sábado, 11 de outubro de 2014

O INFERNO - 29 -

- Aya Ueto -
- 29 -
O PIANO

Naquela manhã, tempos depois do aconselhamento de Sócrates, o jovem Canindé passava em frente à casa grande onde morava um cego da gota. Esse cego, cujo nome o rapaz não sabia, estava ao piano a tocar uma valsa talvez de Strauss, com uma maestria soberba. Fazia sol de logo cedo e o rapaz parou para ouvir o toque mavioso e encantador da sublime valsa, fascinação dos salões de fausto da Europa. Em certos momentos, dias ou meses passados, Canindé ouvira concerto à dois no palácio das ilusões, por assim dizer o Teatro Carlos Gomes, de piano de cauda por mestres internacionais vindos do velho mundo a transitar pelo Rio, Salvado e Recife. Uma ostentação esmerada e divinal onde a classe alta de Natal esteva presente. Na verdade, piano era uma criação remota, do ano de 1711, quando surgiu na Itália. O seu inventor foi um florentino. A essência da nova, residia na possibilidade de dar diferentes intensidades aos sons.
À hora em que Canindé ouvia aquele jovem a tocar, uma senhorita de seus breves anos se acercou para talvez também ouvir a suavidade e candura do elementar piano. Ao se juntar ao jovem, esse sentiu um breve frio em suas costas como se tivesse tomado um enigmático susto. A jovem mulher sorriu e fez de conta não haver sinal de temor. Era ela uma deidade singular e ingênua como todas as eternas belezas das deusas do Olimpo. Sorriu-lhe e calou. Vestida de branco cetim, era ela a diva de brilho próprio. Vestes quase a arrastar no chão entornado por[AL1]  suaves encantos a linda e amada infantil madona era um êxtase ao olhar de quem a percebia. Colar de rubis, singular enfeite, adornado por pulseiras nos braços de brilho ouro tudo enfim era de um estilo romântico e triunfal. Traje a lembrar luxo, excesso, riqueza e ostentação visual, características da nobreza. A moda feminina tornava-se mais elevada a parar logo abaixo do busto. Era uma veste do Império, fino e transparente. Ao toque suave do piano, a nobre gazela, em enlevo, delirou.
Após um certo instante, os dois rumaram em direção à Avenida Deodoro, local de passagem de Bondes, de hora em hora, indo e vindo do bairro de Petrópolis e então pela metade do caminho ainda conversaram algo pouco, das sinfonias e concertos e nada mais. Na esquina, a diva tomou o seu lugar a caminhar em direção do Cinema Rio Grande. O rapaz Canindé se pôs a olhar aquela bela deidade, com insistência e loucura de um moço. Uma lufada de vento soergueu as vestes da mulher fatal. Porém nada a mulher se fez presente. Apenas segurou as vestes e nada mais. O moço ficou encarnado de emoção arrebatante. O Bonde passou a seguir lento em direção ao terminal da Cidade Alta. Gente era pouca naquela hora matinal. Havia uma porção de seres no Hospital Infantil próximo de onde Canindé estava. Em frente, a Rua das Freiras, como era costume de se chamar a Rua Ulisses Caldas. Gente vindo e indo. Um mestre professor cortava em direção à Cidade tendo passado antes pela casa do pianista. Era um homem um o pouco forte, de cor parta, chapéu de feltro, olhar por baixo, roupas de linho e sempre a calcular qualquer esquema das aulas dadas aos alunos do colégio. Um padre saiu às pressas da Capela do Colégio da Imaculada Conceição e seguiu caminho por uma rua estreita a cortar as residências de uma vila ali existente. Mulheres caminhavam para as suas casas vindas do Mercado Público. Um homem mal vestido conduzia o seu balaio a puxar por uma das pernas. No Céu, ouvia-se o som do teco-teco, um avião pequeno o qual era usado para se tornar o piloto aviador de pequeno porte com todos os conheceres, passou a média altura distribuindo folhetos de propaganda. Canindé divisou o aparelho e fez continência para o piloto naquelas alturas.
Nesse mesmo instante, o rapaz olhou sem querer à dama de cetim. Ela estava a seguir o Cinema e em seguida, dobraria então. De momento, o rapaz deduziu algo. Ele sentiu a suma vontade de acompanha a Dama de Cetim. A mulher ainda jovem era extasiante e bela. A sexual vontade bateu forte no rapaz e ele provou ser mais herói do que antes. E seguiu. Ao cabo de alguns minutos, Canindé estava na companhia da Dama. Ela estava a ver os cartazes do cinema e olhou para o rapaz a sorrir. A tensão do jovem palermo foi ao clímax. A Dama vislumbrou a sedução a qual lhe atraía e se pôs a falar baixinho para o débil ingênuo.
Dama:
--- Esse é um ótimo filme! –apontou para o cartaz a estampar o anunciado.
O rapaz a delirar apenas tinha olhos da bela diva. Ele não sabia qual o filme apontado, uma vez ter visão apenas para a linda dama. Nada a comentar então pelo precário mancebo. Atônito então, Canindé vagou com o seu olhar procurando algo como amante para se completar de fato em uma eterna ansiedade. A Dama sorriu então com o requinte de tê-lo para sempre em sua eterna e diabólica vida. Em sua boca pairava um encanto mágico das damas das notívagas atrações de amores entre perfumosos odores da fascinação.  Ela, na verdade, era o demônio em feitio de mulher. Fêmea esplêndida e sedutora dos infelizes e minúsculos homens.
Dama:
--- Tâmara! Meu nome é Tâmara. E você? Como se chama? – perguntou com suma delicadeza.
Embevecido diante de tanto encanto e formosura, o inerte Canindé nada podia falar. Seu olhar era todo infantil para a luminosa e demoníaca mulher. E nem ouvira sequer ela tentar dizer o seu enigmático nome. Ao passo de alguns segundos Canindé então desperto do seu misterioso fascínio falou algo sem nexo.
Canindé:
--- De onde é a senhorita? – indagou sem jeito.
A encantadora senhorita a quem ele sentia deu a sua resposta. E daí em diante os dois começaram a confabular, circulando por todo o local, com a calçada de um amurado existente em parte da rua onde havia as oficinas de um acanhado jornal entre outros pequenos comércios de miudeza a locar até a segunda rua. O sol já era alto convidando para as nove horas da manhã ou coisa assim. Veículos a trafegar constantes e um Bonde a fazer a linha do bairro do Tirol. Era o normal a se estender para uma tumultuada frenética vida da miúda cidade. Uma senhorita caminhava a sombra dos arvoredos entre ciosas senhoras a cuidar dos seus pequenos rebentos à luz morna do vigor do dia. Entre mungubeiras e as árvores a envolver todo o diurnal ambiente os enamorados seguiam a vislumbrar o total ambiente entre motejo a mais. Risos efêmeros acudia o rapaz ternamente alucinado. Pássaros a voar de forma alucinada não contavam as esperanças do par em entremeios relaxar.
Passadas as extremas horas daqueles totais momentos os dois amantes estavam em entremeios envolvidos entre cobertas na alucinação total do encanto. O anoitecer das horas já não fazia tanto aos encantos ingênuos do moço enfim. Era todo o solver do deslumbramento instante. Em total delírio o moço caiu no eterno sono. Vagas suaves brumas do além eram do ébrio totais desvarios. A luz o sol apagou na Terra. Já era alienada noite para o acolhido moço. Nada mais a comentar de certo. Uma xicara de café com leite era servido ao sabor de biscoitos entre outras guloseimas. Tâmara estava exuberantemente bela após toda àquela travessa ânsia de uma manhã e tarde de amor a dois. Quando Canindé despertou de um tardio sono pouco se deu conta do amigo Sócrates, outrora o jovem rapaz, amigo de todas as horas nos últimos dias do tempo. A mulher ainda jovem, talvez de seus 22 anos de idade era o deleite total. Os reais acontecimentos de outrora ficariam esquecido guardados na tumba do destino.
Canindé:
--- Horas, amor? – indagou alheio.
Tâmara:
--- Pouco além das seis, querido. – sorriu a fêmea.
Canindé:
--- Tarde? – averiguou preguiçosamente.
Tâmara:
--- Nem tanto. Café? – perguntou a linda mulher.
Canindé:
--- Tenho que ir ao banheiro. – relatou o rapaz.
E mais que depressa, o moço foi se desfazer do incômodo problema e aproveitou para banhar todo o corpo desfazendo o que sobrara daquele dia. A mansão era em frente para o mar, já um pouco distante, ao alto, por sinal. Do seu interior podia-se descortinar a praia cheia de musgos e sargaços. Canindé se refez de todo, e logo após se pôs a beber o saudável café da noite. Tâmara a olhá-lo, com as duas mãos no queixo em forma de concha, sorria além. Por seu turno, Canindé apenas a admirar a dama de cetim, o lance mais admirável a existir. Nada mais podia possuir de fato além daquela mulher.
Canindé:
--- Você mora só aqui? –perguntou o rapaz.
Tâmara:
--- Sim, querido. E você, aonde? – perguntou contente.
Canindé:
--- Numa casa velha com chiqueiro e tudo. – respondeu enquanto degustava o alimento
A Dama de Cetim gargalhou coma descrição feita pelo inerte rapaz.
Tâmara:
--- E nem sou casado, ainda. – sorriu.



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