copo de leite para o garroto beber. Depois, o café com bolo entre outras frituras. Maria era a cozinheira chefe. Ele, Aldo, se lembrava da menina Marina, porém nada comentava sobre o negócio. Nem ninguém sabia do atrevimento dos dois, Marina e Aldo. Ficou uma coisa pela outra. Ele viu por mais uma vez a menina chegar a casa, e mesmo assim, nada ele falou. Ambos eram calados. Na segunda feira, Corina chegou a casa, puxando a menina Marina pelo braço. Nesse ponto, Marina nada falou dom o garoto. Ficou sisuda e o menino, calado ficou. A menina apenas ficou grudada na saia da avó, mesmo assim olhando para Aldo, com a mão na boca.
Tiana
--- Quer leite? - - perguntou a menina.
Ela respondeu que não, fazendo apenas com a cabeça. A sua avó, olhou e disse.
Corina
--- Toma leite. Saco vazio não fica de pé, menina! - - disse isso com um puxavante.
Marina
--- Quero não. Minha barriga está cheia. - -
Corina
--- Cheia? Tu comesses o que? - - embrutecida
Marina
--- Café com pão. - -
Corina
--- Tá! Pão enche barriga de ninguém? Toma o leite e vai brincar com suas bonecas. - - e se soltou da menina.
Em segundos, a menina foi para o batente da porta de trás e Tiana chegou com um copo de leite para a garota beber dizendo apenas.
Tiana
--- Tome o leite. Faz bem. Eu tomei inda agora. Todo mundo tomou. Tome você. - - manso
A menina dessa vez não rejeitou. Bebeu um copo de leite dos grandes. Fez isso vagarosamente. Voltando a mesa, Tiana fez um aceno para avó da menina dizendo que a garota bebeu o leite. Devagar, Aldo se aproximou da porta e procurou sentar. Ele olhou para Marina, e nada falou. Brincou com um graveto. No quintal estavam os vaqueiros ainda tirando o leite das vacas. Aldo apenas observou. Já estava de bucho cheio do leite que bebeu em instantes. Nesse ponto, brincando com o graveto, ele indagou à menina
Aldo
--- Vamos brincar? - -
A menina nem olhou e deu de volta se levantando de repente indo até a cozinha. Por lá, pegou os pratos que ainda faltava lavar e, por certo, lambuzou, como se estivesse lavando de verdade. Aldo saiu devagar para o seu quarto de dormir.
Na terça-feira a turma toda voltou para o seu Apartamento. E a vida continuou sem motivos. A água que faltara, essa voltou às torneiras das casas. Ada já cumpria a missão de olhar as estrelas quando a noite caía. Tiana agasalhava o menino na hora de dormir. O homem Gastão, já sem cachimbo, ouvia as notícias da TV. Os automóveis voavam por rua inteira. Uma carta chegara as mãos de Gastão. Era do Governador ou de algum auxiliar em nome do Governador. Ele observou o conteúdo. E logo chamou Ada para ler também.
Ada
--- Convite? Ah não posso! Nem morta! Ajeite-se! - - reclamou
Gastão
--- Mas isso é mais que um convite. É uma ordem. Está assinado pela sua autoridade. - - disse ele com a testa franzida.
Ada
--- Mas eu não vou. Tenho estudos além dessa merda de observar as estrelas. - - abusada.
Gastão
--- Escute, amor: é apenas uma semana. Você verá coisas raras. Não custa nada. Vamos! - -
Ada
--- Já disse não! O que eu vou ver lá node você vai? - - abusada
Gastão
--- É a Áustria. É uma exposição de uma moça daqui de Natal. Semíramis. Eu vou representado o Estado. Você vai! Não tem nem conversa! - - garantiu
Ada
--- Semíramis? A amante do Reitor? - - perguntou
Gastão
--- Isso eu não sei. Eu vou representando o senhor Governador. - - disse já meio trancado
Ada
--- Eu sei quem é a peça. Bonitona! Vá ver que ela tem machos por lá. - - declarou
Gastão
--- Se tem, isso não me interessa. Eu quero que você vá também. - -
Ada
--- Isso de esquentou as orelhas! O Reitor vai também? - - pesquisou enciumada.
Gastão
--- Deve ir. Eles não são casados? - -
Ada
--- Juntos!!! Eles são amigados! Olha aí, ó! - - e fez uma parelha com os dedos

SUPLÍCIO DE UM MISTÉRIO - 19 -

- CARCARÁ -
- 19 -
CARCARÁ -

O a garoto e a menina continuaram a conversa, ela, sisuda, ele, receoso até algum tempo. A avó conversava animada com dona Ada e as demais molhavam o tacho, onde estava o almoço do dia do pessoal da casa, dos vaqueiros e demais trabalhadores. Nesse espaço de tempo, o menino convidou a menina para ir até a entrada da casa, no alpendre, um espaço largo e meio alto partindo do chão. E então lá chegando, os meninos continuaram a conversa. A menina mostrou como se fazia o carro de osso, logo juntando pedaços de osso de gado já seco. Aldo ouvia tudo com paciência. Num instante, passou tranquilo em direção ao portão do cercado o vaqueiro de apelido Carcará conversando com outro companheiro. A menina viu os dois quando passavam e indagou a Aldo.
Marina
--- Você conhece aquele homem? - -
Aldo
--- É empregado do sítio. - -
Marina
--- Minha avó disse que ele é homem mau. Ele é capanga. - -
Aldo
--- Capanga? Que é isso? - - assustado
Marina
--- Sei lá. Deve ser coisa ruim. Capanga. Ele já matou muita gente. - -
Aldo
--- Foi mesmo. – - com temor
Marina
--- Ele e mais outros. Um tal de Boidé. Esse foi morto pela polícia. E outro, Sanhaçu. Esse mora com o capanga Carcará. - - falou bem manso
Aldo
--- É mesmo? É perigoso também? - - assustado
Marina
--- Só pode. Eles só andam armados. Mas não vá contar a ninguém. Minha avó briga comigo.  - - sigilosa
Aldo
--- Juro que não digo nada nem a minha mãe. Somente a você.  - - fez cruzes com os dedos
E a conversa prosseguiu com os vaqueiros tangendo o gado para fora do sitio e os dois ali olhando a passagem do gado. Uma vaca gorda era a que conduzia o rebanho com o seu passo vagarosos seguido dos outros animais e o vaqueiro a tanger sem maltratar. O gado era levado para outro recanto do sitio atravessado a lama. O mugido era constante. E o gado, tendo ao lado um touro zebu, caminhava. E os meninos conversavam com as coisas banais.
Aldo 
---Você usa cueca? - - indagou
Marina
--- Não. Uso calcinha. - - relatou
Aldo
--- Pois eu uso cueca. Quer ver? - -
E Aldo mostrou a cueca abaixo do seu calção curto. A menina, curiosa, se pôs de pé e olhou para dentro do calção, vendo até o sexo do colega. E declarou sem temor
Marina
--- Estou vendo a sua pinta. É pequena. Maior é do meu irmão. –
Aldo
--- Irmão? Você tem irmão muito grande? - - indagou
Marina
--- Ele 16 anos. É grande. E a pinta dele é maior que a sua. –
Aldo
--- Será que eu vou crescer também como o seu irmão? - -
Marina
--- Não sei. Eu acho que sim. Ele é bem grandão! Alto, assim! - - e fez um gesto com a mão para o alto
Aldo
--- Deixe eu ver sua calcinha! - - pediu
Marina
--- Olhe. Eu não tenho pinta. Eu tenho “segredo”. Quer ver? - -
E Aldo olhou para dentro da calcinha e viu o que a menina disse ser o seu “segredo”.
Aldo
--- “Segredo”? – - olhando o sexo da menina.
Marina
--- É “Segredo”. Minha avó é quem diz. - - relatou
Passados alguns segundos, o menino Aldo nem soube o porquê da ação de momento, como uma figura em desespero, ele agarrou a garota Marina e puxou para baixo do terraço. E assim foram os dois. Ela, apavorada, perguntando o que era aquilo. Aldo respondeu apenas que se estava escondendo de Carcará.
Aldo
--- Carcará! Ele pode ver a gente. Depressa! Vamos esconder de baixo do alpendre. Aqui é melhor! Ele não avista nós dois! - -
Marina
--- Mas o homem não está aqui agora! - -
Os dois ficaram escondidos em baixo de alpendre. Marina tinha o coração batendo com maior força. Ela observava quem estava a chegar. Mesmo sem ninguém, a menina quis chorar. O seu amiguinho teve que dizer-lhe algo.
Aldo
--- Escute. Minha mãe fez, um dia, isso que agora você quer! -  
Marina
--- Eu quero? Eu quero o que? - -
Aldo
--- O que minha mãe faz. Tire a calcinha. - -
Marina
--- Ahn? Calcinha? Para que? - -
Aldo
--- Não sei. Ela fez o que o meu mandou. Venha! - -
Marina
--- Eu tirar? Como? Não entendo! - - disse a garota
Aldo
--- Depressa! Se não, Carcará nos avista. Vamos! - -
Marina
--- Vou tirar, mas não sei para que. - -
E a menina retirou a sua roupinha branca de algodão. O menino aproveitou e fez sexo com sua parceira. Mas um sexo tão desajeitado que não respondia nada. A menina olhava por baixo do alpendre vendo se Carcará podia está a olhar a um tempo em que Aldo fazia sexo por cima da garota. E logo, então, ele terminou.
Aldo
--- Pronto! Vista-se! - -

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

SUPLÍCIO DE UM MISTÉRIO - 18 -

- GADO SOLTO -
- 18 -
MANHÃ

O dia amanheceu nublado, porém sem chuva. Os vaqueiros estavam todos na ordenha do gado e os menores a cavalgar para despertar o sono dos cavalos. Maria, mulher de Carcará, já cuidava da refeição matinal para o pessoal que ainda dormia em seus cômodos, menos a moça Tiana. Essa levantou logo cedo e foi ajudar Maria nos afazeres domésticos. Antes de tudo, Tiana foi tomar leite da vaca. Leite gostoso, viscoso, saboroso até, coisa que a moça há muito não fazia. Ela sorriu e perguntou ao vaqueiro se podia beber um pouco daquele leite.
Vaqueiro
--- Beber Leite? Pode! Mas está quente. Tirado do peito agora! - - disse espantado
Tiana
--- Eu sei. Estou acostumada. Desde menina que faço isso. - - respondeu sorrindo  
O vaqueiro nada respondeu. Apenas continuou a puxar as tetas da vaca enchendo o copo da moça e, em seguida, entrega-la para prosseguir sua faina diária. Tirar leite para um, tirar leite para outro e as moscas a azucrinar com o vaqueiro com suas mãos, espanta-las, sentado em seu banco de três pernas. Nesse ponto, Tiana teve que sair, arrotando pelo leite que tomou. Outros vaqueiros passaram para um fundo do quintal falado sobre algo que não se podia deduzir. E a moça foi para a cozinha ajudar a Maria nos afazeres do dia da manhã.
Pouco mais das sete horas, a família estava toda reunida na mesa para cuidar da pança. Toda, menos o menino Aldo que ainda dormia. Gastão naquela hora, falou ter que ir à cidade. Se tivesse algo ele tomaria conta. Caso contrário, voltaria logo cedo, antes das onze horas.
Gastão
--- Jornais do dia só amanhã. Duvido que venha hoje. Também! -- - falou sem ter certeza
Nesse instante, entrou o capataz Carcará. O que estava a falar era sobre uma res. A vaca morreu talvez por um choque de algum relâmpago na noite passada. Ele esteve a vadear por todo o extenso campo procurando o gado. Alguns deles, extraviaram-se. Só encontrou uma res morta. E retirou o chapéu da cabeça pondo-se a abanar como estivesse fazendo calor.
Maria
--- Café? - - indagou a mulher com o seu olhar matuto
Carcará
--- Um pouco. - - respondeu sem fé. Ele estava triste com a morte da vaca.
Gastão
--- Só uma? - - indagou com relação a vaca morta.
Carcará
--- Até agora, sim. Os vaqueiros estão em busca pelo cercado. Lá longe. Merda! - -
Gastão
--- É merda mesmo. Foi chuva braba. Relâmpagos sem fim. Eu penso que tem mais vacas mortas. Que merda mesmo? - - falou desgostoso.
Com um pouco mais, Gastão teve que sair para o seu serviço na capital. Ada lembrou dele passar no Apartamento e ver se tudo estava em ordem. Ela lembrava do seu equipamento, o telescópio que havia deixado com a cobertura por todo o canto. O homem respondeu que sim e ficaria no trabalho o tempo de pudesse. Nesse ponto, o garoto Aldo veio do quarto onde dormira. Ele estava ainda com o consolo na boca e o pano caindo ao solo. Meio com sono, Aldo deitou no colo de Tiana onde pretendia dormir mais um pouco. A moça nada reclamou e, pois, o menino um pouco mais confortável, como podia. Ada caminhou até o cercado como se não tivesse ido outrora. Ela olhou o céu ainda nublado e comentou para si.
Ada
--- Céu carrancudo! Deve chover ainda hoje, - -
Manhã cedo, Corina caminhava para o interior da Fazenda, levando de reboque a sua neta ainda pequena chamada Marina. O tempo estava nublado como nos últimos dias e os vaqueiros tangiam o gado para um outro lado do sítio onde, no local, tinha pasto mais novo. O garoto Aldo observou a menina e fez um ar de riso o que lhe foi correspondido. A menina caminha e olhava para trás para ver por mais vezes o garoto Aldo. Em sua marcha, Marina andava e dava tropeços em pedaços de madeiras, como era simples existir. Com a mão presa na mão de Corina, a menina continuava seu caminho e nesse momento, Aldo correu para dentro de casa onde encontraria a menina ao chegar na cozinha. E ficou atento escorado na parede esperando ver chegar a bela menina olhando para a porta de saída até que Corina apareceu e, com a avó, a menina Marina. Após os cumprimentos da senhora ao pessoal da casa, veio a menina para ser abençoada por dona Maria, sua madrinha. Foi esse o caso até a menina se aproximar de Aldo para saber se ele morava na casa, pois era a primeira vez que o via.
Marina
--- Você mora aqui também? - - perguntou acanhada
Aldo
--- É do meu pai. - -respondeu o garoto
Marina
--- Ah bom. Eu nunca vi você aqui. Também eu nunca venho. - - se desculpou
Aldo
--- Eu moro na cidade. Lá longe. Na capital - - explicou
Marina
--- Eu fui lá poucas vezes. Uma vez eu estava doente. E fui no hospital. - -
Aldo
--- Hospital? - - indagou
Marina
--- Sim. Fui para o médico. Só isso. - -
Aldo
--- Você mora perto daqui? - - quis saber
Marina
--- Moro em Macaíba. Quer dizer. Mas perto daqui. - -
Aldo
--- Eu não sei onde é. - -
Marina
--- Depois da estrada. Subindo. - - e fez com o braço o local
Aldo
--- Ah bom. Deve ser perto. Você brinca? - - indagou
Marina
--- Eu? Brinco de boneca. - -
Aldo
--- Eu brinco de trem, de carro, de tantas coisas. - -
Marina
--- Trem? Que é isso? - - estranhou
Aldo
--- É um carro bem grande que o povo viaja. - -
Marina
--- Mas eu nunca vi esse trem. Pois eu brinco de boneca, sabugo de milho, carrinho de osso. Tudo isso - -
Aldo
--- Osso? - - estranhou
Marina
--- Sim. A gente os ossos e faz com eles carro de mão. É assim - -
Aldo
--- Carro de mão? - - ficou curioso
Marina
--- Sim. Com os que tem aqui. Esses carros. - - disse e calou