quarta-feira, 3 de outubro de 2018

AMORES DE RACILVA - - 17 - -



O PADRE
O padre Ambrósio, pároco daquela aldeia, foi adentrando ao interior da casa e dá seu bom dia as duas senhoras ou moças que o estavam esperando há pouco instante. O menino, escapou para dentro da casa sem levar surra. Foi se esconder em um quarto escuro temendo ainda por suas palmadas nas nádegas que nunca as levava. Apenas, ameaças. E no quarto escuro, Junior estava guardado do espancar por sua “tirana” mãe. A dona da casa, chamada Thelma, foi logo a chamar o padre a beber um cálice de vinho e comer um assado, coisas comuns acompanhadas de um sermão logo cedo do dia.
Padre
--- Ora vivas! Quem me dera comer um assado manhã logo cedo. - - falou o padre balançando as mãos com a esquentar o fogo.
Thelma
--- Temos peixe e galinhas. Quais prefere o senhor? - - indagou.
Padre
--- Lagosta, tem? - - balançando a pança
Thelma
--- Sim. Temos. Vai de lagosta. E o vinho? - - alegre
Padre
--- Bordeaux, de preferência. - - disse o padre com a sua barriga imensa
E foi assim, a comer, a balançar a barriga, a se apoiar na mesa e nem limpar suas vestes, uma batina negra, uma tiara posta no chapéu e nada mais. Fazia apenas um só “hum”, “hum”. Como apreciar o gosto da lagosta, balançando a cabeça para um lado e para outro. O menino Junior, reapareceu como de surpresa e foi se agarrar a própria mãe. Essa, o beijou com delicadeza na sua testa e nada mais indagou.
O sol já estava quase a pino e as pessoas já de calção ou biquíni percorriam excitadas pela calçada, indo à procura da praia do Meio. O menino que pisou na caravela, já tinha sido levado para o hospital. Suas vestes, todas plenas encharcadas. O menino gritava de dor. Uma tristeza atroz a acudir a criança naquela manhã de quente sol. A criança foi levada para um quarto de hospital a injetar soro na veia e a perder seus sentidos em poucos minutos. Era a queimadura mortal para o imberbe garoto. Enfim, a criança veio a óbito por queimaduras letais. As caravelas são animais marinhos e tem um corpo gelatinoso, de cor roxo-azulada, com uma parte semelhante a uma bexiga visível acima da linha da água.
A continuar o almoço, Racilva achou de perguntar ao sacerdote se ele tinha algo de informar sobre a vida de Jesus. O padre Ambrósio, inquieto com suas lagostas já degustadas, apenas arrotou como um instrumento de som abafado, e visualizou a senhora com os olhos abaixados antes de responder o que lhe fôra indagado.
Padre
--- Jesus? É o filho de Deus! Não sabia? - - indagou
Racilva
--- Disso eu sei. Da terra, como Ele trabalhava, ajudava ao seu pai, cresceu e falou com os Juízes. Eu sei bem. Eu pergunto: o que foi o seu tempo? - - indagou.
Padre
--- Sabe-se que Jesus passou sua infância em meio aos camponeses, em uma terra seca e, ao mesmo tempo rica e fértil, com criação de carneiros de bodes e cabras. Era isso então? - -quis saber.
Racilva
--- Em parte. Continue! –
Padre
--- Muitas vezes o que se conta é que o que Jesus nasceu, cresceu, caminhou e pregou nessa terra e ainda podemos sentir a sua presença. Jesus passou a sua vida nas cidades e vilarejos do interior em meio aos camponeses. Ele era um judeu entre os Judeus. Jesus teve uma vida breve. Mais de 30 anos. Mas, foi uma vida plena de sentido que ainda hoje ela é a referência e medimos o próprio tempo.
Racilva
--- É verdade. Mas, no Japão, China, Índia e outros países não se tem esse Jesus porque lá o tempo tem outro sentido.
Padre
--- Verdade. Mas sua vida tem sido inspiração com pintores, escultores, artistas e cineastas de todas as épocas e de todas as partes do mundo. As diversas características por eles atribuídas a Jesus são fictícias e o tratam pelo prisma de sua própria época e de sua própria cultura. Nenhum deles nunca soube como Jesus se parecia. Sua altura, o desenho de sua silhueta a caminhar pelas estradas sujas pelas ruas empoeiradas da Galileia.
Racilva
--- Detalhes. Detalhes. Mas ninguém viu Jesus. Um desenhista, pelo menos. Sua crucificação não teve efeito nenhum para os artistas.
Padre
--- É verdade. Naquele tempo não tinha pintores. Um artista de fazer Jesus de um rosto gentil ou alegre. Ninguém, na sua época, desenhou ou esculpiu a sua imagem. Era proibida pela lei judaica. Nem uma única palavra foi escrita por Jesus durante o tempo que Ele viveu. Também o povo era um de segunda ou terceira ordem.
Racilva
--- Incrível! Como pode uma coisa dessas? - - imaginou
Padre
--- Então. Quase tudo o que sabemos sobre a sua vida deve-se a inspiração de quatro homens que escreveram sobre Ele muito tempo depois da sua morte. Esses homens foram: Mateus, Marcos, Lucas e, finalmente, João. Eles escreveram em grego, embora Jesus falasse aramaico, a língua do seu povo. Um deles conta a história, embora diferente do outro. Contudo essa história simples, mas vívida, contêm o épico mais influente de todos os tempos.
Racilva
--- E o que diziam do mundo? - - quis saber
Padre
--- Ah. Em baixo do seu solo muito há de ser desvendado. Em recente tempo o homem fez uma escavação próxima a Jerusalêm onde se descobriu um vilarejo agrícola. As escavações de pesquisa e fragmentos de cerâmica, pisos e metal procuram decifrar que tipo de vilarejo era este e compreender que tipo de povo habitava aqui no tempo em que Jesus caminhava por estas terras. Muitas outras provas são transmitidas por pessoas que vive nessas terras atualmente e ainda observam os mesmos costumes antigos. –
Racilva
--- Caso raro! - - falou a moça.
Padre
--- Caso raro mesmo. Mas nas suas vidas podemos ver as sombras do passado refletidas no presente. Muito já se sabe hoje em dia e desse conhecimento dessa terra e das pessoas que nela habitam podemos obter novas percepções. E, talvez, uma melhor compreensão de Jesus em sua terra.
Racilva
--- E a Palestina? - - perguntou
Padre
--- A Palestina era um corredor estratégico, embora fosse uma região pequena. Todos os povos que construíram o império, dominaram essa terra. Assírios, Babilônios, Persas, Alexandre, o Grande, o Egito e a Síria. Por mais de mil anos a terra prometida ao povo de Israel agora estava sob o domínio do Império romano. A arrecadação de impostos erra terrível. Quando em Belém Jesus nasceu, ele era da casa de Davi. A viagem de cinco dias do vilarejo de Nazaré não deve ter sido confortável para José e Maria. E foi aí que Jesus nasceu em um casebre. Uma manjedoura. Tabuleiro que se deposita comida para as vacas, cavalos, carneiros. Um estábulo mesmo.
Racilva
--- Eu imagino uma outra coisa. Nome bonito memo. Mas agora. . . .
Padre
--- Pois é. Um local imprestável para o povo. Só bichos comem no tabuleiro. Como era um censo, não tinha mais lugar disponível em canto algum. E José se ocupou daquele canto remoto. Não por querer. Porque não havia mais lugar em Belém.

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