- Scarlett Johansson -
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VIGILÂNCIA
O domingo chegou com calma, sem
agitação no Cemitério do Alecrim, com a Guarda montando expediente em toda a
cercania de soldados do Exército verificando todos os que seguiam para o
Mercado Público da Cidade Alta entre outros detalhes. A feira das Rocas
acontecia no dia seguinte e as carroças levando suas cargas já passavam em meio
aos coletivos. A Missa na Catedral estava com pouca gente. As pessoas ficaram
temerosas com o toque de recolher à noite e não quiseram sair de casa enquanto
houvesse esse caso tumultuoso. O celebrante apenas seguiu o itinerário de rezar
a missa e nada mais com um breve sermão sem tocar no assunto do Cemitério. Na
nave da Catedral havia soldados armados, com certeza por precaução. Ou para
prender algum político subversivo a está pelo recinto, certamente. Porém nada
se falou naquela ocasião sobre política ou mesmo desesperança. Descendo a
ladeira da Ribeira, chega-se a Matriz do Bom Jesus. Havia Missa naquela Igreja.
Pouca gente se fez sentir. O terror era do povo. Na sexta feira houve tumulto
com mortes de esquerdistas. Agentes policiais vigiavam o interior do Cemitério
do Alecrim com armas de grosso calibre. Houve enfrentamento na noite de sexta
feira tendo parado as hostilidades já no alvorecer do sábado. Então, no
domingo, Dia do Senhor nada de mais era tão esperado. A vigilância era cruel da
parte dos militares. Em um dado momento
aconteceu a tragédia: pela porta aberta dada para a rua ao lado surgiu,
intempestivo, um frade de batina e tudo. Ele entrou, depressa, e se apossou do
microfone que estava no altar e foi logo alarmando:
Frade:
--- Irmão!!! Estamos em uma
revolução! Não temam! Nós venceremos! – alarmou o frade.
Os homens da Polícia Federal
foram pegos de surpresa. Porém, em um dado instante, a Polícia procurou agarrar
o frade enquanto esse sacudia para o povo a assistir à Missa panfletos com
ditos contra a retirada do Cemitério. O frade se esquivou e quis fugir porém a
milícia foi mais forte e em um instante agarraram o frade. Ele se estrebuchada enquanto
procurava se broto. Mesmo assim a milícia foi mais forte e, com ele detido, não
pode evitar. E o frade gritou:
Frade:
--- Mais forte são os poderes do
Senhor!!! – gritou de qualquer jeito.
Os truculentos policiais deram
uma coronhada na cabeça do frade empregando o cabo de uma arma e esse sucumbiu
de repente. O povo, alarmado, procurou correr da Igreja e o padre que celebrava
a Santa Missa, se viu atônito sem poder fazer coisa alguma. De imediato um
policial chegou até as portas do altar com a intenção de levar o sacerdote para
a prisão. Esse, com a Hóstia Consagrada esse alarmou e gritou:
Padre:
--- Não se aproxime!!! Eu estou
com a Hóstia Consagrada!!! Não se aproxime!!! – bradou o sacerdote.
Nesse ponto, o policial temeu e
tentou logo retroceder. O sacerdote, com aspecto altivo apenas mostrava a
Hóstia para o policial como se fosse aquele pedaço de pão uma verdadeira arma. Ele
se mantinha firme em pleno altar de Deus Onipotente sem querer tecer conversa
com os militares naquela hora de desassossego.
E outro policial militar chegou próximo do primeiro a perguntar o que
houve então. O policial respondeu:
Policial Um:
--- Eu quero levar o padre. Mas
ele está armado com a Hóstia!! – relatou com bastante temor.
Policial Dois:
--- E o que ele disse? – indagou
o segundo policial com o pé atrás cheio de temor também.
Policial Um.
--- Disse que não me aproximasse
e mostrou a Hóstia nas minhas ventas – falou trêmulo
Policial Dois:
--- Espera. Vou chamar o Capitão.
Ele que resolva isso. – relatou com bastante cuidado.
E o Capitão foi chamado para
resolver o impasse. Ele era o chefe supremo da guarda na Igreja do Senhor dos
Passos. Ao ouvir tal heresia, o capitão resolveu ir mesmo estando com o diabo
do couro.
Capitão:
--- Ora bosta. Ainda tem mais
essa!!! – reclamava o de patente maior.
Ao chegar próximo ao altar o
Capitão fez a saudação e falou ao padre que era só para indagar se conhecia o frade[aa1]
delator criador de toda aquela confusão. E padre se negou a sair do altar por
estar celebrando a Santa Missa. O capitão foi com calma a dizer que podia
esperar. O padre, com a Hóstia suspensa ao alto não deu palavras e continuo a
rezar a missa em latim para se desvencilhar da confusão.
Sacerdote:
--- Dominus Vobiscum! –
manteve-se firme com sua Hóstia e olhou para o coroinha.
O garoto, tenso de receio, não
sabia o que fazer. Mas o sacerdote lhe chutou o trazeiro e então se lembrou em
dizer.
Coroinha:
--- Et cum spiritu tuo. – rezou a
breve prece com os olhos esbugalhados para os policiais.
Sacerdote:
--- Oremus! Effunde Gratiam tuam, Domine, et in spiritu
sancto ete Maria mater Ecclesia annuntiatione ângelus ad me tui et ora pro
nobis ad te, timidus Sanctam Missam Iesum Chistum Dominum Nostrum. – e chutou o
trazeiro do coroinha.
Coroinha:
--- Amen. – respondeu o coroinha
a tremer de medo.
O Capitão então deu meia volta e
se retirou resmungando tremendo insultou, pois o sacerdote estava a rezar a sua
Missa e não adiantava de nada apelar para a sua paciência.
Capitão:
--- Bosta! Ele só reza em língua
estrangeira. - bufou o homem de patente enquanto os demais
prosseguiam na sua confusão.
Policial Um:
--- Esse padre é doido. Eu só
queria saber quem era o outro padre! – disse o policial.
E teve a resposta do seu
companheiro de farda:
Policial Dois:
--- Padre, não! É frade! –
respondeu o segundo policial.
Policial Um:
--- Padre ou Frade. Tudo é uma
merda só! – respondeu zangado.
Policial Dois:
--- Olha que eu te arrebento as
fuças! Padre é uma coisa! Frade é outra! – e fez menção de esmurrar a cara do
companheiro.
Capitão:
--- Calados, bando de bostas! –
respondeu irado.
Na nave do Templo uma agitação
severa. Uma mulher caiu em desmaio ao sentir a presença do regimento do
Exército àquela altura dos acontecimentos. O aglomerado de gente buscou ajudar
a pobre mulher, a essas alturas com sua face pálida por ter sido acometida
daquele assombro.
Circunstante:
--- Chega! Chega! A mulher teve
um desmaio, gente! – gritava com assombro uma mulher ao lado.
Os soldados nada podiam fazer por
estarem de sentinela. Eles apenas olhavam a pobre mulher desmaiada e nada mais.
Do seu local, no altar da Igreja, gigante, um metro e oitenta cinco centímetros
de imponência, óculos de graus, olhos aprofundados, mãos agressivas, o
sacerdote, alemão, certamente, a estar em Natal a bastante tempo, ouvia o
vozerio intermitente dos soldados e os clamores dos assistentes da Santa Missa.
Com sua Hóstia nas mãos, o padre, todo paramentado, fez um sorriso breve e se
voltou para o altar onde apenas se benzeu.
Sacerdote:
--- Que horror! Eu lá sei quem é
o frade! – discutiu consigo o sacerdote.
E Santa Missa prosseguiu para os
que restavam na Igreja. A mulher recobrou os sentidos após um cálice de água
que alguém lhe dera e no resto do salão ficou apenas o comentário.
Alguém:
--- Quem era o frade? – cochichou
uma devota.
Outro:
--- Sei lá! Alguém da Igreja. –
replicou a outra.
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