sábado, 18 de março de 2017

A PRINCESA NUA - 02 -

- MENDIGOS -
- 02 -
BOSQUE -

No dia seguinte, pela manhã, quando então fazia sol, Olga indagou a sua amiga Malusha como faria para poder conhecer com maior cuidado um bosque de Kiev ou outro local pouco mais distante. Malusha ficou a pensar como chegar aos bosques perdidos no seu encanto. E relatou a moça que os bosques tinham incertezas para se conhecer em derradeiro. Talvez não tenha o gosto de Olga, quem sabe e nem sempre esse gosto seja aprovável. Não raro se encontra andarilhos pelos campos, pedintes ou mulheres abandonadas. A guerra trouxera muitas desvantagens para o povo pobre. Gente que perdeu tudo na sua vida. O povo pobre vive da mendicância. São proletários, apenas.  Então, Malusha, após convencer em vão a decisão de Olga, buscou o carro e partiu para os bosques de Kiev, procurando caminhos menos tortuosos e vendo mulheres, meninos e homens já idosos a não fazer coisa alguma. Um menino apenas lhe estirou a mão ao vê-la passar em correria. Nesse ponto, Olga pediu parada e a sua amiga obedeceu com severa obediência. A moça tirou um níquel e botou na mão da criança suja e esmolambada, sem dizer uma só palavra. Via-se nos olhos as lágrimas caírem. Um velho agradeceu aquela oportunidade e a moça notou que ele estava com uma sanfona ao seu lado. Com pouco tempo, Olga pediu ao velho, com gestos, que tocasse algo. O velho entendeu com precisão. E interpretou antigas melodias do século passado. Algo melancólico buscando raízes de um passado remoto. Remotas melodias tristonhas. E a pianista ouviu tudo em silencio, compenetrada e de olhar sereno. Após o tocar de tudo aquilo, a pianista quis saber.
Na você de Malusha, indagou.
Olga
--- O senhor sabe de algo mais novo? - -
Igor
--- Sim. Muitas. Eu fui professor de música em tempos passados. - - disse sorriu
Olga
--- Ah. Muito bem. E ainda toca instrumentos? - -
Igor
--- Hoje, não. Estou com 80 anos. E muitas coisas ocorreram. Eu fui banido da Faculdade. Enfim, agora tenho apenas uma sanfona. - - sorriu
Olga
--- Indecência! Banido? Como pode ser uma coisa dessas? - -
Igor
--- As coisas acontecem sem a gente saber. Hoje, vivo com a minha filha. A mulher, morreu. Talvez de saudade dos tempos passados. - -
Então, a moça, compungida, tirou da pochete algum dinheiro e fez a doação ao senhor Igor e disse ainda que ele a esperasse porque um dia estaria de volta. O homem sentiu-se feliz e agradecido com aquela quantia que jamais esperava.
Olga chorou por demais com a situação do velho Igor enquanto o veículo prosseguia em sua viagem. Apesar da idade do idoso, ela se ressentia de tanto mal que ele sofrera ao longo de sua existência. Com o passar do tempo, Malusha fez o retorno em direção ao hotel. E nada falou nesse meio de caminho. Apenas, Olga indagou e havia um apartamento que se pagava aluguel por perto do centro da cidade. Malusha respondeu que sim. E indagou:
Malusha
--- Por quanto? - -
Olga
--- Não sei ainda. Porque o hotel é muito caro, creio. Eu vou ficar aqui por algum tempo. E tenho que trazer uma irmã. É isso! - - disse tristonha.
Malusha
--- Ah. Sei. Você não pensa em viajar? - - indagou
Olga
--- De início, em tenho que adquirir um piano. Sem piano é como ficar sem mãos. - -
Malusha
--- É verdade. O piano é a extensão de suas mãos. -  
Olga
--- E eu tenho uns compromissos marcados para o próximo mês. Minha irmã é Helena. Ela é quem anota meus compromissos. Tudo é com ela. E eu preciso de alguém que cuida de minhas vestes. No Brasil. Eu tenho minha mãe. Mas fora, tem que se ver a pessoa certa. - -
Olga estava a necessitar de uma camareira que cuidasse dos trajes quando fosse se apresentar em um Teatro. Com certeza, Malusha ajudaria a encontrar um alguém desse estilo. Tais assuntos Olga debateu com a moça para ter certeza. Cuidar da casa, também era um fator. Cozinha, faxina, lavanderia. Isso tudo ela tinha através de empregadas domésticas, no Brasil. E nem se preocupava tanto. Mas, agora, Olga estava em terra estranha. No Hotel, Olga telefonou para a sua irmã falando ser preciso que ela viesse para ficar com Olga. E se possível, trouxesse uma camareira. A cidade era grande e ela não sabia com perfeição da fala do seu idioma. Queria saber dos contratos já marcado para as suas apresentações fora do país onde estava. Em suma, essa a conversa com Helena. De imediato, Olga procurou uma casa para alugar e encontrou várias. Nesse ponto, a moça se tranquilizou. E voltou o seu olhar para Malusha. Então, sorriu.
Após a janta, Olga foi ao encontro do piano. Fez uma pausa. Olhou para o alto e começou a dedilhar aos poucos o que havia de fato nas folhas de papel intituladas “A PRINCESA NUA”. Aos poucos foi encontrando na partitura os acordes desconcertantes daquela composição. E foi assim o seu início. Teclava um pouco. Olhava ao leu. Continuava como alguém, devagar, que estivesse compenetrando-se. E aos poucos, foi o ensaio. Nesse tempo, Malusha teve que sair para retornar no dia seguinte. Cumprimentou Olga com um beije dizendo:
Malusha
--- Cuide-se. Volto amanhã. - - sorriu.
Olga
--- Ah! Pode deixar! Já é tarde! Eu vou dormir daqui um pouco. - -  
No dia seguinte, pela manhã, Olga e Malusha saíram de auto direto para a Faculdade de Música onde o professor Irap Orel estava a lecionar aos demais alunos da turma da manhã. As mulheres esperaram um pouco enquanto observavam as fotos de autores famosos de Kiev, alunos a mostrar seus troféus tirando em alguns anos, músicos a interpretar seus instrumentos de música tradicional. Culturas complexas de temas eruditas da era eslava em geral. A iniciativa procurava dar maior atenção a área de estudos pouco desenvolvida sob uma perspectiva teórico-cultural inovativa, uma vez que até então as culturas musicais de mundo eram apenas consideradas sob os aspectos das influências por elas exercidas.  A Bandura foi o instrumento que despertou maior atenção à estudiosa. De todos os instrumentos e práticas relacionadas com a música instrumental ucraniana, a Bandura era a mais divulgada.
Olga
--- Interessante! Eu jamais tinha visto um instrumento desses. - - curiosa
Malusha
--- Quem sabe se você poderia até tocar uma Bandura dessas? - - sorriu
Olga
--- Eu? Vou mesmo ao piano! - - relatou
A Bandura é do tipo saltério, possuindo trinta ou mais cordas, afinadas cromaticamente, tocada por um plectro no indicador na mão direita.
Malusha
--- Na nossa cultura é bem normal. Todos tocadores usam esse instrumento. - -
Olga
--- Na Índia, também. - - relatou
Malusha
--- Sim. Na Índia. E nessa parte do mundo. Eu já ouvira alguém tocar a Bandura. - -
Olga
--- Nessa parte do Oriente, é muito banal. - -
Em região como a eslava tem-se outros instrumentos, como o Kobza, mais difundido em geral; O Kobza vem do século VI usado por guerreiros. Foi, sobretudo, instrumento de cantores ambulantes, muitos deles cegos. Os Kobzari entoavam cantos da natureza épica relativos a fatos heroicos da história. Outro instrumento é o Gusli. O termo deriva de uma cítara de madeira e significa corda, em geral.


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