quinta-feira, 27 de novembro de 2014

À LUZ DA LUA - 23 -

- Ziyi Zhag -

- 23 -

PRESENTE

Rui era um menino inteligente e, naquele dia, completava seus 12 anos de idade. Ele acordou bem cedo, como de costume, e já sabia do seu aniversário naquela data. Dia 1º de Outubro. E igualmente era a data da sua festa de Santa Teresinha. Apesar de ser canonizada no dia 17 de Maio de 1925 quando a jovem e assim se tornou Santa - a Santa Teresinha padroeira das Rosas –por coincidência era também aniversários de outros devotos penitentes. Rui nasceu tempos depois da virgem se tornar Santa. Mas no dia em que se reverenciava o nome da Santa, Rui acordou um pouco mais cedo, às 5 horas da manhã, quando houve um foguetório em homenagem a Santa das Rosas. Rui não entendia muito bem o porquê de tal foguetório. Apenas se lembrava do nome da Santa. Teresinha, morta em 30 de setembro de 1897, na cidade de Lisieux, na França. Para a Igreja, ela era a Santa Teresinha do Menino Jesus da Santa Face. Para Rui, era apenas a Santa Teresinha A sua mãe, não muito católica, vinha de casa a fora para chamar o menino Rui.
Mãe:
--- Acorda! Levanta! Toma banho! Vai dar seis horas! A Missa começa já! Experimenta a roupa que teu pai comprou na Cooperativa! Levanta!!! – gritava a mulher ao desespero andando para cima e para baixo no interior da casa
O garoto saiu, um pé em cima outro no chão. E ele entrou para se molhar.
Mãe
--- É tomar banho por inteiro! Não é passar apenas a água nas costelas! – vociferou enraivecida.
Rui abriu a torneira da rua. Tinha água. O homem da água só vinha fechar a passagem das casas lá por nove horas.
Rui
--- Não sei por que ele faz isso? – indagou consigo mesmo
Sabonete Dorly, era o que ele usava. Esse era o mais barato no mostruário da Cooperativa. Ele tomou o seu banho para depois se enxugar da meladeira feita no banheiro.
Mãe:
--- Bebeu água? – perguntou a sua mãe com sua voz renitente.
Rui
--- Não senhora. – respondeu com olhos vazios.
Mãe
--- Não é para beber nem água! Ouviu? – perguntou com toda a altura de voz
E seguiu Rui para a Matriz de Santa Teresinha onde já estava gente a lotar o pequeno templo. Um cheiro enorme das orquídeas e do perfume das senhoras bem vestidas. Uma menina-moça passou por perto de Rui e sorriu. Ele nem abriu os dentes. E a menina perguntou:
Menina:
--- Trouxeste o adoremos? – indagou a murmurar
Rui:
--- Tá vendo? – mostrou o livro de orações
Menina:
--- O meu tá novinho. – sorriu a menina.
Rui
--- O meu também. – disse ele
E Rui mostrou a capa e os santinhos tidos durantes as Missas que ele frequentava aos domingos. Alguma coisa lhe apertou os fundilhos. Era a calça mal cosicada. Ele nada pode fazer. E nem coçar os seus fundilhos. Apenas fez uma careta.
Menina
--- Que foi? – perguntou curiosa.
Rui
--- Nada. Talvez a sede. Não comi e nem bebi. Recomendação de minha mãe. – alertou
Menina
--- Pois eu comi um pedaço de bolo. – sorriu a murmurar.
Rui
--- É pecado. O Padre disse. “Não comam nada”! antes da comunhão. – falou o menino
Menina:
--- Eu? Depois eu me confesso. – debochou a menina sungando o busto
E começa a Santa Missa. Um tempo enorme. Mais de 45 minutos. Apenas no sermão o padre comeu seus 20 minutos. Dissera tudo o que já havia dito um ano atrás
Padre:
--- Hoje é celebrada a festa de Santa Teresinha. A Santa foi uma freira carmelita e tornou-se conhecida pelos mais influentes modelos de santidade. – falava o padre.
E deu para falar dos exemplos de santidades naqueles fervorosos anos de guerras e açoite onde a mortandade era um suplício para o homem católico e a mulher penitente. As crianças ingênuas eram as mais sacrificadas pela doença, como a tuberculose que vitimou a Santa quando estava com apenas vinte e quatro anos de idade. Ante o calor sufocante a fazer da Matriz, o sacerdote não se importava e continuava a pregar com emoção “A História de uma Alma”, os manuscritos autobiográficos de uma “menina” dedicada as sublimes orações. Entre as suas duas irmãs a Santa não media esforços para cuidar dos devotos enfermos tornando-se a “estrela do sacrifício” dos mais pobres de coração aflito.
Padre:
--- Ela é a Doutora da Igreja. Nós temos o cuidado de lembrar de suas cartas, seus poemas, suas peças religiosas e das suas puras orações. A própria Santa Teresinha declarou poucas horas antes da sua morte: “Eu amo apenas a simplicidade”. E mais ainda falou de seus atos caridosos entre as demais afeções de paz. Após 20 minutos, o padre concluiu ser de maior afeção dar a hóstia de primeira comunhão as criancinhas que se dedicavam a vida pura e santificada para sempre.
Após ditar toda a sua celebração da Santa Missa, participar da sublime eucaristia e se recolher um pouco mais a verificar as criancinhas que fizeram a sua primeira comunhão, o padre deu por encerrada a liturgia daquela manhã de sol. As crianças foram para o banquete onde tomaram café com leite, queijo, pães, e bolos, tudo seguido pelas Irmãs da Divina Caridade. Após essa festa, onde Rui também tomou com leite e bolachas, pães e queijos ele viu se acercar a menina um pouco lacrimosa. E declarou a menina:
Menina:
--- O padre me deu um carão! – soluçava a menina.
Rui:
--- E por que? – perguntou impressionado
Menina
--- Eu fui dizer que tinha comido uma fatia de bolo! – chorava a píncaros.
Rui
--- Não te disse? É pecado! A gente tem que vir de barriga seca! – reprovou
Menina:
--- Mas foi só uma fatia! – olhou ela para Rui fazendo com o dedo um pouquinho de nada.
Rui:
--- Mesmo assim! Eu não bebi nem água! – relatou compreensivo
Menina
--- Eu pressinto que esse padre está neurótico! – relatou com certo cuidado.
Rui
--- Vai dizer a ele, vai! – discordou o garoto
E o padre no palco do salão dizia com frequência.
Padre:
--- Comam! Comam! É hora de tirar a barriga da miséria! – sorria a todos.
E o povo sorria.

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