terça-feira, 4 de novembro de 2014

À LUZ DA LUA - 02

- Maria Bastos -
- 02 -

A NOIVA

Naquele sábado era dia de festa no casebre de Maria Pilar, moça dos seus 18 ou 20 anos onde todo o povo da redondeza cumpria o seu dever de preparar a noiva para o seu casório. Um dia feliz, pois a moça sorria sempre por desencavar da toca o seu namorado Manoel Tomaz conhecido do meio por Manoel Vaqueiro, 22 anos, laço firme, braço forte na derrubada do boi quando era dia de vaquejada no sertão dos Caicós.  Distante do meio urbano, Maria Pilar morava em uma tapera nos grotões do sertão em um tapera nas terras do Coronel Urbano, homem rico da região onde todos o conheciam e respeitavam. O Coronel possuía para mais de dez mil reses e era um grande conhecedor das matas existentes por toda aquela região. Maria Pilar era afiliada do Coronel como todos na sua fazenda. No dia do seu casório, ninguém mais trabalhou na fazenda, pois o casamento da moça era um marco da história da família Pilar. O tempo era de estio onde chovera apenas na invernada, coisa de encher barreiros. No seu tempo, Manoel Vaqueiro já estava na capela da fazenda à espera da noiva, coisa de aguardar um tanto, pois noiva sempre chegava mais tarde no dia de perder a sua liberdade virginal.
A carroça de burro estava toda enfeitada em seus lados com tudo o que se pensar. Os enfeites eram tiras de cambraias de várias cores e rosas do mato de tonalidades diversas. A noiva estava a se arrumar com tudo o que tinha direito. Mulheres entravam e saía de dentro da casa humilde a levar panelas de barro e tachos com bolos e salgados para colocar em cima do fogão a lenha para se ter maiores cuidados contra os gatos, cachorros e moscas.
Mulher:
--- Sai prá lá bicho da peste! – alertava contra o gato miador.
E Maria Pilar rezingava a todo instante por conta das furadas das agulhas a pinicar o seu corpo quando a feitora do traje cuidava de tudo aprontar. Do lado de fora, a carroça de burro. O jegue talvez mula, de vez por outra açoitava as moscas do seu corpo um tanto magro. O vaqueiro cuidado da carroça vez por outra ajeitava os enfeites postos na carroça. Do outro lado do cercado, três mulas e uma vaca com bezerro novo nem se incomodavam com a festa a estar por vir a qualquer hora da noite. Depois de eterno tempo, Maria Pilar estava pronta para seguir viagem. A noiva toda ajeitada com certeza. Em dado momento, um rapaz robusto, montado em seu cavalo, se acercou da casa e buscou a noiva com toda a pressa, alertando para os demais:
Zé Teodoro:
--- Ninguém se mexa ou eu passo fogo! – disse o homem destemido a segurar a noiva pelo traje
Todos ficaram para traz e a mãe da moça caiu em desmaio.
Pilar:
--- Me solta seu desgraçado! Seu molestado! Me solta! Eu vou casar com Manoel! – dizia a moça em desespero d’alma.
Zé Teodoro
--- Calada! Suba na garupa! Você se casa comigo! – disse o rapaz com fúria.
E com isso Zé Teodoro rompeu a mata com a sua sequestrada na dianteira e se largou cruel com o destino ignorado para as bandas das brenhas dos Caicós.  E de imediato, Zé Homem, cuidador da carroça, soube da notícia e fez finca-pé no seu cavalo em direção da capela para relatar o sucedido ao compadre Manoel Tomaz conhecido por Manole Vaqueiro. Cavalgando a todo custo Zé Homem nem parava para cuspir chegando à capela da Fazenda onde estavam o noivo e os poucos convidados e com a língua para fora foi logo dizendo ao noivo ansioso:
Vaqueiro:
--- Que houve, homem? Que houve? – indagou assustado o noivo.
Zé Homem:
--- Uma desgraça, compadre! Uma desgraça! – relatou cheio de temor.
Vaqueiro:
--- Desgraça? Que história é essa? – indagou preocupado por demais.
Zé Home nem podia mais falar de tanto poeirão que vendeu da casa da noiva até a capela. Mesmo assim, vencido um instante, o compadre cumpriu a desgraça para o atento do noivo.
Zé Homem:
--- Roubaram a noiva! – disse o compadre cheio de ânsia.
Vaqueiro:
--- Quem? Quem? Quem? – perguntou alarmado o vaqueiro.
E a história muito curta foi contada apontando a ação feita pelo facínora do Zé Teodoro, outro rapaz, antigo namorado de Maria Pilar, coisa de sete anos passados. Então, o noivo da moça se arregimentou de pronta e se largou a cavalo em busca da noiva raptada. Ele na frente e Zé Homem atrás. Depois deles uma ruma de vaqueiro a estar esperando pela cerimônia do casório a tantas horas. O padre da capela ficou desnorteado a ditar ser dessa forma descumprida a sagração do casório. O coronel Urbano não estava presente. Mas a sua mulher estava chegando para a festa da união dos noivos. Dito o que sou dona Alice quase desmaiou de vexame. E a capangada se uniu aos outros homens a marchar acelerado em busca de Zé Teodoro, mateiro de boas léguas.
Após passar em sua casa e pegar novas informações, Manoel Tomaz se largou para as matas acompanhado de diversos amigos com uma certeza cega.
Vaqueiro:
--- Hoje ou amanhã eu mato ou eu morro! Mas a vingança está escrita! Se Maria Pilar ainda vive, ela vem comigo! – declarou afogueado de raiva.
E os cavalos romperam serras, desceram barrancos, viraram o mundo às cegas a procura do rastro do cavalo de Zé Teodoro tendo a caminho várias léguas, pois o cavaleiro era crente em saber os rastros e a caatinga do sertão. Já passava da meia noite e alguns vaqueiros resolveram dar uma parada para repor a força dos animais já bastante exaustos. Porém Manoel Vaqueiro e seu compadre Zé Homem decidiram ir mais além até onde as montarias aguentassem. E assim fizeram por volta das três horas da manhã.
Vaqueiro:
--- O corno deve ter tomado caminho por essas bandas. – declarou o homem com toda raiva.
Zé Homem:
--- Vá ver que foi! Caminho cheio de grotas. E danação de morcegos que dá “beia”. – explicou com a cara rude.
Vaqueiro:
--- Quando o dia clarear, eu pego o caminho. Talvez o corno foi para umas das grotas do matão. – resmungou cheio de ira.
E o tempo passou depressa. O mateiro Zé Homem deu alimentação as duas montarias enquanto Manoel Vaqueiro enchia de munição a espingarda trazida da casa da sua noiva, onde ele sempre guardava o trabuco. Naquele espaço de tempo Vaqueiro não quis aproveitar para detonar a arma, pois, de algum modo o desordeiro do Zé Teodoro podia ouvir de onde estivesse. Com a garganta seca pela falta de água ou mesmo pelo temor de encontrar Zé Tomaz, o vaqueiro vadeou o riacho aproveitando para tomar uns goles e em seguida partiu em companhia do outro amigo.
De longe, Zé Tomaz viu o vaqueiro. E lamentou o fato para ele só.
Zé Teodoro:
--- Diacho! Aquele porco acertou o caminho! – e deu meia volta para dentro da gruta onde se escondera com a noiva de Manoel Tomaz.
Nesse instante, Maria Pilar puxou da arma de Teodoro e largou a dizer:
Pilar:
--- Se pegar a arma é homem morto! – falou com valentia.
Zé Teodoro suportou a desdita e disse a noiva de Vaqueiro que a arma estava sem munição. A moça já tinha visto o carrego da arma e relatou com pressa.
Pilar:
--- A arma está carregada seu bosta. – e atirou para cima com cuidado.
Em baixo da aba da serra o disparo foi ouvido. E Manoel Vaqueiro afirmou:
Vaqueiro:
--- Foi tiro! E foi Pilar quem detonou! Juro por Deus! – fez vez o vaqueiro.
Zé Homem:
--- E foi nas grotas! Não custa chegar perto! – relatou sem medo.
E os dois vaqueiros vagaram pelo caminho a procura de Zé Teodoro, escondido nas grotas. Os compadres seguiram por outro caminho tomando a trilha de cima da serra onde era possível pegar o inimigo desprevenido. Ao chega no topo da serra, Manoel Vaqueiro ateou fogo nuns garranchos de forma a tapar a boca da gruta. E foi dito e feito. Mas o demônio do Teodoro se pôs para fora agarrado mais a moça Pilar alegando se quisesse a virgem viva que sacudisse as armas para o chão. Coitado o homem. Só teve tempo de falar uma vez. Manoel Vaqueiro atirou rápido acertando de vez a cabeça de demônio. Maria Pilar, sem temor ainda disse que o disparo foi mesmo para matar o desavergonhado. 

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