- MENDIGOS -
- 02 -
BOSQUE -
No dia seguinte, pela manhã,
quando então fazia sol, Olga indagou a sua amiga Malusha como faria para poder
conhecer com maior cuidado um bosque de Kiev ou outro local pouco mais distante.
Malusha ficou a pensar como chegar aos bosques perdidos no seu encanto. E
relatou a moça que os bosques tinham incertezas para se conhecer em derradeiro.
Talvez não tenha o gosto de Olga, quem sabe e nem sempre esse gosto seja
aprovável. Não raro se encontra andarilhos pelos campos, pedintes ou mulheres
abandonadas. A guerra trouxera muitas desvantagens para o povo pobre. Gente que
perdeu tudo na sua vida. O povo pobre vive da mendicância. São proletários,
apenas. Então, Malusha, após convencer
em vão a decisão de Olga, buscou o carro e partiu para os bosques de Kiev,
procurando caminhos menos tortuosos e vendo mulheres, meninos e homens já
idosos a não fazer coisa alguma. Um menino apenas lhe estirou a mão ao vê-la
passar em correria. Nesse ponto, Olga pediu parada e a sua amiga obedeceu com
severa obediência. A moça tirou um níquel e botou na mão da criança suja e
esmolambada, sem dizer uma só palavra. Via-se nos olhos as lágrimas caírem. Um
velho agradeceu aquela oportunidade e a moça notou que ele estava com uma
sanfona ao seu lado. Com pouco tempo, Olga pediu ao velho, com gestos, que
tocasse algo. O velho entendeu com precisão. E interpretou antigas melodias do
século passado. Algo melancólico buscando raízes de um passado remoto. Remotas
melodias tristonhas. E a pianista ouviu tudo em silencio, compenetrada e de
olhar sereno. Após o tocar de tudo aquilo, a pianista quis saber.
Na você de Malusha, indagou.
Olga
--- O senhor sabe de algo mais
novo? - -
Igor
--- Sim. Muitas. Eu fui professor
de música em tempos passados. - - disse sorriu
Olga
--- Ah. Muito bem. E ainda toca instrumentos?
- -
Igor
--- Hoje, não. Estou com 80 anos.
E muitas coisas ocorreram. Eu fui banido da Faculdade. Enfim, agora tenho
apenas uma sanfona. - - sorriu
Olga
--- Indecência! Banido? Como pode
ser uma coisa dessas? - -
Igor
--- As coisas acontecem sem a
gente saber. Hoje, vivo com a minha filha. A mulher, morreu. Talvez de saudade
dos tempos passados. - -
Então, a moça, compungida, tirou
da pochete algum dinheiro e fez a doação ao senhor Igor e disse ainda que ele a
esperasse porque um dia estaria de volta. O homem sentiu-se feliz e agradecido
com aquela quantia que jamais esperava.
Olga chorou por demais com a
situação do velho Igor enquanto o veículo prosseguia em sua viagem. Apesar da
idade do idoso, ela se ressentia de tanto mal que ele sofrera ao longo de sua
existência. Com o passar do tempo, Malusha fez o retorno em direção ao hotel. E
nada falou nesse meio de caminho. Apenas, Olga indagou e havia um apartamento
que se pagava aluguel por perto do centro da cidade. Malusha respondeu que sim.
E indagou:
Malusha
--- Por quanto? - -
Olga
--- Não sei ainda. Porque o hotel
é muito caro, creio. Eu vou ficar aqui por algum tempo. E tenho que trazer uma
irmã. É isso! - - disse tristonha.
Malusha
--- Ah. Sei. Você não pensa em
viajar? - - indagou
Olga
--- De início, em tenho que
adquirir um piano. Sem piano é como ficar sem mãos. - -
Malusha
--- É verdade. O piano é a
extensão de suas mãos. -
Olga
--- E eu tenho uns compromissos
marcados para o próximo mês. Minha irmã é Helena. Ela é quem anota meus compromissos.
Tudo é com ela. E eu preciso de alguém que cuida de minhas vestes. No Brasil.
Eu tenho minha mãe. Mas fora, tem que se ver a pessoa certa. - -
Olga estava a necessitar de uma
camareira que cuidasse dos trajes quando fosse se apresentar em um Teatro. Com
certeza, Malusha ajudaria a encontrar um alguém desse estilo. Tais assuntos
Olga debateu com a moça para ter certeza. Cuidar da casa, também era um fator.
Cozinha, faxina, lavanderia. Isso tudo ela tinha através de empregadas
domésticas, no Brasil. E nem se preocupava tanto. Mas, agora, Olga estava em
terra estranha. No Hotel, Olga telefonou para a sua irmã falando ser preciso
que ela viesse para ficar com Olga. E se possível, trouxesse uma camareira. A
cidade era grande e ela não sabia com perfeição da fala do seu idioma. Queria
saber dos contratos já marcado para as suas apresentações fora do país onde
estava. Em suma, essa a conversa com Helena. De imediato, Olga procurou uma
casa para alugar e encontrou várias. Nesse ponto, a moça se tranquilizou. E
voltou o seu olhar para Malusha. Então, sorriu.
Após a janta, Olga foi ao
encontro do piano. Fez uma pausa. Olhou para o alto e começou a dedilhar aos
poucos o que havia de fato nas folhas de papel intituladas “A PRINCESA NUA”. Aos poucos foi encontrando
na partitura os acordes desconcertantes daquela composição. E foi assim o seu
início. Teclava um pouco. Olhava ao leu. Continuava como alguém, devagar, que
estivesse compenetrando-se. E aos poucos, foi o ensaio. Nesse tempo, Malusha
teve que sair para retornar no dia seguinte. Cumprimentou Olga com um beije
dizendo:
Malusha
--- Cuide-se. Volto amanhã. - -
sorriu.
Olga
--- Ah! Pode deixar! Já é tarde!
Eu vou dormir daqui um pouco. - -
No dia seguinte, pela manhã, Olga
e Malusha saíram de auto direto para a Faculdade de Música onde o professor
Irap Orel estava a lecionar aos demais alunos da turma da manhã. As mulheres
esperaram um pouco enquanto observavam as fotos de autores famosos de Kiev,
alunos a mostrar seus troféus tirando em alguns anos, músicos a interpretar
seus instrumentos de música tradicional. Culturas complexas de temas eruditas
da era eslava em geral. A iniciativa procurava dar maior atenção a área de
estudos pouco desenvolvida sob uma perspectiva teórico-cultural inovativa, uma vez
que até então as culturas musicais de mundo eram apenas consideradas sob os
aspectos das influências por elas exercidas.
A Bandura foi o instrumento que despertou maior atenção à estudiosa. De
todos os instrumentos e práticas relacionadas com a música instrumental
ucraniana, a Bandura era a mais divulgada.
Olga
--- Interessante! Eu jamais tinha
visto um instrumento desses. - - curiosa
Malusha
--- Quem sabe se você poderia até
tocar uma Bandura dessas? - - sorriu
Olga
--- Eu? Vou mesmo ao piano! - -
relatou
A Bandura é do tipo saltério,
possuindo trinta ou mais cordas, afinadas cromaticamente, tocada por um plectro
no indicador na mão direita.
Malusha
--- Na nossa cultura é bem
normal. Todos tocadores usam esse instrumento. - -
Olga
--- Na Índia, também. - - relatou
Malusha
--- Sim. Na Índia. E nessa parte
do mundo. Eu já ouvira alguém tocar a Bandura. - -
Olga
--- Nessa parte do Oriente, é
muito banal. - -
Em região como a eslava tem-se
outros instrumentos, como o Kobza, mais difundido em geral; O Kobza vem do
século VI usado por guerreiros. Foi, sobretudo, instrumento de cantores
ambulantes, muitos deles cegos. Os Kobzari entoavam cantos da natureza épica relativos
a fatos heroicos da história. Outro instrumento é o Gusli. O termo deriva de
uma cítara de madeira e significa corda, em geral.
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