sexta-feira, 24 de março de 2017

A PRINCESA NUA - 05 -

- MOSCOU -
- 05 -
MOSCOU

Passaram-se os dias. Olga já nem esperava uma resposta de Irap, o maestro. O sol batia forte na vidraça e ela sentia a obrigação de fechar a cortina que dava de frente ao piano. O vento morno era ainda mais bastante forte. Carro a passar, constante, em um vai e vem, tirava o sossego da pianista. Um “merda” para lá, uma “bosta” para cá irritava Olga por causa do barulho dos vendedores ambulantes oferecendo, a qualquer preço, os seus produtos de comidas ou artesanatos quando batiam à porta da residência da linda pianista. Tudo era tão comum, esses incômodos, como se Olga estivesse morando numa casa do nordeste do Brasil. A seu modo, Josefina estava a lavar a roupa nova em uma máquina enquanto um gato se lambia a deitar em uma cadeira de balanço. Um cão, à distância, latia sem parar. O carteiro batia à porta. O telefone tocou.
Helena
--- Pronto. Quem fala? - - indagou
Irap
--- Bom dia. Aqui é o professor. Olga está acordada? - -
Helena
--- Sim, professor. Quer falar com ela? - -
Irap
--- Se possível. Pois não. - -
Helena
--- Um momento, por favor. - -
Passados os minutos, Olga atendeu o professor. Nem pensa em algum caso. Com certeza ela estava atrapalhada com o barulho dos autos em um vai e vem incessante além do homem das frutas e coisas mais. Menstruada por demais, Olga apenas sentia cólicas. Com isso, pegou o fone sem nada a falar a não ser.
Olga
--- Às ordens, professor. - -
Do outro lado da linha, o professor vez ver ser dentro de duas semanas o recital onde a moça estaria presente. Um sábado, naturalmente. Ele estava avisado por telefone porque naquela hora estava distante de Kiev não podendo estar presente de imediato. Ainda indagou se Olga estava bem e ela respondeu que sim. Mais algo a indagar e a moça declarou ter preparado um programa de três partes e gostaria ter de mostrar ao mestre
Irap
--- Está bem. Assim que puder, eu estarei como você. - -  
Moscou é uma cidade de um ambiente aprazível. Além do Palácio do Governo, tem rios. Cada qual mais belo. Pontes, lagos e colossais árvores de videiro amarelo. Metrô. Por sinal, o metrô de Moscou foi projetado para demonstrar o alto grau de desenvolvimento técnico e estético. Fiel da Igreja Ortodoxa mergulha em águas geladas na Festa da Epifania. Moscou em noites brancas de luz. Circuito incrível contemplando o encantador sol da meia-noite. Café da manhã, passeio ao famoso complexo amuralhado do Kremlin, antiga residencia dos czares russos. A Universidade de Moscou é uma das mais antigas Universidades do país, os bonecos de Moscou, um encanto das mil e uma noites para o deleite das crianças. O Kremlin tem o significado de “fortaleza” em russo. Refere-se a qualquer complexo fortificado encontrado nas cidades russas.
Já era o sábado marcado para o recital da pianista Olga. O Teatro de Moscou estava repleto, como sempre ocorre em finais de semana para os que mais adoram os espetáculos memoráveis. A sala estava em silencio esperando a apresentação da pianista. Quando a luz apagou, a cortina se abriu. Uma salva de palma foi ouvida. A pianista, entusiasmada, agradeceu solenemente. Ouve um silêncio. E seguida, o apresentador fez a proclamação das melodias iniciais. E depois, saiu de cena. Como primeira atração, Olga interpretou uma música popular que já se tornava clássica: “Balada para Adelina”, começado apenas com o piano. A plateia sentiu o encanto. E, no final do tema, aplaudiu com entusiasmo. A música é de autoria de Paul de Senneville, feita em homenagem a sua filha, Adelina, então recém-nascida. Logo em seguida, Olga interpretou O Bolero, de Ravel, duração de 17 minutos começando quase em silencio. Por fim, Olga fez a apresentação de o Concerto nº 1, de Tchaikovsky, duração de 35 minutos. A assistência foi ao delírio com palma de assobios. Para satisfazer a plateia, Olga interpretou o Concerto nº 3, de Rachmaninoff. Entusiasmada, a plateia entrou em comoção.
Após o concerto, Olga, Irap e Helena, já com a cortina fechada, ainda recebiam congratulações dos componentes da orquestra e de outras personalidades pela atuação magnífica de há poucos instantes.  Falando em Inglês, Olga agradeceu sobremaneira toda aquela manifestação de carinho que os senhores lhe prestaram. A conversa durou certo tempo até a oportunidade de seguir para o Hotel da cidade, acompanhada do maestro Irap Orel lhe fazendo companhia para orientar a moça talvez para mais um concerto, provavelmente a São Petersburgo, no Teatro Mariinski, uma joia de teatro ou o Bolshoi, o brilho do tempo dos czares, os monarcas do Império.
Irap
--- O diretor do Mariinski teve conversando comigo sobre a possibilidade de a senhora fazer uma apresentação naquele Teatro. Como já falei antes, eu disse que teria encontros com a senhora e tão logo soubesse eu daria a ele a resposta. -  
Olga
--- Tem o Mariinski e o Bolshoi. Que achas? - -
Irap
--- Todos são excelentes. Tenho certeza. O Bolshoi vem sendo mais falada, pelo Ballet. - -
Olga
--- Se for possível, eu escolho o Bolshoi. É o que desejo! - -
Olga teve um plano que não falou no momento. Ela conjecturou em trazer a orquestra completa para fazer um recital com toda a sua pompa. Seu temor era o Bolshoi não ter espaço para a sua apresentação por conta de outros compromissos. No entanto, em seu pensar, tudo corria como em nuvens de outono corridas pelo vento. O cismar de Olga levou a solidão do desejo de ser capaz de naufragar de um instante a outro. E a pensar, ela se voltou as mestras obras em arranjos na memória delicada do todo o seu instante. Começaria com Sadko – Canção da Índia -, musica terna, cheia de encanto, ternura e beleza.
Olga
--- É isso! E por que não? Melodia calma e cheia de encanto! - - deduziu
E assim, foi dividindo o seu cancioneiro singular elevando por demais as obras primas de seu cantar motivado ao piano. Logo em seguida, Olga pensou em Tchaikovsky com o seu Capricho Italiano, obra prima, onde a orquestra abrilhantava com esmero e carinho. Logo então, Olga continuou pensando nos êxitos de Mozart com seu Concerto 21 e para o seu final O Lago dos Cisnes, outra importante criação de Tchaikovsky. Estava pronto o seu ensaio. Com todo esse terno momento, ela não deu importância a repetir um autor de esmerada música. Olga estaria, apena, evoluindo em seus estratos de canções.
Olga
--- Espero que esteja pronto, dessa forma. É o que espero. –
Helena
--- Eu prefiro Scheherazade.  - - declarou a irmã
Olga
--- Scheherazade? Mas, já tem Sadko. - - respondeu
Helena
--- Tem no início. Se pôr no fim, é bem melhor. Ele é russo, também. –
Olga
--- Rimsky-Korsakov. Pode ser. - - pensou com o olhar distante e a mão na boca
Helena
--- Canção da Índia é sublime. - -
Olga
--- Sim. É sublime. Todas são obras de arte. - - adiantou
Helena
--- Stravinsky, Balakirev, Borodin, Arensky. - - fez vez
Olga
--- Arensky! Boa lembrança! - - com olhar distante
Helena
--- Então? - - indagou


terça-feira, 21 de março de 2017

A PRINCESA NUA - 04 -

- PIANISTA -
- 04 -
PIANO
Em outro dia, Olga foi convidada para dar um concerto no Teatro de Kiev onde se apresentavam sempre as escolas de ballet. Antes, porém, era a apresentação de um corpo de ballet para posteriormente vir Olga com músicas tradicionais ucranianas. A Casa estava lotada com todo o público em silencio, como era costume. Essa era a primeira apresentação, em Kiev, da esmerada pianista. Luzes em torno do salão vindas a cair de augustos candelabros belos. A sala do teatro de Kiev era de encantos maviosos. Estátuas de bronze, pierrôs, fantoches, escultura de Pinóquio, tocador de gaita, tristeza de um palhaço entre outras magnificas provas da arte ingênua. O teatro tinha além de tudo a mostra da arquitetura nacional onde havia parque da paisagem, exposições de flores e cenas de casamentos. Tudo era um primor onde tinha até mais fotos de um açougue ou de uma criança travessa. E começou o concerto. Junto aos músicos, Olga interpretou, ao piano, a magnifica peça “Petrushka” do autor Igor Stravinsky, Mephisto de Liszt, Concerto nº 1 de Beethoven entre outros maviosos componentes. O delírio tomou conta da plateia. Uma perfeita ovação ao chegar ao final do recital da delicada jovem. Era como se nunca tivesse ouvido um interprete tão magistral, àquela plateia. Após assobios dissonantes, Olga agradeceu a manifestação de apreço do público.
Ao sair do palco, Olga chorou. Para a pianista, aquele foi um espetáculo inusitado. De modo especial por Petrushka, música criada pelo gênio Stravinsky, compositor russo que se dedicou a música erudita, autor maior do século XX. Stravinsky era russo nascido em uma aldeia perto de São Petersburgo. Foi, através de Rimsky-Korsakov que ele enveredou a sua vocação artística. “A Sagração da Primavera” sacudiu seu nome para o ápice. E com essa composição, em 1939, Walt Disney ficou tão entusiasmado que fez o filme Fantasia colando a melodia como principal obra de arte.  Mas, o autor Stravinsky, sofreu bastante quando a primeira apresentação, em 1913, da encantada música por ter sido vaiada em palco.  O autor, naquele tempo, subverteu a estética musical do século XX, dando origem aos Modernismo. A célebre composição de Stravinsky, no entanto, atravessou o tempo e é, hoje, considerada símbolo da musicalidade erudita. Este espetáculo narra a trajetória de uma garota marcada para ser entregue como oblação à divindade primaveril, no auge de um ritual pagão, com o objetivo de conquistar para o seu povo uma colheita proveitosa.
Alguns dias depois, o maestro Irap Orel foi até a nova residência de Olga, quase no centro da cidade. Na verdade, era uma nova residência onde Olga instalou o seu piano onde, todos os dias ela tocava as músicas clássicas como era o seu costume. O maestro a cumprimentou e as demais presentes. Não era a primeira visita feita pelo professor Irap. Contudo, era uma manhã de sábado. As visitas eram quase tão frequentes que a moça apenas dava ao prazer de mostrar os recentes arranjos feitos na partitura de A Princesa Nua que estava a concluir dado o tempo. Mesmo assim, o professor Irap, após demorada conversa, tocou num assunto recente. Um novo concerto.
Irap
--- Eu recebi, dois dias passados, um convite dirigido a senhora. É um convite para que a senhora se apresente no Teatro de Odessa. - -
Olga
--- Odessa é a terceira cidade mais populosa da Ucrânia. E tem o porto principal na costa do Mar Negro. - - refletiu.
Irap
--- Isso mesmo. Eu pergunto: você pode atender a essa convocação? - -
Olga
--- Eu vou! Para quando? - -
Irap
--- Eu marquei para o sábado o outro! Confere? - -
Olga
--- Está bem. Posso começar com Rimsky-Korsakok. Suíte sinfônica Scheherazade. Essa suíte é baseada em Mil e Uma Noites. Peça, ao que parece, dupla. As Noites Árabes.
Irap
--- Isso mesmo. Korsakov foi um gênio. - - declarou
Olga
--- Então, estamos acertados. Sábado estarei em Odessa.  - -
Passados os dias, Olga estava pronta para se apresentar de Teatro de Odessa. A cidade era o centro administrativo e um centro cultural. Odessa, às vezes é chamada de Perola do Mar Negro. Em 1794, a cidade de Odessa foi fundada por um decreto da Imperatriz Catarina, a Grande sendo criado ali um porto livre. A cidade se tornou conhecida mundo afora em um filme feito em 1925 quando as tropas de soldados invadiram à rua e desceram pelas as escadarias de Odessa, atirando e matando centenas de pessoas. O Couraçado Potemkin, dirigido pelo cineasta russo Serguei Eisenstein. O ponto alto desse filme foi a descida das tropas militares atirando de fuzis contra o povo aflito, matando cada qual de baionetas e balas sem dó nem piedade. Esse foi o marco da história do cinema russo, ainda mudo.
A cidade de Odessa, na Ucrânia. Era repleta de histórias, mulheres bonitas e muita diversão. O nome da cidade provém da antiga colônia graco-romana de Odesos na Trácia.  Odessa é uma das principais cidades turísticas Ucranianas. É uma cidade com população jovem. Odessa tem lindas praias, zonas de lazer, parques temáticos, hotéis à beira do Mar Negro, restaurantes típicos e bares. A população se comunica mais em inglês. A cidade tem o Teatro de Ópera. Entre muito as oferendas encontram-se a do massacre de Odessa, terrível crime de guerra da Ucrânia liderado por fascistas contra civis inocentes há mais de 70 anos. Vendo essas imagens brutais, Olga, comovente, chorou.
À noite do sábado, o Teatro estava repleto. Esse teatro é considerado como o mais belo do mundo. É o símbolo da cultura de Odessa. O seu estilo barroco tem uma acústica impressionante. A sala com capacidade para mais de 1.600 ocupantes, tinha de tudo para ser majestoso. Ao dar início a sua apresentação, Olga fez reverencia de gratidão para a plateia entusiasmada sob uma salva de palmas. E um apresentador declarou ser o espetáculo inicial com o toque ao piano do clássico de Rimsky-Korsakov, Scheherazade. Assobios antes do início.  Após terminar a melodia de Rimsky-Korsakov, da peça Scheherazade interpreta ao piano ouve outra ovação imensa. Korsakov era russo. Por isso ele era tão bem idolatrado pelos seus compatriotas. Na sequência, Olga voltou ao piano. Dessa vez, foi para tocar a inominável peça de Tchaikovsky, Concerto nº 1. Op 23. Após uma hora, veio a êxtase. O povo delirava, chorava, assobiava. Era um encanto enorme. Novos agradecimentos para o entusiasta público. Sem querer deixar a graciosa pianista sair, então ela mais uma vez tornou a tocar ocupando ao piano e desempenhando a graciosa “Abertura 1812” de Tchaikovsky para o delírio dos fãs quando o coro entoou o canto final ao som dos sinos e dos canhões ao seu extremo e derradeiro remate. Sendo aí o fim da apresentação de Olga que esplendorosamente agradecia a todos os presentes, baixou o pano e a cortina desceu.  
No dia seguinte, pela manhã, o maestro Irap Orel estava na residência de Olga e debatia o espetáculo da noite anterior. Em certo momento, ele falou ter estado com outro seu companheiro e, por acaso, esse mestre falou em um concerto em Moscou dentro de breves dias e aludiu a presença a pianista Olga. A conversa entre os dois maestros se prolongou por largo tempo e o assunto ficou suspenso porque Irap declarou ter que ouvir a opinião da pianista. Moscou, capital da Rússia, era um importante centro cultural. A cidade estava situada sobre o rio Moscova e ainda é o centro do Kremlin, uma antiga fortaleza que é hoje a residencia do Presidente russo e sede do poder Executivo
Irap
--- Eu sinto que, para você, é uma oportunidade ímpar. - -
Olga
--- Evidente. Eu sentia vontade de conhecer Moscou. Até mesmo a Praça Vermelha; - - sorriu
Irap
--- Evidente. Quem conhece a Rússia tem que conhecer Moscou. Não é para puxar sardinhas. É a verdade. - -
Olga
--- E quando será esse concerto? - -
Irap
--- Não sei dizer, com certeza. Daqui há um mês. Provavelmente. –
Olga
--- Eu preciso saber com antecedência para ter conhecimento de outros dos meus contratos. - -
Irap
--- Claro. Evidente. Não queremos bater com outros dos seus contratos. - -
Olga
--- A minha irmã, Helena, é quem sabe dos meus afazeres. Eu só sei quando ela fala. - - sorriu
Irap
--- Eu vou ter com o mastro e digo a você. – 

sábado, 18 de março de 2017

A PRINCESA NUA - 03 -

- SANTA SOFIA -
- 03 -

CATEDRAL -
A Catedral de Santa Sofia é um monumento histórico do país. Quem viaja a Kiev tem que visitar a Catedral, não raro apenas por curiosidade. Por dentro. Cerca de mil imagens da Santa. A estrutura tem cinco naves, cinco absides e, de maneira bastante surpreendente tratando-se de arquitetura bizantina, 13 cúpulas. O mosaico da Catedral de Santa Sofia de Kiev vem do século XI. Ao sair de Santa Sofia se atravessa uma bonita porta de bronze de século II a.C., e sobre ela há outro belo mosaico do século X que representa a Constantino, o Grande. A Imperatriz Irene, em um mosaico de Santa Sofia. Sob a cúpula está um afresco da Catedral, do século XI. Olga observou tudo e ficou extasiada.
Olga
--- Algo maravilhoso! -  relatou.
Um Sacerdote alto e magro saiu da Catedral. A batina batia no chão. Na cabeça um Capelo. O sacerdote amparou com sua mão para evitar que o vento o levasse. Um bom dia, foi breve. Na Catedral, unas pessoas a rezar. Um garoto apagava as luzes das velas do sagrado santuário. Tudo era calmo no interior da Catedral. Nem um ruído sequer. Um sacerdote saiu apressado do confessionário enquanto uma idosa saia, caminhando lenta para um banco da Catedral. Malusha observou o sacerdote a caminhar e de nada falou. Apenas notou o sacerdote. Olga estava ajoelhada, cabisbaixa, rezando com pura contrição. Nesse instante, entra no recinto o maestro Irap Orel, em silencio. Ele cumprimentou a jovem Malusha apenas com um aceno e nada falou. A Catedral de Santa Sofia era um encanto. O professor Irap observou com muita calma todo aquele acervo sem falar coisa alguma. Em instante, a pianista, com um pouco fez as suas orações e se levantou a olhar por uma vez mais a nave e se benzeu contrita. A imagem de Santa Sofia parecia ter ouvido as orações invocadas naquele instante pela moça.
Ao sair do bando, Olga se ajoelhou para o Sacrário e se voltou para ver a figura do maestro Irap e o cumprimentou em silêncio. O bonde passou em sua rota e Olga apenas olhou. O maestro falou logo após entre o barulho dos carros.
Irap
--- Bom dia. Eu estive vendo todo aquele manuscrito e gostei bastante. Não sei se o mesmo se deu a você. - -
Olga
--- Eu também fiz alguns acertos. Notei que aquele manuscrito não foi feito para piano. - -
Irap
--- Certamente. Bandura. Era instrumento bem usado. Mesmo assim, se pode fazer para piano.
Olga ficou pensativa.
No dia seguinte, pela manhã, Olga, já desperta, como todo o serviço feito, então foi ao piano para ver o que podia fazer de imediato ou mesmo por longo tempo. Pensou Olga no Bandura, desde os tempos remotos dos antigos povos da Ucrânia na sua pré-história, passando pelo surgimento do primeiro Estado eslavo oriental na região, os primeiros casos de assentamento humano recuando à 6.450 a.C, veio então à memória as quimeras recordações. O território ucraniano começou a ser habitado há cerca de 44 mil anos e acredita-se que a região seja o lar da domesticação de cavalos. Esse nome- Ucrânia – significa “fronteira”. A Ucrânia faz fronteira com a Rússia. Na Idade Média, a nação se tornou um polo cultural dos eslavos tendo o Kiev como sua sede. No meio dessa turbulência, Olga chamou a atenção da amiga Malusha.
Olga
--- Olha aqui.  Esse pais é antigo mesmo. E os instrumentos musicais? - - pesquisou desorientada
Malusha
--- O piano foi criado pelo inventor italiano Bartolomeu Cristofori por volta de 1700. Com isso veja quanto tempo tem os instrumentos mais antigos? - -
Olga
--- Exemplo: Acordeom!  Criado na Finlândia por volta de 2.700 antes Cristo.
Nesse instante, o telefone tocou na banquinha ao lado do piano. Olga, de imediato, atendeu. Era a sua irmã, Helena. Após breve conversa, a irmã falou que ela e a serviçal estavam no aeroporto de Kiev e se Olga podia ir apanhá-la.
Olga
--- Mas já? - - indagou surpresa.
Helena
--- Já. E você tem compromissos para os próximos dias. Eu estou cansada! Qual o Hotel? - -
Olga
--- Espere que eu chego já. - - vexada.
Olga chamou Malusha e ambas seguiram para o aeroporto de Kiev. O movimento era intenso àquela hora bem cedo da manhã. O movimento de aviões, carros e gentes chegava a ser um algo sobrenatural. Após alguns instantes, bagagens despachadas, passaportes revisados as moças rumaram para o hotel. Manhã de sol e nem sombra de chuva. Helena sabia falar as línguas estrangeiras como Inglês, francês, italiano, um pouco de russo e alemão. Nesse momento, ela estudava o japonês. Ao passar pelo centro da cidade, Helena observou admirada a praça no centro de Kiev e além disse pinturas de gatos, árvores, a cidade em si bem movimentada, a praça da Liberdade e a Ópera de Ucrânia, em Kiev. Até ficou de boca aberta com a mostra de prédios das ruas.
Helena
--- Que coisa! Esses prédios têm para além de mil anos. - - estupefata
Malusha
--- Bem mais que isso. Bem mais! - - relatou
Helena
--- Não me diga isso! Mais de mil anos? - - espantada
Malusha
--- Kiev tem uma oferta cultural riquíssima, variada e muito competente em muitas disciplinas. A tradição, o ensino, a dignificação das profissões artísticas tudo isso é um primor. Tem ruas repletas de Palácios e Catedrais. Ruas de atrações turísticas. Albergues, galerias de arte, cafés. Pequenos teatros, lojas de artesanatos e antiguidades.
E as moças continuaram a passear em volta a cidade até chegar ao edifício onde Olga estava hospedada. Tão logo chegaram ao apartamento, as moças foram ao banheiro, uma de cada vez, e logo após conversaram enquanto tomavam café. Helena se sentiu satisfeita após passar 14 horas de viagem aérea entre São Paulo, BR e Kiev na Ucrânia.
Helena
--- Quase não chega. - - sorriu.
Olga
--- E após esse tempo, agora você vai trabalhar. Eu tenho um caso a resolver. Habitação! Pode ser em área central de Kiev. Eu acredito que por mais um tempo Malusha vai nos deixar. Por enquanto ela vem aguentando. Porém, isso é por pouco tempo. Não é Malusha? - -
Malusha
--- Eu mesma não sei. Mas, o Itamaraty pode me querer de volta a qualquer dia. - - sorriu
Olga
--- É o que eu pensava. Então, se formos perder você, o que há de fazer? Nada! Agora, eu já tenho vocês, Helena e Josefina. Já somos três, além de Malusha. Eu vi, nos jornais, casas para alugar. Eu posso ver uma dessas casas. Que achas, Malusha? - -
Malusha
--- Isso é bom. De qualquer modo, eu posso ajudar nas minhas horas vagas. - -
Olga
--- Então, vamos à luta! - -
E as moças continuaram a pesquisar as casas para alugar e com o tempo, Malusha se desligou voltando aos seus serviços. Olga, pela manhã, conversava com o professor sobre os arranjos musicais, Helena fazia contato e Josefina começava a fazer seus afazeres. Com pouco tempo, Olga conseguiu alugar uma casa de moradia e tudo se dava certo. Alugar um automóvel em Kiev era coisa fácil além de barato. Podia-se fazer curtas viagens e pagava-se uma quantia por mês. Olga possuía a carteira com validade internacional e o comércio, como supermercados, eram próximos da residência onde as irmãs passaram a residir. Com o passar do tempo, falar a língua era tão fácil como falar francês, inglês ou mesmo italiano. O mundo tornava-se um poliglota. Quem não podia falar na língua nativa russa, podia falar também no francês. Isso foi bem fácil para a moça Josefina, uma linda mulher de se enganar a qualquer um a sua origem.  Casar com uma menina brasileira é tão fácil como com uma ucraniana. Mulher inteligente e bonita. A maior parte das mulheres ucranianas são cristãs.

A PRINCESA NUA - 02 -

- MENDIGOS -
- 02 -
BOSQUE -

No dia seguinte, pela manhã, quando então fazia sol, Olga indagou a sua amiga Malusha como faria para poder conhecer com maior cuidado um bosque de Kiev ou outro local pouco mais distante. Malusha ficou a pensar como chegar aos bosques perdidos no seu encanto. E relatou a moça que os bosques tinham incertezas para se conhecer em derradeiro. Talvez não tenha o gosto de Olga, quem sabe e nem sempre esse gosto seja aprovável. Não raro se encontra andarilhos pelos campos, pedintes ou mulheres abandonadas. A guerra trouxera muitas desvantagens para o povo pobre. Gente que perdeu tudo na sua vida. O povo pobre vive da mendicância. São proletários, apenas.  Então, Malusha, após convencer em vão a decisão de Olga, buscou o carro e partiu para os bosques de Kiev, procurando caminhos menos tortuosos e vendo mulheres, meninos e homens já idosos a não fazer coisa alguma. Um menino apenas lhe estirou a mão ao vê-la passar em correria. Nesse ponto, Olga pediu parada e a sua amiga obedeceu com severa obediência. A moça tirou um níquel e botou na mão da criança suja e esmolambada, sem dizer uma só palavra. Via-se nos olhos as lágrimas caírem. Um velho agradeceu aquela oportunidade e a moça notou que ele estava com uma sanfona ao seu lado. Com pouco tempo, Olga pediu ao velho, com gestos, que tocasse algo. O velho entendeu com precisão. E interpretou antigas melodias do século passado. Algo melancólico buscando raízes de um passado remoto. Remotas melodias tristonhas. E a pianista ouviu tudo em silencio, compenetrada e de olhar sereno. Após o tocar de tudo aquilo, a pianista quis saber.
Na você de Malusha, indagou.
Olga
--- O senhor sabe de algo mais novo? - -
Igor
--- Sim. Muitas. Eu fui professor de música em tempos passados. - - disse sorriu
Olga
--- Ah. Muito bem. E ainda toca instrumentos? - -
Igor
--- Hoje, não. Estou com 80 anos. E muitas coisas ocorreram. Eu fui banido da Faculdade. Enfim, agora tenho apenas uma sanfona. - - sorriu
Olga
--- Indecência! Banido? Como pode ser uma coisa dessas? - -
Igor
--- As coisas acontecem sem a gente saber. Hoje, vivo com a minha filha. A mulher, morreu. Talvez de saudade dos tempos passados. - -
Então, a moça, compungida, tirou da pochete algum dinheiro e fez a doação ao senhor Igor e disse ainda que ele a esperasse porque um dia estaria de volta. O homem sentiu-se feliz e agradecido com aquela quantia que jamais esperava.
Olga chorou por demais com a situação do velho Igor enquanto o veículo prosseguia em sua viagem. Apesar da idade do idoso, ela se ressentia de tanto mal que ele sofrera ao longo de sua existência. Com o passar do tempo, Malusha fez o retorno em direção ao hotel. E nada falou nesse meio de caminho. Apenas, Olga indagou e havia um apartamento que se pagava aluguel por perto do centro da cidade. Malusha respondeu que sim. E indagou:
Malusha
--- Por quanto? - -
Olga
--- Não sei ainda. Porque o hotel é muito caro, creio. Eu vou ficar aqui por algum tempo. E tenho que trazer uma irmã. É isso! - - disse tristonha.
Malusha
--- Ah. Sei. Você não pensa em viajar? - - indagou
Olga
--- De início, em tenho que adquirir um piano. Sem piano é como ficar sem mãos. - -
Malusha
--- É verdade. O piano é a extensão de suas mãos. -  
Olga
--- E eu tenho uns compromissos marcados para o próximo mês. Minha irmã é Helena. Ela é quem anota meus compromissos. Tudo é com ela. E eu preciso de alguém que cuida de minhas vestes. No Brasil. Eu tenho minha mãe. Mas fora, tem que se ver a pessoa certa. - -
Olga estava a necessitar de uma camareira que cuidasse dos trajes quando fosse se apresentar em um Teatro. Com certeza, Malusha ajudaria a encontrar um alguém desse estilo. Tais assuntos Olga debateu com a moça para ter certeza. Cuidar da casa, também era um fator. Cozinha, faxina, lavanderia. Isso tudo ela tinha através de empregadas domésticas, no Brasil. E nem se preocupava tanto. Mas, agora, Olga estava em terra estranha. No Hotel, Olga telefonou para a sua irmã falando ser preciso que ela viesse para ficar com Olga. E se possível, trouxesse uma camareira. A cidade era grande e ela não sabia com perfeição da fala do seu idioma. Queria saber dos contratos já marcado para as suas apresentações fora do país onde estava. Em suma, essa a conversa com Helena. De imediato, Olga procurou uma casa para alugar e encontrou várias. Nesse ponto, a moça se tranquilizou. E voltou o seu olhar para Malusha. Então, sorriu.
Após a janta, Olga foi ao encontro do piano. Fez uma pausa. Olhou para o alto e começou a dedilhar aos poucos o que havia de fato nas folhas de papel intituladas “A PRINCESA NUA”. Aos poucos foi encontrando na partitura os acordes desconcertantes daquela composição. E foi assim o seu início. Teclava um pouco. Olhava ao leu. Continuava como alguém, devagar, que estivesse compenetrando-se. E aos poucos, foi o ensaio. Nesse tempo, Malusha teve que sair para retornar no dia seguinte. Cumprimentou Olga com um beije dizendo:
Malusha
--- Cuide-se. Volto amanhã. - - sorriu.
Olga
--- Ah! Pode deixar! Já é tarde! Eu vou dormir daqui um pouco. - -  
No dia seguinte, pela manhã, Olga e Malusha saíram de auto direto para a Faculdade de Música onde o professor Irap Orel estava a lecionar aos demais alunos da turma da manhã. As mulheres esperaram um pouco enquanto observavam as fotos de autores famosos de Kiev, alunos a mostrar seus troféus tirando em alguns anos, músicos a interpretar seus instrumentos de música tradicional. Culturas complexas de temas eruditas da era eslava em geral. A iniciativa procurava dar maior atenção a área de estudos pouco desenvolvida sob uma perspectiva teórico-cultural inovativa, uma vez que até então as culturas musicais de mundo eram apenas consideradas sob os aspectos das influências por elas exercidas.  A Bandura foi o instrumento que despertou maior atenção à estudiosa. De todos os instrumentos e práticas relacionadas com a música instrumental ucraniana, a Bandura era a mais divulgada.
Olga
--- Interessante! Eu jamais tinha visto um instrumento desses. - - curiosa
Malusha
--- Quem sabe se você poderia até tocar uma Bandura dessas? - - sorriu
Olga
--- Eu? Vou mesmo ao piano! - - relatou
A Bandura é do tipo saltério, possuindo trinta ou mais cordas, afinadas cromaticamente, tocada por um plectro no indicador na mão direita.
Malusha
--- Na nossa cultura é bem normal. Todos tocadores usam esse instrumento. - -
Olga
--- Na Índia, também. - - relatou
Malusha
--- Sim. Na Índia. E nessa parte do mundo. Eu já ouvira alguém tocar a Bandura. - -
Olga
--- Nessa parte do Oriente, é muito banal. - -
Em região como a eslava tem-se outros instrumentos, como o Kobza, mais difundido em geral; O Kobza vem do século VI usado por guerreiros. Foi, sobretudo, instrumento de cantores ambulantes, muitos deles cegos. Os Kobzari entoavam cantos da natureza épica relativos a fatos heroicos da história. Outro instrumento é o Gusli. O termo deriva de uma cítara de madeira e significa corda, em geral.


sábado, 11 de março de 2017

A PRINCESA NUA - 01 -

- A PRINCESA -
- 01 -


COMEÇO

Quase meio-dia e o avião fez pouso no aeroporto de Kiev, capital da Ucrânia. Representantes da Embaixada brasileira estavam no local para receber a notável pianista de cunho internacional a senhorita Olga Hans que, pela vez primeira, visitava a Ucrânia. Por igual, também estavam os representantes do governo ucraniano para prestar as boas vidas a talentosa musa. Olga recebeu os abraços de toda classe diplomática – brasileira e ucraniana – e, mesmo sem falar fluente a língua do país em visita, apesar de ter descendência da Ucrânia, ela agradeceu as puras homenagens que lhe emprestavam aquelas autoridades em um mundo desconhecido e só falado por guerra.  Após instantes, Olga foi apresentada à impressa que estava toda inquieta em saber algo que pudesse espalhar como uma grande surpresa. Repórteres, colunistas, cinegrafistas, TVs e tantos mais acotovelados para pegar algo inesperado. “A Princesa Nua” era uma peça do século 18 de autor desconhecido, porém de nascimento ucraniano, certamente. Talvez de Odessa ou outras cidades como Cracóvia, Donetsk e Mykolaiv. As questões eram várias e a moça, de 30 anos mantinha-se tranquila com a sanha agressiva dos repórteres. Após meia hora, se deu por encerrada a palestra da primeira visita de Olga.
Brasileira por nascimento, Olga Hans teve início nos estudos de piano em escola do Rio Grande do Sul. Com o tempo, ele migrou para uma Faculdade da Alemanha e, após, percorreu vários países, como Itália, França, Bélgica, Holanda, Inglaterra Áustria e Estados Unidos. Pela vez primeira estava, agora, na Ucrânia, pais de seus antepassados. Um fogo enorme subiu por suas pernas ao sentir a Ucrânia naquele momento. Os estadistas de ambas as nações se preocuparam em levar Olga para o seu apartamento de hotel. A moça preferiu ficar hospedada no Radisson Blu, de Kiev. Hotel de pleno luxo.  Em contrapartida, os pobres de Kiev eram mais pobres do que os do Brasil. A Igreja Católica ajudava aquela pobreza com a distribuição de alimentos, roupas, calçados nas horas mornas da noite. Os pobres eram o máximo da pobreza, com vestes rotas, vestindo camisolões e comendo o que lhe ofertavam na tardia hora em um carro pequeno modelo Volks no meio da principal rua da cidade.  
Logo que entrou em seu Apartamento, Olga procurou olhar a rua principal da cidade. Era um encantamento. Um cartaz estrelando Matt Damon. Automóveis estacionados ao longo da avenida. Um caso à parte: veículos sobre a calçada de pedestre e um homem idoso a caminhar. Uma cabeça em gesso, decapitada, com certeza, posta ao lado do calçamento. Provavelmente, de um oficial militar. Mais além uma casa de comida feita na hora. Indo mais, um cartaz a mostrar os preços das comidas servidas para qualquer um. De repente, Olga apreciou ao lado e viu uma mulher muito bem vestida em trajes de cetim, chapéu a cabeça e sapatos vermelhos.
Olga
--- Loucura! - - relatou ao ver tudo aquilo. E se afastou do saguão.
Uma mulher vestida de negro era comum em todas as cidades. Porém, Olga teve oportunidade de ver aquele traje atraente, delicado e soberbo em uma virgem mulher que causou espanto. Buscando a sala de refeições, Olga logo viu a assistente, moça de 25 anos de nome Malusha, funcionária do Itamarati. Foi surpresa a presença de Malusha. A moça informou ser do Itamarati e estava ali para acompanha-la por onde Olga quisesse ir. Naquele instante era hora de almoço. E se Olga queria ser servida em sua sala de estar.
Malusha
--- Aqui temos de tudo um pouco. Você ou a senhora é quem decide. Eu acho por bem fazer as refeições aqui mesmo. Não? - - quis saber
Olga
--- Deixa eu passar o susto. - - sorriu Olga com a mão no coração.
Malusha
--- Peço-te desculpas. - - sorriu por seu lado.  
Após algumas horas, Olga preferiu conhecer a cidade e fez com Malusha um tour em um veículo oficial do Itamarati visitando a cidade como um todo. Malusha era quem dirigia o veículo e foi mostrando pelas fachadas os museus, casas de comércio, repartições, catedrais, mosteiros, parques e monumentos históricos. Para completar, os bosques, trens e praça. Toda a maravilha Olga pôde se deleitar.
Já era noite quando as moças retornaram ao hotel. E, Malusha, chamou a atenção de Olga que à noite tinha ensaio da Orquestra Municipal. Olga confirmou.
Às 9 horas da noite Olga estava no palco do Teatro, onde cumprimentou o Maestro Irap Orel e os demais membros do grupo orquestral e falou que a peça, A Princesa Nua, era uma antiga obra feita, provavelmente, por um músico do século XVIII e conhecido por Taraz de Odessa pelo que ela já sabia em seus estudos sobre música erudita. Toda composição ela havia remetido há alguns meses à Kiev e tudo isso foi aceito, pois o nome de Taraz de Odessa, apesar de ser tão pouco divulgado, era conhecido de estudiosos de música daqueles tempos. E Olga vasculhou o baú de coisas antigas, onde encontrou tal preciosidade musical. O Maestro Irap Orel estava entusiasmado com a descoberta da moça.
Irap
--- Eu desconhecia tal fato. Quando me mostraram essa obra, eu fiquei surpreso. Fui a fundo para descobrir tal mistério até que me chegou as mãos pedaços do ensaio. E eu escrevi para a senhorita quando me chegou a obra por completo. Magnifico, senhora! Magnífico! - -
Olga
--- Isso. Eu encontrei em um baú onde se guarda as tralhas do meu avô. E nem estava procurando por essa peça. Eu mostrei a meu pai e ela nem soube dizer ao certo. Então, eu fiz um ensaio e ouvi toda a melodia por completo. Aí começou o que está agora aqui. Para os repórteres, isso é um “furo” de reportagem. Para mim, e um achado brilhante. E eu decidi divulgar a peça no país de origem. - -
Irap
--- Está bem. Vamos agora juntar o que você encaminhou e marcar a data da apresentação. A estreia, por assim dizer. Seria um concerto? - -
Olga
--- É bem provável. - - sorriu
A pianista continuou a conversa por boa parte do tempo, alegando ter o autor procurado conhecer a tal princesa de verdade ou apenas fazer uma peça sobre alguém conhecida. É tanto que os nomes não conferiam com pessoas existentes naquela época, em 1800 e mais. Outro caso: o autor desapareceu por completo ou talvez nem mesmo ele teve existência podendo ser um autor plenamente desconhecido do grande ou mesmo do pequeno pública. Um menestrel desses de rua. Bardo, criador de suas próprias histórias viajando de cidade em cidade. Olga conhecera um bardo, contador de histórias viajando de lugar em lugar. Por isso, ela teve em mente saber se Taraz de Odessa existiu ou não pelas cidades onde passou. Ou se não passou, porque a vida de um menestrel era sempre deambulando a contar amores eternos.
Irap
--- Eu ouvi muitos desses cantadores de meio de estrada. Eles faziam poesias, versos, canções sem querer fazer ao certo. Cantavam, cantavam pela vida a fora. Por isso, temo ser esse um desses cantadores de estradas. - -
Olga
--- Mas, o menestrel era um homem entendido em música. Na minha terra, tinha um cantador que fazia histórias incríveis cantando a doce amada. Eu era menina quando esse bardo passava lá pela frente de minha casa. Depois, o homem sumiu. Nunca mais eu o vi. - -
Irap
--- Não Europa toda tinham vários menestréis. Ainda hoje eles perambulam de taberna em taberna. Como assim dizer: eles são uns loucos esquecidos. - -
Olga
--- Uma noite dessas eu vi um outro bardo versejando canções enigmáticas. Versos tristes. É verdade.
Irap
--- Interessante. São vários os artistas esquecidos. Então, vamos à luta. Eu vou estudar o texto de agora em diante. Por favor, a senhorita leve os seus textos e eu fico com os meus. E vamos ao ensaio. - -
Olga
--- Certamente. - - sorriu.
Daquele dia em diante a pianista e o maestro começaram a fazer estudos do enigmático texto, procurando corrigir algo que não estivesse certo ou levar avante o que estava correto. Olga se ocupou do dia em diante, ao piano, no AP do hotel ouvindo os acordes que pudessem ser tão desiguais ou coisa enfim. A cada dia havia encontros dos dois estudiosos comparando o que se fazia sentido ou não. E foi assim que sucedeu em definitivo.  Olga e Malusha ficaram mais amigas daquele dia em diante. Apesar de ter um nome estranho, Malusha era também brasileira e estava a serviço do Itamarati por todo esse tempo.


terça-feira, 7 de março de 2017

SUPLÍCIO DE UM MISTÉRIO - 25 -

- CORONEL -
- 25 -
SUSPENSE -

Gastão ficou refletindo do que poderia ocorrer com toda essa celeuma. Isso seria um vendaval iminente a ocorrer de um modo ou de outro a qualquer momento ou mesmo naquele instante. Pessoas ricas e de maior alcance, isso ele sabia que havia. Ricaços que não se podia duvidar. Havia mandantes de assalto a carro forte, Bancos ou mesmo de empresas internacionais feitoras de empreendimentos lucrativos de cunho mundial. O avô era descente de Italiano. Alguma coisa de se preocupar. E tinha gente no Senado com muita força capaz de acabá-lo em instantes. Lordes por assim falar. Nesse instante, Gastão indagou:
Gastão
--- Meu avô está se sentindo preocupado? - - indagou com dúvidas.
Coronel
--- Para mim, ele não disse nada. Apenas que a família tinha inimigos ferrenhos. - -
Gastão
--- Mas essa família mora aqui? - - indagou
Coronel
--- Ele não falou muito. Ele não diz nada. - -  calou.
Gastão
--- E ele tem medo de quem? - - indagou
Coronel
--- Bem. O que eu sei a custo de muito sacrifício é que o pai dele, o meu avô, pertenceu por algum tempo ao serviço de Czar Nicolau II. Antes da Revolução que depôs, sacrificou e pôs fogo nos cadáveres de Czar e da família, inclusive da filha dada como desaparecida. A Anastácia. O velho conseguiu fugir com a família. Inclusive meu pai e ficou por anos desaparecido. E ainda hoje meio pai está camuflado. Mas, no Senado daqui, hoje, já tem gente fuzilando os seus inimigos do tempo da Iº Guerra. Eu creio que ele está temeroso com essa gente. - -
Gastão
--- Há qualquer informe sobre atos terroristas? - -
Coronel
--- Sim. Assalto a Bancos, principalmente, sem contar com o roubo de carros novos. Eles, bandidos estão ligados a uma rede de assaltantes. O meu avô já se armou para qualquer ação. Ele e os seus capangas.  Além do mais tem orientado a mim para seguir o mesmo exemplo. Na sua fazenda, todos os jagunços andam armados. E se alguém bate na frente ou atrás do sítio, tem que se identificar. É por isso que eu vim aqui, agora. - -
Gastão
--- Estou entendendo. Meu bisavô já morreu. Meu avô está velho demais. Sobra o senhor, seus filhos e mesmo eu. - -
Coronel
--- Isso mesmo! Um dos meus filhos, seu irmão, trabalha no Congresso. Por lá ele fica sabendo do que ocorre. Gente grossa! Muito grossa! É a questão. O movimento da Rússia e mesmo da Alemanha, está tomando fôlego, agora. Na Rússia, eles mandam, covardemente, liquidar os antigos russos do tempo do Czar. - - falou baixo
Tempos passados, o Coronel deixou o AP do filho e de sua mulher Ada, rumando em seu carro dirigido por um capanga. Os dois saíram para um hotel no centro da cidade onde se hospedavam gente de fina classe e alguns de seus convidados. Gente diversa a passar para um lado e para outro, casas de comércio a fazer bons negócios, bancas de revistas, camelôs, vendedores de coisas miúdas. Era o mundo a si agitar. O Coronel saltou do seu carro e caminhou com presa para o interior do Hotel. O capanga movia o carro para bem estacioná-lo. Uma mulher chamava o seu filho menor para junto enquanto caminhava. De repente, um estampido. Tiro mortal atingindo as costas do coronel que de baque, foi ao chão. O atirador correu para longe. O capanga do Coronel, alarmado, ouviu o estampido. De imediato correu em busca do facínora. E deu-lhe um disparo com sua arma atingindo-lhe as costas. Viu o bandido a cair de bruços. E chegou mais perto dando-lhe mais disparo até a vítima estar bem morto. O povo, na rua, a correr apavorado.
Mulher
--- Tiros? Corra, menino!!! - - gritava uma mulher.
Gerente
--- Fechem es postas!! Fechem as portas! Fechem as portas! -  - - gritava o gerente da loja a ordenas os caixeiros
O tumulto se formou em um instante. Um corre-corre enlouquecido do povo se bater com outras pessoas. No interior do Hotel, alguém alarmado gritou.
Hóspede
--- Tiros? Quem foi? - - indagou alguém desnorteado com o impacto das balas.
Garçom
--- Na frente do Hotel. - - disse isso e correu para a entrada do prédio
Outras pessoas chegaram primeiro. Cada qual que quisesse entender o que fora feito naquele instante. De volta, o jagunço. Esse procurou ouvir algum do Coronel. Moribundo, o homem disse-lhe algo quase inteligível
Coronel
--- O deputado!!! O deputado!!! - - e deitou a cabeça ao solo. Estava morto o homem.