terça-feira, 28 de outubro de 2014

O INFERNO - 45 -

- Sônia Brazão -

- 45 -

TERROR

Dessa vez o ancião estarreceu. Esbugalhou os olhos e procurou enxergar da melhor maneira, porém a criança havia sumido. Ele, então, se levantou da cama onde dormia e, com todo o cuidado, procurou calçar os chinelos e, assim, saiu. O vultou desaparecera, quando Ernesto chegou a porta do quarto, mesmo assim, ele ouvia o chiado dos passos da menina a caminhar para a porta de saída de sua casa. Um frio sufocou o ancião a ponto do velho homem estremecer. Porém o homem não sentia receio. Ele estava acostumado de ouvir contar histórias de arrepiar e coisa e tal e mesmo assim o homem tomava como brincadeiras. Quem contava, jurava ser verdadeiras pois a pessoas não tinham vocação de mentir. História de uma menina de 10 anos a qual seguia por um deserto caminho em busca de algo parecido com um velho homem louco chegando a queimar os seus pés em brasas. Certa vez, a menina procurou falar com certo ser de tamanho descomunal e, ao chegar tão perto, o gigante a puxou para dentro de um lago de fogo do inclemente Inferno. Da menina nunca mais se teve notícia. O monstro a levou por toda a sua existência sepulcral. Eram dessas histórias que Ernesto sempre ouvia contar por pessoas temente do inominável terror. E por isso, ele não teve maior receio dos passos da criança pelo interior de seu casebre. Apenas, de fato, ele ficou preocupado com a visagem aparecida de um momento para outro quando ainda procurava conciliar o sono da madrugada.
A mulher de Ernesto que estava a dormir a sono solto, no entanto ressonou e buscou o marido onde esse costumava dormir na ponta da cama. Ela buscou sentir o seu corpo, mas não o encontrou. Maria Amélia sentiu apenas um monte de pano e, de repente acordou para ver o existente. Mas nada viu. Apenas os passos no corredor. Então, dona Amélia se assustou com aqueles passos e de imediato gritou alarmada:
Amélia:
--- Ernesto!!! Onde está você? – gritou a mulher em busca do seu marido.
Um chiado despertou ainda mais a mulher. De repente, um vulto saiu do quarto. Um vulto de horror. Algo tenebroso. Então a mulher se levantou da cama em busca do marido. Esse se encontrava na porta de entrada da casa, mas o vulto desaparecera por completo. Nesse momento, a filha do casal despertou e procurou de imediato saber o que estava a ocorrer.
Sonia:
--- Que houve? Ladrão? – perguntou a moça com olhos aboticados.
Amélia:
--- Não. Um chiado de alguém. Talvez algum ente! – respondeu preocupada.
Ernesto estava na porta de saída e nada contou de verdade. Ele apenas respondeu:
Ernesto:
--- Foi alguém naquela esquina. Um bêbado. – disse o homem descartando o acontecido.
Amélia:
--- Bêbado? E o chiado que eu ouvi aqui? – indagou com toda ira.
Sócrates, tão logo terminou a sessão da Casa Espírita, procurou a sua turma – Norma, Canindé e sua irmã Racilva – para tecer comentário sobre o caso do ancião Ernesto. Toda a sala ficou surpresa com o caso dito por dona Amélia, mulher de seu Ernesto, pois ninguém queria acreditar como em tão pouco tempo uma menina procurou o ancião para buscar os seus destroços – esqueletos – quando ela era em vida.
Norma:
--- Isso é inominável! Jesus Cristo!!! Uma menina? – indagou com clamor.
Sócrates:
--- Pois é. Pra você ver. Uma menina. Talvez não fosse apenas o ser. Mas estava alí, presente! – confirmou sem susto.
Canindé:
--- Eu penso comigo mesmo. Se for verdade, quem era a tal menina? E onde foi sepultada? – quis saber cheio de dúvidas.
Sócrates:
--- No Cemitério do Alecrim. O mesmo que agora estão construindo os melhores apartamentos da Cidade. – foi o que respondeu.
Norma:
--- Duvido! Mas, porque a menina procurou o velho? – indagou cheia de dúvidas.
Sócrates:
--- Eu não sei. Talvez porque ele era o coveiro. Muito simples. – declarou.
Norma:
--- Mas não tinham outros? Por que ele? – insistiu.
Canindé:
--- Ah! Agora deu! Talvez porque ele foi o último coveiro do Cemitério. – fez ver.
Racilva:
--- Mas o fato me faz pensar. Se o velho foi o último (coveiro), e os outros? – indagou com seu semblante cheio de dúvidas.
Sócrates:
--- Talvez seja por ele ser o último! – confirmou.
Racilva:
--- Embora seja assim. E quem era então essa menina? O velho não soube afirmar. Eram tantos corpos a enterrar que ele não teve dúvidas em declarar não saber! Tem até os deserdados corpos incinerados pelo Governo.
Sócrates:
--- É uma questão a ser cuidadosamente estudada. Houve aparição. É verdade. Mas, o morto pode ter vivido há um século. E um século é muito tempo para o velho escavacar. – salientou.
Racilva:
--- Eu procuro entender por que foi o velho? Apenas isso. - declarou.
Norma:
--- Somente o velho pode ter sido o homem que sepultou o cadáver. – dialogou sem temer.
Racilva:
--- Mas, há quanto tempo esse “anjo” foi sepultado? Eu procuro ver uma luz a tal respeito.
Canindé:
--- E de quem era o corpo? – perguntou por sua vez.
Sócrates:
--- Mesmo assim que seja um féretro bem antigo, apenas o velho pode saber. Ele trabalhou no Cemitério há vários anos. É difícil saber quem ele sepultou. A não ser os homens graduados.
Alguns dias após, o ancião Ernesto estava pastoreado a vaca de sua criação quando, de repente, um estalo ecoou em sua mente. Certa vez, no Cemitério, uma mulher procurou o moço, Ernesto, para sepultar a sua única filha. A menina, caso de 8 anos, tinha morrido na véspera em um hospital vitimada por uma crise tremenda de tuberculose. O moço não fez por menos. Com a Cidade era ainda bastante pequena, ele relatou a mulher lhe trazer a sua filha, pois ele a sepultaria com todo o empenho. Ernesto ainda era jovem, dos seus 25 anos de idade, e sepultou a garota em um túmulo qualquer onde havia mais dois cadáveres sepultados no mesmo local. E a mulher, depois de agradecer o empenho, fez questão em visitar a tumba por várias vezes seguidas, apenas levando um cacho de rosas a depositar na catacumba. O velho ainda notou por vários anos a presença da mulher no cemitério. Depois disso, a mulher sumiu. Nunca mais alguém visitou a tumba da criança. Com a saída dos restos mortais (esqueletos) de onde a menina foi sepultada, esses também foram arrastados para o lixo. Nem sequer foi cremado.
Nisso, o homem refletiu com maior precisão onde estariam postos os antigos esqueletos de pessoas mortas:
Ernesto:
--- No lixão da Prefeitura! Apenas ali se costuma pôr os esqueletos! – foi o que deduziu o valho com muita lembrança.


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