- MOSCOU -
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MOSCOU
Passaram-se os dias. Olga já nem
esperava uma resposta de Irap, o maestro. O sol batia forte na vidraça e ela
sentia a obrigação de fechar a cortina que dava de frente ao piano. O vento
morno era ainda mais bastante forte. Carro a passar, constante, em um vai e
vem, tirava o sossego da pianista. Um “merda” para lá, uma “bosta” para cá irritava
Olga por causa do barulho dos vendedores ambulantes oferecendo, a qualquer
preço, os seus produtos de comidas ou artesanatos quando batiam à porta da
residência da linda pianista. Tudo era tão comum, esses incômodos, como se Olga
estivesse morando numa casa do nordeste do Brasil. A seu modo, Josefina estava
a lavar a roupa nova em uma máquina enquanto um gato se lambia a deitar em uma
cadeira de balanço. Um cão, à distância, latia sem parar. O carteiro batia à
porta. O telefone tocou.
Helena
--- Pronto. Quem fala? - -
indagou
Irap
--- Bom dia. Aqui é o professor.
Olga está acordada? - -
Helena
--- Sim, professor. Quer falar
com ela? - -
Irap
--- Se possível. Pois não. - -
Helena
--- Um momento, por favor. - -
Passados os minutos, Olga atendeu
o professor. Nem pensa em algum caso. Com certeza ela estava atrapalhada com o
barulho dos autos em um vai e vem incessante além do homem das frutas e coisas
mais. Menstruada por demais, Olga apenas sentia cólicas. Com isso, pegou o fone
sem nada a falar a não ser.
Olga
--- Às ordens, professor. - -
Do outro lado da linha, o
professor vez ver ser dentro de duas semanas o recital onde a moça estaria
presente. Um sábado, naturalmente. Ele estava avisado por telefone porque
naquela hora estava distante de Kiev não podendo estar presente de imediato.
Ainda indagou se Olga estava bem e ela respondeu que sim. Mais algo a indagar e
a moça declarou ter preparado um programa de três partes e gostaria ter de
mostrar ao mestre
Irap
--- Está bem. Assim que puder, eu
estarei como você. - -
Moscou é uma cidade de um
ambiente aprazível. Além do Palácio do Governo, tem rios. Cada qual mais belo.
Pontes, lagos e colossais árvores de videiro amarelo. Metrô. Por sinal, o metrô
de Moscou foi projetado para demonstrar o alto grau de desenvolvimento técnico
e estético. Fiel da Igreja Ortodoxa mergulha em águas geladas na Festa da
Epifania. Moscou em noites brancas de luz. Circuito incrível contemplando o
encantador sol da meia-noite. Café da manhã, passeio ao famoso complexo
amuralhado do Kremlin, antiga residencia dos czares russos. A Universidade de
Moscou é uma das mais antigas Universidades do país, os bonecos de Moscou, um
encanto das mil e uma noites para o deleite das crianças. O Kremlin tem o
significado de “fortaleza” em russo. Refere-se a qualquer complexo fortificado
encontrado nas cidades russas.
Já era o sábado marcado para o
recital da pianista Olga. O Teatro de Moscou estava repleto, como sempre ocorre
em finais de semana para os que mais adoram os espetáculos memoráveis. A sala
estava em silencio esperando a apresentação da pianista. Quando a luz apagou, a
cortina se abriu. Uma salva de palma foi ouvida. A pianista, entusiasmada,
agradeceu solenemente. Ouve um silêncio. E seguida, o apresentador fez a
proclamação das melodias iniciais. E depois, saiu de cena. Como primeira
atração, Olga interpretou uma música popular que já se tornava clássica:
“Balada para Adelina”, começado apenas com o piano. A plateia sentiu o encanto.
E, no final do tema, aplaudiu com entusiasmo. A música é de autoria de Paul de
Senneville, feita em homenagem a sua filha, Adelina, então recém-nascida. Logo
em seguida, Olga interpretou O Bolero,
de Ravel, duração de 17 minutos começando quase em silencio. Por fim, Olga fez
a apresentação de o Concerto nº 1,
de Tchaikovsky, duração de 35 minutos. A assistência foi ao delírio com palma
de assobios. Para satisfazer a plateia, Olga interpretou o Concerto nº 3, de Rachmaninoff.
Entusiasmada, a plateia entrou em comoção.
Após o concerto, Olga, Irap e
Helena, já com a cortina fechada, ainda recebiam congratulações dos componentes
da orquestra e de outras personalidades pela atuação magnífica de há poucos
instantes. Falando em Inglês, Olga
agradeceu sobremaneira toda aquela manifestação de carinho que os senhores lhe
prestaram. A conversa durou certo tempo até a oportunidade de seguir para o
Hotel da cidade, acompanhada do maestro Irap Orel lhe fazendo companhia para orientar
a moça talvez para mais um concerto, provavelmente a São Petersburgo, no Teatro
Mariinski, uma joia de teatro ou o Bolshoi, o brilho do tempo dos czares, os
monarcas do Império.
Irap
--- O diretor do Mariinski teve
conversando comigo sobre a possibilidade de a senhora fazer uma apresentação
naquele Teatro. Como já falei antes, eu disse que teria encontros com a senhora
e tão logo soubesse eu daria a ele a resposta. -
Olga
--- Tem o Mariinski e o Bolshoi.
Que achas? - -
Irap
--- Todos são excelentes. Tenho
certeza. O Bolshoi vem sendo mais falada, pelo Ballet. - -
Olga
--- Se for possível, eu escolho o
Bolshoi. É o que desejo! - -
Olga teve um plano que não falou
no momento. Ela conjecturou em trazer a orquestra completa para fazer um
recital com toda a sua pompa. Seu temor era o Bolshoi não ter espaço para a sua
apresentação por conta de outros compromissos. No entanto, em seu pensar, tudo
corria como em nuvens de outono corridas pelo vento. O cismar de Olga levou a
solidão do desejo de ser capaz de naufragar de um instante a outro. E a pensar,
ela se voltou as mestras obras em arranjos na memória delicada do todo o seu
instante. Começaria com Sadko – Canção da Índia -, musica terna, cheia de
encanto, ternura e beleza.
Olga
--- É isso! E por que não?
Melodia calma e cheia de encanto! - - deduziu
E assim, foi dividindo o seu
cancioneiro singular elevando por demais as obras primas de seu cantar motivado
ao piano. Logo em seguida, Olga pensou em Tchaikovsky com o seu Capricho
Italiano, obra prima, onde a orquestra abrilhantava com esmero e carinho. Logo
então, Olga continuou pensando nos êxitos de Mozart com seu Concerto 21 e para
o seu final O Lago dos Cisnes, outra importante criação de Tchaikovsky. Estava
pronto o seu ensaio. Com todo esse terno momento, ela não deu importância a
repetir um autor de esmerada música. Olga estaria, apena, evoluindo em seus
estratos de canções.
Olga
--- Espero que esteja pronto,
dessa forma. É o que espero. –
Helena
--- Eu prefiro Scheherazade. - - declarou a irmã
Olga
--- Scheherazade? Mas, já tem
Sadko. - - respondeu
Helena
--- Tem no início. Se pôr no fim,
é bem melhor. Ele é russo, também. –
Olga
--- Rimsky-Korsakov. Pode ser. -
- pensou com o olhar distante e a mão na boca
Helena
--- Canção da Índia é sublime. -
-
Olga
--- Sim. É sublime. Todas são obras
de arte. - - adiantou
Helena
--- Stravinsky, Balakirev,
Borodin, Arensky. - - fez vez
Olga
--- Arensky! Boa lembrança! - -
com olhar distante
Helena
--- Então? - - indagou