sexta-feira, 31 de outubro de 2014

O INFERNO - 48 -


- Victoria Guerra -

- 48 -

- NOVIDADES -

Em uma noite de estio a anciã Donana estava a cachimbar na calçada em frente à sua casa e olhar os passantes vindos e indos para qualquer lugar em meras novidades. Eram 9 e meia da noite e a ancião não pregava no seu sono. Por isso mesmo, ela estava sentada em sua cadeira de palha a olhar o pessoal, alguns namorados, outros apenas pondo conversa fora. Nesse momento chegava da rua a virgem Norma já bem exausta e afinal findou a cair em plena calçada como a dizer do lugar ainda morno do sol porém ela queria era se deitar a qualquer preço. Norma observou Donana e sorriu. A anciã buscou um travesseiro a servir de encosto para a velha cadeira e largou para a moça se deitar um pouco. Enquanto isso a anciã dava suas cachimbadas a lhe trazer um gosto de ervas dado ao fumo ser mesclado justamente com ervas. E o cheiro se tornara incomparável. Norma admirava o gosto daquele fumo. E a velha senhora indagou:
Donana:
--- Você acredita no Inferno? – indagou cachimbado com suave aroma.
Norma:
--- Eu? (assustada) – Claro que sim! Por que a pergunta? – revirou a cabeça em direção a anciã.
A anciã cachimbava aos contentos e não dava atenção à Norma de modo de olhar. E disse:
Donana:
--- O Prefeito está gritando de dor. Faz pena! Homem moço! Coitado! – relatou sem mexer a cabeça a fitar sempre para frente.
Norma:
--- Que Prefeito? O morto? – indagou mais assustada.
Donana:
--- Ele estava madornando e chegou o “infeliz” para busca-lo. – comentou sem se mexer.
Norma:
--- Como o infeliz? A senhora ouviu no rádio? – indagou com assombro.
Donana:
--- Eu ouço. Eu ouço. Faz pena. Também pra que foi mexer com quem está quieto! – indagou e afirmou sobre o paradeiro dos mortos.
Norma:
--- A senhora está querendo falar no Cemitério? – indagou com seu rosto amargado.
Donana:
--- Eu bem que avisei: não bula com quem está dormindo. Ele foi. O Cemitério é um lugar santo. Ninguém mexe com quem está dormindo ali. É a última morada para os que tem o que prestar. Eu digo sempre: quem está alí apenas só quer repouso. Uma rosa pode se levar. Acender velas. Tudo isso pode se fazer. Mas derrubar tudo para fazer uns sobrados? Isso, nunca! – prontificou.
Norma:
--- A senhora ouviu alguém falar sobre o assunto? – indagou com espanto.
Donana:
--- Minha filha. Você é bem nova para entender certas coisas. Mas o Inferno, ele existe. Tem cada coisa, que só vendo. As almas penadas. Gritos. Ranger de dentes. Tudo isso existe. O diabo existe. Satanás! Quando você faz promessa com Satanás, tenha cuidado. Não abra a sua boca para dizer tolices. – falou baixinho a fumegar o cachimbo.
Norma:
--- Isso é certo. O Inferno existe mesmo. Parece um vulcão queimando tudo o que encontra. – relatou temerosa.
Donana:
--- Existe? E por que faz promessa com o demônio? – perguntou sem olhar para a moça.
Norma:
--- Eu? Deus me livre! Nunca desejei mal a ninguém! – falou desconcertada
Donana:
--- Desejou, sim. E a moça vai perder o seu namorado. É a questão. – afirmou consciente.
Norma:
--- Quem? Quando? Onde? – indagou cismada com todo o que a anciã balbuciara.
Donana:
--- Hoje mesmo você desejou mal a moça. E Satanás ouviu. – disse sem olhar para a moça.
A cabeça de Norma rodou feito um pião procurando rever tudo o que fizera durante o dia, porém nada lembrou de verdade.
Norma:
--- Eu? Mas não me lembro de tal coisa. – fez ver a virgem.
Donana:
--- Na Igreja, filha. Na Igreja. Você não foi à Igreja? – perguntou a anciã.
Norma:
--- Claro de fui. Não fiz maldade com ninguém. Fiz? – indagou inconsciente.
Donana:
--- Quem estava com você? Não precisa nem responder. – disse a anciã.
Norma:
--- Muita gente. Quer dizer: algumas. Mas quem estava comigo? – perguntou aflita.
Donana:
--- O homem que você deseja. Ele estava ao seu lado. Duvidas? – perguntou sacudindo a borra do fumo no encosto da cadeira.
E a virgem se prendeu toda de vez. Sócrates estava com ela, sim. Como a anciã adivinhou, isso a virgem não encontrou resposta. Uma coisa a moça pensou:
Norma:
--- “Infeliz” – pensou a moça completamente atormentada.
Donana:
--- Agradecida. Eu sou talvez infeliz. Mas você se cuide. Ele está para romper os laços com a namorada. E você terá sua vez. Não me deseje infelicidade. O capeta pode não ser tão infeliz assim. Tome tento. – falou a anciã a se levantar da cadeira.
A anciã entrou para o seu quarto de dormir e a moça ficou horrorizada com tudo o que ouviu. Norma quis chamar a anciã, porém se aquietou. Ela se lembrou de ter pensado tudo o que Donana falou. Mas não foi par mal. Apenas pensou.
À meia-noite daquele dia Norma dormia a sono solto. Ela sonhara com coisas do passado, se bem lembrava mesmo ao dormir. Um circo sem empanada estava prestes a sair do seu local, pois em cada cidade o circo passava 15 dias. Depois, tomava outro rumo. Mas nesse circo tinha apenas duas pessoas: um rapaz dos seus 30 anos e uma mulher já m plena evolução da idade. Os dois circenses procuravam ajeitar as lonas do circo e a moça esquadrinhava ver onde estavam essas lonas. Nesse momento, um homem se acercou da virgem. E então indagou:
Demônio:
--- Você está pronta? – indagava o demônio
Norma:
--- Pronta para que? – perguntou cismada
Demônio:
--- Para o nosso trato! – quis saber.
Norma:
--- Trato? Que trato? – perguntou muito estranha.
Demônio:
--- Da Igreja. Não se lembra mais? – sorriu o demônio.
Norma:
--- Ah. O senhor é o demônio? Não quero mais o trato. - respondeu com a cara abusada.
Demônio:
--- São 40 anos. Você fornica com quem você quiser. – falou contente.

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