- Clémence Poésy -
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BUSCAS
Na tarde/noite daquele dia bateu à porta da casa de Canindé o seu
amigo de poucas datas e a todos conhecidos: Sócrates. A mulher da casa, dona
Aurea, mãe do rapaz Canindé, veio correndo com suas vestes não tão bem
compostas a relatar um caso de não saber por onde andava o seu filho desde o
dia passado. Sócrates imaginou ter ele – Canindé – feito alguma besteira. Mas
não disse nada. Apenas divagou:
Sócrates:
--- Ele não falou de algum negócio. Feira, artesanato ou coisa
assim? – indagou preocupado.
Aurea:
--- Nada! Ele saiu de casa para buscar dinheiro no Banco. E não
foi, pois o pessoal da casa bancária o conhece muito bem e nada foi feito em
sua conta. – disse a mulher a chorar.
Cosme:
--- Ele deve estar em algum lupanar! Ora essa! = comentou abusado.
Racilva:
--- Ora, pai! Que coisa! Não está vendo! – reclamou a filha.
Cosme:
--- O que tenha ele feito só ele sabe. Morrer é que não foi! –
reclamou.
Sócrates:
--- Ele tem amigos? – perguntou com pressa.
Aurea:
--- Eu não sei. Deve ter. Alguns. Mas atualmente ele – de amigos –
só tem você. – relatou em choros.
Sócrates:
--- Não. Não. Eu não o vejo desde o sábado. – falou procurando
saber de mais coisa.
Cosme:
--- Ele tem mulher. Isso é certo! Conversa tola! – reclamou com
raiva.
Racilva:
--- Ô pai! O senhor só sabe dizer isso? – reclamou abusada
Cosme:
--- Porque é verdade! Ora! – reclamou estúpido
Aurea:
--- Não diga isso! Ele é um bom menino! – relatou a chorar.
Cosme:
--- Bom menino? Bom menino? Tá aqui o “bom menino”. – respondeu
com cólera estirando o braço em sinal de “banana”.
Sócrates:
--- Bem! Como ninguém se entende, eu pergunto: Você já deu parte à
Polícia? – perguntou com cuidado.
Racilva:
--- Polícia, não! Deus me livre! Polícia? – disse a virgem cheia
de rogos.
Cosme:
--- Ainda não! Eu acho por bem não falar agora! Fazem dois dias
apenas! Amanhã, talvez! – relatou o homem já um tanto sem fúria.
Sócrates:
--- Mas já deviam terem dito. Amanhã pode ser muito tarde, se o
caso for de crime ou suicídio. – fez ver o rapaz tentando convencer os
familiares.
Aurea:
--- Suicídio? Ave Maria! Nem pensar em tal desgraça! – falou
enervada.
Sócrates:
--- Mas, nós temos que cuidar com bastante calma. Eu falei desse
modo como sendo apenas uma hipótese. – declarou roendo as unhas.
Racilva:
--- Vai pra lá com o teu “suicídio”. – bateu com os seus dedos na
tabua da mesa com bastante vergonha.
Sócrates:
--- Bem. Está certo. Hoje, tudo já está fechado. Mesmo assim a
Delegacia de Plantão, essa sempre está de serviço. Se algum de vocês quiserem
ir ao Plantão, eu posso ir. Se não, deixo para amanhã. Aliás, eu não tenho nada
a haver com o caso. O melhor seria com o senhor Cosme. Ou a sua esposa. Eu
estou apenas alertando. De qualquer modo, eu fico apenas na chamada retaguarda.
– relatou com verdadeira suspeita por conta do rapaz Canindé.
Cosme:
--- É melhor. É melhor. Pode ser que ele volte ainda hoje. –
comentou.
Racilva:
--- Duvido. Essas indivíduas. ... – comentou de cabeça abaixada.
Sócrates:
--- Essas mulheres fazem o que tem a executar. Isso se for o caso.
Pode ser que nem seja assim. – alertou.
Aurea:
--- Eu quero o meu pequeno! – voltou a chorar a mulher.
O estrago estava formado. Após alguns minutos, Sócrates resolveu
partir e nada falou para Racilva. Essa já estava acabrunhada pelo ditar o seu
namorado e nada quis falar. Apenas disse os cumprimentos de ressalva e, de
braços cruzados, ficou a olhar o seu namorado. Em seguida, Racilva entrou em
seu quarto e se pôs a chorar. Ela chora sem saber a total razão. Talvez pelo
desaparecido irmão. Talvez pela brutal incerteza do seu amado. Enfim, coisas do
amargo destino nunca fiel ao seu compromisso. Acolhida na insólita cama de
dormir, Racilva debruçou o seu rosto enfiando no colchão para verter as perenes
lágrimas. Para a moça tudo era então passado que o tempo não voltaria jamais. O
relógio de parede batia as 10 horas da noite. Tudo era calmo então. A moça continuava acordada a pensar nos
acontecimentos dos dois últimos dias. Em certo instante, Racilva bateu forte
com a sua mão no insensível colchão.
Racilva:
--- Merda! Merda! Merda! – era tudo o que falava.
Após o sinal da meia noite, o sono se aquietou e Racilva dormiu.
Porém, duas horas depois, a moça acordou a tremer. Um abalo sacudiu a moça.
Sonho inclemente fez cruelmente a ligeiro despertar. Uma porção de gente em um
auditório imenso. Nesse canto a virgem estava só. As demais pessoas não a viam.
Um rapaz se aproximou da virgem. Argumentou de vez:
Rapaz:
--- Aqui estamos nós. Ninguém nos pode ver. – sorriu o moço
Racilva:
--- Verdade. Ninguém mesmo. Nós estamos mortos.
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