sexta-feira, 24 de outubro de 2014

O INFERNO - 42 -


- Lyndsy Fonseca -

- 42 -

- ENTREVISTA -

Ainda na manhã de segunda-feira chegou ao Gabinete do Prefeito um homenzarrão com papeis e um gravador alegando ser um locutor da Rádio BBC de Londres e estava presente por ter exposto matéria sobre uma guerra entre a Polícia e guerrilheiros pela posse do Cemitério do Município a começar na sexta-feira última. A secretaria do Prefeito se tremeu nas bases em ver aquele homem gigante procurar a Prefeitura em um tempo de conflagração ditada pelo Governo Federal com mais um toque de recolher em todo o Estado e, provavelmente, em todo o País. Austero, o homem, inflexível ficou de pé a olhar a secretaria a espera de uma resposta. E veio:
Secretária:
--- O senhor é de onde? – quis saber a secretaria a se tremer com a altura daquele monstro.
Repórter:
--- Sou repórter da BBC de Londres. A entrevista foi marcada com antecipação, por favor. – disse o enorme cavalheiro.
A moça, de estatura um pouco baixa, um metro e sessenta centímetros, continuou a tremer de tanta emoção ao ver um elegante ser adiante do seu birô. Diante do fervor, a moça fez questão em declarar.
Secretária:
--- Com sua licença. O Prefeito está deveras ocupado. Mas eu acho por bem saber se ele pode atender ao senhor. Licença! – sorriu sem quer fazendo mais um gesto no rosto.
E de imediato se levantou de sua cadeira e buscou a porta de entrada do Gabinete o Chefe do Executivo municipal. Ela bateu três pancadas suaves à porta e de imediato entrou. E após entrar de vez fechou a imensa porta. Sorriu e ficou a espera de poder falar. Nesse instante, um estrondo a macular o ambiente. Um coquetel Molotov foi arremessado de fora do palácio do senhor Prefeito e tocou ao chão espalhando chamas por tudo o que era canto. Duas moças, atendentes do Gabinete, se assustaram e caíram ao solo. Os militares de serviço na parte interna do prédio ouviram o estrondo e, de imediato, partiram para a revanche. Seguiu-se uma saraivada de balas de um lado e de outro. Um corpo caído no chão. O atirador de elite disparou tiro certeiro a atingir um dos três guerrilheiros. Sem tempo para nada fazer, o guerrilheiro caiu ao solo com o projétil a atingir a sua nuca. Os dois outros guerrilheiros de imediato escaparam a entrar pela rua próxima. Os policiais ainda perseguiram os guerrilheiros, porém não houve tempo para nada uma vez que a dupla entrou por uma sequência de ruas estreitas e se perderam no meio das pessoas, em sua maior parte, desatentas. Sem poder mais perseguir os guerrilheiros, os policiais deram meia-volta e retrocederam para os locais de origem.
Na sala do Prefeito, a preocupação. O homem estremeceu de susto e de imediato indagou com sua voz de cólera:
Prefeito:
--- Que foi isso? – indagou temeroso com o estrondar dos coquetéis Molotov.
A secretária, tensa de pavor, não teve palavras para dizer. O secretário de Imprensa foi quem articulou meias palavras:
Secretário:
--- Parece ter sido bomba! – disse o homem com bastante temor.
Prefeito:
--- Bomba? Aqui dentro? Que bomba? – indagou cheio de terror.
Um agente entrou de supetão todo sujo de fuligem e vidros de garrafas e declarou ao Chefe do Executivo municipal.
Agente:
--- Uma bomba, senhor prefeito! Estão atacando o Palácio! – declarou estonteado.
A secretaria do Prefeito caiu no chão em desmaio. Nesse momento, o Repórter da BBC teve que entrar na sala do senhor Prefeito se deparando com a cena da moça. Ela estava caída quase aos seus pés. O tumulto correu como um rastilho de pólvora. Na ante-sala tinham duas moças a se levantar depois de um terrível tombo em razão dos ataques terroristas. E na sala do Prefeito estava ocorrendo temeroso clima de horror. O Prefeito a enxugar o suor do rosto, deu de fé com o repórter da BBC e indagou temeroso:
Prefeito:
--- Quem é esse homem! – relatou com verdadeiro alarme.
O secretario de Impressa olhou e pediu ao repórter para sair do Gabinete. O repórter mostrou a sua identificação e então o Secretário foi logo dizendo ao Prefeito de alguém de projeção internacional:
Secretario:
--- Prefeito! Esse é o homem que eu falei para o senhor! Tem uma entrevista marcada para essa manhã! – disse tudo ao Chefe do Executivo.
Prefeito:
--- Repórter? – indagou com a cara feia.
Secretário:
--- Da BBC de Londres! – disse o Secretário fazendo gesto com a própria com a declarar ser de outro país.
Prefeito:
--- Londres? Fica perto daqui? – indagou ainda furioso com a notícia da bomba.
Secretario:
--- Não. Não. É Londres, Inglaterra. Sabe? O País muito rico! Londres! Londres! – disse o secretário procurando fazer o Prefeito entender aquilo que não conhecia.
Prefeito:
--- Ah. Entendo! Londres. Perto da China. Eu conheço muito acidade de Panmunjom. Um repórter dessas terras é outra coisa. Mande entrar. Entre. Entre. – e fez uma espécie de riso
Secretario:
--- Sim. Mais perto da França, Excelência. – respondeu o jornalista falando em cochicho.
Prefeito:
--- Ah! Certo. França, nos Estados Unidos. Um pouco distante, mas. ...- replicou
Entre tonturas e reviravoltas o Secretário saiu de perto do Prefeito atarantado de raiva, com uma compunção terrível de ouvir tantas asneiras juntas. E o jornalista convidado recebeu o Prefeito com um forte abraço. Era um gigante das estrelas, esse jornalista da BBC de Londres. Após um pouco de amenas conversas onde o Prefeito da cidade indagou algumas coisas simples, como essa:
Prefeito:
--- Meu forte abraço meu jovem sabulícolo. Como tem passado Vossa Mercedes? – deflagrou.
Repórter:
--- Estimo em vê-lo Excelência. – e lhe abraçou
E daí a conversa prosseguiu entre casos e coisas. Foi nesse ponto que o repórter, tão cuidadoso com era do seu feitio, indagou sobre o terreno cujo tema era a revolta dos menores, os mais pobres, desterrados afinal. E o Prefeito se fez sisudo por um momento. Após esse breve instante o edil falou um pouco bravo:
Prefeito:
--- O senhor já viu o que eles querem? Badernas! Apenas badernas! Jogam bombas em todas as casas! São uns salafrários! É isso! – bufou o edil.   
Repórter:
--- Mas o terreno a quem pertence? – indagou com modéstia.
Prefeito:
--- Heim? A mim! Por bem destacar! A Prefeitura! Se não fosse à Prefeitura, de quem seria? – indagou a arregalar os olhos.
Repórter:
--- Quando começam as obras de engenharia? – indagou sem se preocupar com a atitude do edil
Prefeito:
--- Logo. Muito breve. É só tirar os defuntos e a parte de engenharia tem início. – declarou sem emoção
Repórter:
--- E aonde são postos os restos, os ossos? – perguntou sem mais nem menos.


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