domingo, 30 de novembro de 2014
À LUZ DA LUA - 26 -
- Fernanda de Freitas -
- 26 -
PERNA LONGA
Perna Longa era esse o seu
apelido. E ele não se importava em ser chamado. Tinha quinze anos de idade,
esguio, alto tal qual o varapau, olhos castanhos podendo ser de outra
coloração, cabelos crespos e aloirados, boca sempre de quem quer sorrir e
pernas tão compridas iguais exatamente a um varapau. O nome de batismo era
Euclides. Pouco ele se importava de ser chamado pelo nome verdadeiro. Quando
alguém precisava de alguma coisa a comprar na bodega, apenas o acudia:
Vizinho:
--- Perna!! Perna!! Perna
Longa!!! – gritava um seu vizinho
E ele corria que nem um caçote
para atender ao chamado do seu molestado vizinho. Não raro era um quilo de
açúcar ou dois cruzeiros de pão. Ele corria como um trem e voltava como um
cavalo. E entregava o pedido feito para depois ir ressonar em cima dos sacos de
feijão com os braços sob a cabeça. Era essa a vida do varapau. Se dormia, isso
ninguém sabia ao certo. Euclides não tinha pai. Mae e parente de perto ou da
distância. Um dia ele apareceu por acaso e pediu guarida ao dono do armazém de
secos. O homem cheio de suspeição mandou depois dormir em cima dos sacos. As
pernas longas de Euclides, além de finas, eram alvas como sabão de coco. E nem
se importava em tomar banho para trocar de mudas. Se alguém lhe desse roupas
novas, ele aceitava de bom brado e depois enrolava tudo fazendo uma trocha para
pôr sua cabeça. Jamais gritara por algo ou alguém. Quando o chamavam, ele
seguia o rastro. De onde era, também ninguém sabia dizer ao certo:
Passante:
--- É um maluco da vida! – falava
alguém a responde se sabia ao certo
Outro:
--- Ele tem pai? – indagava
surpreso
Passante:
--- E nem mãe também. – respondia
como ninguém o entendia.
Certo dia, Perna Longa sumiu.
Todos pensavam que alguém pedia para fazer algum mandado. Mas veio a tarde e à
noite, e nada de se ter notícia do grandalhão. No outro dia, ninguém sabia ao
certo. E nem no outro e no outro. O povo pensou em ter ele ido embora para
algum lugar. O local onde Perna Longa dormia estava mais limpo do que couro de
gato.
Primeiro:
--- Sumiu mesmo! – estranhou o
primeiro
Segundo:
--- Pra onde o danado terá ido? –
perguntava.
Terceiro
--- Só Deus sabe. Mundo afora. –
dizia o velho dando a sua cachimbada
Passaram-se os dias, semanas,
meses e ano ninguém mais se lembrava do varapau. Certa vez, Euclides apareceu
sorrindo. Com ele trazia uma moça dos seus quinze anos. E procurou o dono do
armazém. Ao encontra-lo, Euclides mostrou um par de alianças. O dono do armazém foi logo perguntando:
Dono:
--- Que diabo é isso? – indagou
assustado
Perna:
--- Minha mulher! Ela veio da
guerra! – explicou.
Dono
--- Guerra?! Mas que diabos de
guerra é essa? – completamente aturdido
Perna
--- Dos vaqueiros! – sorriu
agarrado a nova moça
Dono:
--- Vaqueiros? Você está é doido!
– disse confuso o dono do armazém
Perna
--- Nós queremos dormir! –
lembrou sorrindo
Dono
--- Você acha que eu estou doido?
Dormir? – falou bravo
Perna:
--- Desde que eu caí fora de casa
que eu não durmo só procurando a minha donzela. - explicou
Dono:
--- Taí. Agora deu. Não dorme há
um ano e vem procurar agora acolhida. – disse o bruto enraivecido pra daná
Perna:
--- Ela também não. Nós tiramos
numa corrida até chegar aqui no meu solar. – falou ele sorrindo
Dono
--- Tá doido. São dois doidos.
Ora bosta! – discutiu o dono do armazém
Perna:
--- Ela quer descansar nesse
momento. – falou sorrindo
Dono:
--- Pois durma e não chateie.
Agora deu! Doidos! Eles são doidos! Doidos! – discutia o homem a sair para o
trabalho.
Com um pouco de tempo toda a
vizinhança estava no barracão do armazém para ver de perto o rapaz desaparecido.
Um conversava com outro a saber se o varapau estava bem, estava são, estava
leso e quantas coisas a mais. E encheu de gente de perto para ver mais uma vez
o Perna Longa, o rapaz sumido por longo espaço de tempo. Uns indicavam:
Um
--- Ele vive com essa pobre?
Dois
--- Quem é a pobre?
Três
--- É doida também?
E a confusão aumentava a cada
momento com as pobres matutas alarmadas com tanta chegada tão de repente do
serviçal amalucado. E o rapaz nem dava a menor importância a tamanha
impaciência do povo pobre do lugar. Ele apenas queria estirar as pernas para
poder dormir com o maior sossego ao lado a sua amante, tão longa quando ele, de
pernas finas a fazer dó. Depois de tanta luta ele e a amante encontraram canto
para sossegar de jeito. Alá com quem se importava com os dois. Enfim, tudo
estava acabado naquele dia para no outro ele começar o trabalho de só fazer
compras. Perna Longa cochilou e adormeceu ao lado da sua melhor amiga.
No dia seguinte, o dono do
armazém bateu logo cedo da manhã no local onde estava a dormir o casal de
pombinhos depois de uma longa corrida. Mas ao chegar no depósito de sacos de
farinha, feijão e açúcar bruto, qual o que. Nem sinal dos malucos. Os dois
amantes já haviam sumido de vez e para qualquer canto do horizonte sem fim.
Indignado, após procurar por todos os locais do deposito o homem, amargurado,
deu com o pé:
Dono
--- Diabos de levem! Como é que
pode? Chega num dia e desaparece no outro! Diabos dos Diabos! – enraivecido
clamou
Nesse ponto, a vizinhança estava
toda em polvorosa.
Um
--- Pra onde eles foram?
Dois
--- Quem sabe?
Três
--- São doidos mesmo!
Nesse ponto, mais de uma hora,
Perna Longa e sua amante apareceram de vez. Ele, sempre a sorrir como se tudo
estivesse no plano.
Dono:
--- Você? – gritou alarmado o
dono do armazém
sábado, 29 de novembro de 2014
À LUZ DA LUA - 25 -
- Malu Mader -
- 25 -
A MORTE
Pois é. Ninguém suporta esta
palavra: “Morte”. Quando alguém morre, sendo da família, há choros, gritos e
velas. O pranto é um agouro lastimoso dos parentes para o ente querido. Há que
se desculpa e diz não poder ir ao enterro de fulana. Há os que fingem não
saber. Há os que adoram os velórios para se empastelar com as guloseimas em
memória do morto. Há os que se empapam de vinhos a declarar que aquela é a
saúde da vítima. Tem diversos motivos para se encarar ou não a morte. Até mesmo
a morte de um animal de estimação. As pessoas procuram sepultar os seus bichos
em um túmulo caprichado e, costumeiramente, depositam todos os dias ou mesmo
semanas um buquê de rosas perfumosas. Nos países orientais se consomem a carne
desses animais com um aperitivo de uma bebida qualquer. No nordeste do Brasil,
um animal morto por causa da fome ingrata, é deixado ao léu. É apenas uma
carcaça de uma vaca ou de um jumento. E quando alguém passa pelo local, leva ao
nariz um lenço ou mesmo parte da roupa de vestir:
Transeunte:
--- Ô catinga! – diz.
Dois:
--- Tem bicho morto por ai.
Três:
--- É só carniça! – e cospe para
todos os lados.
Se uma vaca é atropelada e morta,
se for por um carro, o motorista procura saber quem é o dono para pagar o
reparo do seu veículo. Mas, o dono da vaca desaparece, com certeza. Certa vez,
em uma estrada de Assú, um transporte de linha atropelou uma vaca a destroçar
parte dianteira do carro. O dono na vaca sumiu. O pessoal, morador perto da
estrada, aproveitou para recolher as partes melhores a rês e da vaca morta
sobrou apenas a carcaça. O transporte coletivo seguiu caminho sem a metade da
“cara”. O prejuízo foi contemplado pelo próprio dono de carro. Esse é o preço
da morte. O motorista deve ter cuidado para não danificar os sinalizadores de
estrada. Aqueles em forma de “pirulito”. O motorista atropelador de um sinal de
transito tem a multa da certa e a perda de pontos em sua carteira. Um pirulito
representa um homem que está na patrulha de um conserto na estrada. Em se
atropelar um pirulito se está matando ou ferindo uma pessoa de guarda. Matar cachorro da estrada, é matar uma
pessoa, pois aquele animal representa uma vida humana. O mesmo ocorre para um
gato ou raposa.
Certa vez, um motorista que
entregava jornais na cidade de Caicó, longe de Natal, quando ele voltava do
serviço, trazendo a “boia” de jornais no interior do seu carro – um fusca –
atropelou uma raposa da rodovia. Atarantado por ter morto o animal, ele mais
que depressa a buscou e introduziu a sua vítima na mala do pequeno carro. Já
era tarde do dia. Quando o motorista chegou na corrente, um posto aduaneiro
existente na rodovia já próximo a Nata, (Rn) teve que parar para prestar conta
do ocorrido, não da raposa. Porém de estar trazendo as “boias” de jornais, como
já era o seu costume. O guarda rodoviário depois de muita arenga para ele abrir
a mala do carro, enfim, para acabar a discussão, o homem do transito, foi ele
mesmo a inspeção da mercadora trazida de volta.
E foi então que se deu a
confusão. Ao abrir a mala do fusca a ficar na frente do carro, houve um
tremendo susto. A raposa pulou em cima do peito do guarda, ele teve tamanho
pavor e não mais quis saber do contar o volume de jornais. Seguiu a frente a
correr e a raposa, recobrando os sentidos, corria em busca – provavelmente – do
mato. Foi uma coisa de louco. O guarda na frente em desabalada carreira, e a
raposa atrás a procura de um matagal. Nesse ponto, o motorista acionou o carro
e largou o pé na estrada.
Esses foram os mais
característicos acontecimentos de estrada. Pedro Carreteiro contava
acontecimentos havido com ele e outros companheiros de rodovias. Um deles foi
quatro homens vestidos de policiais militares. O ônibus interestadual corria na
velocidade permitida quando os quatro policiais em seu veículo mandaram brecar
o carro em um acostamento de rodovia. Era de tarde. Os policiais entraram no
transporte de passageiros e sem temor alertaram de imediato aos passageiros;
Policiais:
--- Isso é um assalto. Viemos
buscar o numerário que vocês têm! E uma ordem! Do contrário nós acabaremos com
sua raça! – disse um dos supostos policiais
E começou a confusão. Os supostos
militares foram arrebanhando as carteiras de cédulas de homens e mulheres e retirando
todo o dinheiro encontrado. No último assento viajava um passageiro dos seus
setenta anos de idade. Quando o suspeito policial com uma arma mandou o velho
passar o dinheiro mais que depressa. O velho não se assustou e puxou de seu
revólver calibre 45 e detonou mais sem conversa. Foi tiro e queda do bandido sanguinário.
Um outro pretenso militar olhou em torno vendo caído o seu comparsa. Outro
tiro, mais uma queda. Os dois pretensos policiais que estava mais à frente do
ônibus cuidaram em escapar. E o velho mostrou a sua identidade de General do Exército
e mandou todos os dois se curvarem enquanto o motorista era motivado a algemar
os dois meliantes enquanto os passageiros, tremendo de pavor rogavam:
Passageiros:
--- Não me mate. Não me mate. Não
me mate! – diziam alguns passageiros.
O general sorriu e disse apenas
que eram apenas os meliantes os alvos da ação.
Outro:
--- Isso é covardia! Matar sem
que nem mais? – gritava um dos passageiros
Foi dito e feito. Os passageiros
do transporte foram de sola em cima do homem que protestava do abuso o General
e comeram na tapa até alguém ditar “basta”. O audacioso forasteiro era um dos
tais a comandar o saque àqueles homens que subiram no ônibus em busca de suas
casas. E assim, três meliantes foram presos de verdade. As duas vítimas ficaram
no chão do carro até chegar ao rabecão do Instituto Médico. Por precaução, os
passageiros foram deslocados para outro transporte e seguiram a contar vantagem
no feito. O General foi com os bandidos para a Delegacia de Polícia mais
próxima onde prestou seu depoimento com muita atenção.
A morte. Enfim, a morte. Final de
uma existência tranquila ou não quando um paciente ou qualquer ser animal pousa
seus últimos suspiros no desespero da vida. Que viva a morte, pois a vida se
perde com o passar do tempo onde os últimos entraves não mais se agitam. Só os
covardes temem a morte.
sexta-feira, 28 de novembro de 2014
À LUZ DA LUA - 24 -
- Angelina Jolie -
- 24 -
QUASE MUDO
Foi a sim que se deu. Patrício
era aluno do Grupo Escolar onde frequentava as aulas dia sim e dia não. O case
era por conta do desatino do garoto. Quando a sua mãe reclamava porque não teve
aula, Patrício sempre dizia:
Patrício
--- O professor faltou. –
relatava.
Sempre quem levava a culpa era o
tal do professor. Ou estava ele doente, ou teve reunião dos mestres, ou era
feriado, ou simplesmente o professor era o ausente. Isso, ele – Patrício –
dizia à sua mãe para depois ir bater pelada com os outros arruaceiros do
bairro. Na tabuada Patrício não passava da primeira lição.
Professor:
--- Um mais Um? – perguntava.
E Patrício respondia na certa:
Patrício:
--- Minha caderneta está rasgada,
professor. – respondia o garoto se recostando da carteira aonde podia ficar lá
em baixo do móvel
Quem procurava ver o menor, só a
penugem do cabelo na cabeça. E era assim, eu quase todas as aulas quando ele
comparecia. A desculpa dada ao mestre: “meu pai está doente. Minha mãe foi ter
menino. Minha avó chegou da feira já muito tarde.” E não raro não tinha
desculpas. Certa vez Patrício reclamou da chuva. De outro ponto foi a maré
enchendo. E qualquer coisa inútil, pois seu casebre ficava no alto do morro e
nem havia mar a passar por perto. O riso comia frouxo com as desculpas do
menor. Quando a molecada sorria, Patrício se virava e manda ver:
Patrício
--- Pois vá ver! - e emburrado
ficava.
Já bem adiantado do ano, chegou a
vez da prova final. Todos foram perguntados. As eram quase sempre acertadas. A
última ficou para Patrício. E o professor empertigado formulou a questão um
tanto difícil para todos os alunos. E fez:
--- Atenção para a questão. Falta
apenas Patrício. Vamos ver se responde. Quem era o aleijado que dormia da torre
da Catedral de Paris? Isso foi descrito por Victor Hugo e debatido em classe
por vários dias. Eu quero saber qual era o nome do personagem centrar da
novela! Vamos! Responda! – falou bravo
A classe toda emudeceu à espera
da resposta a ser dada por o aluno travesso. O professor batia com a régua no
birô pedindo silencio:
Professor:
--- Silencio na classe! Todos
quietos! Não quero ouvir barulho! – reclama a toda prova.
E o menino, acovardado, se baixou
em sua carteira por não querer dizer o verdadeiro nome do personagem. Um aluno,
sentado atrás, sugeriu baixinho a Patrício para dizer o nome do corcunda de
nascença que habitava o campanário da Catedral de Notre Dame, famosa por sua
monumental arquitetura.
Colega:
--- Diga: Quasimodo. – sugeriu o
amigo de trás.
E o mestre, já enervado, com a
sua régua na mãe voltava a pergunta e, empertigado, dizia.
Professor:
--- Vamos! O Nome! Depressa! –
relatava malcriado.
E Patrício ouvindo o nome do
corcunda, por fim disse, mas sem saber:
Patrício
--- Quase Mudo! – respondeu o
garoto com sua voz minúscula.
Professor:
--- Como? – perguntou enervado
com a régua batendo da mão
A classe toda quase cai na
gargalhada. Pelo visto, o garoto teria quase acertado a resposta. Foi uma
confusão desesperada. Toda a classe se levantou para abraçar o paladino. Eram
hurras para cá eram assobios para lá. Toda a classe em desvario. E o Professor
desnorteado sem saber o que fazer com toda essa meninada. A galera assobiava de
contentamento e foi segurar o colega nos braços a sair da sala de aula em
procissão aclamando o acerto à questão pois nenhum garoto tinha o crédito de
assumir tal expressão. Os demais alunos das outras classes, a ouvir o grito de
guerra, se enturmavam ao primeiro grupo. E assim foi seguido pelas outras
classes a sair pela rua com o Patrício nos braços e esse a sorrir de
contentamento, pois, enfim acerta na última questão do final do ano. Era uma
algazarra total. As cantorias a modo de um alegre carnaval enfeitavam a
molecado por todo o percurso por onde passava. Hurras e mais hurras eram
detonadas para a alegria de todos. Na porta do Grupo, os professores acorreram
e depressa procuravam saber o sentido do ocorrido. E o professor da classe de
Patrício, só tinha a ditar.
Professor:
--- Foi um negócio
impressionante! Ele acertou a questão. – declarou o mestre sem saber o que mais
dissesse.
Improvisaram-se bandas de músicas
para festejar a anarquia dos destemidos alunos. O caso virou em um verdadeiro
carnaval envolvendo todo o restinho da manhã.
quinta-feira, 27 de novembro de 2014
À LUZ DA LUA - 23 -
- Ziyi Zhag -
- 23 -
PRESENTE
Rui era um menino inteligente e,
naquele dia, completava seus 12 anos de idade. Ele acordou bem cedo, como de
costume, e já sabia do seu aniversário naquela data. Dia 1º de Outubro. E
igualmente era a data da sua festa de Santa Teresinha. Apesar de ser canonizada
no dia 17 de Maio de 1925 quando a jovem e assim se tornou Santa - a Santa
Teresinha padroeira das Rosas –por coincidência era também aniversários de
outros devotos penitentes. Rui nasceu tempos depois da virgem se tornar Santa.
Mas no dia em que se reverenciava o nome da Santa, Rui acordou um pouco mais
cedo, às 5 horas da manhã, quando houve um foguetório em homenagem a Santa das
Rosas. Rui não entendia muito bem o porquê de tal foguetório. Apenas se lembrava
do nome da Santa. Teresinha, morta em 30 de setembro de 1897, na cidade de
Lisieux, na França. Para a Igreja, ela era a Santa Teresinha do Menino Jesus da
Santa Face. Para Rui, era apenas a Santa Teresinha A sua mãe, não muito
católica, vinha de casa a fora para chamar o menino Rui.
Mãe:
--- Acorda! Levanta! Toma banho!
Vai dar seis horas! A Missa começa já! Experimenta a roupa que teu pai comprou
na Cooperativa! Levanta!!! – gritava a mulher ao desespero andando para cima e
para baixo no interior da casa
O garoto saiu, um pé em cima
outro no chão. E ele entrou para se molhar.
Mãe
--- É tomar banho por inteiro!
Não é passar apenas a água nas costelas! – vociferou enraivecida.
Rui abriu a torneira da rua.
Tinha água. O homem da água só vinha fechar a passagem das casas lá por nove
horas.
Rui
--- Não sei por que ele faz isso?
– indagou consigo mesmo
Sabonete Dorly, era o que ele
usava. Esse era o mais barato no mostruário da Cooperativa. Ele tomou o seu
banho para depois se enxugar da meladeira feita no banheiro.
Mãe:
--- Bebeu água? – perguntou a sua
mãe com sua voz renitente.
Rui
--- Não senhora. – respondeu com
olhos vazios.
Mãe
--- Não é para beber nem água!
Ouviu? – perguntou com toda a altura de voz
E seguiu Rui para a Matriz de
Santa Teresinha onde já estava gente a lotar o pequeno templo. Um cheiro enorme
das orquídeas e do perfume das senhoras bem vestidas. Uma menina-moça passou
por perto de Rui e sorriu. Ele nem abriu os dentes. E a menina perguntou:
Menina:
--- Trouxeste o adoremos? –
indagou a murmurar
Rui:
--- Tá vendo? – mostrou o livro
de orações
Menina:
--- O meu tá novinho. – sorriu a
menina.
Rui
--- O meu também. – disse ele
E Rui mostrou a capa e os
santinhos tidos durantes as Missas que ele frequentava aos domingos. Alguma
coisa lhe apertou os fundilhos. Era a calça mal cosicada. Ele nada pode fazer.
E nem coçar os seus fundilhos. Apenas fez uma careta.
Menina
--- Que foi? – perguntou curiosa.
Rui
--- Nada. Talvez a sede. Não comi
e nem bebi. Recomendação de minha mãe. – alertou
Menina
--- Pois eu comi um pedaço de
bolo. – sorriu a murmurar.
Rui
--- É pecado. O Padre disse. “Não
comam nada”! antes da comunhão. – falou o menino
Menina:
--- Eu? Depois eu me confesso. –
debochou a menina sungando o busto
E começa a Santa Missa. Um tempo
enorme. Mais de 45 minutos. Apenas no sermão o padre comeu seus 20 minutos.
Dissera tudo o que já havia dito um ano atrás
Padre:
--- Hoje é celebrada a festa de
Santa Teresinha. A Santa foi uma freira carmelita e tornou-se conhecida pelos
mais influentes modelos de santidade. – falava o padre.
E deu para falar dos exemplos de
santidades naqueles fervorosos anos de guerras e açoite onde a mortandade era
um suplício para o homem católico e a mulher penitente. As crianças ingênuas
eram as mais sacrificadas pela doença, como a tuberculose que vitimou a Santa
quando estava com apenas vinte e quatro anos de idade. Ante o calor sufocante a
fazer da Matriz, o sacerdote não se importava e continuava a pregar com emoção
“A História de uma Alma”, os manuscritos autobiográficos de uma “menina”
dedicada as sublimes orações. Entre as suas duas irmãs a Santa não media
esforços para cuidar dos devotos enfermos tornando-se a “estrela do sacrifício”
dos mais pobres de coração aflito.
Padre:
--- Ela é a Doutora da Igreja.
Nós temos o cuidado de lembrar de suas cartas, seus poemas, suas peças
religiosas e das suas puras orações. A própria Santa Teresinha declarou poucas
horas antes da sua morte: “Eu amo apenas a simplicidade”. E mais ainda falou de
seus atos caridosos entre as demais afeções de paz. Após 20 minutos, o padre
concluiu ser de maior afeção dar a hóstia de primeira comunhão as criancinhas
que se dedicavam a vida pura e santificada para sempre.
Após ditar toda a sua celebração
da Santa Missa, participar da sublime eucaristia e se recolher um pouco mais a
verificar as criancinhas que fizeram a sua primeira comunhão, o padre deu por
encerrada a liturgia daquela manhã de sol. As crianças foram para o banquete
onde tomaram café com leite, queijo, pães, e bolos, tudo seguido pelas Irmãs da
Divina Caridade. Após essa festa, onde Rui também tomou com leite e bolachas,
pães e queijos ele viu se acercar a menina um pouco lacrimosa. E declarou a
menina:
Menina:
--- O padre me deu um carão! –
soluçava a menina.
Rui:
--- E por que? – perguntou
impressionado
Menina
--- Eu fui dizer que tinha comido
uma fatia de bolo! – chorava a píncaros.
Rui
--- Não te disse? É pecado! A
gente tem que vir de barriga seca! – reprovou
Menina:
--- Mas foi só uma fatia! – olhou
ela para Rui fazendo com o dedo um pouquinho de nada.
Rui:
--- Mesmo assim! Eu não bebi nem
água! – relatou compreensivo
Menina
--- Eu pressinto que esse padre
está neurótico! – relatou com certo cuidado.
Rui
--- Vai dizer a ele, vai! –
discordou o garoto
E o padre no palco do salão dizia
com frequência.
Padre:
--- Comam! Comam! É hora de tirar
a barriga da miséria! – sorria a todos.
E o povo sorria.
quarta-feira, 26 de novembro de 2014
À LUZ DA LUA - 22 -
- Katherine Heigt
- 22 -
PERERÊ
Pererê era o seu nome. Todos o
chamavam assim. Ele era um menino dos seus oito ou dez anos. Nem ele sabia ao
certo. Não tinha pai. Com certeza, o seu pai foi morto com uma facada no ventre
quando fazia chamego com uma mulher ainda bem nova, por trás de uma porteira,
durante uma noite de escuro. O homem que o matou, fugiu para sempre e nunca
mais foi visto pelas bandas daquele inóspito sertão bravio. A mulher, se
desgarrou como sempre as mulheres costumavam fazer. O seu filho único, o
Pererê, ficou largado no meio de meninos, mulheres e cangaceiros, sujeitos
rudes e mal-encarados como só eles existiam. E Pererê morava na fazenda do
coronel Diomedes, homem alto, robusto e de pouca conversa. Todos os capangas da
fazenda temiam o Coronel, menos o menino Pererê. Quando o homem precisava de
algo para ser buscado em outra fazenda do próprio coronel, ele chamava depressa
o criado Pererê, menino astuto e de pouco dengo o qual saía na carreira com os
pés batendo nos quadris para ir e voltar dentro de um só instante. E Pererê
fazia tudo certo do jeito como o coronel mandava. Quando nada tinha a fazer,
ele jogava bilocas – que eram bolas de gude – com os colegas do sítio, sempre a
levar a melhor. Desarnar, era coisa difícil para o garoto. Não passava da
tabuada e do ABC. Contudo para contar lorota, ele tomava de conta. Fantasma da
meia-noite era o que ele mais era sabido.
Pererê:
--- Olha! Vou te contar!!! Eu,
ontem vi um mal assombro de meter dedo nos olhos! O homem vinha sozinho com uma
foice na mão e um bisaco a tiracolo só em minha direção!!! Eu fiquei apavorado
com o assombro. Quando o velho se aproximou de mim, sumiu!!! – disse ele com os
boticos de olhos bem arregalados.
Os meninos que o escutavam,
tremiam de medo. Assombração era coisa ruim. De meter medo até mesmo no coronel
Diomedes.
Garoto 1
--- E você contou ao coronel? –
perguntou com o rosto tenso.
Pererê:
--- Eu não! Tá doido? O coronel
me engole vivo!! – respondeu o menino com tensa emoção
Garoto 2
--- E não tinha outro capanga por
perto? – perguntou outro menino deveras assombrado.
Pererê:
--- Não. Sé estava eu lá nos
montes das quebradas!! – replicou o garoto
Garoto 3
--- E o que você estava fazendo
em um lugar tão distante? – fez a pergunta um terceiro
Pererê:
--- Eu voltava do sítio das
Gameleiras, tarde da noite, quando me deparei com o assombro!! – respondeu em
tensa agonia.
Garoto 1
--- Tu tinhas fuzil? – ainda perguntou
o primeiro garoto de tanto assombrado.
Pererê:
--- Tá doido!? Fuzil é para
homem!!! Eu levava apenas no meu bisaco o meu estilingue! – tremeu de medo
Garoto 2
--- Ele queria alguma coisa? –
perguntou o outro de olhos aboticados.
Pererê:
--- Sei lá! Noite escura que nem
breu! Ele caminha apenas em minha direção quando, de repente desapareceu.
Evaporou! – falou de pleno medo.
Nesse momento, uma mulher da
cozinha chamou o garoto Pererê para ir receber um recado do coronel a está
sentado em sua cadeira de balanço com uma das pernas passada por cima do braço
do assento.
Mulher:
--- Pererê!!! O coronel tá a tua
procura!!! – gritou a mulher com impertinência.
O moleque saiu na disparada. E
chegando ao coronel, se pôs de pé com as mãos para trás.
Pererê:
--- Pronto Coronel! Estava
conversando com os outros garotos. – respondeu com voz mansa.
Coronel:
--- Ah. Bom. Vá a fazenda das
Gameleiras e traga dos sacos de mel de engenho! E leve dois homens com você.
Eles vão trazer os sacos. Vá num pé e volte no outro! É pra já! – falou com voz
austera.
E o garoto não se fez de rogado.
Buscou dois homens tarugos e foi embora na carreira em busca dos sacos de mel.
Na metade do caminho, ele se lembrou de indagar. E voltou a toda pressa:
Pererê;
--- Coronel! E se não tiver mel
de engenho, posso trazer de Uruçu? – indagou de cara alegre.
Coronel
--- Você ainda está aqui? Não!
Pois bem! Traga! É melhor! – desconversou o coronel
Pererê:
--- Dois? – fez com os dedos
estirados para cima.
Coronel:
--- Sim! Mas vá embora moleque!!!
– falou bastante bravo
Na Fazenda das Gameleiras, o
menino buscou o caseiro e indagou se tinha dois sacos de mel para levar para o
Coronel Diomedes. O caseiro apontou para o monte de saco cheio de mel. E o
garoto indagou.
Pererê:
--- Uruçu? – indagou sem saber
qual eram os sacos.
Caseiro:
--- Qualquer um! – respondeu o
caseiro a fumar o seu cachimbo.
Pererê:
--- Qualquer um, não! Eu preciso
de saber qual o que pego! – respondeu meio bruto.
Caseiro:
--- Ora moleque! É você quem vai
beber? Qualquer um! E pronto! – respondeu com a maior brutalidade
Pererê:
--- Olha, seu velho surdo! Se eu
levar um desses e não for de Uruçu o senhor vai para o tronco! – respondeu o
garoto dizendo ao velho o local do lugar da morte.
O caseiro quase morre de medo. O
tronco era o terrível local do sacrifício para quem desobedecia as ordens do
coronel Diomedes E logo se levantou do velho tamborete e buscou entre os sacos
um dos tais de Uruçu. Quando encontrou o saco, foi logo dizendo:
Caseiro:
--- Taí! Só tem um! – falou um tanto
aborrecido
Pererê:
--- E o outro? – perguntou o
moleque um tanto indignado
Caseiro:
--- O outro só quando Deus me der
fortuna! – respondeu o homem completamente irado
Pererê:
--- E esse? – apontou para um
outro saco contendo o mel de Uruçu.
Caseiro:
--- Ô criança impertinente. Pois
tem ainda esse. Leve e mande o corno beber até morrer! – e voltou a se sentar
em seu tamborete.
Pererê:
--- Pois eu vou dizer ao coronel
que o senhor disse que ele era corno! – discutiu abusado.
Caseiro:
--- Quem disse isso, seu moleque?
– discordou de pleno medo de ir para o tronco.
terça-feira, 25 de novembro de 2014
À LUZ DA LUA - 21 -
- Emma Stone -
- 21 -
MON PETIT CHAT
Moema era uma menina travessa dos
doze anos de idade. Certa feita ela, o pai e a sua mãe foram passar as férias
em plena Paris, capital dos bons costumes e da alegria infantil como se podia
clamar. A rota era mais conhecer a capital da França em todo o seu esplendor
mirabolante onde, por assim ditar, havia em cada esquina, um bêbado. Em cada
rua, um jornal. Miragem da Cidade Luz. A imagem do amor onde muitos amantes e
casados gostam de passar sua lua de mel nas praças e jardins franceses.
Arquiteturas medievais a lembrar diversos romances de autores famosos. Estar em
Paris é estar num verdadeiro romance do gentil cavalheiro. Que seria ver a
França sem perceber de se notar a magnífica velha Paris? Torre Eiffel de perto
e de sentir o gostinho romântico das cantinas francesas. Paris é, também,
conhecida como a Cidade do Amor, pois se estar na Cidade Luz, é o mesmo de
estar em um verdadeiro romance. O rio Senna e suas pontes maravilhosas. O
bulevar dos Campos Elísios e a Matriz de Notre Dame. O bulevar dos Campos
Elíseos é o marco da história parisiense. O Jardim das Tolherias, a Opera Astória,
o Quartier Latin, o Prince de Galles e tantas outras parques e avenidas. Essa
era Paris dos sonhos infantis. Para Moema, era um deslumbramento. A garota
estava na cidade dos mil e um sonho encoberto de furtiva onda dos amores. Era
um verdadeiro delírio para aquela criança amada e inocente. De repente, mais
que um romance, Moema notou perto da ponte do rio Sena, a Ponte Neuf ou Ponte
Novo a cruzar o rio dos amantes, um belíssimo pequeno gato francês onde a sua
cor prevalecia em um torno branco, em parte cor da bandeira do País dos belos apegos.
Moema:
--- Um gato? Um gato francês? –
curiosa falou a menina cheia de sorrisos.
E se viu a mercê o belo gato. Um
legítimo gato francês. Uma antiga lenda diz que o Gato foi criado em plena Arca
de Noé. Quando o homem observou desesperado a quantidade de ratos que se
proliferavam e devoravam todas as provisões, implorou que Deus o ajudasse. E o
Gato, então foi a salvação de todas as espécies tendo sido criado da boca de um
Leão. Isso é uma lenda sobre a criação do felino. Mesmo assim, como uma ação
preventiva de Deus, ou não, o certo é ter a garota agarrado com ternura o seu
felino e o abraçou com uma fraternidade universal.
Moema:
--- Olha mamãe, um grato francês!
– então mostrou a infante criança à sua mãe.
A sua mãe sorriu e lhe disse ser
aquele um pequeno gato tão somente de cor branca, olhos azuis e cintilantes com
um ronronar de onde podem vir todos os gatos da Terra.
Moema:
--- Não, mãezinha. Mas ele é um
gato especial por ser todo francês. – falou delicadamente
Mãe:
--- Mas estamos nós em plena
Paris e não sei como se pode levar esse gato tão pequeno, desnutrido e
assanhado. Veja! – a mulher mostrou os cabelos arrepiados do gato francês.
Moema:
--- Ô mãezinha! Mas a senhora não
pode ser tão malvada assim. E ele me acha tão querida. – e abraçou o felino com
o seu rosto ligado ao animal.
Mãe:
--- Mas minha filha, no Brasil
nós temos gatos tão bonitinhos como esse. – sorriu com simpatia a mãe de Moema.
Moema:
--- Mas no Brasil só temos gatos
brasileiros. E esse meu, eu o meu pequeno gato francês. – falou a menina com a
sua voz de choro.
Mãe:
--- Eu sei, minha filha. Ele é um
gato nascido na França. Isso não difere em nada dos outros felinos nascidos da
Alemanha ou em Roma. – falou com suave sentimento.
Moema:
--- A senhora não come carne do
animal francês? E por que diz não ser importante se ter um bichinho também
nascido na França? – falou chorosa.
Mãe:
--- Escute bem, filhinha. Esse
gato não pode sair da França. – falou com muita calma
Moema:
--- E por que não pode? Ele não
tem passaporte? – mendigou a filha.
Mãe:
--- Sim. Justamente por isso.
Você lembrou bem. Ele não tem passaporte. – sorriu a mulher
Moema:
--- Ah. Por isso não. Ele vai de
contrabando. – falou com alegria
Mãe:
--- Que é isso minha filha!!! Seu
pai vai ser preso por causa de um gato? – falou ao desespero.
Moema:
--- Então tira o passaporte do
Mon Petit Chat. – e se abraçou com o seu rosto ao gato.
Curiosos ao passar pela ponte de
Neuf perceberam o debate entra a menina e a sua mãe. Nem mesmo sem entender a
língua estranha relatavam para que a mulher levasse consigo aquele misterioso
gato de rua. Isso, a mãe de Moema também não entendeu. Mesmo assim deu por
saber ser um gato de rua, bem fácil de se decifrar.
Mãe:
--- Tá vendo o que você me faz
passar em plena rua de Paris? Ponha esse gato na ponte e vamos embora! –
discutiu a mãe já um tanto colérica.
Moema:
--- Não. Não. Ou o meu gato ou
minha vida! Está decidido! – respondeu a infante agarrada ao gato.
Mãe:
--- Meu Deus do Céu! Como você
faz me passar tamanho vexame! Vamos embora! Deixe o gato! – falou com imensa
brutalidade querendo puxar a menina pelo braço.
Moema:
--- Ah, É assim? Pois eu me deito
no meio da ponte com o meu gatinho francês! – forçou a menina para se largar de
sua mãe.
Irritada, a mãe de Moema, finalmente
declarou com rispidez.
Mãe:
--- Você venceu! Leve seu gato
rabugento! – deu o seu consentimento com o suor escorrendo pela face.
Em meio de tal vexame, a menina
delirou por ter vencido a batalha. Seria ele o seu amigo gato conhecedor de
várias batalhas o primeiro a ser despachado para um novo continente com direito
a passagem grátis e seguir a cabine de passageiros. A mãe da menina se tornou
por demais impertinente por ter perdido a luta. Nas andanças da luta, a menina
ainda perguntou:
Moema:
--- Mãezinha! Será que não faz
mal ele tomar leite brasileiro? – perguntou contornando os lábios
Mãe:
--- Ah menina! Não me fale mais
nesse felino! – falou um tanto aborrecida.
Moema:
--- Ô mãezinha! É por isso que
nem os gatos gostam da senhora! – falou como brava.
O avião pousou no aeroporto já na
volta para o Brasil e alguém indagou:
Alguém
--- De quem é esse gato? –
perguntou o homem de bordo com a bagagem na mão.
Moema:
--- É meu! E ele é francês. –
relatou a menina.
O homem de bordo entregou a
bagagem e sorriu.
O pai da menina ainda declarou a
Alfandega toda a documentação para poder o bichano entrar legalmente em
território brasileiro. Após tudo isso feito, a menina sorriu e declarou.
Moema:
--- Agora você é um gato
brasileiro. Não tem importância. Porém nascido em Paris.
A sua mãe sorriu com tanta
asneira da moleca toda por demais espirituosa.
segunda-feira, 24 de novembro de 2014
À LUZ DA LUA - 20 -
- Jennifer Aniston -
- 20 -
MULTIVERSO
A viagem prosseguia com demais
velocidade com o ônibus passando por um e outro veículo para poder chegar a
tempo no terminal antes do meio dia. O motorista ficava exaltado quando havia
congestionamento da rodovia tenho o profissional de reter seu carro. Ele olhava
para trás para ver como estavam os passageiros e depois pisava no arranco uma
vez ter o trânsito de outros carros retomado à normal velocidade. No veículo
não havia cobrador. Tudo era feito pelo motorista desde receber o dinheiro e
passar o troco. Isso deixaria o motorista do ônibus um tanto aborrecido com
aquela real situação. Em um determinado instante, o motorista fechou a porta
que dava acesso aos passageiros ao interior do auto. E Paulo – coitado – estava
confuso com todas aquelas asneiras ditas pelo viajante. Por isso mesmo ele
ficou parado esperando a resposta à sua questão.
Viajante:
--- Depende. Eu posso estar aqui
nesse instante e migrar para outro definido local. Isso é muito relativo. Esse
Universo é bastante pequeno para o tamanho do Cosmos. Quando a gente entra em
um tempo podemos ir ou estar vindo de outro Universo. – falou terminantemente.
Paulo:
--- É louco mesmo! Com eu vim
parar nesse carro? – pensou no enigmático mistério.
Viajante:
--- Nós temos vários Universos. A
questão, para muitos, na antiguidade, era, até certo ponto impossível. O
deslocamento do tempo. Eu estou ao vosso lado e, com um espaço de tempo me
desloco para outro. É assim o que ocorre. – falou o homem como quem estava
dormindo
Paulo:
--- Ora porras!!! Como tem doido
nesse mundo! Credo!! – pensou de novo o lavrador de terras.
Viajante:
--- Quando o homem conseguiu
passar além desse Universo, ele entrou em outro sistema muito mais remoto. Isso
é uma questão quântica. Quando o homem prosseguiu nas suas pesquisas, ele
descobriu que não era o único ser nesse punhado de estrelas. Veja se me
entende. – falou no enigmático setor de multiverso.
E Paulo delirava com tantas
palavras desconexas. Ele apenas queria saber o preço do mamão, goiaba e melão.
Coisas simples que compra todo dia nas feiras do seu município. Se ele chegasse
a ter conversas com o povo ingênuo falando sobre planetas distantes e mundos
infinitos seria capaz de ser sacrificado, como o boi, a cabra, carneiro entre
outros bichos do mato. Então seria melhor Paulo calar de vez e tirar uma
soneca. Ou fazer de conta que adormecera. Deixava ele o homem a falar as suas
misteriosas viagens. Porém o viajante não parou de conversar.
Viajante;
--- O Universo que nós estamos
agora, ele não está sozinho. Outros Universos existem. Eles estão nascendo o
tempo todo. Nós estamos vivendo em um mar de Universos em multiplicação. É o
que se chama de Multiverso. Alguns desses Universos tem propriedades básicas da
natureza tão diferentes que a matéria como se conhece ou se conhecia não tem
como existir. Entende? – perguntou o viajante do tempo
E o lavrador fazia de conta que
adormecera naquele instante e nada podia ouvir. Era um roncar tanto profundo
cujo homem fazia do seu mais eterno modo. Ainda faltava um bom tempo para o
ônibus chegar ao destino final. Uma mulher acalentava o seu filho pequeno e
chorão dando-lhe a mamadeira e o tornava a acalentar suavemente. Um idoso
cuspiu para fora do carro e pigarreou um tanto forte como quem estivesse com
uma bronquite crônica. O velho asmático tossia a todo tempo e sua gosma caía no
solo do auto. Um menino inventava que estava com vontade de fazer as suas
necessidades costumeiras.
Mãe;
--- Espera! O carro logo chega! –
repreendeu um pouco abusada.
Um caminhão de carga passou em
debandada deixando a fuligem para trás. Era já a hora do almoço. Uma menina
pediu alguma coisa para comer. A sua mãe tirou do saco uma goma de mascar. E o viajante continuava a conversar com seu
companheiro de viagem.
Viajante:
--- Os viajantes do espaço
estavam acostumados com três dimensões no espaço: altura, largura e
profundidade. Porém o aprofundamento dos estudos chegou-se à conclusão de ter
outras extensões. Foram encontradas nove dimensões no espaço. Nos cabos
condutores de energia há as direções circulares. Esse foi o caso simples até
demais. Em cada ponto do espaço existem outros pontos enrolados em pequenos
nós. As formas dessas novas dimensões
determinam as características fundamentais desse multiverso. Todas as propriedades
do Universo são apuradas pelas novas dimensões. – ditou os seus conhecimentos
de viajar em outros Universos.
Paulo abriu um olho para ver o
procedimento desse louco de pau e pedra e nada falou deixando o assunto ao
viajante do Cosmos. De repente, o carro
brecou. O veículo seguiu à risca o enorme tráfego de autos, todos parados e os
seus ocupantes a olharem atentos a mancha negra a subir constante. Dois
veículos, um ônibus e o carro-tanque colidiram de repente atrapalhando o
transito de outros carros. No choque, a explosão. O ônibus pegou fogo em um
instante rastreado pelo caminhão tanque. Esse ao colidir com o ônibus, se
revirou e ficou de rodas voltadas para o alto. A combustão veio em seguida. E
os motoristas de outros autos tiveram que para os seus veículos e a fugir em
debandada com seus filhos, mulheres e demais pessoas a estar nesses autos,
alguns modestos, outros de maior porte. Os ônibus tiveram o alerta de se
decidir em buscar de imediato a abertura das portas de emergência para que
todos os passageiros pudesse descer em imediata debandada. Mãe, filhos,
maridos, velhos e tantos mais seguram caninho ao desespero com o temor de serem
atingidos pelo fogaréu. Alguns se meteram em uma lagoa existente no baixio da
autoestrada todos eles apavorados pelas chamas a consumir o carro tanque, o
ônibus e demais carros por perto. As labaredas eram por demais tormentosas e
todo o povo, em agonia e desespero procurava um canto qualquer para se
desvencilhar da misteriosa tragédia.
Ainda no seu ônibus, quando tudo
começou, Paulo procurou de imediato, o viajante do espaço para poder lhe seguir
os temerosos passos. E o viajante respondeu em seguida:
Viajante:
--- Eu não tenho condições. Esse
fogo é de outra geração. Eu estou na minha geração. Ninguém aqui pode me
enxergar. Eles não me veem. Eu não estou no círculo deles. Portanto, o pessoal
está em uma outra fase da existência. É como se o senhor está escutando uma
emissora de rádio e eu outra. Estamos em frequência bem distinta. Entende
agora? – indagou o viajante do espaço.
Paulo:
--- Eu não entendo. Mas a questão
do rádio eu entendo. Mas é preferível o senhor vir comigo! – relatou o homem
certamente com bastante temor
Viajante.
---- Não. Não. Se o senhor tiver
a vontade pode vir para o meu tempo. Eu posso levá-lo. Mas o senhor não pode me
levar! É uma questão de dinâmica do cosmos. Venha comigo! - clamou o viajante.
Paulo:
--- Não. Não. Eu tenho médico. –
declarou bastante temeroso com o fogaréu a se alastrar irreverente em debandada
E o viajante do tempo seguiu o
seu itinerário procurando entrar na porta de onde saíra e desapareceu de vez.
Em desespero Paulo ainda procurou se agarrar na mão do viajante porém esse não
teve o menor tempo de espera. No caldeirão do diabo, o povo inclemente gritava
com assombro pelas insistentes chamas a cobrir ampla porção de terra e se
jogaram na água de uma lagoa enquanto outros prosseguiam com plena inclemência
pelas faixas de transito do outro lado da avenida da autoestrada. Era um horror
demasiado esse delírio insano. Apenas se notava Paulo em correria procurando
socorrer o velho asmático a tossir incerto e com clemencia a vomitar sua
asquerosa baba.
Paulo:
--- Pelo amor de Deus! Socorram
esse velho! – gritava em demasia.
Mesmo assim, o povo não ouvia o
tal clamor. Quase a cair, o velho asmático dissera apenas não ter forças para
prosseguir a caminhada.
Velho:
--- Pelo amor de Deus! Deixe eu
ficar naquele encosto da estrada. – e tossia o velho sem cessar.
Paulo:
--- Não. Não. O fogo pode chegar
a qualquer instante! – dizia o homem a acudir o velho.
De momento, em um instante, um
portal se abriu em plena estrada e alguém puxou o velho asmático ao mesmo tempo
que segurou o homem, Paulo. Os dois desapareceram no espaço. Um garoto observou
àquela cena sem saber o que falar. Apenas declarou.
Garoto:
--- O velho sumiu de repente! –
gritou extasiado com total espanto
domingo, 23 de novembro de 2014
À LUZ DA LUA - 19 -
- Keira Kniightly -
- 19 -
MISTÉRIOS
Paulo viajava logo cedo da manhã
em um ônibus para a Capital onde faria exames para verificar a sua saúde. De
repente, se sentou a seu lado um cidadão vindo do nada. E Paulo ficou atônito
com o caso ocorrido. E se perguntava como aquilo teria sucedido. Mistério! De
imediato, Paulo quis sair do seu assento e procurar um outro local. Mesmo assim
não podia porque as cadeiras eram numeradas. A sua cadeira tinha um número. As
outras tinham outras numerações. Além do mais, as cadeiras estavam quase todas
ocupadas por viajantes. O homem surgiu de repente de um lugar não sabido pelo o
seu ocupante do lado. A brisa da manhã era calma e clara. O sol batia no vidro
da janela do ônibus permitindo aos seus ocupantes ver o ocorrido pelo lado de
fora do carro. Algumas pessoas comiam alguma coisa salgada enquanto a viajem
prosseguia. O estranho homem, muito delicado, perguntou a Paulo, companheiro de
viagem:
Viajante:
--- Em que ano nós estamos? –
indagou surpreso.
Paulo se inquietou ainda mais
porque o homem perguntava frivolidades. E por acaso prosseguiu a questão
levantada.
Paulo:
--- Eu tenho a impressão que
estamos em 1990, ano vulgar. Satisfeito? – indagou por sua exata resposta
O viajante intruso se aquietou no
assento como se estivesse a dormir após tão longa viagem. De mãos cruzadas ao
ventre, o viajante como a cochilar, indagou:
Viajante:
--- Por favor, em que século nós
estamos? – formulou com sua voz pesada.
Paulo:
--- Século? Que século? Nós
estamos no século XX. Ora! – prosseguiu com a sua tormentosa resposta
Viajante:
--- Ah. Entendo. Como pode ser
isso? Século XX? Eu viajei no tempo e no espaço! Em que século eu estava? –
relatou o viajante a divagar.
Paulo viu naquela figura um
estranho ser apesar de parecer com qualquer dos seres do nosso enigmático
planeta. E fez questão de saber:
Paulo:
--- De onde o senhor veio? –
perguntou inquieto.
Viajante:
--- De muitos séculos a frente. –
respondeu a ressonar.
Paulo supôs ser esse mundo cheio
de loucos. Não perguntaria mais nada porque o viajante teria respostas deturpadas.
Seria melhor ele fazer de conta que também estava a cochilar por algum tempo
enfim. Porém, o viajante ainda indagou.
Viajante:
--- Para onde vamos? – indagou
sem se mexer no assento.
E nessa ocasião, Paulo ficou mais
atormentado. Está falando com um estranho vindo de futuros remotos, isso já era
inconcebível. Mesmo assim ele recomendou ao ser esperar chegar ao seu destino,
provavelmente a Capital do Estado.
Paulo:
--- Durma! Daqui há instantes o
senhor saberá! – aconselhou batendo sua mão na perna o viajante.
Viajante:
--- O senhor sabe quantas
informações o seu cérebro recebe de uma só vez? Quatrocentos bilhões de bits
por segundo! – disse o viajante.
Disso, Paulo não entendia. Ele
apenas entedia de frutas estragadas ou não. Esse negócio de “morcegos” Paulo
apenas sabia que voavam à noite
Paulo:
--- Esse tal negócio são
morcegos? Eles fazem muito dessas coisas quando estão voando durante a noite.
Bit, bit, bit, - falou desconfiado.
O viajante fez não ouvir. Apenas
deduziu o que seriam morcegos. E assim voltou à conversa.
Viajante:
--- Não. Não. São informações da
sua mente. Ela recebe quatrocentos bilhões de bits por segundo a apenas
processa dois mil! Isso é mecânica quântica! – respondeu.
Paulo naufragou em sua mente
procurando detectar o que o viajante o dissera. Passando a mão na cabeça a
coçar seus imagináveis piolhos ele apenas definiu.
Paulo:
--- Louco varrido. Eu ainda vou
na conversa desse homem! – pensou com brutal precisão.
E o carro rompia célere por seu
caminho na estrada de asfalto. Do lado de fora os terrenos desocupados. Uma
casinha lá por dentro do que se podia olhar de certo.
Viajante:
--- A realidade está acontecendo
no cérebro o tempo todo sem mesmo nós podermos a integrá-las. Os olhos são como
lentes. Mas a fita que estamos realmente vendo está na parte de trás do
cérebro. É o córtex visual. – falou o homem apenas com os olhos fechados.
Paulo:
--- Ave Jesus!!! Com quem casei
minha filha? – imaginou ter de fazer tal questão.
Viajante:
--- O único filme que está
passando no cérebro é o que temos a capacidade de ver. – explicou
Paulo:
--- Coitado! Quanta besteira! –
pensou o homem sem nada mais querer saber.
Viajante:
--- Nós criamos a realidade.
Somos máquinas produtoras da realidade. Criamos os efeitos de realidade o tempo
todo. A realidade é uma grande ilusão. – explicou sem olhar a sua volta.
Paulo desistiu de ouvir tanta besteira
dita pelo viajante. Era preferível ele apenas dormir e acordar no final da sua
viagem quando seguia para o médico no gigante hospital já cheio de pacientes,
alguns acamados, postos dos corredores onde enfermeiras passavam indo e vindo
sem dar a menor assistência a tais doentes, alguns paralíticos e outros sem a
devida consciência de um ser normal.
E o carro corria veloz como sem
nunca estacionar a cruzar com outros veículos vindos com malas e bagagem para
onde eles podiam seguir, afinal. Em um dado instante Paulo fingiu acordar e
olhou de algum modo para o seu acompanhante.
Viajante:
--- Eu sei que o senhor não
dormia. Apenas fingia dormir. Certamente, o senhor estava em uma vida paralela.
Isso é o que o senhor acredita ser real. – relatou pra melhor se definir.
Paulo:
--- Não. Não. Eu estava pensado
no médico. No hospital. Gente muita. Eu queria sair antes das duas horas da tarde.
Mas não sei nem se o médico está no consultório a essa hora. É o diabo! –
reclamou pesaroso.
Viajante:
--- A direção que uma vida toma
depende de efeitos quânticos. A matéria é pensada como a conclusão de um modo
que ela é estática e previsível. – falou o homem a fazer de conta que um pouco
dormia.
Paulo:
--- Lá vem bomba! Por que ele não
fala em bananas, laranjas, abacates e melancias? Seria melhor compreensível. –
delirou o pobre homem
Viajante:
--- Atualmente, as pessoas... –
não desse Universo. Porém de outros. – Essas pessoas estão viajando para os
novos Universos. Aliás, eu digo “novos” porém são mais antigos que outros. Não
raro nós perguntamos: “Para elas onde foram”? – interrogou como um fato real.
Paulo:
--- Mas me diga! O senhor é desse
Mundo? – indagou a pensar com quem falava.
sexta-feira, 21 de novembro de 2014
À LUZ DA LUA - 18 -
- Natalie Portman -
- 18 -
CALHAMBEQUE
Daniel estava no conserto do
motor do velho calhambeque do senhor Geraldo aproveitando a tarde do sábado
quando não havia expediente na oficina da empresa Chevrolet, no bairro da
Ribeira. Entre uma cachaça e outra Daniel cuidava do seu trabalho, caso
acostumado até demais, o serviço de reparar motor de carro o qual ele chamava
de Fobica. O veículo de seu Geraldo era uma camioneta curta com a frente do
motor, a cabine do motorista e atrás, a carroceria onde, quando saía para as
compras, atolava nessa parte da Fobica aquilo que o homem trazia, como os
granulados, massas, café, cervejas e outras costumeiras bebidas. Na tarde do
sábado, seu Geraldo aproveitava para colocar o carro em dias. A despachar no
balcão de sua mercearia, o homem sempre dava uma olhadela para ver como
marchava o serviço enquanto Ney, o seu filho, o maior de todos os meninos
presentes, costumava a indagar a Daniel perguntas tolas como de costume.
Ney:
--- O que é isso? – perguntava o
rapaz
Daniel:
--- Junta do Carburador. –
respondia o homem em baixo da Fobica
Ney:
--- E pra que serve? – indagou
impressionado
Daniel:
--- Para ajustar o eixo da
catarineta. – respondia o rapaz já todo melado de óleo.
Ney:
--- Cá o que? – indagou o garoto
um tanto impressionado
Daniel:
--- Mas você faz cada pergunta. –
respondeu o rapaz com os olhos ardendo da areia suja caída na hora por sobre
seu rosto.
O garoto sorriu sem achar o
sentido da questão. E colocou depressa a junta em cima do capô do calhambeque
Outros garotos também despertava
o olhar para ver o mecânico lambuzado de areia, óleo e graxa a infernizar o
próprio satanás. A hora corria e o número de garoto aumentava cada vez mais,
uns correndo atrás de outros. Tinham os que apenas observavam o serviço e Ney
era chamado ao balcão para dar vez a seu Geraldo a ver de perto como estava a
caminhar o conserto sem ele querer meter o bedelho. Apenas vistoriava a
ocupação e nada mais. No final seu Geraldo pagava o serviço com uma garrafa de
cana após dar uma volta pela cidade afora. O rapaz Daniel era um tipo magro e
aprendera a profissão quando sentou praça no Exército, uma vez já ter a sua
vocação incentivada pelos mecânicos dos bairros da Ribeira, Rocas e Alecrim.
Esses eram os principais bairros de Natal, a capital do Estado. Quando deixou a
farda, Daniel saiu na categoria de Cabo. Por isso mesmo, seu Geraldo o chama de
“cabo velho” mesmo Daniel tendo pouca idade para ser chamado de “velho”. Quando
o rapaz deixou a farda, logo se ocupou da firma Chevrolet, uma vez ter tal
firma manter o interesse por mecânicos dessa mesma ordem por ser mais adaptados
ao serviço de mecânicos, torneiros ou serviços de maior alcance em vez de se
arranjar com a turma do “pé do muro” como eram chamados os mecânicos sem
qualificação profissional.
Certa vez, Daniel contou uma
história por demais curiosa. Disse o homem que, certa vez, um caminhão do
Exército rodava pelo trajeto do Quartel sem ter seu motorista. Era história,
pelo menos de meter medo nos olhos dos de menor idade. E a turma ficou atenta
para o desfechar da tragédia.
Daniel:
--- O caminhão vinha na sua mão
sem nenhum motorista a governar. A sentinela viu aquilo e deveras correu para
dentro de sua Guarda e de dentro do setor passou fogo no caminhão,
aparentemente sem alguém para dirigir. Esse tiro de fuzil despertou a atenção de
toda guarda e em um momento era uma ruma de militares a correr em debandada
para de onde veio a deflagração do estrondo. Foi um evento dos diabos. Um carro
desgovernado ou governado dentro de um Quartel Militar? Quem diria! Então, o
caminhão já parado se abriu a porta e de dentro desceu um soldado. Ele estava a
governar o caminhão com os seus pés. – e gargalhou o cabo velho.
Geraldo:
--- E o soldado foi preso? –
indagou o negociante.
Daniel:
--- Ora está. Um mês na mucura! –
sorriu o bravo ex-militar.
Geraldo;
--- E como foi o caso do soldado
do Batalhão? – indagou sem saber muito bem
Daniel:
--- O soldado? Aquele foi do BEC
– Batalhão de Engenharia e Construção – O soldado estava de Guarda no portão
principal do Quartel, já de madrugada, quando vinha uma caminhonete com quatro
pessoas sendo uma o próprio motorista e dono da caminhonete. O carro passou em
frente ao Quartel e a rapaziada gritou:
Rapaziada:
--- Fresco, baitola, chupão! –
gritaram os desordeiros.
Seu Geraldo começou a sorrir. E
calou por certo instante
Daniel.
--- E o guarda não contou
conversa: empunhou o fuzil e passou fogo. Se pegasse, tudo bem. E os disparos
foram certeiros. Em um, o “Cheba” rodopiou. A bala furou o pneu traseiro. O
motorista ficou espantado com os disparos e saltou de imediato o seu carro.
Nessa hora, estavam mais dois ou três militares da Guarda. Não sei bem. Mas o
Militar que efetuou os tiros estava presente e deu voz de prisão a todos os
quatros moleques. Foi aquela confusão, com o pedido de desculpas por causa dos
de menor idade e coisa e tal. Mesmo assim, os quatro meliantes foram todos
detidos.
Militar:
--- Para o xadrez. Vamos! Não tem
conversa! Depressa! – dizia um militar.
Daniel:
--- Enquanto isso, o “Cheba”
ficou na rua com seu pneu furado. Eu sei que uns militares cuidaram de
consertar empurram para dentro do Quartel o velho “Cheba”, todo desengonçado.
No dia seguinte o Comandante mandou chamar os quatros e se pôs a falar com o
dono do “Cheba”.
Comandante:
--- O senhor não tem vergonha.
Reclamar da Guarda? Sabe o que eu posso fazer agora? Trancafiá-los nas grades!
Todos vocês! Bando de canalhas! – foi que falou imensamente bravo.
O dono do veículo só fazia calar.
Entre os rapazes um começou a sorrir baixinho. O jovem da guarda da noite
estava presente ouvindo calado os desaforos prestados pelo Comandante da
Guarnição. Em certo instante o Comandante indagou ao soldado de serviço àquela
hora da madrugada.
Comandante:
--- O que eles chamaram senhor
militar? – perguntou eufórico.
Guarda:
--- Posso falar meu Comandante? –
indagou o militar.
Comandante:
--- Tudo! – vociferou o alto
militar.
Guarda:
--- Eles agrediram o senhor e
todo o Quartel. – relatou o soldado
Comandante:
--- Agrediram como senhor? –
indagou indignado.
Guarda:
--- Eles chamaram o Quartel de
bando de frescos, baitola, e chupão. Foi então que eu passei fogo. E foi para
pegar mesmo, meu Comandante. – disse o militar sem nada temer.
O Comandante nesse pontou é que
ficou apoquentado e determinou que eles fossem detidos até segunda ordem. Bufando que só um cão se levantou de sua
poltrona e olhou para os três rapazes de menor idade. Falou na sequência:
Comandante:
--- É isso que o seu pai lhes
ensina? É? É? É? – perguntou de olhos acesos o comandante do BEC.
À LUZ DA LUA - 17
- Camila Belle -
- 17 -
ADONIAS
Era manhã bem cedo. Adonias
cultivava o seu terreno como fazia todos os dias. Plantava ele as suas
hortaliças entre outros eventos simples até demais. Enquanto plantava, ele
cantava melodias antigas dos velhos tempos. Canções quem ouvisse de nada
entenderia. O homem já era um tanto idoso como as suas velhas canções. E assim,
Adonias trabalhava sem dar conta do presente ou do passado levando a castigada
vida apenas a cantarolar e cultivar a terra. O vento soprava ainda sem levantar
quentura e pessoas a transitar pela estrada íngreme de barro não observavam
aquele suave cantarolar do paciente e modesto ser. A sua mulher estava na casa
alpendrada e, por sua vez, fazia o manjar do almoço a servir por volta do meio
dia. Clara por igual cantarolava como se estivesse a acompanhar o marido em sua
faina diária. Uma gaiola pendurada na entrada da casa: era um sabiá a gorjear
uma saudosa melodia. No terreno do bem amplo quintal, um cata-vento a trabalhar
sem reclamar puxando água da parte baixa do local. Cachorro a repousar na
entrada do alpendre como se estivesse esperando a comida. Um galo a entoar a
sua voz melodiosa para ter a certeza de ser ouvido. Um sujo chiqueiro com
porcos a ronronar como a estar conversando entre eles. O sol a brilhar ainda
fraco. Era o dia a iniciar a sua gestação preguiçosa.
Sem notar o que se passava ao
derredor, Adonias mandou calar o cão por latir a qualquer preço. Ele, Adonias,
não viu o homem naquele melancólico instante. Apenas o cão notava a sua
inquieta presença. E assim ocorreu o sucedido. Ao voltar a terra, Adonias
avistou perto de si, um outro compadre, conhecido de longas eras. E quase
tremeu de susto. Nestor não era tão idoso como parecia ser. O seu aspecto era
de um homem sadio, moço e forte. Na certa, foi um assombro para o idoso
Adonias. A questão era de que seu velho compadre tinha sido morto a tempo e
tanto, pelo ditar das pessoas de fora quando bastante comentavam. E aquele
espanto colheu Adonias de surpresa:
Adonias:
--- Você não era o compadre
Nestor? – indagou com pleno susto
O homem, ainda com a sua pouca
idade, sorriu. Após alguns segundos, o jovem homem então falou com segurança.
Nestor:
--- Sou eu mesmo. Eu vim convidar
para conhecer a minha nova casa? – falou com alegria
Adonias:
--- Casa? Que casa? E a outra? –
perguntou surpreso o velho amigo.
Nestor:
--- Aquela casa não é minha,
hoje. Os herdeiros tomaram posse. Eu tenho outra. – sorriu.
Adonias:
--- Outra? Mas como? Você vendeu
a casa velha? – indagou sem entender de certo.
Nestor:
--- Eu não vendi. Mas já me deram
outra muito mais elegante. – falou sorrindo
Adonias:
--- Eu não entendo como! E a
velha (casa)? – falou inquieto.
Nestor:
--- Vamos conhecer a nova (casa).
– sorriu o aparente homem
Adonias:
--- Mas como? Estou trabalhando
agora! – lembrou sem temor.
Nestor
--- Encoste a ferramenta e me dê
a mão. – disse o compadre.
Sem saber o que estava a ser
feito, o idoso homem largou as suas tralhas e segurou na mão de seu compadre
duvidado do que ouvira falar. Em um instante, Adonias sumiu. Como uma
alucinação verdadeira, o homem idoso, em um instante estava em outro local.
Mesmo pulando de um plano para outro, Adonias reconheceu o novo local da mesma
forma como se estivesse em um só recanto da velha cidade. E Nestor aludiu:
Nestor:
--- Veja aonde eu resido, hoje.
Uma moradia singular onde habitam várias pessoas, uns até mesmo conhecidos e
outros, nem tanto para você. – relatou
Adonias ficou assustado com
aquele ambiente. E chegou a ver antigos compadres a quem os cumprimentou
acertadamente. A residência era toda mobiliada e ao setor mais para além
estavam mulheres e crianças a trocarem conversas por ele não escutadas. Aquela
era uma maravilha de residência. Tudo de moderno estava presente. De sofá a
escrivaninha. Molduras de pessoas, candelabros, uma mesa com modernas cadeiras.
Um luxo só. Após breves instantes Adonias indagou:
Adonias:
--- Onde estão os outros? –
perguntou meio assustado.
Nestor:
--- Alguns estão a caminhar pela
rua. Outros saíram para determinados locais. – sorriu
O idoso amigo refez mais uma
questão.
Adonias:
--- Espere! Mas você morreu! –
perguntou assustado.
O jovem compadre sorriu e
respondeu:
Nestor:
--- Compadre, não se morre. Você
está agora em uma nova dimensão. Em mais um Universo. São milhões de Universos
a se percorrer. Eu estou nesse, agora, como estive em outros, no passado e ainda
vou estar no futuro. Para você acreditar, nós não vivemos nem no passado nem no
presente. Tudo é Universo. É um multiverso. – sorriu com satisfação
O velho homem coçou a sua cabeça
para falar:
Adonias:
--- Não entendo nada do que o
compadre fala. Isso é coisa de eu estar sonhando. – reafirmou
Nestor:
--- Quer se encontrar com outros
velhos conhecidos? – indagou sorrindo.
Adonias:
--- Eu vejo as pessoas que estão
aqui? – indagou surpreso
Nestor:
--- Eu tenho certeza. Mulheres,
homens e meninos. Os meninos talvez você nem se lembre tanto. Mas as moças,
essas você se lembra de verdade. – falou com severa afirmação.
E os dois amigos perambularam
pela rua, naquela hora, à noite onde pouca gente estava a caminhar. Era uma rua
por Adonias bem conhecida. Contudo, a não ser por suas lembranças, tinha algo
de diferente. Todas as casas estavam todas fechadas. Todas ou quase todas. E peregrinado
por caminhos incertos, o idoso homem topou com uma moça toda vestida de cor
branca e, de imediato, ele a reconheceu:
Adonias:
--- Leonor, é você? – perguntou
surpreso
Leonor:
--- Como vai, querido. Faz um bom
tempo. – falou alegre e cheia de graça
Adonias:
--- Por Nossa Senhora! Mas você
morreu? – indagou quase a chorar.
Leonor:
--- Quem disse isso? Eu estou
bem. E você? – dialogou.
O velho homem voltou a coçar a
cabeça por se lembrar de tantos anos passados quando ele conviveu com Leonor em
tempos remotos. Por isso mesmo, Adonias chorou da imensa saudade de ter estado
com a moça naquele incontável instante. Ele nem mais precisava descrever com os
perdidos afetos e delicados carinhos nos entraves da emoção de belos e
imagináveis tempos. Era a saudade do eterno anseio. Teatro, cinema, pracinhas,
velhos carnavais, cerveja em um bar da esquina, viagem de trem, banhos de mar,
a sombra de coqueiros, beijos ao luar entre eternas juventudes.
Leonor:
--- Saudade do bem-querer, amor!
– lembrou em verdadeiro êxtase.
O velho senhor das estrelas nada
mais conseguiu falar.
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