- Monica Bellucci -
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O CRIME
Naquela tarde, quase noite, quando o sol descambava no horizonte
pelos lados do rio Potengi, estava sentada em uma cadeira de palha a anciã
Donana observando quem vinha ou quem seguia para um lado e para o outro. A Rede
já apitara às cinco horas da tarde e o pessoal começava a sair das Oficinas em
direção variada apenas contando lorotas. Jogo do bicho, partida de futebol, o
trem e outras coisas a mais. Nada de importância. Pelo menos, de importância
para todos ou quase todos. Um trem apitou. Era uma máquina que chegava às
oficinas para reparos ou manutenção. Alguém ouviu e olhou de volta, quase na
saída das Oficinas. Isso era normal. Até mesmo para não seguir à frente. O
maquinista já adentrada no portão da garagem e nem sequer notara os colegas de
ofício. Um rapaz se dirigia ao Cabaré de Francesinha onde havia onde outros já
estavam a beber, jogar ou se amarar com algumas das raparigas do salão, por
sinal um salão desarrumado e cheio de quinquilharia. Ao lado, ficava uns
quartos de aluguel. Era, na verdade, um “bereu” onde tudo era desajeitado. Na
frente do Cabaré ficava o campo de futebol onde, em dias marcados, havia
“pelada” entre os rivais: atletas e passa-fome. No escritório da Rede, em um
prédio de dois andares o expediente também encerrara para aquele dia. Do outro
lado do campo ficava a Fábrica de Agave onde dezenas de mulheres e homens
acabavam o seu oficio diário indo embora para as suas moradias. Donana
observava tudo isso a fumar um cachimbo de pau. A anciã ficou atenta para o
rapaz. Ela estava a chegar ao Cabaré da Francesinha e nada demais notou. Apenas
as mulheres do Cabaré. E naquele instante, um tumulto ocorreu. Alguém saiu de
dentro do Cabaré a levar uma facada nas costas. A vítima rosnada como um cão. O
outro algoz saiu em debandada pulando por cima de pau e pedra. Era o agressor.
A vítima caiu ao chão nos pés do rapaz que chegava ao bordel. O rapaz se
assustou e viu apenas a faca enfiada nas costas do sacrificado. O rapaz deu um pulo
para se defender do imolado. Um grito só e nada mais.
Vítima:
--- Ahhhhhhhh!!!!! – gritou aquele homem com as mãos passadas para
as costas e o rosto cravado de dor.
Rapaz:
--- Arre égua! Mataram o funestado! – gritou extasiado.
Outro:
--- Mataram quem? – perguntou outro de dentro do prostíbulo.
Donana:
--- Mataram o homem! Coitado! – lamentou a anciã sentada em sua
cadeira e a olhar a vítima caída em desespero.
Das Neves:
--- Cachorro sacana! Você furou Damião! – gritou a mulher da
vítima enquanto corria em desespero a procura de agarrar o agressor.
No mesmo instante três mecânicos de automóveis engrossaram a fila.
Os três em companhia da mulher Das Neves, a amante de Damião, tomaram o rumo da
perseguição em busca de agarrar José Pacheco, o autor do assassinato, em uma
luta tão feroz a ver de ter enveredado o perseguido pelo caminho das águas da
Lagoa do Jacó. Era um audaz encalço onde um e outro procurava alcançar o
criminoso em correria sem tempo de terminar. Logo atrás, estava a mulher de
zona, Das Neves a chorar e a gritar impropérios mil para o bandido sanguinário.
Em um dado instante, um dos três perseguidores deu um calço em José Pacheco e
esse desandou. Com uma queda brusca no chão mole e úmido o facínora desando com
os peitos em volta do terreno. Foi uma queda só. Quando Pacheco quis se levantar,
já era tarde demais. O mecânico Cafuringa, homem de boa estatura e peso pesado,
estava por cima do algoz contendor. Cafuringa e os dois outros mecânicos
suspenderam Pacheco pela gola da camisa como a dizer estar um assassino plenamente
detido. A mulher Das Neves caiu em cima de Pacheco, esmurrando lhe como uma
fera a soltar os ditos mais inconvenientes a se ter no mundo.
No beco onde se encontrava o morto o assédio de pessoas era enorme
por sinal. E cada qual tecia os seus breves comentários. Uma senhora a sair do
local de trabalho no escritório da Rede Ferroviária, ainda indagou o tal
assunto de pessoas vindas do local da tragédia. Ao saber do crime, a senhora
apenas disse:
Senhora:
--- Ave Maria! Crime! Vou embora! – e saiu em correria.
A anciã Donana resolveu entrar em sua habitação rogando a Deus o
melhor pois a anciã sabia muito bem se tratar de um Súccubus, pois o crime
ocorreu dentro de um lupanar onde era mais fácil se cometer certas ocorrências.
Donana:
--- Anjo do mau! – disse a mulher enquanto se retirava para o
interior da moradia.
A velha senhora estava muito bem assenhorada com aquele anjo
asqueroso e perverso vindo das profundezas do inferno onde tudo era o sentido
maléfico. Os anjos malignos são detentores de uma sedutora beleza não raro com asas
de morcegos e grandes seios. Suas características demoníacas são os seus
chifres e cascos. A sua aparente e estonteante beleza esconde a terrível força
do demônio. O principal objetivo do ataque é roubar a energia vital da vítima.
A sua forma feminina pode trocar por corpos astrais. Sua capacidade de
desdobramento é utilizada para poder satisfazer seus desejos carnais. O crime
ocorrido naquele final de tarde nada mais foi do que um súccubu. A ciência
defende ser o súccubu delírio da mente, causado pela sociedade religiosa,
rígida e autoritária. Porém, para os mais tímidos o anjo do mal vem do fogo do
inferno.
Diz certa noção de Súccubu ter sido um dia em que os anjos do
Senhor (Sumérios) vindos perante o trono, e eis que entre eles estava Satanás.
Os demônios estão aqui entre as pessoas. Os incrédulos não sabem de nada. Eles
apenas giram a cabeça como se nenhuma coisa acontecesse de verdade. Após um
ataque de súccubus em a perversão das doenças e tormentos. A história antiga
mostra um súccubus (no plural succubi) como demônio com formas de sedução entre
a sede da carne ao ponto de exaustão e a morte. A anciã estava repleta de seu
conhecimento com relação à morte de Damião naquele fim de tarde.
Após as seis horas da tarde, estavam em casa a senhora Totó e a
sua filha Norma. O tumulto havido com a morte de Damião tomou conta daquela
parte do bairro. Após dona Totó dizer ter visto o corpo do homem, a filha se
assombrou. Os cabelos da cabeça se soergueram e uma pálida feição lhe assomou.
Uma tremedeira se seguiu e a moça indagou a querer saber:
Norma:
--- Como?! A senhora foi até o local do assassinato? – indagou
preocupada e cheia e ânsias.
Totó:
--- Fui! Estava o corpo do defunto estirado entre uma poça de
sangue! – disse isso com maior tranquilidade e cuspiu para um lado.
Norma:
--- Mamãe! – simplesmente clamou a moça quase a chorar.
Totó:
--- Que é que tem? O defunto já era! Dizia-se ser um jogador de
baralho. O criminoso foi logo preso. Ora mais! – falou a mulher sem dar contas
de nada.
Norma:
--- Eu vou na casa da velha! – disse isso e saiu com presa.
E a moça saiu por uma porta e entrou pela outra, na habitação de
Donana. Com bastante pressa ela foi parar no quarto da velha senhora. Ao chegar
no leito de Donana, foi logo perguntando uma vez estar morrendo de medo.
Norma:
--- Donana! A senhora viu o negócio? - indagou alarmada.
Donana:
--- Negócio? Que negócio? Da morte? – indagou a senhora enquanto
dava as suas fumadas.
Norma:
--- É! É! É! Sim! Do homem! Defunto! – indagou de olhos abertos.
Donana:
--- Eu “tava” na porta de casa! Mataram o homem! – relatou a
mulher.
Norma:
--- Eu sei! Minha mãe contou! E agora? – perguntou assombrada.
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