sábado, 1 de novembro de 2014

O INFERNO - 49 -

- Ana Guiomar -

- 49 -

AGITAÇÃO

No sonho inclemente e preocupante, jazia a virgem aos pés do agitador demônio a suplicar clemência para o tormentoso causídico do diabo lhe deixar em paz por tal severidade de pensar demais. O demônio todo vestido de negro – capa, paletó, camisa, jaqueta, calça, meias, sapatos e até mesmo o cabelo – estava pusilânime com os braços a altura do busto e olhado para o além como se não tivesse ninguém ao seu lado. A sua fisionomia era pálida em contraste com o negrume da roupa. As mãos estavam cobertas por um par de luvas. Em seu pescoço descia uma dupla chave do poder infernal. Um ser alto, de mais de um metro e 80 centímetros. Esbelto e imponente como todos os provocantes demônios infernais. Quanto ele falava, emitia um som gutural sempre forte e um tanto agressivo. Aquele era, na verdade, o Satanás. Cruel, mau e por demais irreverente. A jovem virgem chegava-se para o Diabo e pedia clemência, pois não queria mais nada do que supôs a respeito da outra, a Racilva, namorada do seu chefe.
Norma:
--- Por favor senhor. Faça-me este apelo. – chorava em vão.
Satanás altaneiro, com os pés separado um do outro, fazia ouvido de mercador. Ele tinha o olhar severo como a buscar alguém muito mais atraente para leva-lo às profundezas do abismo de majestoso horror.
Demônio:
--- Não me toques! – respondeu Lúcifer abanando a sua capa onde a moça, ajoelhada, pedia clemência em verdadeiro pranto.
E a virgem caiu em pratos se afogando em suas delirantes mágoas por ter feito algo atroz e surpreendente para o seu ser. Bem no cimo da montanha Norma pode ver, mesmo de longe, as labaredas bárbaras a consumir os espectros dos já benditos mortos. Era tamanho sacrifício onde nem a aragem podia se aplacar nesse instante de dor. A agitação era terrível para Norma a visualizar os terríveis monstro a cozinhar cada qual a descer o abismo incruento.
Norma:
--- Não adianta mais! O que foi que eu fiz, meu protetor? – lembrou a moça ao falar.
E a moça sentiu os pés de alguém a se mover em incrível velocidade por um espaço escuro. Na visão da moça, parecia ser algo igual a um subterrâneo. A virgem não sentia vento de qualidade nenhuma. Apesar de tudo, a anomalia se deslocava a estupenda velocidade. Desta forma, a virgem gritou em pleno assombro:
Norma:
--- Eu estou no Inferno!!! – gritava que se ouvia de um lado a outro da rua.
No instante apavorante, a sua mãe se levantou de rede e se pôs a correr para onde a filha estava sentindo ser aquilo um tremendo sonho. A chegar do quarto de dormir encontrou a sua filha sentada na cama, com os cabelos todos encrespados e nada podia mais falar. Apenas soltava um macabro riso entre os seus estufados olhos e dizia para a sua mãe.
Norma:
--- Eu sou o demônio! Eu sou o demônio! Eu sou o demônio! – dizia essa frase repetidas vezes com seu olhar cheio de ira.
Totó:
--- Que é isso minha filha? Você está sonhando!!! Acorda!!! – disse a sua mãe a bater com força na face de sua filha.
E depois tanto relatar aquilo que sentia, a moça entrou em delírio e, então, acordou de verdade. Para ela, aquilo foi real. Mas a sua mãe lhe disse ter sido um sonho.
Totó:
--- Espere aí!!! Fique aí! Vou chamar Donana! – e a mulher saiu às pressas para buscar auxilio.
E a moça, em delírio, cantava músicas horrendas. Em todas, Norma falava no Príncipe das Trevas. Uma coisa horrorosa para o gosto de qualquer um. A sua voz mudou bastante como a fazer um canto de uma estranha ave não existente em tempos atuais. Assim, em diante, Norma rasgou as suas vestes deixando-as a rolar pelo chão. Ela estava em êxtase do mais nefasto horror. Donana chegou logo que Totó conseguiu acordá-la de vez. Então, saíram a mãe, Donana e uma nora da anciã. E foram bater na porta de onde a moça estava atenta. Ao entrar o quarto, Donana ficou brava. E resolver dizer:
Donana:
--- Sai da daí sua peste! Cai fora! Quem pode mais do que Deus? Fora! Fora! Fora! – com essas palavras a velha procurou espantar o demônio que estava possuindo o corpo da moça.
O ramo de folhas de alecrim jazia pelo chão de tanto a anciã ter batido com ímpeto na moça. Mas o demônio não deixava o corpo da virgem. E dizia a sorrir:
Demônio:
--- Bate mais, velha alcoviteira! Bate mais! Venha! – dizia o demônio a sorrir.
Donana:
--- Tu sabes bem que não vou usar cacto. Porém tenho algo mais forte. Isso!!! – e pegou de seu chambre um crucifixo de Jesus e com ele acoito o maldito.
E foi após várias bordoadas que o demônio largou a sua presa. Não suportando a surra o diabo abandonou o corpo de Norma e fugiu pela janela a gritar blasfêmias para a anciã.
oOo
Naquele dia, pela manhã, Norma chegou ao escritório com a cara de pessoa não dormida, pois se sustentava para não bocejar constantemente. Nesse ponto, Sócrates Fernandes estava a olhar para a donzela e não quis perguntar para não insultar a moça por uma coisa deveras normal. E Norma aproveitou o ensejo e declarou sem ter nada certo com o que teria a revelar.
Norma:
--- Eu tenho que deixar você. – foi o que disse em constante bocejo.
Sócrates:
--- Como assim? Você quer sair do trabalho? – perguntou cismado.
Norma:
--- Sim. Eu tive uma proposta da Prefeitura. Não sei nem quando é o salário. Mas, isso eu vejo depois. É um só expediente. E sobra tempo para continuar meus estudos. – ela olhou e desviou a vista num instante.
Sócrates:
--- O salário é o normal. Mas tem a questão do expediente. Apenas um. Eu acho bom.  E desejo boa sorte a você. – ele deu a entender o seu desapontamento.
Norma:
--- Mesmo assim, eu não vou largar a Casa. Sempre estarei por lá. – fez o sorriso mal dado.
Sócrates:
--- O espiritismo é uma coisa séria. Não é somente a baboseira que se ouve por aí. – teceu.
Norma:
--- E Racilva como vai? – perguntou cismada.
Sócrates:
--- Nosso namoro terminou. Eu decidi não cozinhar mais o banco. – disse ele com a cabeça pensa para o chão.
Norma:
--- Acabou? Mas, por que terminou assim tão de repente? – escutou alarmada.
Sócrates:
--- É o que acontece. Uns ficam e outros voam. Era a minha vez de voar. – destacou o rapaz com muita comoção.
Norma ficou indecisa com a notícia do namoro. De um modo ou de outro, ele pôs fim ao romance com Racilva.
Norma:
--- Ela tem alguém? – perguntou cismada.
Sócrates:
--- Não. Na verdade, eu não sei. Eu desisti, só isso. – bateu com o lápis no birô e olhando o chão.
Norma:
--- Mas você foi precipitado em decidir acabar o namoro. – alertou a virgem
Sócrates:
--- Não se pode servir a dois senhores ao mesmo tempo. Um dia é descoberto. – alertou.


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