quarta-feira, 1 de outubro de 2014

O INFERNO - 19 -

- CLÉO PIRES -
-19 -
ESPANTO
Não se sabia ao certo se Norma avistava o espírito do mau ou não. O mentor da sessão, senhor Paranhos, apenas aguçava os olhos para a moça como se estivesse em inquietação total. Os demais médiuns ficaram apreensivos. Em um espaço de tempo ninguém sabia o que fazer de verdade. Era um grave transtorno o qual se podia ouvir de parte da moça. Ao primeiro contato sentiu-se uma energia em volta em trevas.  
Fantasma:
--- Eu te amaldiçoarei você se rejeitar meu apelo! Vindes embora! – falava com uma voz terrível quem com Norma discorria.
Paranhos:
--- Eu não consigo ouvir o que o irmão está a falar! – discorreu o médium.
Fantasma:
--- Irmão?! Quem disse que eu sou teu irmão, vagabundo! Agora o senhor me ouve?! – falou com brutal certeza o espírito do mau.  
O médium deveras se assustou com aquela macabra voz de alguém já morto a estar a sair de uma trágica sepultura. Um frio de lhe acorreu a espinha dorsal. E o médium supôs está com se acorrentado pelas mãos cruéis frias, bárbaras e pegajosas de um cadáver vindo das profundezas do inferno. A mesa era composta por Paranhos, Mardônio e o professor Zuca, todos homens dos seus sessenta anos, além de Sócrates e a virgem Norma. Entre horrores e temor, o senhor Paranhos se despregou do obtuso ser animalesco ao ditar a forma prudente:
Paranhos:
--- Sai daqui imundo!!! Deus seja louvado! – declarou em êxtase.
Nesse momento a monstruosa figura saiu de junto do médium Paranhos e se projetou no corpo de Mardônio com unhas e dentes fazendo do segundo médium um boneco de trapo, batendo com força no homem se jogando para trás e se curvando todo como um animal apavorante e selvagem. A mesa onde os médiuns se reuniam era coberta por toalha branca tendo por cima uma Bíblia, O Livro dos Espíritos, um copo de água fluídica, uma vela sempre acesa durante àquela hora e um vaso com flores. Nesse momento, com ímpeto, a mesa começou a subir em direção ao telhado da humilde casa com todos os seus objetos a cair ao chão, a porta do sanitário a bater mais de uma vez como a se abrir e fechar, as luzes acessas na frente da casa se oscilarem, a mãe de Norma que estava no corredor da casa e se viu a cair no chão de modo inesperado e além do mais uma risada atroz a ecoar por sobre todos os circunstantes. Passados alguns minutos a mesa se despencou de uma só vez projetando-se ao chão num baque surdo e abafado. Logo após o espírito do mal se soergueu do chamo e se dirigiu a moça virgem.
Espírito:
--- Eu vim apenas te buscar para o nosso lar, maldição!!! – reclamou o espírito de forma cruel.
Os circunstantes ainda estavam se recompondo do terrível susto levado pois aquilo era visto pela primeira vez em uma sessão espírita fora de uma casa de temores. E passado alguns segundos Paranhos, o médium, declarou não ter medo daquela demonstração de poder porque o espírito de mal não tinha força contra os poderes de Deus. E ele de forma diserta declarou de uma vez:
Paranhos:
--- Vai-te daqui espírito imundo! – e jogou água fluidificada a trazer em um frasco em cima do irrequieto ser.
E rezou de vez o “Pai Nosso” como forma de admoestar o demônio. A moça Norma exacerbou- se e declarou com veemência não conhecer tal criatura.
Norma:
--- Eu te desconheço verme imundo! – clamou com profunda arrogância.
Em seu lugar, Paranhos rezava com o seu crucifixo enquanto os demais se ajeitavam à mesa e o médium Mardônio ainda estava possuído pelo estranho ser a decifrar não ter fim a vida daqueles que puderam então estarem entre os vivos. Ela continua.
Espírito:
--- As almas conseguem achar o caminho para outro plano e a senhora irá comigo! – relatou com efeito o tormentoso ser.
Norma:
--- Eu não irei e nem vos conheço seu verme! – reclamava assombrada.
O espírito gargalhou para depois se embutir no corpo do médio Mardônio e perguntar soberbo a moça com quem falava sem temer de qualquer resposta. Com ira ele prosseguiu:
Espírito:
--- A senhora desconhece quem eu sou? A senhora desconhece Ivaldo? Heim? – e gargalhou.
O silencio sepulcral caiu sobre a sala. Por mais que buscasse uma resposta coerente, a moça não se lembrava de nenhum nome como o tal. Ivaldo era um nome italiano de alguém já morto há muitas gerações. Talvez há 500 anos ou mais. Antes e depois desse tempo surgiram outros Ivaldo e mesmo assim Norma não conhecera nenhum dos tais. Nem mesmo no Brasil, onde nasceu por mera circunstância. Mas esse Ivaldo era um ser vivido há 500 anos e morreu afogado em um rio Nera afluente do rio Tibre cheio de rochas brancas. Certa vez, ele com seus 50 anos, desandou para o fundo do abismo onde encontrou a inesperada morte. Isso foi revelado pelo próprio Ivaldo ao lhe contar a versão de sua existência quando em vida.
Um porco da residência entrou pelo recinto atormentando a todos, inclusive os médiuns a estar na sala de jantar. Com os seus guinchados, o porco parecia uma fera ou um monstro do outro mundo. A moça Norma se assustou de vez e a sua mãe dona Totó se soergueu do chão onde tinha se aboletado e espantou o porco para o seu chiqueiro no terreno de trás. Tudo isso ocorreu a um só tempo. E os mentores ficaram pasmo ante tal situação. Um odor de cemitério acudiu a sala onde os médiuns estavam e, nesse instante o espírito se desfez do médium e com uma gargalhada assumiu os cantos remotos de onde ele havia saído. O médium se benzeu e disse:
Paranhos:
--- Deus seja louvado! – e fez o sinal da cruz em seu semblante.
Passados os instantes de tormentos, todos os médiuns se aquietaram. Enquanto isso, uma pessoa estranha entrou na residência. Era a velha Donana. Muito baixa e corcunda por sua idade, a velha Donana vestia trapos. Na cabeça, um véu sem alguma marca e que estava a cair até abaixo dos ombros. Nesse instante a velha Donana declarou.  
Donana:
--- A moça não está doente. O espirito do “tinhoso” é que vem atormentar a moça. – falou com polidez.
Totó:
--- Minha avó. Acuda-me por suas preces – disse a mulher a chorar copiosamente.
Sócrates indagou à Norma se aquela idosa seria a pessoa a lhe atender cedo do dia. A virgem declarou “sim”, pois era uma mulher idosa e bem comum em fazer rezas por pessoas adoentes, tanto para crianças como adultos.
Norma:
--- É uma pessoa boníssima. Donana. – falou bem baixinho a moça
E o médium escutou a mulher idosa a explicar sobre o tormentoso caso havido pela manhã com a virgem Norma. O médium já sabia o que a senhora idosa lhe contara. Porém, ao perceber uns galhos de ervas, Paranhos indagou.
Paranhos:
--- A senhora cura com esse mato? – indagou estranhando.
Donana:
--- Quem cura é o nosso pai. As ervas abrem caminhos! – falou com uma voz ambígua.
Paranhos:
--- Entendo. Entendo. Ele abre o caminho para a cura. – relatou compreensivo
Totó:
--- Minha avó cura! Ela sabe das orações da cura! – declarou a mulher com remorso. 

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