- Sofia Alves -
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A PAZ
O toque de recolher a imperar na
cidade se acabou tão logo foi desarticulada a célula de extrema esquerda com a
prisão e condenação dos três líderes – Rocha, Antônio e Pedro, uma vez que os
outros dois morreram em combate ou por suicídio – e a prisão de diversos componentes
das guerrilhas combatentes bem como a fuga da maior parte dos membros para o
exilio em Países da África. A construção dos edifícios estava quase pronta e
ninguém falava mais em cemitério onde se erguera as novas residências de
apartamentos. Parecia ter sido tudo um sonho e nada mais. O Prefeito da Cidade
já estava se preparando para novas rodadas eleitorais e procurava não falar em
tragédias ou casos fortuitos. Apenas restava os estragos de alguns cadáveres
não ainda definidos com regularidade. Mesmo, para o Prefeito isso era coisa do
passado e nunca mais falara em tal assunto. Uma vez, porém, o Prefeito foi
assomado por um susto cruel. Ele estava a dormir em quarto de apartamento
quando sofreu uma aparição de um espectro. Parecia-lhe um sonho. Mas o espectro
tomou-lhe o braço e disse-lhe.
Espectro:
--- O Satanás está a sua
espera!!! Ele quer os ossos dos que já não vivem com você!!! - declarou
A ouvir com espanto o que lhe
disse a aparição, o Prefeito saltou da cama e quando viu, estava posto no chão
a procura dos seus óculos colocado na mesa ao lado. O Prefeito quedava tonto
como um cão raivoso. Pensava o homem ter ouvido uma voz de terror e procurou se
levantar do frio chão a tremer de pavor. Em um instante o edil quis gritar e não
conseguiu. A sua garganta estava seca de todo. E por sinal ninguém teria o
sentido de chegar tão depressa aonde ele estava àquela hora tardia da
madrugada. Mas alguma coisa haveria de ser feita. O espectro falou com uma
força estranha capaz de aterrorizar as mais tenebrosas visagens do milenar inferno.
Enfim era o mais tenebroso pavor de angustioso pânico. Mesmo assim, com temor, o
edil chamou alguém de qualquer modo:
Prefeito:
--- Socorro! Acudam-me! Tem um
monstro dentro do meu quarto! – tentou gritar.
Se foi um grito, não deu para se
ouvir. Algo tapava a boca do Prefeito e o mesmo nada podia falar abertamente.
Um grunhido fez a voz do homem. De imediato, o Prefeito se soergueu, apenas de
cueca, levantou a sunga e fugiu de porta a fora. Vinte andares para baixo.
Mesmo assim, o Prefeito de nada se importou e pulou pela janela vindo a cair no
solo frio e úmido pela pouca chuva abatida. Foi um baque surdo e abafado. Em um
instante o homem estava morto.
Morador:
--- Que foi isso? – perguntou
bastante assustada uma moradora do edifício.
Outro:
--- Gato, certamente! – cochilou
o homem a querer continuando a dormir.
As moscas zuniam no fétido
cadáver no amanhecer do dia. Um carro moderno passou em brutal velocidade com
seus equipamentos sonoros ligado a tocar uma melodia como se estivesse se
despedindo de alguém para todo o sempre. Foi uma tempestiva sonoridade do
veículo cujo cadáver do Prefeito, para ele não suportava nem um pouco.
Verdadeiramente era um som de louco enveredando pela eternidade. O carro zunia voraz
ao transitar pela rua onde era instalado o edifício de morada do senhor
Prefeito. O rapaz que cuidava da entrada
e saída dos veículos veio olhar de perto aquele corpo caído no chão. Ele não
identificou de imediato, pois o cadáver estava emborcado e de pernas e braços
retorcidos, parecendo um boneco de pano. Um frio sacudiu o corpo do rapaz. O
cadáver era de algum morador do prédio. Ele sentiu vontade de vomitar diante da
macabra situação do corpo. Muito embora quisesse gritar, o rapaz não tinha forças
para tal. O jardineiro se aproximou pelo outro lado do prédio. Com bastante
cuidado, o jardineiro interrogou com uma cara patética:
Jardineiro
--- O Prefeito? – perguntou com
uma cara de quem nunca viu um assombro.
Rapaz:
--- Não sei! Prefeito? É ele? – indagou
sem querer saber ao certo.
Ao final da tarde o corpo do
ex-prefeito foi liberado pelo Instituto Médico. O pessoal da visita esperava
com bastante cisma a oportunidade de olhar pela derradeira vez o cadáver
daquele homem o qual fora um dia um magnânimo cidadão para os que estavam
presentes. As idosas mortais, todas cobertas de luto, estavam com suas vozes de
quem, um dia, teciam o perene e contido choro de lamentação. Elas ficavam atrás
da urna mortuária no salão nobre da Prefeitura enquanto a fila de gente
começava a subir os degraus do salão, uns com a cara de quem chora muito.
Outros, apenas curiosos. Era entrada por um lado e saída pelo outro. E o tal
velório demorou até as 10 horas da manhã do dia seguinte quando o corpo saiu
para o crematório da cidade. Houve muita gente. Alguns, ao desespero. Gente ao
desmaio. O sol causticante não dava trégua. Carros demais. Um tormento enfim.
Toda a cidade parou. Foi um dia de ponto facultativo com as pessoas vindas do
interior para resolver os seus problemas e voltavam no mesmo trem com os
problemas não resolvidos.
Alguém:
--- É feriado nessa merda! Bosta!
– reclamava exaltada uma mulher.
Outro:
--- Foi o Prefeito! Ele se
suicidou! – relatava um outro.
Alguém:
--- Eu! Que importa! Agora só
volto daqui há um mês, e pronto!!! - relatava zangada
A caminhada foi intensa com a
guarnição de motos da Polícia Militar abrindo o Cortejo, com suas sirenas
ligadas com um buzinasso terrível de enlouquecer qualquer um. A seguir vinha um
carro totalmente branco com o esquife do morto seguido de dezenas de carros a
percorrer as ruas da capital onde o ex-prefeito foi o governante por alguns
meses ou anos. Uma tristeza imensa nos acompanhantes do féretro, cada qual
aventurando hipóteses para ter o homem se suicidado tão de repente.
Alguém:
--- Ele estava devendo muito? –
indagou em silencio uma matrona.
Outra:
--- Bebendo. Ele bebia, mas não
muito. – respondia a outra.
Matrona:
--- Devendo. Dívidas. Foi o que
perguntei! – respondeu abusada
A outra:
--- Ah. Pensei na bebida. Se ele
estava com dívidas, eu não sei. Todas as dívidas são do Governo. – respondeu
sem entusiasmo.
Um bêbado, em uma calçada
comentava:
Bêbado.
--- Tai! Ele se foi e eu fiquei.
– falou o bêbado aos tombos.
Foi tudo muito triste e ninguém
lembrou do Cemitério do Alecrim onde Chefes de Estado foram, um dia, alí
sepultados. Naquele instante apenas os operários se ocupavam em acabar com a
construção dos edifícios e nem escutaram as sirenes dos veículos a transitar ao
largo do antigo campo santo. Era o fim de mais uma jornada.
oOo
Naquela mesma noite Canindé
estava na residência de sua amada Tâmara a conversar sobre assuntos vários. Ele
já estava acostumado de ir a residência da ninfa desde o tempo em que seu pai
procurou a Polícia para investigar o seu paradeiro, pois há três dias o rapaz
não dava mais notícias. Sua mãe era a mais aflita tecendo alarmes de que
Canindé podia estar morto aquela tardia hora. O velho pai foi busca a polícia e
entregou a documentação necessária a um investigado policial a fim de procurar
informações a respeito do paradeiro do rapaz. A questão foi rápida, pois
Canindé estava em sua casa quando o velho pai chegou. Esse caso deu sorrisos
imensos a Canindé, pois ninguém podia adivinhar que ele estava com a sua
amante. E assim terminou a querela. Por determinados tempos Canindé comentava o
episódio. E tudo terminou em nada.
Naquela noite, o rapaz combinou
com Tâmara em poder leva-la até sua casa para apresentar, de verdade, a sua
futura noiva a seus pais. Esse era o combinado. E durante o percorrer, em um
veículo dirigido pela própria ninfa, o rapaz resolveu calar. Isso porque a vaga
lembrança de Succubus atormentava o seu instinto. Canindé ainda não
compreendera de fato ainda a história Succubus. Essa pendência ele então teceu
a indagar. E foi assim:
Canindé;
--- Amor! Diga-me com precisão o
que são os Succubus? – perguntou cismado.
A moça não se conteve com a
indagação e não fez outra a não ser gargalhar. Mas gargalhar mesmo sem nada
mais a contar. A cada momento que ninfa olhava para o namorado, não se continha
e era gargalhada para todo sempre. Foi então, passado o instante que a ninfa
declarou ao rapaz tão estonteado.
Tâmara:
--- Meu simpático Shane. Succubus
é apenas uma mulher da vida! Uma puta! Sabe agora? – indagou a olhar de modo sério
o rapaz.
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