- Sônia Brazão -
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TERROR
Dessa vez o ancião estarreceu.
Esbugalhou os olhos e procurou enxergar da melhor maneira, porém a criança
havia sumido. Ele, então, se levantou da cama onde dormia e, com todo o
cuidado, procurou calçar os chinelos e, assim, saiu. O vultou desaparecera,
quando Ernesto chegou a porta do quarto, mesmo assim, ele ouvia o chiado dos
passos da menina a caminhar para a porta de saída de sua casa. Um frio sufocou
o ancião a ponto do velho homem estremecer. Porém o homem não sentia receio.
Ele estava acostumado de ouvir contar histórias de arrepiar e coisa e tal e
mesmo assim o homem tomava como brincadeiras. Quem contava, jurava ser
verdadeiras pois a pessoas não tinham vocação de mentir. História de uma menina
de 10 anos a qual seguia por um deserto caminho em busca de algo parecido com
um velho homem louco chegando a queimar os seus pés em brasas. Certa vez, a
menina procurou falar com certo ser de tamanho descomunal e, ao chegar tão
perto, o gigante a puxou para dentro de um lago de fogo do inclemente Inferno.
Da menina nunca mais se teve notícia. O monstro a levou por toda a sua
existência sepulcral. Eram dessas histórias que Ernesto sempre ouvia contar por
pessoas temente do inominável terror. E por isso, ele não teve maior receio dos
passos da criança pelo interior de seu casebre. Apenas, de fato, ele ficou
preocupado com a visagem aparecida de um momento para outro quando ainda
procurava conciliar o sono da madrugada.
A mulher de Ernesto que estava a
dormir a sono solto, no entanto ressonou e buscou o marido onde esse costumava
dormir na ponta da cama. Ela buscou sentir o seu corpo, mas não o encontrou.
Maria Amélia sentiu apenas um monte de pano e, de repente acordou para ver o
existente. Mas nada viu. Apenas os passos no corredor. Então, dona Amélia se
assustou com aqueles passos e de imediato gritou alarmada:
Amélia:
--- Ernesto!!! Onde está você? –
gritou a mulher em busca do seu marido.
Um chiado despertou ainda mais a
mulher. De repente, um vulto saiu do quarto. Um vulto de horror. Algo
tenebroso. Então a mulher se levantou da cama em busca do marido. Esse se
encontrava na porta de entrada da casa, mas o vulto desaparecera por completo.
Nesse momento, a filha do casal despertou e procurou de imediato saber o que
estava a ocorrer.
Sonia:
--- Que houve? Ladrão? –
perguntou a moça com olhos aboticados.
Amélia:
--- Não. Um chiado de alguém.
Talvez algum ente! – respondeu preocupada.
Ernesto estava na porta de saída
e nada contou de verdade. Ele apenas respondeu:
Ernesto:
--- Foi alguém naquela esquina.
Um bêbado. – disse o homem descartando o acontecido.
Amélia:
--- Bêbado? E o chiado que eu
ouvi aqui? – indagou com toda ira.
Sócrates, tão logo terminou a
sessão da Casa Espírita, procurou a sua turma – Norma, Canindé e sua irmã
Racilva – para tecer comentário sobre o caso do ancião Ernesto. Toda a sala
ficou surpresa com o caso dito por dona Amélia, mulher de seu Ernesto, pois
ninguém queria acreditar como em tão pouco tempo uma menina procurou o ancião
para buscar os seus destroços – esqueletos – quando ela era em vida.
Norma:
--- Isso é inominável! Jesus
Cristo!!! Uma menina? – indagou com clamor.
Sócrates:
--- Pois é. Pra você ver. Uma
menina. Talvez não fosse apenas o ser. Mas estava alí, presente! – confirmou
sem susto.
Canindé:
--- Eu penso comigo mesmo. Se for
verdade, quem era a tal menina? E onde foi sepultada? – quis saber cheio de
dúvidas.
Sócrates:
--- No Cemitério do Alecrim. O
mesmo que agora estão construindo os melhores apartamentos da Cidade. – foi o
que respondeu.
Norma:
--- Duvido! Mas, porque a menina
procurou o velho? – indagou cheia de dúvidas.
Sócrates:
--- Eu não sei. Talvez porque ele
era o coveiro. Muito simples. – declarou.
Norma:
--- Mas não tinham outros? Por
que ele? – insistiu.
Canindé:
--- Ah! Agora deu! Talvez porque
ele foi o último coveiro do Cemitério. – fez ver.
Racilva:
--- Mas o fato me faz pensar. Se
o velho foi o último (coveiro), e os outros? – indagou com seu semblante cheio
de dúvidas.
Sócrates:
--- Talvez seja por ele ser o
último! – confirmou.
Racilva:
--- Embora seja assim. E quem era
então essa menina? O velho não soube afirmar. Eram tantos corpos a enterrar que
ele não teve dúvidas em declarar não saber! Tem até os deserdados corpos
incinerados pelo Governo.
Sócrates:
--- É uma questão a ser
cuidadosamente estudada. Houve aparição. É verdade. Mas, o morto pode ter
vivido há um século. E um século é muito tempo para o velho escavacar. –
salientou.
Racilva:
--- Eu procuro entender por que
foi o velho? Apenas isso. - declarou.
Norma:
--- Somente o velho pode ter sido
o homem que sepultou o cadáver. – dialogou sem temer.
Racilva:
--- Mas, há quanto tempo esse
“anjo” foi sepultado? Eu procuro ver uma luz a tal respeito.
Canindé:
--- E de quem era o corpo? –
perguntou por sua vez.
Sócrates:
--- Mesmo assim que seja um
féretro bem antigo, apenas o velho pode saber. Ele trabalhou no Cemitério há
vários anos. É difícil saber quem ele sepultou. A não ser os homens graduados.
Alguns dias após, o ancião
Ernesto estava pastoreado a vaca de sua criação quando, de repente, um estalo
ecoou em sua mente. Certa vez, no Cemitério, uma mulher procurou o moço,
Ernesto, para sepultar a sua única filha. A menina, caso de 8 anos, tinha
morrido na véspera em um hospital vitimada por uma crise tremenda de tuberculose.
O moço não fez por menos. Com a Cidade era ainda bastante pequena, ele relatou
a mulher lhe trazer a sua filha, pois ele a sepultaria com todo o empenho.
Ernesto ainda era jovem, dos seus 25 anos de idade, e sepultou a garota em um
túmulo qualquer onde havia mais dois cadáveres sepultados no mesmo local. E a
mulher, depois de agradecer o empenho, fez questão em visitar a tumba por
várias vezes seguidas, apenas levando um cacho de rosas a depositar na
catacumba. O velho ainda notou por vários anos a presença da mulher no
cemitério. Depois disso, a mulher sumiu. Nunca mais alguém visitou a tumba da
criança. Com a saída dos restos mortais (esqueletos) de onde a menina foi
sepultada, esses também foram arrastados para o lixo. Nem sequer foi cremado.
Nisso, o homem refletiu com maior
precisão onde estariam postos os antigos esqueletos de pessoas mortas:
Ernesto:
--- No lixão da Prefeitura!
Apenas ali se costuma pôr os esqueletos! – foi o que deduziu o valho com muita
lembrança.
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