quarta-feira, 24 de outubro de 2018

SEGREDOS DE RACILVA - - 26 - -


VIDA AMARRADA
Naquela manhã de domingo, Racilva fez caminho com sua amiga Kátia, levando também o seu filho Junior para passar o dia na praia de Ponta Negra. Naquele ponto já teve muitas histórias como a de um homem já velho e que muita gente daquele recanto o conhecia por “Velhaco”. Era um homem simples, calças e camisas sujas, maltrapilhas como o tal. “Velhaco” já estava naquela época com seus setenta anos ou mais. Era um pescador nas horas vagas e suas calças eram puxadas até o meio da canela, enroladas assim mesmo. Homem pequeno, de um metro e meio de altura, contador de história, as mais absurdas da vida. A mulher ainda jovem desceu do ônibus levando o seu amado pimpolho e acompanhada, seguida da companhia de Kátia. No caminho, Racilva comentou que aquela rua já fôra toda de pedrinhas, levando da parte de cima até ao mar onde havia apenas as jangadas e nada mais. Na descida da ladeira, Racilva contou uma história dita pelo ancião “Velhaco”, há bastante tempo. Ela contou como se fosse ontem.
Racilva
--- O meu pai contava uma história dita pelo velho senhor “Velhaco” que viveu aqui por muito tempo. Se era verdade ou não, faz parte da história!
Kátia
--- “Velhaco”? - - gargalhou como demais.
Racilva
--- Sim. “Velhaco”. Era como os nativos lhe chamavam. Segundo o velho, era uma moça que dizia ter uma vida conturbada e misteriosa, segundo a própria. Ela era neta de uma verdadeira índia que tinha um ‘guia’ como se chamava na religião da moça. Então, a garota Irene deixou a cabana por sofrer demais sendo a única filha loira, branca, dos dez irmãos bem morenos com olhos meio puxados.
Kátia
--- Vá ver que o pai era europeu. Naquele tempo, os brancos faziam amor com mulheres índias! - -
Racilva
--- Pois é. A sua avó, sofrendo humilhações dos irmãos, dos pais e dos moradores locais, no dia que ela veio para a cidade sair daquele sofrimento, a mãe de Irene, a bisavó da infante, lhe rogou uma praga que ela nunca quis falar. A mãe índia da mocinha tem premonições, visões, vê espíritos. Mas nunca quis falar no assunto. Levando a vida que se reserva. Bartira, mãe de Irene, começou a trabalhar em uma casa e lá conheceu seu futuro marido. Casou e teve seus quatro filhos. A filha caçula era a menina Irene.
Kátia
--- Não tem diferença de hoje! –
Racilva
--- Quando a mãe de Irene já era nascida, o seu avô morreu assassinado. Resumindo aqui a vida da mulher índia Bartira, era difícil. Sentindo perturbada, entrou para a Igreja e tudo começou a caminhar. Sozinha, dona Bartira deu conta do Colégio dos quatro filhos. A mãe de Irene conheceu o seu marido, seu Nicácio, quando ela estava com 13 anos e ele, com 26. Começaram a namorar e noivaram. De acordo com o sogro da mocinha, Nicácio era o homem mais cobiçado da época. O pai de Irene, um grande galanteador, já tinha sua má fama. Mas a mãe de Irene sempre foi positiva. Estava apaixonada! As mulheres, todas ficaram com ódio de dona Bartira, a índia. Macumba para lá, macumba para cá e ela sempre na Igreja desfazendo o que era o mal. O pai de Irene, naquela época, um homem misterioso, era totalmente amável. O sonho de qualquer mulher.
Kátia
--- Ave Maria!!! - -torceu as mãos com uns pinicados no corpo.
Racilva
--- Te ajeita!!! Nicácio era um homem romântico, lindo e muito carinhoso. A mãe de Irene, achava que havia tirado a sorte grande, estava intimamente apaixonada e feliz até que ficou sabendo que a família do seu pai estava fazendo de tudo para Nicácio terminar com Bartira, uma vez que a índia era pobre e família de Nicácio queria uma mulher rica e maravilhosa para o homem. Não se importando com nada Nicácio se casou com Bartira. A família de Nicácio foi toda de preto para o casamento. Uma cena de horror! A gravação, que era uma musica linda, esconderam no baú. Foi posta uma outra parecendo um filme de terror. –
Kátia
--- Que tristeza! - - disse a moça
Racilva
--- Pois bem. No dia em que Irene nasceu e o pessoal saiu da Igreja, a vida da mãe Bartira virou um inferno. Bartira engravidou de Irene e foi uma gestação de alto risco. A mulher sempre pedindo a Deus seu bendito socorro e para Irene não ver espíritos, igual a sua avó que vivia vendo. Bartira entrou em depressão e no dia que a sua filha saiu da sua barriga e foi entregue aos braços fracos de sua mãe Bartira, a tia de Irene chamada de Lúcia levou a menina com a maior raiva vendo a mãe Bartira sem poder fazer nada. Simplesmente doente, Bartira teve que ficar no Hospital por algum tempo. Enquanto isso Irene ficou nas mãos da família de Nicácio com uma grande briga entre famílias para quem havia de cuidar de Irene.
Kátia
--- Coitada! Triste sina! - - lamentou
Racilva
--- Pois é. Quando Lucia, a tia de Irene tirou a menina dos braços de Bartira, a mulher disse para Bartira, coisas que a mãe de Irene nunca esqueceu: “Essa garota nunca irá ser feliz. Tudo o que puder para tirar sua paz, eu vou tirar”. E saiu com a criança do hospital. Bartira, piorando a cada dia, fugiu da casa de saúde e então ouviu de uma mulher mais velha lhe dizendo: “Se você continuar aqui, você vai morrer. Mantenha a sua filha”. E a mãe de Irene já conhecendo a situação e sabendo das coisas que a sua mãe levava, saiu do Hospital com ajuda do seu parente. Ela chegou em sua casa e pegou a sua filha. Mas havia uma diferença; aquele bebê dos olhos negros, cheia de saúde no Hospital, estava fraca, muito doente, com risco de morte e toda avermelhada.
Kátia
--- Que situação! E agora? - -
Racilva
--- A menina foi levada a vários médicos por sua mãe, debilitada, e em todos os médicos ninguém conseguia curar o bebê. Ate que a sua avó se rendeu a sua antiga religião e tomou a frente da situação dizendo:” Minha filha e minha neta não vão morrer, pois não vou deixar”. E fez os remédios típicos de onde morava. Seus rituais e finalmente Irene e sua mãe Bartira melhoraram. O seu pai Nicácio voltou para viver com a sua família. Bartira não mais o reconhecia. Ele era o diabo em pessoa. Esquisito! Frio! Falava sozinho com papeis, amuletos e satanismo por onde andasse. A sua esposa era proibida de mexer nos pertentes do homem.
Kátia
--- Depois da bonança vem a tempestade! Deus do céu. - - falou a moça.
Racilva
--- Houve um tempo em que a mãe de Irene qui se separar, a Igreja não permitiu, a mulher entrou em estado de depressão, o marido sumia, voltava sempre esquisito com seu olhar maligno. Até que dona Bartira engravidou. Agora de um menino. Irene tinha seus quatro anos e já lembrava de algumas coisas dessa época. A menina sempre via ‘sombras’ que puxavam os seus cabelos, aterrorizavam empatando o seu sono. Na verdade Irene nunca foi de dormir. Desde recém-nascida ela não tinha sono. O seu pai torturando a sua mãe e Irene via a sua mãe encostada na parede da cozinha, em baixo do forno, chorando e Irene vendo em seu lado sombras negras e um ser estranho de olhos amarelos do lado dela. A menina não podia contar para ninguém e chegou a ser impedida sua avó materna. Aquela que era pura índia.
Kátia
--- Coitada! - - e debruçou sua cabeça entre os braços, a chorar.
Racilva
--- Mesmo com tudo que a menina via ela não tinha medo. Ela via anjos, luzes boas que lhe acalmavam e deixava a sessão de estava tudo bem. Irene falava que nunca teve amigos nesse mundo físico e brincava com luzes em forma de criança. A sua mãe teve seu irmão em uma gravidez de mais alto risco ainda. Só que dessa vez a avó de Irene tomou à frente e não deixou o que acontecia com Irene. O seu irmão nasceu saudável e se reabilitou rápido. Um dia, a irmã de seu pai trouxe alguns pedaços de bolo para Irene e sua mãe. Isso trouxe desconfiança para dona Bartira. Não deixou os filhos comer. Bartira correu para o telefone e quis saber de sua mãe, a índia, para falar do presente. Irene, inocente, nunca viu um bolo feito com caldas e pegou, escondido, comendo tudo, sem a sua mãe saber. Bartira pegou os restos do bolo e entregou para a sua mãe que deu para os animais. No dia seguinte Irene passou mal quase perdendo sua pressão. A criação da avó da menina, todas ficaram girando e batendo a cabeça na parede até morrer. –
Kátia
--- Coisa triste! - - falou lacrimosa a amiga de Racilva.
Racilva
--- Mais uma vez outra mulher do Hospital declarou: “A cura dessa menina é espiritual”. - -

domingo, 21 de outubro de 2018

SEGREDOS DE RACILVA - - 25 -



ENTIDADE
Era um sábado pela manhã. Eu Muniz, pai de Racilva estava em casa lendo uma revista de casos do outro mundo. Nesse ponto, chegou Racilva após um rápido passeio com o seu filho Junior, passeando em volta do parque existente por todo o caminho. O menino penetro em sua casa nem obedecendo a sua mãe para que devesse cuidado nas roseiras arrumadas em cantos especiais da moradia. Do jeito que vinha, o menino embrenhou-se por casa a dentro. O senhor Muniz estava lendo as revistas e viu o menino a entrar, e gritou em instante.
Muniz
--- Abenção? - - com atenção ao garoto
Racilva
--- Nem ligou. Com certeza está se mijando! - - gracejou
Muniz
--- Cora está lá dentro. Ela cuida do garoto! - - sorriu.
Racilva
--- Revista nova? - - perguntou ao pai.
Muniz
--- Nem nova, nem velha. Tem artigos que impressionam. Um aqui é de assombrar moças. Quer ler?
Racilva
--- Leia o senhor que eu escuto. - -
Muniz
--- Leia você mesma. - - concluiu o idoso
Racilva
--- Entao, eu leio. Por favor. Deixa-me ver. - - relatou
Racilva
--- O homem ficou como estava sentado, coçando a cabeça como se tivesse tirando piolhou e se escorou na cadeira antiga coberta de couro de bezerro. E Racilva começou a ler em voz quase alta para o seu pai ouvir bem. Foi um caso ocorrido em Natal, pelo que diz a narrativa, disse a moça. A moça que contou a história morava em um apartamento de aluguel, um local muito bom, em companhia de seus pais. O apartamento era uma morada perfeita, se não fosse o que viria a acontecer. – - Racilva perguntou a seu pai se estava ouvido. Esse disse que sim
Muniz
--- Sim. Continue. - - respondeu o homem.
Racilva
--- Pois bem. Numa tarde qualquer ela, a moça, saiu com sua mãe visitar a Denise, uma amiga que morava na parte alta do bairro em frente ao da moça, vamos dizer Sandra. Da casa de Denise podia se ver o apartamento de Sandra assim como grande parte da cidade. Na hora que Sandra resolveu sair para o seu apartamento, a moça deu a costumeira olhada na vista quando a moça notou no seu apartamento que a luz do seu quarto estava acesa e notou o contorno de um homem que olhava pela janela aberta. Por um instante Sandra julgou ser o seu pai que trabalhava fora da cidade e que poderia ter vindo em casa pegar algo antes da próxima viagem. - - ouviu bem meu pai? Indagou a moça.
Muniz
--- Sim. Sim. Continue. - - respondeu seu Muniz.
Racilva
--- Então! Sandra mostrou a cena para a sua mãe e na mesma hora ela pediu a Sandra que confirmasse se era ele mesmo quem estava lá. Ela fez a ligação perguntado se era o seu pai que estava no seu apartamento e como resposta o pai responde que não. Ele, o pai, naquela hora estava a serviço em uma cidade próxima. Sandra, sua mãe e os demais ficaram muito assustados, uma vez que a moça ao sair trancou à chave quando saiu do apartamento e até mesmo cadeados das janelas estavam escondidas em um local seguro e ninguém mais tinha acesso a casa. Como não tinha certeza do que se tratava, ladrão ou não, Sandra e a sua mãe decidiram não chamar a polícia. Então eles foram na cara e na coragem para saber o que raio o que estava a acontecer dentro do apartamento. - - ouviu pai?
Muniz
--- Sim. Ouvi. Continue. - - declarou o velho.
Racilva
--- Hum! Eram cinco. A Denise; a sua filha, Rosa; e o seu neto, Diego. A mãe de Sandra, dona Edite, e a própria senhorita Sandra. Elas se armaram de facões, uma foice e uma barra de ferro que estava na garagem e então todas entraram. E dentro do apartamento elas reviraram tudo. Por baixo das camas, dentro dos armários, guarda-roupas e em cada canto em que pudesse se encontrar uma pessoa. A casa estava do jeito que Sandra deixou. Tudo trancado, luzes apagadas e todo resto em seu devido lugar. Com o seu pai estava fora Denise se ofereceu para passar a noite com essa família. E por medo, dormiram, todas, no mesmo quarto. A mulher, Denise, tinha fobia de ambientes fechados. Então. nesse dia, dormiram com a porta destrancada, simplesmente aberta. Desta forma, a cabeceira da cama improvisada onde Denise estava, era virada em direção da porta da cozinha. - - e Racilva viu seu pai dormindo. Então chamou mexendo em sua cadeira. O homem se assustou e disse.
Muniz
--- Não estou dormindo. Vá. Continue! - - e se voltou a balançar em sua cadeira.
Racilva
--- Hum! Quando o dia amanheceu Sandra se deparou com uma Denise muito assombrada. A mulher disse nunca ter passado por um aperto tão grande. Logo depois que Sandra adormeceu, Denise teve uma sensação muito ruim e a olhar para o corredor, viu um homem negro, alto, vestido de vermelho e preto, adentrar a porta da cozinha, sem abri-la e veio direto em sua direção. Ela contou ter perdido as forças. E a única coisa que teve em mente foi rezar e pedir socorro a Deus. Quanto mais rezava, mais a entidade ria e debochava do desespero dela, desaparecendo no ar com uma gargalhada ao se aproximar da cama onde Denise se abrigava. - - Racilva olhou o pai a dormir. Nem ligou
O homem roncava feito um porco. Racilva nada fez para desperta-lo. E seguiu lendo.
Racilva
--- Algum tempo depois, Marcia, a irmã de Denise, que é médium, procurou Sandra para conversar sobre o ocorrido. Segundo ela, a culpa era da senhora dona do prédio que queria desocupar todos os apartamentos afim de alugá-los por valores mais altos. Mas por questão de contratos a mulher não podia pedir às famílias que se mudassem. Então recorria as almas para ajuda-las a resolver essa situação. O que ela não sabia era que estava mexendo com entidades muito mais pesadas do que almas sofrendo por falta de oração. E nem fazia ideia da dimensão que a coisa tomou. Pessoas próximas da dona do prédio comentavam seus hábitos estanhos de incomodar as almas para tudo. Mas nunca se pensava que a mulher fazia algo do tipo contra a família de Sandra e Denise. –
O menino Junior chegou na sala e apontou para o rosto do seu avô a roncar feito um porto. Racilva sorriu e pediu que o deixasse dormir. Junior voltou para a cozinha.
Racilva
--- Essa época foi um período ruim na vida das três famílias que lá moravam. Por algum motivo, os mais afetados eram os membros mais novos de cada uma delas. Sandra, sua mãe e seu pai se mudaram do apartamento. Mesmo assim a moça teve uma depressão não se livrou até momentos seguidos, passando noites em claro, vivendo perturbada e quando conseguia dormir, tinha pesadelos pavorosos. Falavam palavras para Sandra descrever. A sua mãe também presenciou alguns fenômenos e eram quase sempre nos momentos que rezava. Era como algo se sentisse incomodado com as orações que a mulher Edite fazia. Ainda hoje ela fala sempre lembrar com um grande pesar e agradece pela paz que tem nessa vida atual. –
Muniz
--- Terminou? Como se deu? - - indagou acordando de vez.
Racilva
--- O senhor não ouviu? - -
Muniz
--- An. Eu dormi mesmo. Estava com sono. Achou que vou tomar banho! –
Racilva
--- Isso! É bem melhor. –
Kátia bateu à grade do portão e fez-se entrar sem mais nem menos. Olhava em várias direções e sorria como uma andorinha. Racilva suspendeu a vista e, delicadamente findou por sorrir. Um passo e um abraço apertado. Uma pergunta e outra resposta.
Kátia
--- Eu vim do sebo. Gente pouca. Nove horas. Que mais? - - sorriu.
Racilva
--- Muito cedo. Podia ser 12 horas. - - retribuiu o sorriso.

AMORES DE RACILVA

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

SEGREDOS DE RACILVA - - 24 - -



O MAL
Na manhã daquele dia Racilva estava em sua casa, lendo um opúsculo sobre magia, o livro de São Cipriano o Bruxo quando surgiu à porta que dava para fora residência a sua amiga de sempre, Kátia Sobreira. A moça vinha de uma parte da cidade, com certeza a Ribeira ou outro bairro qualquer com uns pacotes debaixo do braço. Reclamando do calor que fazia, Kátia foi ao ponto da conversa, sem mais porquê. E logo mais que conversa a moça mostrou um livro já desgastado que comprou em um sebo instalado no Beco da Lama. Era o Tiçuru um rio após o Baldo da Cidade do Natal. Era a principal fonte de abastecimento de água para os moradores da hoje da chamada Cidade Alta. Kátia sorria de felicidade foi quando desviou o olhar e viu o opúsculo de São Cipriano. Então, indagou.
Kátia
--- Que livro é esse? - - indagou admirada.
Racilva
--- Um livro de São Cipriano. - - dizendo isso, sorriu.
Kátia
--- Ah. Já sei. O macumbeiro. - - e pegou a brochura.
Racilva
--- Pode ser chamado assim. Mas nem sempre o é. Eu até tenho um caso para te contar. E não tem nada com o São Cipriano. Mas tem a ver com casos de macumba. –
Kátia
--- Conte. Eu quero saber. Sou toda ouvidos. - - falou a moça
Racilva
--- Pois bem. Como se diz: quem deseja o mal e faz mal aos outros, recebe três vezes de volta, esse relato é uma comprovação do assunto. O relato que vou te contar é real e ocorreu em uma família daqui da nossa cidade há alguns anos passados. Um cidadão daqui era advogado bem conhecido em nossa cidade. Em anos passados esse advogado de nome Meroveu foi contratado pelo um senhor português seu Manoel dono de uma padaria para realizar o seu desquite. No tempo não existia divórcio no Brasil. O motivo da separação é que estava ciente da sua esposa, Lourdes, estava fazendo vários trabalhos de baixo espiritismo e frequentemente o traía com alguns de seus assistentes de magia negra. –
Kátia
--- Que horror! Que mulher baixa! - - disse a moça exaltada.
Racilva
--- Então. O dono da padaria não gostava de patrocinar ações de família. Mas como o Doutor Meroveu era cliente antigo o advogado aceitou a causa e iniciou o processo. Para se ter uma ideia de como a esposa tinha má índole, a própria filha do casal, com 16 anos, em plena audiência, diante do Juiz defendeu o pai e disse em alto e bom som que a mãe não valia nada e que ela – Lourdes – não prestava. Uma vez que as causas de desquites eram fortes e com a denúncia de traição a dissolução da união foi homologada pelo Juiz. Dias após o término da ação, uma vizinha da frente da casa do doutor Meroveu informou ao advogado que um rapaz tinha parado em frente ao portão e havia jogado um pequeno embrulho no telhado. No mesmo dia o doutor Meroveu pediu para um rapaz do escritório seguisse até lá e pagasse o objeto Naquele embrulho havia duas velas, uma preta e outra vermelha, amarradas com um tipo de cipó preto. O doutor Meroveu, percebendo que era um tipo de “trabalho” foi a um conhecido senhor de umbanda da cidade e informado que realmente era um trabalho de Macumba.
Kátia
--- Nossa! Fizeram serviço para o advogado? E por que? - - espantada.
Racilva
--- Espere! Assim, seguindo a orientação do diretor do Centro, jogou o pobre embrulho no rio. Muito tempo depois ele, o advogado, descobriu que a vela vermelha era para acessar mente e nervos, e a preta, destruição. Contudo, naqueles meses o ambiente em casa ficou tumultuado. A esposa de Meroveu demonstrou graves alterações de humor, criava muito caso com seu esposo, gritava e reclamava do casamento, queria se separar e que estava nervosa e cansada. Coisas que nunca fez ou que tinha falado antes. Dias depois, com o comportamento da esposa, Dr. Meroveu retornou ao Centro Espírita, em uma sessão e identificou que havia outro trabalho colocado em casa. Só que, enterrado.
Kátia
--- Virgem Maria! - -a moça se benzeu em cruzes.
Racilva
--- Disseram que esse “trabalho” era muito mais forte e visava plantar desavença e dificuldades em realizações profissionais e pessoais. Como o jardin de sua casa era grande, o advogado resolveu chamar um jardineiro e retirar toda a grama e a terra da frente. Logo no inicio o jardineiro encontrou um embrulho com osso e terra dentro do pacote. E foi um “trabalho” que os médiuns falaram no Centro. O homem jogou o “trabalho no rio e o Centro fez sessões para proteção do advogado e de sua família. Com isso, a sua esposa acalmou e a vida seguiu normalmente.
Kátia
--- Ainda bem. - - disse a moça
Racilva
--- Mas, numa tarde de sábado, um rapaz de 20 anos ou mais, bem magro, vestindo roupas velhas pediu que gostaria de falar com o dono da casa. Nesse mesmo momento o advogado, que estava ouvindo o jogo pelo rádio, foi até a porta e pediu que ele entrasse. O rapaz falou que não ia entrar na casa porque era indigno e que estava para pedir desculpas. E o advogado ficou surpreso perguntando o que o rapaz, afinal, queria. O rapaz disse que foi amante de uma mulher, casada com um padeiro, cujo nome ele não iria mais pronunciar. Disse ainda que há anos, a mando dessa mulher, foi na casa dele para pegar um “trabalho” e jogar em cima do telhado na casa do advogado e que depois escondeu terra de cemitério no jardim. Então, naquela hora estava arrependido. Contou que a convivência e a vida com a mulher foram uma desgraça. Passou fome, não conseguia trabalho, era malvisto pelos parentes dele e conhecidos que se afastaram dele. A sua vida travou em tempos mórbidos. Mesmo se separando da tal mulher passou anos com as dificuldades financeiras e emocionais. Fugiu da cidade, viajando sem rumo em direção a Minas Gerais. Ficou anos, parando para encontrar emprego em toda cidade por onde passava. Mas, continuava sozinho. Sem família e nunca conseguia nada. Afirmou que tinha vergonha e que escondia a todo custo o seu envolvimento com magia negra. Sem ter o que comer, foi o rapaz a um Centro Espírita numa cidade do Triangulo Mineiro quando um médium que nunca o viu antes lhe disse:
Médium
--- Você fez mal a uma pessoa inocente e lhe desejou coisas ruins. O “trabalho” foi desfeito, mas a sua vida está travada até que obtenha perdão dessa pessoa.”
Racilva
--- Ao falar isso, descreveu como era a pessoa, a cidade, o local da casa, o “trabalho” que tinha feito, em detalhes. O advogado Meroveu ficou atônito com a história e lhe disse que ele, o rapaz, estava perdoado e que tudo era passado. O rapaz agradeceu e que nunca mais voltaria para àquela cidade e nem o incomodaria mais. A dívida cobrada durou anos e foi muito mais cara.
Kátia
---Nossa! O mal sempre morre. É pena sentir o que o rapaz fez. - - soluçou a moça.
Racilva
--- A vida. A nossa vida é cheia de percalço. Nós não sabemos o que fazemos, mesmo depois de desencarnados. Vendo o passado, eu mesma sinto um aperto em meu coração. Não sei de quem, não sei de onde, não sei porque. Eu lembro constantemente de Caio. Sem motivo aparente. Às vezes, eu estou só ou mesmo caminhando nas ruas da cidade e vejo uma figura bem parecida com Caio, o meu marido. Ele vai para onde não sei, dobra uma esquina e some. Tenho vontade de agarrá-lo, mas não tenho poder. Se eu disser a qualquer um, essa pessoa me diz.
Pessoa
--- Isso é normal! Esqueça de Caio! –
Racilva
--- Esquecer, não posso. Não se pode esquecer um amor de tantos anos. Ninguém pode esquecer o marido, o pai, a mãe, os avós. Na se pode esquecer. Não é o não posso. É não deve esquecer um tio, um amigo íntimo ou não. Orar? Faz bem. Mesmo assim eu não posso esquecer a minha avó, minha bisavó que nem a conheci. São apenas lembranças.
Kátia
--- Verdade. Noite dessas eu pensei ou sonhei com meu avô que nem o conheci de muitos anos. Eu era pequena. Vi o ancião apenas no caixão. Me puseram para eu beijá-lo. E eu o baixei. Mas nunca eu o vi no trabalho. Ele trabalhava na Alfândega. E agora eu penso no que o meu avô trabalhava, o que fazia. Nada me vem a memória.
Racilva
--- Você já teve namorado? - -
A moça pensou quem fôra seu namorado.

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

SEGREDO DE RACILVA - - 23 - -


MACUMBA
Certo dia Racilva estava em casa lendo As Centúrias de Nostradamos. Eram quase 9 horas da manhã. Sua mãe, dona Cora, estava no interior da casa fazendo algo, com certeza, para o almoço. Nesse instante chegou ao portão e entrou, sem ao menos avisar, a senhora Alzira, mulher bem conhecida do pessoal da casa. Seu Muniz estava do trabalho e Junior, filho de Racilva, tinha ido à Escola de crianças logo cedo da manhã. Um pacote trazido nos braços, dona Alzira nada falou. E Racilva não quis saber também. Deviam ser preparos para alguma macumba, certamente que a mulher tinha adquirido em uma loja no Beco da Lama, no centro da cidade. O certo é que o pacote devia ser segredo. Ervas medicinais e até mesmo um frango e garrafas de bebidas. Coisa normal, com certeza. Negócio que era sigiloso. Então dona Alzira falou passada a hora dos abraços e cumprimentos.
Alzira
--- Menina! As coisas estão caras demais! Nossa Senhora! Eu fui ao comércio e quando paguei é que senti na pele! Coisa horrorosa! Um tiquinho de nada por um preço exorbitante. Ave Maria! Coisa de louco! - - falou a visita de forma exausta.
Racilva
--- Está tudo muito caro. Um horror! - - falou assenhora moça
Alzira
--- Pois é. E dona Cora? Ela está bem? - -
Racilva
--- Sim. Está na cozinha fazendo as coisas! - -
Alzira
--- Ah, bom! Ontem apareceu lá em casa uma moça de nome Lívia cheia de problema. Contou a moça que ela era uma grande amiga de outra moça, a Flávia. A Lívia tem 24 anos de idade e contou que estava em um grande aperto. Lívia e Flavia estudavam no mesmo colégio e quando terminada a aula elas seguiam o mesmo caminho. No final do curso elas se matricularam na mesma Faculdade. Faculdade de Letras. Todas juntas. Disse Lívia que Flavia sempre foi a garota mimada. Filha única e mandona. E sempre que passou esses anos Lívia sempre foi a sua escrava em tudo.
Racilva
--- Imagine só! - - e sorriu.
Alzira
--- Pois é. Festas escolares, trabalhos, até em relacionamentos Lívia era obrigada a ajudá-la. Caso contrário, as duas entravam em brigas. Uma vez, Lívia deu uma vaga de emprego que havia conseguido para si a amiga Flávia, uma vez que Flávia fôra demitida do seu trabalho por justa causa. Lívia contou que sempre foi para Flavia uma boa amiga e o que aconteceu com Lívia, ela não desejava nem para o seu pior inimigo. Na época, Lívia namorava o Lucas e estavam juntos desde o primeiro ano do Colegial.
Racilva
--- Namoro longo, heim? - - sorriu
Alzira
--- Pois sim. Com o Lucas já convivendo, Lívia estava esperando uma garotinha do casal que se chamaria Laura. Isso, já no quinto mês de gestação e tinha programado o casamento para o nono mês. Certo dia eles combinaram passar em uma lanchonete, do lado de fora da Faculdade, antes de ir para a aula. Então, Flavia chegou na casa de Lívia no objetivo de se arrumar, tomar banho enquanto Lucas, o futuro esposo de Lívia, lavava a louça na cozinha fazendo parte da mãe de Lívia, a dona Glaucia que se ocupara em passar roupa na varanda. Lívia deixou a chave do seu quarto e foi até a sala procurar algo na sua bolsa. Flavia ficou dentro quarto, sozinha, quase uns dez minutos. Quando Lívia retornou encontrou a amiga com um dos seus batons em suas mãos. As outras maquiagens, estavam todas espalhadas em cima da cama de Lívia. Flavia sussurrava alguma coisa e passava a ponta do dedo por cima do batom.
Racilva
--- Perigo? - - indagou cismada.
Alzira
--- Não sei. Vamos à frente! Sei que Flávia soprou três vezes. Lívia ficou observando e logo após se aproximou. Flávia desconverso dizendo que estava pesquisando as maquiagens da amiga para saber qual marca era a melhor, no intuito de comprar algumas. Isso não importou a Lívia e até a ajudou a escolher passando o batom chegando a tirar uma foto, como amigas costumam fazer. Ao sair da casa de Lívia, a amiga olhou para a outra, suspirou e disse: “Acho que algo de ruim vai acontecer com você”. E a amiga Lívia se espantou e, alarmada, indagou: “Comigo?”. Não era bom ouvir isso de sua melhor amiga.
Racilva
--- Nem morta! E o que deu? - - indagou
Alzira
--- Pois é! Sei que passados alguns dias Lívia começou a passar mal e chegou a pensar por conta da gravidez, que era saudável e normal. Lívia passou a vomitar constantemente, sentindo fortes dores, desmaiar e até sentiu convulsões. E em uma dessas, Lívia acabou perdendo o bebê. Foi o fim. Ela pensou que fosse entrar em uma depressão até morrer. Então a Flávia foi mais que deu apoio a amiga nesta fase depressiva da vida de Lívia. Então, Flavia dizia que a amiga Lívia iria engravidar novamente, pois o Lucas era um bom namorado e teria compreensão a todo instante. Mas, tudo foi piorando!
Racilva
--- Coitada! - - lembrou do seu marido não sabe o porquê.
Alzira
--- E semanas se passavam, a mocinha continuava a ter convulsões, vomitando, com dores. Mas era um mal, um mal tão forte que em certo ponto ela não sentias as suas pernas e muito menos os braços. Ela conseguia se movimentar chegando até andar em cadeira de rodas por uma semana. Com o tempo não conseguia Lívia mais levantar da cama. Pareceu isso num dia que acordou para trabalhar. E teve que trancara Faculdade dias depois por incapacidade física, até estar totalmente em estado vegetal. O tempo passou e Lívio se sentiu melhor de saúde. Pelas noites ela estava a ver vultos e massas negras que chegavam ao teto. Algumas dessas massas eram tão grandes que ao se curvarem, a cabeça tocava o chão. Era desesperador.
Racilva
--- Meu Deus!!! Que coisa! – falou alarmada
Alzira
--- Então. Em um estado daqueles ela não conseguia se mexer. Lívia rezava mentalmente e ela, então, se apagava demais. Lívia sempre contou isso ao Lucas. Tentou alertá-lo do que estava ocorrendo com Lívia. Mas ele nunca acreditava. Ele ficou cada vez mais agressivo com a sua mulher. Aquele homem doce que sempre amou Lívia, passou a sair de casa, beber e se drogar até que terminou seu romance e em definitivo, sumiu. Desapareceu. Era ele quem cuidava de Lívia porque a mãe de Lívia já era de idade e não podia fazer muita coisa. A moça perdeu a fala. Entao Lívia se sentiu uma “coisa” numa cadeira de rodas, sem mover o corpo, sem falar. E Lívia perguntava: “Onde minha vida tinha chegado? Eu havia perdido a minha filha, o meu namorado, a minha Faculdade, os meus movimentos. Sempre me questionei se foi Deus isso de mim por ser muito ceticista. Mas não fazia sentido. Eu respeitei as crenças e tudo mais”. Foram longos meses assim! –
Racilva
--- Foram longos meses! É uma provação! Longos e eternos meses! - - lembrou o seu marido
Alzira
--- Longos meses! Lívia passou por vários médicos, psiquiatras e nada lhe foi diagnosticado. Lívia fez fisioterapia, aulas para voltar a nadar, para falar, para a andar. Mas nada. Nada era capaz de fazer a voltar o que Lívia o que era antes. Foi, então, que uma vizinha, a Valquíria, que era bastante médium, foi até a casa de Lívia levar as roupas que ela arrumava para a mãe da moça. Assim que ela pisou na casa de Lívia, seu corpo foi alavancado para trás e ela gritou: “Tem algo muito pesado nesta casa!”. Nunca ninguém sentiu essa forma estranha. Valquíria buscou ajuda falando comigo e eu fui acudir a mulher. E eu benzi cada milimetro da casa. Até o cachorro. Na mesma semana a Flavia apareceu. Ela ficou mais próxima de Lívia que estava paralítica e sem falar. –
Racilva
--- Aleluia! Foi ela mesma! Aleluia! - - gritou a moça
Alzira
--- Pois bem. Flavia se aproveitava em tudo porque Lívia fazia nada fazer. Pegava o dinheiro que a mãe de Lívia recebia para comprar os medicamentos para a filha e gastava com outras amigas. Flávia se aproveitava porque a velha amiga nada fazia. Uma vez, muitos antes, Flávia passou uma pena de galinha preta na cabeça de Lívia e disse: “Você vai morrer nessa cadeira. Lamento. Vive quem pode”. Flávia fazia macumba na frente de Lívia e com objetos de sua mãe. Flávia estava gravida de Lucas e vivia junta com ele. A mãe de Lívia, a idosa Glaucia, veio a falecer duas semanas depois. E eu fiz o que pude para curar a moça Lívia. Com o tempo, Flávia perdeu o emprego, trancou a Faculdade o seu filho embrião morreu ao sexto mês de gestação. Eu cuido da Lívia. Ela recuperou o andar. Lucas deixou a Flávia e mudou de país. Um dia desses, Flávia veio pedir desculpas a Lívia. Então, a mocinha tacou a muleta na cara de sua inimiga. E rebentou a mandíbula da infame.
Racilva gargalhou pela vingança feita!

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

SEGREDOS DE RACILVA - - 22 - -


PASSADO
Passaram-se dias, Racilva ainda pensava na garota que veio de Céu. Certa tarde, ela foi a casa de uma amiga de nome Ana para trocar impressões da vida. A casa era mais ou menos distante da sua casa, na Avenida Floriano Peixoto bem próxima a Rua Trairi, pelo lado esquerdo de quem segue em direção ao seu final. Logo que entrou na casa, um cão latiu com bastante força, parecendo querer avançar. De imediato, um rapaz se aproximou e disse que não precisava ter medo pois o cão estava amarrado. Ela sorriu e viu chegar a porta da casa a dona da casa, Ana Junqueira e a sua filha menor, Luciana. Era quatro horas da tarde e gente a passar, indo e voltando, carros buzinando, um vendedor de cuscuz entre mais coisas como o Palácios dos Esportes Djalma Maranhão com suas palmeiras gigantes e os seus postes magníficos de cinco metros de comprimento com um lume em cima em forma de bola. Entre outros assuntos veio um de forma espantosa. A história de um rapaz de seus 28 anos. Racilva contou uma história macabra, um vulto que metia medo em qualquer ser.
Racilva
--- Vou te contar. É uma história macabra. Dona Alzira, a minha conhecida, me contou sem pedir segredos. O caso é de terror. Um rapaz tinha em seu pai, um homem bastante sério. O marido de sua mãe trabalhava no interior do Estado. Eles moravam em uma casa modesta, pertencente ao dono das terras. Quando meu pai aceitou o convite de trabalhar com o fazendeiro, ele nem bateu pestana. Logo foi com seu carro um pouco velho. O sítio era entre três outros sítios. Era o sitio uma coisa enorme. Tinha que se atravessar um portão para chegar a morada do fazendeiro.
Ana
--- E era longe assim? - - indagou
Racilva
--- Longe? Era o fim do mundo. Longe demais! Bota longe nisso! - - sem conversa.
Ana
--- Conte mais, por favor. - - falou Ana
Racilva
--- A casa ficava em cima de um barranco e tinha de um lado um barracão onde se guardava os tratores e as máquinas que os trabalhadores usavam para cuidar do serviço. Em frente a casa tinha uma represa que separava os três sítios. Era um lugar bonito para ver. Mas, só no primeiro momento. Com as viagens do pai de moço, ele e a imã passavam mais tempo em companhia de sua mãe. Como o sítio ficava mais próximo da cidade, uma outra tia sempre ia visitar e ficar com as pessoas. A mãe do rapaz e a sua irmã além da própria mãe. - -
Ana
--- Mas não era tao longe? - - indagou com espanto
Racilva
--- Não. Não. Não era muito longe. Pois bem. Uma das visitas, a prima do moço, gostava muito de brincar com o sobrenatural. E em uma carta noite, o moço, sua prima e sua irmã resolveram brincar com o jogo do copo. Sabe? Comunicação com os espíritos. Então eles, os três, foram sentar em cima do poço que ficava no quintal de trás da casa, dando para a porta da cozinha onde a tia e a mãe do rapaz faziam alianças, por volta das 10 horas da noite. Eles faziam numa tabua com as letras e os números – tabuleiro de Ouija - uma vez que eles não tinham Internet. De posse de um copo começaram a comunicação. A prima do rapaz, sempre escandalosa, já começou fazendo brincadeiras: gritando: “tem algum espírito aqui?”. - -
Ana
--- Nossa! Ela nem sabia com quem se metia!!! - - arrepiando-se
Racilva
--- Pois é. A meninota fingiu uma possessão. O moço mando a prima parar e levar a coisa a sério porque o que se estava fazendo era algo perigoso. Então, o rapaz começou as perguntas de forma educada, assim: “tem algum espírito aqui que deseja estrar em contato conosco? – E nada. O rapaz continuou a chamar a despeito da garota ter ficado impaciente. Então os cachorros começaram a latir em cima de um barranco, perto de um pé de amoras quando a sua irmã declarou: “lá vem”. A turma ficou assustada e assim, o rapaz indagou novamente: “Pode dar um sinal? Só queremos saber se vocês realmente existem?” Então a mãe do rapaz gritou com força: “Tá pronto!”. Quase que o rapaz e suas parentas tiveram um “treco”. Mas a turma entrou para fazer refeição. - -
Ana gargalhou com terrível história do rapaz. Foi coisa de desmanchar qualquer medo.
Ana
--- Que coisa! - - gargalhou!
Racilva
--- Voce achou interessante? Pois bem. Aí foi que o pesadelo começou. Um certo dia a tia do rapaz voltou à casa da sua irmã trazendo a sua filha e o tio do rapaz. Ela foi fazer uma lasanha à noite. Ele, o rapaz, e sua irmã e a sua prima saíram para brincar no cercado. O tio do rapaz era motorista de caminhão e não tinha carro. Começou seu trabalho em um ônibus alugado para apanhar os outros operários dos sítios. Era uma espécie de uma Van escolar e foi com a família com um ônibus da turma, da família mesmo deixando estacionado na frente da casa da sua cunhada. Então o rapaz resolveu brincar no ônibus com sua irmã e a sobrinha. E lá dentro do carro eles decidiram brincar de “Olhos Famintos”. Eles resolvem, na brincadeira, que dois ficariam dentro do carro e um se passaria pela ‘coisa’, tentando assustar os que já estavam dentro do ônibus. –
Ana
--- Quero ver só no que vai dar. - - sorriu.
Luciana
--- Ô mãe! Pera! - - disse a menina que somente escutava a história.
Racilva sorriu e então continuou.
Racilva
--- Pois bem. Então eles começaram a brincadeira. E quem ficava do lado de fora pulava nas janelas tentando assustar quem estava dentro do carro. O sítio era bem escuro e a luz da ária era muito fraca. Com isso o clima ficava em clima de terror. No entanto as duas meninas sentiram vontade de ir ao banheiro e pediram para o rapaz, ainda muito jovem, esperá-las fora da Van. O garoto ficou sentado na cadeira do motorista olhando para o Céu uma vez que, no sítio, as estrelas ficavam lindas e o Céu, fantástico. Parecia até desenhado. Até que o garoto – (menino de 10 anos) – ouviu um barulho vindo do barracão como se tivesse caído uma enxada. O menino não ligou muito pois pensou que tivesse sido os cachorros que passaram perto e derrubado.
Luciana
--- Ave Maria!!! Quer ver? - - falou a menina, pouco assombrada e com a mão no coração
Racilva
--- Espere. Outra o menino ouviu outra coisa a cair. O menino começou a descer devagar do ônibus a olhar em direção ao barracão, começando a se aproximar, chegando perto da enxada que estava mesmo no chão e chamou por Hole, o cão que estaria por perto, porém ele não apareceu. O garoto começou a sentir falta das duas meninas. Então ele resolveu i para a sua casa, perto do barracão. E quando caminhava em direção a sua casa, a enxada caiu novamente e obrigou o menino olhar para trás. Então, ele viu uma ‘coisa’ negra, mais ou menos do seu tamanho, com um formato humano, porém com um dos olhos, vermelhos. Não dava para ver feição nenhuma. Somente o olho brilhando. Foi tudo o tipo de relance. Uns três segundos. E a coisa saiu, correndo. E o garoto também meteu o pé na bunda. Correu assombrado e direção a sua casa, gritando por sua mãe. O menino, conforme Dona Alzira, entrou super-apavorado e lá dentro, no interior da casa, contando à sua mãe as demais o que havia acontecido. Como o esperado, ninguém acreditou no menino. E a sua prima, que estava lá dentro, também até que tirou sarro da cara o menino dizendo que ele estava tentando assustá-los.
Luciana
--- Que coisa! As garotas nem acreditaram no menino? - - indagou preocupada
Racilva
--- Então? Praticamente as meninas o ignoraram. Algum tempo se passou, a mãe do menino ficou grávida novamente, teve outra filhinha e a família se mudou de casa. O homem, pai do menino, encontrou um emprego melhor, também de caminhoneiro. O menino, já rapaz nunca tirou aquilo de sua memória. Disse dona Alzira que, em uma época, quando o rapaz já estava com os 14 anos o rapaz ficou sozinho, em casa, por uma noite, uma vez que os seus pais tinham ido para a casa da tia do rapaz então ele ficou jogado vídeo game. Era por volta das duas horas da manhã quando o garoto ouviu um barulho do lado de fora da casa, como se uma vassoura tivesse caído. Porém o garoto ignorou o fato e continuou jogando. Aí, novamente o novo barulho. Então ele pensou: “Ah não! De novo, não!”. O garoto se levantou e caminhou em direção à porta que dava para o quintal da casa.
Luciana
--- Ai meu Deus! Uma vassoura outra vez? - - sorriu a mocinha.
Racilva
--- Pois é. Mesmo assim, antes, ele resolveu olhar pela janela e viu, realmente, que era uma vassoura e um rodinho que estava no chão. Ele abriu a porta e foi em direção a eles. Após os levantar do chão e voltar em direção à casa, aconteceu a mesma coisa daquela vez: tornaram a cair. Ele se virou lentamente e viu a “coisa” de novo. Só que era um pouco maior. Praticamente tinha crescido o mesmo que o rapaz. E ainda aquele olho vermelho, cintilado na escuridão. O garoto permaneceu firme e a ‘coisa’ olhou para cima e apontando para algo. Consequentemente o garoto também olhou. Porém a única coisa que rapaz divisou, era a Lua Cheia. Quando o garoto abaixou a cabeça de novo, Ana, a coisa estava bem próxima de mim.
Ana
--- Que loucura! - - falou a mulher
Racilva
--- Mesmo assim a única coisa que dava para ver era o seu olho vermelho brilhante. A coisa atravessou o garoto e sumiu. O garoto sentiu-se mal, se tremendo todo, entrou em sua casa, desligou o seu aparelho de vídeo e se deitou. Uma dor de cabeça lhe acudiu de forma insuportável e a garoto ‘apagou’ de vez. Somente no dia seguinte ele acordou com os seus pais batendo no portão, loucamente, e resolveu não falara nada pois da outra vez ficaram tirando chacota do moço. Agora, já faz anos, ele não segue mais comentar e se sente sempre observado por algo estranho. O olho vermelho sempre o persegue por todos os recantos da vida.

sábado, 13 de outubro de 2018

SEGREDOS DE RACILVA - - 21 - -



A MENINA
Certo dia Racilva caminhava distraída pela rua em direção ao Convento dos Capuchinos, na Igreja do Galo. Ela lavava o chamado “Pão dos Pobres”, uma quantia, para dar de auxílio ao Frades que converteria em comidas para doar aos flagelados, mendigos, doentes. Os pobres mesmo. Lutando para se livrar dos carros, a mulher inda moça fazia o trajeto pela rua em frente a Igreja de Santo Antônio conhecida por Igreja do Galo, uma vez em sua frente o símbolo de um Galo que era mais um para-raios. Na calçada de frente da Igreja ela prestava atenção os mendigos que se sentavam pedindo ajuda a quem passasse por ali. Alguém doava uma prata e outros, não. E assim seguia a vida às 9 horas da manhã de um dia de sábado. Um frade surgiu depressa e sumiu novamente por um largo do Santuário. Ele nem deu intenção a quem podia querer a bênção. Foi rápido. Naquele mesmo instante rompeu do céu um raio de luz. Talvez fosse o cometa ou um meteorito. O objeto caiu a cerca de três quilometros da cidade. As pessoas que viram a bola de fogo cair, ficaram atônitas com o caso.
Mulher
--- Você viu aquilo? - - assustada com a mão sobre o coração.
Racilva
--- Sim. Deve ter sido um cometa. Caiu para o lado da floresta. - - relatou a senhora
Mulher
--- Meu coração está batendo de medo! - - e se benzeu.
No centro da cidade pessoas também viram a bola de fogo. Cada um tinha uma opinião conflitante. E não se chegou há nenhum pormenor. E se dizia então que aquilo era dos americanos querendo fazer guerra. O certo é que alguns ficaram curioso e outros, com medo. Mais tarde um grupo de estudantes de professores saíram até o local aproximado de onde caiu o objeto. Após longa viagem, os estudantes, professores e um grupo da Polícia e do Exército chegaram aproximadamente ao local do incidente. Todos sentiram algo diferente vindo daquele lugar. Um buraco grande coberto com uma luz que se mostrava em meio a uma pequena camada de fumaça.
Oficial
--- Esperem! Não se aproximem! Juntem-se a uma tropa do Exército e da Policia e vamos ao local mais próximo! Atenção. Avante! - - gritou o Oficial.
E a tropa saiu com bastante cuidado para o local fumegante. O Oficial à frente, dois professores e logo a seguir a tropa avançada do Exército e da Polícia de Choque. Os estudantes ficaram para trás em uma parte do caminho arenoso e baixo. Os militares, mesmo com temor, observaram de longe por longo espaço de tempo. Então, os mais corajosos chegaram a alguns metros quando viram algo impressionante.
Oficial
--- Cuidado! Tem algo alí! Olhem a cratera! O corpo de uma criança! Parece! - - falou o oficial.
Professor
--- Sim! De fato! Estou vendo! - - falou o professor com certa prudência
Oficial
--- É uma menina de cinco anos de idade! Dá para ver daqui, com a lanterna! - - com cuidado falou.
Professor
--- Ela está deitada de bruços no buraco! - - assustado
O Oficial mandou uma turma do Exército pegar a infante e levar para o Quartel Militar. A criança permanecia quieta entre olhares dos militares. Ela mantinha sinais de vida apesar de ter caído do céu. Os médicos militares cuidaram de ver a menina e identificar de onde ela teria vindo. Só podia ser do espaço.
Medico
--- Preocupante! É uma menina, sem dúvidas! - - falou o médico
Professor
--- Caída do espaço? - - indagou com assombro.
Medico
--- Sem sombra de dúvidas! E está adormecida, agora! - - falou o médico oficial
E os estudantes passaram o restante do dia e começo da manha no Hospital do Quartel. Era um vai e vem de gente, fotógrafos, repórteres. Todos buscavam informações sobre a menina caída do céu. Um oficial chegou logo cedo da manhã e respondeu as questões. Logo depois daria melhores informações. E agradeceu a todos.
Passada dois dias a criança se adaptou ao Quartel. Mas sabia falar nenhum idioma conhecido. Suas palavras eram ruídas. Apenas algumas vibrações. Todos no Quartel a observavam dia e noite. Davam-lhe alimentos os mais diversos. Caldos, sopas. Chocolates entre os demais. Os olhos escuros da menina davam vontade de querer saber de onde ela viera. Com perguntas e sem respostas. O seu rosto era imperturbável. Permanecia sempre no mais profundo silêncio.
Médica
--- Ela comeu toda a sopa. - - disse a médica militar, uma das assistências da menina.
Doutor
--- Isso é bom. Ela está se recuperando. Acontece que não fala nenhuma língua de nosso idioma. –
Médica
--- É bom esperar. Hoje, a menina tomou banho. Não fez questão. - - falou, observado a garota.
O ruge-ruge de repórteres era o que mais sufocava a classe médica. Em determinada ocasião, chegou ao Hospital Militar a senhora Racilva a mando de uma autoridade do Estado Maior. A senhora foi até ao Quartel e apresentou seus documentos e assim pode ser recebida pelo Comando Militar da capital. Daí para o quarto do Hospital, foi um pulo. Antes do seu casamento, Racilva fez um curso de enfermeira na Base Aérea. Houve muitos aplausos por conta do seu mérito. Pensava a senhora em se dedicar ao cargo de enfermagem. Mas veio a morte do seu marido, e ela desistiu. Então, apenas depois desse tempo, Racilva resolveu recomeçar essa função. E assim que foi ver a menina misteriosa. Após conversas duradoras com os médicos militares, Racilva seguiu em frente à visitar a quieta menina que veio caída das estrelas.
Após cumprimentar a menina, e essa sem entender coisa alguma, respondeu mostrando o seu riso alegre e falando em um sotaque bastante diferente. A senhora Racilva não entendeu coisa alguma. Era uma fala semelhante à de um gato ou um pássaro. O quarto onde a menina estava abria-se de par em par com toda iluminação solar penetrando. Racilva então falou por sinais. Aquela criança podia ser de uma pessoa adulta. E foi assim o monólogo entre a mulher e a criança. Simples, porém de alta qualidade. E o tempo se passou. Certa vez, dias depois, um grupo de militares em companhia da menina e de Racilva saiu pelo quintal do hospital a procura de algo qualquer. Após longos momentos se toparam com um bando de andorinhas. Um dos militares acertou em cheio com um tiro em uma ave daquelas. A menina se assombrou com tanta arrogância e correu para pegar a andorinha. Com bastante cuidado, ele soprou na ave e viu, por um momento, o passarinho se recuperar e voar em busca do resto do bando.
Militar
--- A senhora viu isso? O pássaro morto ressuscitar de repente? - - falou alarmado
Racilva
--- Vi bem. Menina, como você isso? A ave estava morta e voltou a viver! Como foi que você fez? –
A menina abriu a mão e mostrou uma bala da arma que ela tirou e depois soltou o pássaro. Então, todos os que estavam ali ficaram de boca aberta. E buscaram caminho de volta. A menina foi levada para o seu cómodo acompanhada da enfermeira Racilva que passou a conversar com a garota, procurado entender o que a menina fez a ressuscitação do pássaro abatido por um soldado. A menina nada parecia entender. Tudo o que fazia era um sibilar do queria dizer. Racilva prosseguiu com a conversa dias e mais dias, sem progresso. Certa manhã, quando estava a observar o campo, a menina, com surpresa, mostrou os pássaros a voar por uma parte do terreno. Fez de forma que despertou surpresa a Racilva.
Menina
--- Pássaros! - - disse a menina apontando para o céu
Racilva
--- Menina! Você falou? Aleluia! Pássaros! O que sabe mais? Diga, por favor! - - pulou contente batendo palmas
Menina
--- Pássaros! - - falou a menina cheia de graça.
O médico que estava ao largo, se virou para ouvir aquela palavra dita de forma tao sugestiva. Se ajoelhou aos pés da menina pedido que ela contasse outra vez. A menina sorriu, encabulada. E nada mais falou. Racilva, vibrando, pediu ao Médico seu favor de deixar a menina passear pelo campo para mostrar as coisas alí existentes, como matas, lagos, selvas, morros dentre outras novidades. O médico consentiu e a menina saiu para rever as matas. Assim, sucedeu por dias afim. A menina alegre. A enfermeira contente. Sempre juntas. Certa vez, ao passar por um setor do Hospital, Racilva olhou para dentro de uma sala onde havia mulheres, algumas com a barriga imensa e outra, nada podia fazer. Era uma senhora casada e vinha saindo com o seu marido, um cabo do Quartel. A mulher chorando porque os exames deram negativos. O marido dizia.
Cabo
--- Acalme-se. No próximo nós voltaremos. - - e lhe batia nos ombros.
Nesse momento, a menina passou perto da mulher e viu a angustia estampada em sua face. Nesse instante a menina parou na frente a mulher e apontou o dedo para a barriga da esposa do cabo. Fez isso e nada mais. E Racilva indagou da menina.
Racilva
--- Que fizestes? - - admirada.
A menina disse por gestos que a mulher estava infértil até aquela hora. Porém, daquele momento em diante a mulher teria um bebé de muito boa qualidade. Racilva calculou o que disse a menina e nada mais quis saber. A parturiente, com um mês depois, foi examinada e aprovada a gravidez. Com nove meses teve um filho como falou a menina.
Alguns anos se passaram. Embora a menina sem brincar de bola ou boneca, foi se desenvolvendo, já em casa de sua mãe adotiva, dona Racilva, dividindo o amor com Junior, seu pai e sua mãe, estava granjeando a conversar com os animais e lhe dar ordens. Nos locais onde a menina passava nasciam flores nunca vistas. Certa noite a menina saiu de casa sem ninguém perceber e se voltou a um canto sombrio onde uma esfera de luz veio lhe buscar para um lugar nunca sabido por alguém. Apenas Racilva viu a garota sumir tão de repente. Em questão de segundos a esfera subiu para nunca mais voltar. A garotinha subiu ao céu para sempre. Racilva então chorou lágrimas sentidas.
Racilva
--- Tarde demais. A menina foi de vez. Nunca mais há de voltar, com certeza! - - falou chorando a bela senhora.
Em prantos a mulher verteu lágrimas para todo o sempre. A menina seria o seu relicário para sempre. Ao chegar em casa, apenas chorando, Racilva caiu na cama. Ninguém notara chorar tão forte assim. No dia seguinte, a sua mãe procurou pela garota e não a encontrou onde devia estar. Entrou no quarto de Racilva e nada encontrou. Então, a dona Cora indagou de olhos bem abertos.
Cora
--- Onde está a criança? - - foi tudo quando disse.

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

SEGREDOS DE RACILVA - - 20 - -



O CORPO
Eram mais de 7 e meia horas da noite e chegava na casa de Racilva a doce moça Kátia, mulher linda e contente, como quer. Braços estendidos para o alto, abertos em forma de ípsilon (Y), em uma das mãos, um livro. Era toda sorrisos. Extasiante até demais. Sua face era de galhofas amplas para que todos a vissem com seu livro novo/velho à mão. Ela não precisava nem falar. Queria que todos a observassem de contente que estava. Trajes simples, no peito, uma rosa. O restante do vestido era branco lilás amarrado na cintura com uma fita de cor vermelho. Doce alegria. Por fim, Kátia mostrou o seu delicado presente: O Homem que Ri, de Victor Hugo. Era um livro já bastante velho, do século 18, contando a história de um homem bastante falador, oferecendo ervas medicinais em sua carroça, fazendo seu teatro de uma pobre vida errante. Na verdade, o livro tece uma crítica social à nobreza da Inglaterra ou do mundo.
Kátia
--- Olha! Já viu? Victor Hugo. O Homem que Ri. Maravilhoso! - - disse a moça a sorrir e entregando o livro a Racilva.
Racilva
--- Que maravilha! Eu nunca li esse! Veja, meu pai! - - e passou o livro para o velho Muniz.
Muniz
--- Eu o tenho. Da vasta produção literária do francês Victor Hugo, são muitas as obras que perduraram para sempre como clássicos mundiais, como é o caso deste O Homem que Ri, romance de 1869, há muito aguardado por leitores brasileiros. Nome luminoso do romantismo francês, Victor Hugo evidencia na obra os paradoxos que conferem a seus personagens sua mais verossímil humanidade: a violência e a ternura, o horror e o sublime, a humilhação e a dignidade, em meio ao tradicional cenário social que opõe a aristocracia opressora e a plebe oprimida, só que desta vez ambientado na Inglaterra dos séculos 17 e 18. - - declarou.
Racilva
--- Quem diria. Ele tem e eu não. Se me perguntasse, então saberia.
Muniz
--- É um livro ambicioso por que gosta de ler. O “Homem que Ri” é como passará a ser chamado o personagem Gwynplaine. Por ser filho de um inimigo político do rei, ele fora entregue ainda pequeno aos comprachicos, uma trupe de facínoras que faziam do crime uma indústria, ao deformar crianças para explorá-las em atrações de bizarrices. Abandonado depois pelos próprios comprachicos, Gwynplaine se vê vagando sozinho pelo mundo até deparar-se com Dea, uma criança órfã e cega. - - explicou.
Racilva
--- Tá bom. Já basta. Se não a mocinha não vai ler. Interessante. - - e folheou o tomo como se quisesse também ter um daqueles. Pegou de volta e o entregou a Kátia.
Kátia
--- E o seu? - - quis saber.
Racilva
--- Estou no início. Meu pai tem me ajudado. Enfim, eu vou levando. Veja! - - disse.
Kátia
--- Não. Não. Eu prefiro ler depois. – sorriu amplo
Muniz
--- Esse “romance” é um apêndice do que foi o Opus Dei. No seu início, houve a guerra. E a Espanha mergulhou em profunda depressão. Lutas entre cristãos e comunistas. Brutais perseguições religiosas. Igrejas foram incendiadas. Clérigos, chacinados. Pessoas pisavam sem querer em cadáveres no meio da rua. Quatro mil padres foram assassinados. Dezenas de Bispos, centenas de Freiras às vezes alinhadas em um paredão e fuziladas pelos Comunistas. Um horror macabro. Forçado a clandestinidade, José Maria viveu como refugiado em meio ao terror e sempre em fuga. Ele se abrigou em sótão e fez se passar por paciente em um asilo por cinco meses. Em março de 1939 os nacionalistas emergiram vitoriosos. - - explicou
Kátia
--- Nossa!!! Que horror!!! - - empalideceu a jovem moça.
Racilva
--- Para você vê. Era um estado de guerra sem fronteiras. Meu pai é quem diz! - - alertou Racilva
Kátia
--- E ninguém sabia de nada? - - assustada.
Muniz
--- Franco assumiu o poder como Ditador e governou a Espanha, brutalmente, por 36 anos. As pessoas haviam pago com sangue por sua fidelidade à Igreja. São José Maria e a Opus Dei já foram acusados de apoiar o regime fascista, repressor de Franco. Porém o Opus Dei manteve fora da política. No dia em que a guerra acabou José Maria contemplou as ruinas da Academia DYA. Mas ele nunca olhou para as ruínas causadas contra o Opus Dei. Por fim sem mais nem menos ele morreu aos 73 anos em 1975. – disse o pai de Racilva
Racilva
--- E a história acabou. Isso é o fim! - - falou sem entusiasmo
Kátia
--- Um homem, um padre, uma história de vida! - - falou em murmúrio
Muniz
--- Sim. Uma história de vida. Hoje, no subsolo da capela de Nossa Senhora da Paz, jazem os restos mortais de San Maria Escrivar. A Prelazia do Opus Dei fica em Roma. Porém, em todos os países temos também a presença da organização. –
Kátia
--- O que é uma prelazia? - - indagou
Muniz
--- Prelazia é uma parte da Igreja Católica. O Prelado é a sua cabeça. Sacerdote é um prelado escolhido. A Prelazia pode se dar por diversos motivos. A Prelazia do Opus Dei pode ocorrer de uma realidade eclesial. É um dom de Deus para a Igreja. Isto é a Prelazia. Esse negócio de negação corporal, com espancamento, pode ser feito por algum adepto. Mas, não comum. No tempo antigo era uma disciplina espiritual na Igreja Católica. Hoje é praticada por muita gente, os frades, fora da Igreja e a Opus Dei. Madre Tereza usava um pequeno chicote, como é o caso. Uma espécie de sacrifício corporal. Um modo de partilhar os sacrifícios de Cristo na Cruz.
Kátia
--- Cruzes! Não quero nem levar uma lamborada de minha mãe!! Nossa!! - - declarou a moça, constrangida.
Muniz
--- É penitencia, filha. Penitência. Flagelação. Pode ser jejum, banho frio ou dormir no chão ou sobre tábua sem travesseiro. Os mendigos fazem isso cotidianamente. E não são gente pobres. Eles dormem ao relento, em baixo de um cobertor ou sem cobertor. Eles dormem feito um cão. Dê um passeio à noite pela cidade e verás como dormem os mendigos. São vários. Comem o que lhe dão. Até mesmo na Igreja de Santo Antônio. Passe lá e veja de perto. Vá lá! - - declarou o homem
Kátia
--- Eu nunca ouvi falar nessa questão, aqui em Natal. Aqui mesmo? Coitados!!! - - declarou mortificada
Muniz
--- Pois é, filha. É assim mesmo! Eles nem precisam serem presos. Deitam-se no chão e dormem ali mesmo. No dia seguinte se levantam e procuram alimentos nas latas de lixo. No forno do lixo tem família a comer o que não presta mais para os patrões. Ninguém fala nisso. Mas eles estão lá, dia e noite. E não são nem mendigos. São um povo esquecido. Um pária social.
Kátia
--- Deus meu! - -as lágrimas lhes desceram a face


terça-feira, 9 de outubro de 2018

AMORES DE RACILVA - - 19 - -


OPUS DEI
Em um fim de semana, na Praça André de Albuquerque, havia uma Galeria de Arte erguida pelo Governo onde os expoentes da cultura organizavam os seus livros, revistas e almanaques para vender ou trocar por preços baixos. Tinha de tudo que nem se imaginava na Galeria e ao seu redor. À tarde do sábado o movimento era mais intenso. Rapazes com seus livros debaixo do braço ou mesmo procurando saber que assunto era o tal para poder comprar ou não. A quentura do tempo amainava já por volta das 4 e meia com o Sol a cair lentamente no horizonte. Em tanto movimento estava no local a moça Racilva, dessa vez sem ter o seu filho amado. Eram tantas pessoas que se confundia uns com as outras. Após longa busca a jovem moça foi até uma banca onde um rapaz expunha seus livros, entre tantos, tinha um que mostrava o título “Opus Dei”. Racilva passou a vista no conteúdo, pagou e o levou sem perguntar mais nada.
Ainda a caminhar bem vagarosa, ao ler o que estava escrito no livro, Racilva, distraída com os carros, burros e pedintes, era uma vez de apenas ler quando o Sol caía no longo ocaso. Gente a caminhar quase que depressa e Racilva nem dava conta. Para a moça, o que importava estava ali perto do seu pulsar: o Opus Dei. Livro bastante novo para quem não queria saber de nada. Ela então descobria da existência de um poderoso grupo na Igreja Católica fazendo o trabalho de Deus e chamado Opus Dei. Para alguns, o grupo era retratado como vilão, um secreto grupo dito como seita. Rituais de autoflagelação lhe foram impostos. Qual seria a verdade sobre o Opus Dei?
Racilva
--- Caramba! Flagelação? E pode? - - indagou inquieta.
Tudo começou em 1928 com uma inspiração por parte de um devoto padre espanhol. Seguindo o chamado de Deus o padre José Maria Escrivar formou um novo movimento católico ao qual mais tarde, chamaria de Opus Dei ou Obra de Deus. Logo depois livros por inquietos autores foram publicados misturando arte e cristianismo, história e assassinatos. Foram inventados cultos nas obras de arte do grande mestre italiano Leonardo Da Vinci a um código que revela segredos poderosos. Na ficção, Maria Madalena teria dado à luz um filho de Jesus Cristo, segredo que por séculos a Igreja teria ocultado. Nessa mistura e fato de ficção está o modo como os romances retratam o Opus Dei: uma associação global às lideranças do grupo.
Racilva caminhou sem pressa entre gente de toda a sorte. Uns pedintes e uns ricaços. De repente, a mulher viu-se a topos com alguém conhecida. Kátia, o seu nome. A moça, de repente indagou a Racilva de onde ela estava a voltar. Recobrando-se do susto, ela respondeu.
Racilva
--- Ave! Que susto! Ah! Da feira de livros, na praça André de Albuquerque. Mas que susto me fizestes! - - disse a à jovem a tremer de medo.
Kátia
--- Desculpe-me. Foi sem querer. Livros? - - indagou-lhe
Racilva
--- Muitos. Eu peguei apenas um. Esse. Veja! - - e passou a brochura.
Kátia leu por um instante e logo perguntou.
Kátia
--- Tem mais de um? - - indagou apreensiva
Racilva
--- Não sei. Eu agarrei esse e passei em outras bancas. Nada avistei. Eu creio que não tem mais.
Kátia
--- Que pena! Eu vou lá. Depois eu passo em tua casa! - - decidiu
Racilva
--- Va lá. Eu vou para a minha choupana ler o restante do livro. - - sorriu e pegou o livro de volta
Em seguida, houve a despedida. Uma para um lado e outra para outro. Na sequência, Racilva continuou o seu labor. E continuou a leitura. E lendo amealhou o código do ritual dramático da mortificação corporal. E soube divisar mais de um bilhão de católicos e ordens religiosas como os jesuítas, os dominicanos e organizações leigas como os Cavaleiros de Colombos e o Opus Dei. A mensagem espiritual do Opus Dei é que podemos encontrar Deus no trabalho ou no dia-a-dia. O Opus Dei tem em mais de 60 países, composto em sua maioria de leigos, médicos, bombeiros, fazendeiros, vendedores. Alguns, casados. Outros, celibatários.
Ao chegar em sua casa a jovem mulher guardou o livro na estante se antes mostrar a seu velho pai, Muniz. Ele observou bem o livro para em seguida dizer ter visto outros compêndios da mesma estirpe. Em seguida, Muniz perguntou onde tinha encontrado o Opus Dei e Racilva respondeu que estava a venda em uma feira de sebos.
Muniz
--- Desses livros tem vários. Eu mesmo os tenho guardado na estante. O Opus é de um padre José Maria Escrivar.
Racilva
--- Esse é de um padre. Escrivar eu não sei. Deixa-me ver. - - e buscou na estante o novo e velho livro e o seu dono. Viu então José Maria Escrivar.
Muniz
--- Então? - - indagou.
Racilva
--- Justo. Um padre espanhol. Foi ele o criador da Obra de Deus. - - sorriu.
Muniz
--- Os católicos profundamente piedosos seguem uma rigorosa rotina diária de Missa, oração e formação espiritual. Alguns chegaram a acusar o Opus Dei de uma seita secreta e clandestina. Dizem eles que o Opus possui fortunas fabulosas e que controla o Vaticano.
Após a ceia do inicio da noite, a jovem moça Racilva junta com o seu filho amado, o Junior, foi se sentar na sala onde tinha um piano e por lá ficou, totalmente preguiçosa, ninando o garoto e pôs a ler a continuação do Opus Dei. O menino se estirou no sofá com a cabeça encostada aos peitos de sua mãe e ali mesmo adormeceu. A sua mãe lhe coçava a cabeça vagarosamente. A continuar Racilva seguiu a leitura. Em um nicho externo da Basílica de São Pedro uma estátua de mármore de cinco metros do fundador do Opus Dei, São Maria Escrivar foi inaugurada e abençoada pelo Papa. O prelado do Opus Dei e seu Vigário Geral em todo o mundo é o bispo espanhol Dom Xavier Enchevaria, membro desde 1948, além de amigos e secretário particular de San José Maria.
Nesse momento, chegou à sala o seu pai, o velho Muniz. Ele observou a filha e esperou uma resposta. Como não veio nada, apenas um sorriso apagado da jovem moça, Muniz não se fez de rogado e foi de imediato a perguntar.
Muniz
--- E a questão do padre José Maria? - - indagou
Racilva
--- Hum? O padre? Ele foi canonizado com honras e glorias! - - sorriu
Muniz
--- Muito bem. O homem agora é Santo. Personagem de grande magnetismo São José Maria e a história do Opus Dei são inseparáveis. A Espanha, país de mais de 40 milhões de pessoas. Noventa por cento das quais, católicas. Em 1902, José Maria Escrivar nasceu em uma piedosa família católica. Nas adolescência Escrivar entrou para o Seminário. E aos 23 anos foi ordenado padre. O fato culminante da vida do jovem padre ocorreu em 02 de outubro de 1928. Durante um retiro em Madri ele ouviu o badalar dos sinos e foi agraciado com uma visão.
Racilva
--- Visão? - - inquietou-se
Muniz
--- Sim! Visão! Ele acreditou ser uma intervenção divina. Essa visão se tornaria o Opus Dei. Em 1933, José Maria criou o primeiro centro do Opus Dei em um pequeno apartamento em Madri. Enquanto José Maria lutava para manter seu pequeno grupo, a Espanha mergulhava do caos. Disputas políticas, econômicas e culturais dividiam os espanhóis. A perturbação degenerou em guerra civil. Os nacionalistas – conservadores e católicos em sua maioria – liderados pelo generalíssimo Francisco Franco rebelaram-se contra os republicanos comunistas, cortando a Espanha em duas metades.
Racilva
--- Ufa!!! Foi guerra e tanto! Imagino! - - tremeu de medo
Muniz
--- Muito medo, sim! - - sorriu

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

AMORES DE RACILVA - - 18 - -


SANTO GRAAL
Dias passaram. Certa vez, Kátia vinha à residência de Racilva, bastante animada com um livro antigo em baixo do braço com se estivesse guardado de olhares maldosos. Ela andava quase que depressa para chegar a um bom tempo. Pessoas na rua passavam com pressa ou devagar. Algumas observavam as vitrines a ficar de boca aberta ou comendo pipocas. Um homem passou rápido oferecendo limonada aos demais transeuntes. Era assim, na velha rua. Ao chegar na casa de Racilva, de imediato, Kátia, muito alegre, bateu à porta e adentrou. Topou-se com Racilva e foi logo dizendo.
Kátia
--- Olha o que achei! Um livro antigo. Veja! - - falou séria.
Racilva o recebeu e em seguida perguntou.
Racilva
--- Onde encontras-te? - - curiosa
Kátia
--- Num sebo, na cidade. - - sorriu
Racilva
--- Bom! Muito bom! O Santo Graal. Sabe o que significa? - - indagou
Kátia
--- Sim. A Relíquia mais sagrada do cristianismo: o cálice utilizado por Jesus durante a Ceia com seus discípulos. Mas a questão é que o Santo Graal foi apanhado quando Jesus foi crucificado. –
Racilva
--- Sabidinha, heim? - - sorriu e o olhar atento à face de Kátia.
Kátia
--- Sim. É verdade. Mas, não se tem um momento de Jesus. Ninguém viu o rosto que ele teve naquela ocasião. –
Racilva
--- Veja bem. A história mais antiga sobre o Graal ou Cálice era um poema. Os guerreiros saíam em busca de um recipiente mágico, um caldeirão. E o recipiente trazido também era cristão já naquele tempo.
Kátia
--- Sim. Eu sei agora! Mas os homens acreditavam no Reino dos Mortos. –
Racilva
--- Verdade. Nessa viagem, o Rei Artur acreditava ter alcançado a passagem secreta e então conseguiu resgatar o recipiente mágico. Ele era o Rei dos Celtas que chegaram à Europa. Os Celtas trouxeram armas invencíveis, como a espada mágica. Os Celtas acreditavam que a natureza era divina. Havia mulheres nos Exércitos Celtas. Combativas, sem temor. Era assim os Celtas. Eles decapitavam os guerreiros porque acreditava que sem a cabeça os guerreiros não poderiam renascer. Era um ritual bárbaro e com ele o Santo Graal. O Cálice Sagrado. –
Kátia
--- Imagino! - - e estremeceu de frio.
Racilva
--- Essa foi mais uma pista para a história do Graal. Depois da quedados Celtas, a noção de recipientes mágicos sobreviveu. E assim nasceram as primeiras histórias sobre o Santo Graal. É tanto que os cristãos na comunhão celebram a última ceia quando Jesus celebra o Cálice com vinho simbolizando o seu sangue. Mas há pontos mais sublimes dessa história. E um deles envolve o Santo Graal. –
Kátia
--- Vale a pena ouvir. Conte-me, por favor! - - disse a mulher bastante curiosa.
Racilva
--- Segundo a lenda, o centurião romano Longuino lacerou o corpo de Jesus crucificado com sua lança. E José de Arimateia, um comerciante distinto e parente de Jesus recolheu o sangue do Cristo em um cálice usado na Santa Ceia. E esse cálice deve ser o Santo Graal. Jesus foi levado para o túmulo da família de José de Arimateia. Segundo a tradição, José de Arimateia guardou o cálice. Mas por essa atitude ele foi perseguido, capturado e mandado para a prisão. Depois de solto, ele, José, abandonou sua terra natal e seguindo uma antiga rota de comércio através do Mediterrâneo ele viajou até o sul da França. E se estabeleceu no local juntos com Jesus que sobreviveu à Cruz, Maria Madalena e alguns discípulos. - -
Kátia
--- Que vitória a de Jesus! - - disse alegre
Racilva
--- Pois bem! Ninguém sabe onde o Santo Graal ficou guardado assim que chegou a Europa. Uma das mais antigas de José, possivelmente acompanhado do próprio Jesus Cristo, visitou Grã-Bretanha e levou o Cálice consigo. José viajou até o sul da Inglaterra, a um lugar que hoje se chama Destanburry. E foi ali que ele passou o resto dos seus dias, fundando a primeira Igreja católica em solo britânico, um local de um antigo Mosteiro Beneditino e certamente um dos mais sagrado do país, talvez abrigado durante uma época o próprio Santo Graal. –
Kátia
--- Isso é incrível. Conte mais! - -
Racilva
--- Bem. A partir deste ponto o Santo Graal tornou-se intimamente ligado a lenda do Rei Artur e seus cavaleiros. Conta-se que em uma batalha o Rei Artur combateu todos os invasores romanos que entravam no país pela Muralha do Adriano. E seguiu-se alguns anos de paz e estabilidade. Num estreito braço de terra ao norte da Cornuália está localizado o Castelo de Tintagel. As muralhas das ruínas datam de uma época mais recente. Mas as fundações são do tempo do Rei Artur. Acredita-se que o Rei nasceu ali no ano 470 depois de Cristo. Em baixo do Castelo existe uma gruta conhecida como Caverna de Merlin, batizada com o nome do lendário feiticeiro que foi tutor do jovem Artur. –
Kátia
--- E o Rei teve um tutor feiticeiro? - - indagou perplexa.
Racilva
--- Sim. Conta a lenda. Mas havia duas religiões: a antiga, pagã. E a nova: cristã. A transição entre a antiga e a nova religião foi um processo gradual. No mito do Santo Graal, elementos pagãos e celta se misturam aos cristãos. A história de Excalibur, a Espada Mágica, é celta. Segundo a lenda, Excalibur podia derrotar qualquer inimigo. Aquele que conseguisse retirar Excalibur para fora de uma pedra se tornaria governante da Grã-Bretanha. Camalote, o lendário Castelo do Rei Artur foi o local onde a busca do Santo Graal começou. Mas os segredos sobre Camalote e Avalon encontra—se em seu próprio nome: significa local das maçãs. –
Kátia
--- Surge esse nome, Avalon? - - indagou
Racilva
--- Sim. Avalon, terra das maçãs. É o seu significado. A Inglaterra é um país em que se cultiva maçãs. No século 13 os Monges de Glastonbury descobriram uma tabuleta sobre um túmulo que dizia: aqui jaz Artur. Mais de 500 anos após de Artur, a Corte Inglesa começou a escrever sobre o Santo Graal. Estamos entrando em um mundo puramente mítico, o lendário mundo da Távola Redonda. A Távola Redonda era uma assembleia de cavaleiros respeitáveis que dedicaram sua vida à busca de Santo Graal. –
Kátia
---E assim a vida de busca prosseguia. –
Racilva
--- Prosseguia sim. Artur prosseguiu o seu destino a exemplo de Jesus Cristo, seguindo por seus fiéis adeptos. Como primeiro cavaleiro, Artur comandou seus cavaleiros na busca pelo Santo Graal. E nesse tempo, a Terra Santa, a Palestina, caiu no poder dos seus invasores mulçumanos. Os Templários tiveram de retornar ao Reino antigo com sua fé abalada. Desiludido o Rei jamais encontrou o Santo Graal. Em um relato, o Santo Graal passou trezentos anos na Itália. O Monge São Lourenço foi o defensor do Graal. Ele o protegeu contra roubos e destruições durante o tempo de turbulência.
Kátia
--- Que história!!! - - falou a moça inquieta.
Racilva sorriu.

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

AMORES DE RACILVA - - 17 - -



O PADRE
O padre Ambrósio, pároco daquela aldeia, foi adentrando ao interior da casa e dá seu bom dia as duas senhoras ou moças que o estavam esperando há pouco instante. O menino, escapou para dentro da casa sem levar surra. Foi se esconder em um quarto escuro temendo ainda por suas palmadas nas nádegas que nunca as levava. Apenas, ameaças. E no quarto escuro, Junior estava guardado do espancar por sua “tirana” mãe. A dona da casa, chamada Thelma, foi logo a chamar o padre a beber um cálice de vinho e comer um assado, coisas comuns acompanhadas de um sermão logo cedo do dia.
Padre
--- Ora vivas! Quem me dera comer um assado manhã logo cedo. - - falou o padre balançando as mãos com a esquentar o fogo.
Thelma
--- Temos peixe e galinhas. Quais prefere o senhor? - - indagou.
Padre
--- Lagosta, tem? - - balançando a pança
Thelma
--- Sim. Temos. Vai de lagosta. E o vinho? - - alegre
Padre
--- Bordeaux, de preferência. - - disse o padre com a sua barriga imensa
E foi assim, a comer, a balançar a barriga, a se apoiar na mesa e nem limpar suas vestes, uma batina negra, uma tiara posta no chapéu e nada mais. Fazia apenas um só “hum”, “hum”. Como apreciar o gosto da lagosta, balançando a cabeça para um lado e para outro. O menino Junior, reapareceu como de surpresa e foi se agarrar a própria mãe. Essa, o beijou com delicadeza na sua testa e nada mais indagou.
O sol já estava quase a pino e as pessoas já de calção ou biquíni percorriam excitadas pela calçada, indo à procura da praia do Meio. O menino que pisou na caravela, já tinha sido levado para o hospital. Suas vestes, todas plenas encharcadas. O menino gritava de dor. Uma tristeza atroz a acudir a criança naquela manhã de quente sol. A criança foi levada para um quarto de hospital a injetar soro na veia e a perder seus sentidos em poucos minutos. Era a queimadura mortal para o imberbe garoto. Enfim, a criança veio a óbito por queimaduras letais. As caravelas são animais marinhos e tem um corpo gelatinoso, de cor roxo-azulada, com uma parte semelhante a uma bexiga visível acima da linha da água.
A continuar o almoço, Racilva achou de perguntar ao sacerdote se ele tinha algo de informar sobre a vida de Jesus. O padre Ambrósio, inquieto com suas lagostas já degustadas, apenas arrotou como um instrumento de som abafado, e visualizou a senhora com os olhos abaixados antes de responder o que lhe fôra indagado.
Padre
--- Jesus? É o filho de Deus! Não sabia? - - indagou
Racilva
--- Disso eu sei. Da terra, como Ele trabalhava, ajudava ao seu pai, cresceu e falou com os Juízes. Eu sei bem. Eu pergunto: o que foi o seu tempo? - - indagou.
Padre
--- Sabe-se que Jesus passou sua infância em meio aos camponeses, em uma terra seca e, ao mesmo tempo rica e fértil, com criação de carneiros de bodes e cabras. Era isso então? - -quis saber.
Racilva
--- Em parte. Continue! –
Padre
--- Muitas vezes o que se conta é que o que Jesus nasceu, cresceu, caminhou e pregou nessa terra e ainda podemos sentir a sua presença. Jesus passou a sua vida nas cidades e vilarejos do interior em meio aos camponeses. Ele era um judeu entre os Judeus. Jesus teve uma vida breve. Mais de 30 anos. Mas, foi uma vida plena de sentido que ainda hoje ela é a referência e medimos o próprio tempo.
Racilva
--- É verdade. Mas, no Japão, China, Índia e outros países não se tem esse Jesus porque lá o tempo tem outro sentido.
Padre
--- Verdade. Mas sua vida tem sido inspiração com pintores, escultores, artistas e cineastas de todas as épocas e de todas as partes do mundo. As diversas características por eles atribuídas a Jesus são fictícias e o tratam pelo prisma de sua própria época e de sua própria cultura. Nenhum deles nunca soube como Jesus se parecia. Sua altura, o desenho de sua silhueta a caminhar pelas estradas sujas pelas ruas empoeiradas da Galileia.
Racilva
--- Detalhes. Detalhes. Mas ninguém viu Jesus. Um desenhista, pelo menos. Sua crucificação não teve efeito nenhum para os artistas.
Padre
--- É verdade. Naquele tempo não tinha pintores. Um artista de fazer Jesus de um rosto gentil ou alegre. Ninguém, na sua época, desenhou ou esculpiu a sua imagem. Era proibida pela lei judaica. Nem uma única palavra foi escrita por Jesus durante o tempo que Ele viveu. Também o povo era um de segunda ou terceira ordem.
Racilva
--- Incrível! Como pode uma coisa dessas? - - imaginou
Padre
--- Então. Quase tudo o que sabemos sobre a sua vida deve-se a inspiração de quatro homens que escreveram sobre Ele muito tempo depois da sua morte. Esses homens foram: Mateus, Marcos, Lucas e, finalmente, João. Eles escreveram em grego, embora Jesus falasse aramaico, a língua do seu povo. Um deles conta a história, embora diferente do outro. Contudo essa história simples, mas vívida, contêm o épico mais influente de todos os tempos.
Racilva
--- E o que diziam do mundo? - - quis saber
Padre
--- Ah. Em baixo do seu solo muito há de ser desvendado. Em recente tempo o homem fez uma escavação próxima a Jerusalêm onde se descobriu um vilarejo agrícola. As escavações de pesquisa e fragmentos de cerâmica, pisos e metal procuram decifrar que tipo de vilarejo era este e compreender que tipo de povo habitava aqui no tempo em que Jesus caminhava por estas terras. Muitas outras provas são transmitidas por pessoas que vive nessas terras atualmente e ainda observam os mesmos costumes antigos. –
Racilva
--- Caso raro! - - falou a moça.
Padre
--- Caso raro mesmo. Mas nas suas vidas podemos ver as sombras do passado refletidas no presente. Muito já se sabe hoje em dia e desse conhecimento dessa terra e das pessoas que nela habitam podemos obter novas percepções. E, talvez, uma melhor compreensão de Jesus em sua terra.
Racilva
--- E a Palestina? - - perguntou
Padre
--- A Palestina era um corredor estratégico, embora fosse uma região pequena. Todos os povos que construíram o império, dominaram essa terra. Assírios, Babilônios, Persas, Alexandre, o Grande, o Egito e a Síria. Por mais de mil anos a terra prometida ao povo de Israel agora estava sob o domínio do Império romano. A arrecadação de impostos erra terrível. Quando em Belém Jesus nasceu, ele era da casa de Davi. A viagem de cinco dias do vilarejo de Nazaré não deve ter sido confortável para José e Maria. E foi aí que Jesus nasceu em um casebre. Uma manjedoura. Tabuleiro que se deposita comida para as vacas, cavalos, carneiros. Um estábulo mesmo.
Racilva
--- Eu imagino uma outra coisa. Nome bonito memo. Mas agora. . . .
Padre
--- Pois é. Um local imprestável para o povo. Só bichos comem no tabuleiro. Como era um censo, não tinha mais lugar disponível em canto algum. E José se ocupou daquele canto remoto. Não por querer. Porque não havia mais lugar em Belém.