- Maria Bastos -
- 02 -
A NOIVA
Naquele sábado era dia de festa
no casebre de Maria Pilar, moça dos seus 18 ou 20 anos onde todo o povo da
redondeza cumpria o seu dever de preparar a noiva para o seu casório. Um dia
feliz, pois a moça sorria sempre por desencavar da toca o seu namorado Manoel
Tomaz conhecido do meio por Manoel Vaqueiro, 22 anos, laço firme, braço forte
na derrubada do boi quando era dia de vaquejada no sertão dos Caicós. Distante do meio urbano, Maria Pilar morava
em uma tapera nos grotões do sertão em um tapera nas terras do Coronel Urbano,
homem rico da região onde todos o conheciam e respeitavam. O Coronel possuía
para mais de dez mil reses e era um grande conhecedor das matas existentes por
toda aquela região. Maria Pilar era afiliada do Coronel como todos na sua fazenda.
No dia do seu casório, ninguém mais trabalhou na fazenda, pois o casamento da
moça era um marco da história da família Pilar. O tempo era de estio onde
chovera apenas na invernada, coisa de encher barreiros. No seu tempo, Manoel
Vaqueiro já estava na capela da fazenda à espera da noiva, coisa de aguardar um
tanto, pois noiva sempre chegava mais tarde no dia de perder a sua liberdade
virginal.
A carroça de burro estava toda
enfeitada em seus lados com tudo o que se pensar. Os enfeites eram tiras de cambraias
de várias cores e rosas do mato de tonalidades diversas. A noiva estava a se
arrumar com tudo o que tinha direito. Mulheres entravam e saía de dentro da
casa humilde a levar panelas de barro e tachos com bolos e salgados para
colocar em cima do fogão a lenha para se ter maiores cuidados contra os gatos,
cachorros e moscas.
Mulher:
--- Sai prá lá bicho da peste! –
alertava contra o gato miador.
E Maria Pilar rezingava a todo
instante por conta das furadas das agulhas a pinicar o seu corpo quando a feitora
do traje cuidava de tudo aprontar. Do lado de fora, a carroça de burro. O jegue
talvez mula, de vez por outra açoitava as moscas do seu corpo um tanto magro. O
vaqueiro cuidado da carroça vez por outra ajeitava os enfeites postos na
carroça. Do outro lado do cercado, três mulas e uma vaca com bezerro novo nem
se incomodavam com a festa a estar por vir a qualquer hora da noite. Depois de
eterno tempo, Maria Pilar estava pronta para seguir viagem. A noiva toda
ajeitada com certeza. Em dado momento, um rapaz robusto, montado em seu cavalo,
se acercou da casa e buscou a noiva com toda a pressa, alertando para os
demais:
Zé Teodoro:
--- Ninguém se mexa ou eu passo
fogo! – disse o homem destemido a segurar a noiva pelo traje
Todos ficaram para traz e a mãe
da moça caiu em desmaio.
Pilar:
--- Me solta seu desgraçado! Seu
molestado! Me solta! Eu vou casar com Manoel! – dizia a moça em desespero
d’alma.
Zé Teodoro
--- Calada! Suba na garupa! Você
se casa comigo! – disse o rapaz com fúria.
E com isso Zé Teodoro rompeu a
mata com a sua sequestrada na dianteira e se largou cruel com o destino
ignorado para as bandas das brenhas dos Caicós. E de imediato, Zé Homem, cuidador da carroça,
soube da notícia e fez finca-pé no seu cavalo em direção da capela para relatar
o sucedido ao compadre Manoel Tomaz conhecido por Manole Vaqueiro. Cavalgando a
todo custo Zé Homem nem parava para cuspir chegando à capela da Fazenda onde
estavam o noivo e os poucos convidados e com a língua para fora foi logo
dizendo ao noivo ansioso:
Vaqueiro:
--- Que houve, homem? Que houve?
– indagou assustado o noivo.
Zé Homem:
--- Uma desgraça, compadre! Uma
desgraça! – relatou cheio de temor.
Vaqueiro:
--- Desgraça? Que história é
essa? – indagou preocupado por demais.
Zé Home nem podia mais falar de
tanto poeirão que vendeu da casa da noiva até a capela. Mesmo assim, vencido um
instante, o compadre cumpriu a desgraça para o atento do noivo.
Zé Homem:
--- Roubaram a noiva! – disse o
compadre cheio de ânsia.
Vaqueiro:
--- Quem? Quem? Quem? – perguntou
alarmado o vaqueiro.
E a história muito curta foi
contada apontando a ação feita pelo facínora do Zé Teodoro, outro rapaz, antigo
namorado de Maria Pilar, coisa de sete anos passados. Então, o noivo da moça se
arregimentou de pronta e se largou a cavalo em busca da noiva raptada. Ele na
frente e Zé Homem atrás. Depois deles uma ruma de vaqueiro a estar esperando
pela cerimônia do casório a tantas horas. O padre da capela ficou desnorteado a
ditar ser dessa forma descumprida a sagração do casório. O coronel Urbano não
estava presente. Mas a sua mulher estava chegando para a festa da união dos
noivos. Dito o que sou dona Alice quase desmaiou de vexame. E a capangada se
uniu aos outros homens a marchar acelerado em busca de Zé Teodoro, mateiro de
boas léguas.
Após passar em sua casa e pegar
novas informações, Manoel Tomaz se largou para as matas acompanhado de diversos
amigos com uma certeza cega.
Vaqueiro:
--- Hoje ou amanhã eu mato ou eu
morro! Mas a vingança está escrita! Se Maria Pilar ainda vive, ela vem comigo!
– declarou afogueado de raiva.
E os cavalos romperam serras,
desceram barrancos, viraram o mundo às cegas a procura do rastro do cavalo de Zé
Teodoro tendo a caminho várias léguas, pois o cavaleiro era crente em saber os
rastros e a caatinga do sertão. Já passava da meia noite e alguns vaqueiros
resolveram dar uma parada para repor a força dos animais já bastante exaustos.
Porém Manoel Vaqueiro e seu compadre Zé Homem decidiram ir mais além até onde
as montarias aguentassem. E assim fizeram por volta das três horas da manhã.
Vaqueiro:
--- O corno deve ter tomado
caminho por essas bandas. – declarou o homem com toda raiva.
Zé Homem:
--- Vá ver que foi! Caminho cheio
de grotas. E danação de morcegos que dá “beia”. – explicou com a cara rude.
Vaqueiro:
--- Quando o dia clarear, eu pego
o caminho. Talvez o corno foi para umas das grotas do matão. – resmungou cheio
de ira.
E o tempo passou depressa. O
mateiro Zé Homem deu alimentação as duas montarias enquanto Manoel Vaqueiro
enchia de munição a espingarda trazida da casa da sua noiva, onde ele sempre
guardava o trabuco. Naquele espaço de tempo Vaqueiro não quis aproveitar para
detonar a arma, pois, de algum modo o desordeiro do Zé Teodoro podia ouvir de
onde estivesse. Com a garganta seca pela falta de água ou mesmo pelo temor de
encontrar Zé Tomaz, o vaqueiro vadeou o riacho aproveitando para tomar uns
goles e em seguida partiu em companhia do outro amigo.
De longe, Zé Tomaz viu o
vaqueiro. E lamentou o fato para ele só.
Zé Teodoro:
--- Diacho! Aquele porco acertou
o caminho! – e deu meia volta para dentro da gruta onde se escondera com a
noiva de Manoel Tomaz.
Nesse instante, Maria Pilar puxou
da arma de Teodoro e largou a dizer:
Pilar:
--- Se pegar a arma é homem
morto! – falou com valentia.
Zé Teodoro suportou a desdita e
disse a noiva de Vaqueiro que a arma estava sem munição. A moça já tinha visto
o carrego da arma e relatou com pressa.
Pilar:
--- A arma está carregada seu
bosta. – e atirou para cima com cuidado.
Em baixo da aba da serra o disparo
foi ouvido. E Manoel Vaqueiro afirmou:
Vaqueiro:
--- Foi tiro! E foi Pilar quem
detonou! Juro por Deus! – fez vez o vaqueiro.
Zé Homem:
--- E foi nas grotas! Não custa
chegar perto! – relatou sem medo.
E os dois vaqueiros vagaram pelo
caminho a procura de Zé Teodoro, escondido nas grotas. Os compadres seguiram
por outro caminho tomando a trilha de cima da serra onde era possível pegar o
inimigo desprevenido. Ao chega no topo da serra, Manoel Vaqueiro ateou fogo
nuns garranchos de forma a tapar a boca da gruta. E foi dito e feito. Mas o
demônio do Teodoro se pôs para fora agarrado mais a moça Pilar alegando se
quisesse a virgem viva que sacudisse as armas para o chão. Coitado o homem. Só
teve tempo de falar uma vez. Manoel Vaqueiro atirou rápido acertando de vez a
cabeça de demônio. Maria Pilar, sem temor ainda disse que o disparo foi mesmo
para matar o desavergonhado.
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