segunda-feira, 31 de outubro de 2016

A MORTE NA ESTAÇÃO - 05 -

- HOSPITAL -
- 05 -
SONHO
Uma noite qualquer de dias à frente o casal dormia eu próprio quarto. A madrugada era de um sábado, coisa de duas horas antes do amanhecer. Norma dormia enquanto Othon ainda dormindo, soltou uma brutal gargalhada. Foi tão forte o gargalha que a senhora acordou com presa, achando que o céu caía sobre a Terra. Naquele momento, ainda meio dormindo, a mulher sacudiu o marido para ele parar de gargalhar.
Norma
--- Acorda, homem. Que gritaria é essa? Que susto! - - acordou a mulher dizendo isso.
O homem ainda dormindo foi acordando de vagar para reportar o ocorrido. Ele disse que percebia a mulher completamente nua andando pelo apartamento.
Othon
--- Foi um caso fantástico! Você plenamente despida e eu simplesmente a olhar! Você seguia pelo corredor e eu apenas a olhar! - - e soltou uma bela gargalhada outra vez.
Norma
--- Que coisa! Nem eu, heim? - - e tornou a dormir
O sono. Ele adormeceu junto à mulher. Dormiram por mais um tempo até chegar a manhã. Quando tocou às seis horas, o homem acordou de repente e mais que isso procurou as chinelas de veludo do chão. Calçou e se levantou apressado com algo indecifrável para ele. Vestia apenas um camisolão e saiu na carreira para o sanitário. A mulher dormia. Foi isso que acordou. Um estrondo descomunal do homem veio do sanitário. E um mau cheiro horrível a seguir. O homem estava defecando a toda sorte. E o barulho do peido o acompanhava. A mulher acordou de vez e indagou o que seria aquilo. Ele, então, declarou estar defecando.
Othon
--- Acho que foi o peru! - - e laçava a mão na descarga para amenizar o volume.
Norma
--- Peru? Que peru? Você só tomou sopa! Que peru foi esse? Ô mau cheiro! Que bosta amarga!
Othon
--- Sei lá. Algo que comi ontem ou antes. - -
Norma
--- Espera! Vou sair! Não aguento! Mau cheiro horroroso! - - e a mulher largou a cama e caiu fora
Ao sair, abriu todas as janelas para ventilar ainda mais. A reclamação não parava. Peru, lagosta ou coisa assim. Quanto mais arejado, melhor ficava o apartamento. E a mulher foi para mais longe no próprio recinto procurando vomitar por conta dos gases soltos no sanitário por seu marido. Por fim, ela fez uma garapa para o homem ingerir quanto saísse do sanitário. Após alguns minutos o homem saiu e reclamou da diarreia.
Othon
--- Puta merda! Diarreia! Dê-me algo para tomar. Buscopan! Algo assim! - - disse o homem um pouco tonto
E foi assim que tudo se acalmou. Por mais uma vez, Othon voltou ao sanitário, porém nada defecou. Era apenas uma vontade recolhida. O medicamento fizera efeito de repente. No resto da manhã, ele não quis comer coisa alguma. Apenas tomou um chá e nada mais. Dessa forma o homem foi ouvir música das que trouxe de São Paulo. Um gorgolejo na barriga foi o que inquietou. Porém, depois, logo passou. Era como se fosse um trovão à distância e se perdendo no infinito. Chegando a hora do almoço, o homem rejeitou comer tudo o que lhe punha à mesa. Ele apenas engoliu um pouco de maçã e nada mais.
Norma
--- Sente algo? - - indagou
Othon
--- Vou ao médico. Pode ser que tenha sido algo estranho. Não sei. Tenho medo! - - reclamou
Norma
--- Caganeira dá em qualquer um! Mas se quer ir, que vá! Não tenho nada ao contrário! – - declarou de sorte.
Logo após o almoço, Othon foi, com sua mulher, ao hospital da UNIMED procurar um atendimento de urgência para ter certeza do que havia de fato na sua barriga. Ele confessou à doutora que estava com medo, muito medo de ter algo inquieto em seu estômago naquele ponto. Podia não ser nada. Contudo podia ser um verme ou outra coisa qualquer. A médica olhou bem os olhos, a língua, a pressão e logo mandou que ele fosse ao interior do hospital para ver mais por outros gastroenterologistas. E assim seguiu o paciente com sua protetora, Norma. Levou a tarde toda em exames até que enfim chegou-se ao diagnóstico: Pâncreas!
Médico.
--- Tem que ser operado com urgência. - - declarou.
O pâncreas é uma glândula fazendo parte do sistema digestivo e endócrino que se localiza atrás do estômago e entre o duodeno e o baço. E dessa forma, montou-se uma cadeia para atender a Othon de forma rápida. Perguntou-se a mulher se ele tinha parentes além dela.
Norma
--- Não senhor. Somos casados e só isso. Nada mais! - - relatou
Othon foi para a mesa de operação com toda a urgência a ser submetido a intervenção cirúrgica como forma de estancar a secreção dos hormônios. O homem adormeceu por lago tempo enquanto se fazia a cirurgia com precisão. A mulher, em uma sala ao fundo do corredor, chorava, copiosa, com temor de que tudo não daria certo. Médicos, enfermeiros, agentes de saúde entravam e saiam por outros lados enquanto a mulher esperava sem graça. Longas horas se passaram até que uma maca com o paciente passou conduzida por dois auxiliares.
Médico
--- Ele está bem. Vai ficar aqui por três dias. Depois a senhora procure saber o que fazer. Ele não pode comer farinha, por enquanto. Qualquer coisa, a senhora terá ajuda de uma nutricionista.
 No dia seguinte, um domingo, o homem acordou levemente e indagou à esposa onde estava. A mulher lhe disse. E ele lembrou. Norma falou ter que sair para trocar de roupa e ele estava em um quarto de hospital. Ela procuraria uma ajudante para garantir os cuidados especiais para com ele. Depois ela retornaria. Avisou aos empregados do setor e logo, saiu. Norma chorou demais até chegar de taxi ao seu apartamento. Cuidou do que tinha para cuidar. Como não tinha ninguém para chamar mesmo ao telefone, ela nada fez nesse sentido. Depois de um café, ela resolveu voltar, no domingo ainda, ao hospital. Recomposta e com roupas a mais, Norma chegou e foi logo para o apartamento onde Othon estava. Chegou, e observou o homem. Ele dormia. A mulher indagou da atende se fazia muito tem. A atendente respondeu que não. Quase que de imediato, o homem despertou. E indagou.
Othon
--- Você aqui? Eu não posso trabalhar manhã. Você tem que ir à Repartição comunicar que eu estou hospitalizado. - - relatou com fraca voz.
Norma
--- Está bem. Algo para deixar na Receita? - -
Othon
--- Eles sabem. Eles sabem. - - falou como com ternura.
E a mulher ficou sentada em uma cadeira a folhear uma revista médica que de nada, ao menos lhe importava. Lá para as tantas uma nutricionista adentrou ao quarto e, com vagar, foi até o homem para observar os aparelhos ligado ao seu corpo. Viu tudo e mediu a pressão arterial com um esfigmomanômetro com a abraçadeira ao redor do braço. Com o estetoscópio ao ouvido, a mulher começou a inflar a braçadeira. Então começou a ouvir a pulsação da artéria. Continuou inflado até o som do pulso desaparecer. Então começou a esvaziar a braçadeira de forma lenta.
A nutricionista guardou sua aparelhagem e conversou um pouco com o paciente relatando que tudo estava bem. Após esse ciclo procurou a esposa para indagar se ele era, de fato, o seu marido e a mulher respondeu afirmativo.
Norma
--- Por que a pergunta? –
Nutricionista
--- Nada. Apenas para conhece-la.  É a primeira vez que ele está aqui? - -
Norma
--- Creio que sim. Nós nos casamos há poucos meses. Não sabia de nada do passado. –
Nutricionista
--- Tenho uma receita para a senhora fazer. Principalmente o que não deve comer, por enquanto.

domingo, 30 de outubro de 2016

A MORTE NA ESTAÇÃO - 04 -

- TEATRO -
- 04 -
TRAVIATA
Acossada com os sapatos de salto alto, as meias a beliscar seus membros, um arrocho por conta era por demais no seu traje. E assim, Norma comentava baixinho os desacertos de sua roupa. O traje de gala era plenamente sofisticado com um comprimento de varrer o chão. Um vestido feito com um tecido glamoroso com seda e tafetá. Flores e broches foram detalhes esmerados. Um par de calçado salto alto combinando com a cor do vestido. Brincos de chandelier. Um diamante e uma pulseira. Brincos simples e um belo colar competindo com seu brilho. Joias de verdade – alugadas – e uma bolsa de mão combinando com o vestido e os sapatos. Uma glamorosa maquiagem de noite.
Norma
--- Chateação! Tudo apertado! - - reclama a moça
Othon
--- Acalme-se. Estamos no Teatro. Esse povo não é chique. As damas fazem de conta que são chiques. Acalme-se. - - sorrio baixinho para a sua dama
O tempo foi passando, cadeiras, camarotes, gerais e freezer totalmente lotados. Depois das 9 horas da noite ouviu-se uma batida surda. Em poucos momentos abriram-se as cortinas. Um silêncio total. Apagaram-se as luzes. Apenas o palco era iluminado. Atores surgiram do palco. Após ruídos aplausos, houve-se silencio total. A orquestra assumiu a festa com o tocar lento aparecendo uns acordes e, logo após ligeiras fase começando o canto de atores bem vestidos, com roupa do tempo em que se fez a ópera, 1852 por Giuseppe Verdi. Conforme estudiosos, o título da Obra é “A Mulher Caída”, baseado no romance “A Dama das Camélias”, de Alexandre Dumas. O silêncio era quebrado quando a plateia ovacionava ao fim de um ato. Foram quatro, na sequência. A noite de festa, o primeiro. O relacionamento amoroso, no segundo. O grupo de mascarados, no terceiro. Por fim, o quarto Ato, a morte da moça! Houve palmas e lágrimas entre o povo da plateia. Um soberbo espetáculo chegado ao fim depois de muita ovação.
Com o povo na rua, alguns chorando, outros alarmados com a Ópera e entre todos, estava Norma a falar baixinho ao seu companheiro:
Norma
--- Não entendi nada com os gritos ferinos dos cantores. Mas achei engraçado. Até mesmo no fim com a mulher morrendo. - - sorriu e calhou
Othon
--- Aquela é uma ópera. Sinal de quem toca ou tocava para uma nobre plateia. La Traviata é uma das muitas, como “Carmem”, de George Bizet, “A Flauta Mágica”, de Mozart e assim por diante.
Norma
--- O senhor conhece essas? - -
Othon
--- Algumas as tenho.  - - sorrio se voltando para Norma
Nessa noite, ao chegar em seu apartamento, Othon tomou um gole de vinho e a festa continuo com Norma. Eles, enfeitiçados, fizeram sexo. Foi a primeira vez. Na cama. E nos outros dias, fizeram sexo da rede, na cadeira e até mesmo no elevador do edifício. Othon estava em êxtase.  Bastava chegar em seu apartamento, à noite, o primeiro a fazer era sexo. Sexo pela primeira vez e pelas outras vezes. Um dia, já era mais de um mês, o homem chegou eufórico com uma máquina fotográfica à mão para observar um outro apartamento, no edifício em frente, quando uma moça tomava banho no chuveiro elétrico. Alí mesmo ele fez as fotos. E assim continuou a fazer durante tempos. A sua mulher nada fazia a não ser sorrir. Eles se amaram em profusão até um dia em que ele propôs um casamento. E assim ficaram noivos de fato
Norma
--- Quando? - -
Othon
--- Amanhã. Depois. Um dia qualquer. Nós chegamos ao Juiz e pronto. –
Norma
--- E a Igreja? –
Othon
--- Você tem religião? - -
Norma
--- Nem sei bem. - - declarou confusa
No final do mês – era o segundo mês – ele entrou em gozo de férias. Já casados, os dois pegaram um avião e foram para São Paulo. Ela nunca voara de avião. Por isso mesmo teve medo. Quando o aparelho começou a se preparar para sair, algo demais ocorreu. A mulher, nervosa, ficou em pânico, pois queria saber o que diabo era aquilo
Othon
--- Nada demais. O bicho se preparando para voar. –
Norma
--- Bicho? Que bicho? - - quis saber
Othon
--- O Boeing. Esse cavalo de aço. Avião. - - respondeu sorrindo
Logo em São Paulo, a primeira coisa a fazer foi se hospedar em um hotel de classe, pois nos outros não valia a pena. Por isso Othon procurou um estilo London Classe assim como estavam ainda em sua cidade. Um hotel dessa casse valia a pena gastar muito. E por lá se fixaram por uma semana, observando de tudo um pouco. Ela, sempre agarrada ao braço do marido. Um cinema, uma boate, um Teatro e demais aquisições de DVDs célebres, como Tommy Dorsey, Count Basie, Benny Goodman, Glenn Miller, Artie Shaw e tanto outros. Foi uma semana de farra e sexo para a eternidade. Eles voltaram com uma mala cheia de brindes, presentes para os conhecidos, como Bebé a dona do Bar onde eles se conheceram há mais de dois meses. Tinha de tudo para se ofertar, até blusão de frio e casaco de lã de pura estampa.
Acaba a festa, um mês depois Othon já estava no trabalho. A moça, no serviço comum como todas donas de casa. Em um dia qualquer da semana, Norma estava esperando o marido para indagar sobre um caso. Ela foi indagada se estava a necessitar de uma empregada. De surpresa, ela perguntou quem a mandou. A empregada lhe disse ter sido um homem lá de baixo. Então Norma matutou.
Norma
--- Lá de baixo? Mas, quem? - -
Empregada
--- Ele disse que procurasse a senhora. –
Norma
--- Já basta de empregada. Mas, venha mais tarde que eu todo a decisão de quem falou. –
E trancou a porta das ventas da empregada, pois a mulher, bem nova ainda, não lhe foi possível responder mais algo. Passou o tempo até quando chego ao apartamento o seu marido com uma fome dos diabos. Entre uma coisa e outra a mulher resolveu indagar sobre a tal doméstica que apareceu de repente causando temor para quem quisesse. Uma doméstica desse jeito não se encontrar nunca.
Othon
--- O homem lá de baixo? Que homem é esse? Quando foi que ela esteve aqui? - -
Norma
--- Pelas nove horas. - - replicou
Othon
--- Eu não mandei ninguém. Se você quiser, a vontade e tua! - - respondeu
Norma
--- Por mim não aceito. Ela surgiu do mato? - -
Othon
--- Do mato! É possível! Das brenhas, possivelmente. - - sorriu
Norma
--- É possível. - -
E a conversa terminou nesse passo. E se a doméstica aparecesse na sua porta outra vez, ela enxotava, como se enxota o cão. E ficou sempre de alerta por toda a tarde. Ninguém lhe apareceu nem mesmo para dar um Ciao. Chegou a noite e tudo estava calmo, o seu marido voltou e foi logo perguntando.
Othon
--- Onde está a moça? - -

sábado, 29 de outubro de 2016

A MORTE NA ESTAÇÃO - 03 -

- PRAIAS -
- 03 -
AS PRAIAS
O calor já de quase 40º graus e o Sol de tamanho acaso era esse o fervilhar na pele do corpo de cada uma das pessoas que estavam naquela praia a tomar banho de mar ou deitar na areia a beira-mar para queimar o seu próprio corpo, indiferente ao acaso. Gente muita a cativar o Sol enquanto que outros moradores ou não puxavam para fora da água salgada uma rede de arrasto colhendo o fruto do gigante Oceano para saciar sua fome ou a fome de alguém com um peixe vivo de tamanho diverso cujo um nome mais ainda estranho parecendo denominação de exótico do mar bravio. Gente de velhos tempos ouvia falar que ali moravam os piratas indecentes a devorar as simples mulheres de outros cantos do mar assustador e inconsequente. Um mar revoltoso a viver nas remotas caminhadas do seu paraíso natural. Seguindo em frente, Othon viu bem um restaurante-bar com um nome típico de “Aconchego” onde fervilhavam dezenas de consumidores entre homens, jovens, mulheres, crianças, saboreando os pratos peculiares da época, entre lagostas e peixes assados ao sabor de todos e qualquer um. O homem estacionou seu carro em uma parte distante do afastado “Aconchego” e convidou a mulher a acompanha-lo. Tudo era diferente aos olhos de Norma. Entre pedras, areias e mar estavam os mais afoitos mergulhadores a se deleitar a qualquer preço entre dunas e oceano.
Norma
--- Incrível! - - declarou ao ver o Oceano
Othon
--- É belo mesmo. Quanta gente já passou por aqui! Isso é o que eu indago! - - falou
Norma
--- O mar, o mar, o mar! - - declarou em êxtase
Othon
--- O mar no céu de verão confunde suas brancas nuvens com os anjos tão puros. - - sorriu
Norma
--- Veja! Perto daqui as lagostas. - -declarou
Othon
--- O mar é uma canção de amor. - - disse mais
Norma
--- Eu sei que esse mar acalenta meu coração para toda vida! - - os olhos marejaram.
Logo em seguida, o casal procurou uma mesa e, de imediato, um garçom se acercou a indagar o que o podia servir tão de repente. Peixe era o mais pedido. Porém, Othon resolveu pedir lagosta, prato sublime para ambos naquele bar tão solitário nos dias de semana. A jovem moça fez cara de desentendia, porque nunca pudera abocanhar uma fruta daquelas. E, naquela ocasião, ela resolveu calar de vez pois o crustáceo só tinha caroço nas costas. Norma observou com prudência se alguém por ali estava comendo as deliciosas lagostas para ver como se tratava aquele crustáceo. Após a busca nada de crustáceo pode ver. Ninguém por lá, estava engolindo as deliciosas lagostas.
Norma
--- Não enxergo! - - falou com a cabeça em volta
Othon
--- O que dissestes? - - indagou
Norma
--- Lagostas! - - respondeu em troca
Uma festa de aniversário de casamento havia de se comemorar naquele instante supremo no Bar “Aconchego”. Era festejado por um casal os seus 25 anos de casamento e toda turma sentada ou em pé em uma mesa no meio da sala aclamava com seus vivas a festança. Gritos e aplauso ao sinal do meio-dia quando o casal de quase velhos agradecia a soberba comemoração por estar dispostos ao acontecimento. Então, naquele local surgiu uma memorável lagosta, caso raro de aparecer em dias comuns. Lagosta é um dos maiores animais da família dos crustáceos. Comer lagosta, naquele local, era servida na própria casca. As patas eram pegas com a mão esquerda. A carne era separada da casca com ajuda de uma pinça. Um garçom era o homem de saber tudo da lagosta. E, por isso, ele preparava o crustáceo com fino requinte. Vinho branco seco acompanhado de molho de tomate, batata e margarina. Estava servida a mesa com o melhor alinho. Adultos e crianças cantavam seus parabéns. Era gente de outro país. Itália. E todos gargalhavam enfim cantando cações de mero tempo. E todos brindaram os idosos casais que se ajuntaram para desejar felicidade perna ao casal cantando Domenico Modugno. A festa se prolongou pela tarde toda. O nosso par entrou na festa também porque todos são amores.
De volta ao apartamento, o casal ainda comentava a festa que nunca esperavam ter. Na sala de música o homem colocou um DVD de Beethoven. A 5º Sinfonia completa desde o início com seus toques magistrais. De longe ouvia-se alguém a cantar La Traviata, Ópera de Verdi. De imediato, Othon parou o seu DVD. E passou a ouvir, ao longe, quem estava cantando La Traviata com voz sublime. A dama cantou com voz singela aquela peça chega o homem tremeu de emoção. Nunca ouvira tal soprano a residir das redondezas. Não era nenhum DVD aquele canto. Enquanto Norma servia a sopa, o homem escutava com ternura, La Traviata até o seu final.
Othon
--- Belo. Belo. Belo. Magnífico! Que voz! - - comentou a Norma
Norma
--- Não é o Rádio? - - indagou
Othon
--- Rádio! Não. Creio que não. Um soprado de verdade. Tem ópera a se apresentar do Teatro? - - quis saber
Norma
--- Como disse? Sei lá! Ópera? Que nome! - - lamentou a moça
Segunda-feira. Dia comum. Othon fez o seu desjejum e logo saiu. Ele foi direto para o trabalho na Receita Federal, bairro da Ribeira. Um trabalho extenuante que fazia quase que diariamente. Na hora do almoço partia para seu apartamento acreditado nas mãos de Norma estando bem melhor que há duas semanas. Ao chegar, ele ouviu da moça um recado.
Norma
--- Um senhor esteve aqui e deixou esse bilhete. - -
Othon
--- Quem é ele? Ah. Sei. Assis. O bilhete! Mas é um convite! Dois ingressos! Teatro. Bom! Vamos ver! Convite para a apresentação da peça La Traviata. Interessante. - - comentou
Norma
--- Quarta-feira, ele falou! - - comentou
Othon
--- Quarta-feira! Quer dizer: vamos? - - sorriu pleno
Norma
--- Eu? Com que roupa? - - acanhada
Othon
--- Vestido da moda! É só buscar um vestido desses. Ora! - -
Norma
--- Como? - - alertou
Othon
--- Vamos à loja de artigos finos. - - respondeu alegre
Norma
--- E o dinheiro? - - quis saber
Othon
--- Ora! Isso de ajeita! Logo à tarde. Prepare-se. É agora. Noite de gala. Você e eu! - - gargalhou
Norma
--- Tem outras coisas! Meias, pintura, adereços. - -
Othon
--- Isso se ajeita. O negócio é o combinado! - - falou sorrindo
Norma
--- O combinado! T’á se vendo! Combinado! Pura merda! - -
O homem sorriu.

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

A MORTE NA ESTAÇÃO - 02

RESTAURANTE
- 02 -
NORMA

Othon foi servido com o seu gosto. A moça que o acompanhou foi Norma, moça vinda do interior do Estado. Eles conversaram e a dona do Bar foi quem a trouxe até o homem. Mulher bonita, esbelta, sensual. Mulher da qual não se precisa mais. Entre olhares sadios aquele homem foi em busca do que achava o complemento de sua ânsia. Ele buscara uma doméstica de há muito e quis saber se Norma queria lhe servir a contento.
Othon
--- Você está aqui há muito tempo? - - quis saber
Norma
--- Uma semana. Tinha um pai. Ele foi morto. Então eu resolvi partir para a Capital.  – - explicou
Othon
--- Ah. Capital é uma nova história. Aqui se encontra de tudo. Agora está aqui? - - quis saber
Norma
--- Sim. Por um tempo. Talvez eu encontre uma outra moradia. - -
Othon
--- Você já conhecia a dona? - -
Norma
--- Sim. Ela também é da minha terra. Fiz a mala e escapei para cá. - - explicou
E a conversa se prolongou por mais algum tem até a chegada de Bebé quando a moça falou de que estava a necessitar de uma doméstica em seu apartamento, com já dissera antes a própria Bebé. Ela, Bebé, confirmou já saber do assunto. Naquele instante a palavra estava com Norma.
Bebé
--- É com você, agora. - - respondeu sem pressa.
Norma
--- E eu vou p’ra lá? - - indagou com a face enrugada
Othon
--- Você indo eu pago bem. Tem o seu próprio leito. Se quiser, tem folga semanal. - -
Norma
--- E eu vou? - - quis sabe de Bebé
Bebé
--- Decida-se. Um emprego sempre é um emprego. Eu acho que você aceitar. –
No domingo, Norma já estava instalada em seu novo lar. Cuidar da casa por total. O homem tinha o seu gabinete de trabalho onde passou toda a manhã a ouvir suas músicas preferidas como a Canção de Ninar, de Brahms, A Valsa, Dança Húngara e tantas outras, desse e de outros autores eruditos. Por sua vez, a moça procurou saber do que prepararia para o almoço. E teve como resposta fazer de qualquer coisa. Frango assado, peixe frito ou coisa do gênero. Para garantir o seu sustento, Othon manteve o cuidado de comprar, na véspera, tudo o que podia adquirir. A última doméstica deixou a casa limpa de tudo. Nada havia para se comer naqueles dias. O homem passou a fazer refeição nos restaurantes da Cidade ou mesmo, nas peixarias existentes do Canto do Mangue ou nas praias, aos domingos onde havia recitais e banquetes, sempre aos finais de semana.
Norma
--- Está na mesma! Frango assado. Molho e vinho. Mais alguma coisa? - - quis saber.
Othon
--- Já? - - espantado
Norma
--- 12 e meia. É tarde. Agora eu vou ao banheiro. - - explicou
Othon
--- Espere! Venha almoçar comigo! Eu espero! - - disse o homem
A moça sorriu e rumou para o banheiro onde pode se ajeitar por completo. Após o almoço, ambos conversaram sobre as suas vidas, trabalhos e cortiços. O homem tinha um retrato em moldura posto sobre a escrivaninha. Por cuidado, ao limpar a casa como um todo, Norma observou com atenção aquele retrato de uma atraente jovem. Norma ficou admirada por tão belo encanto. Uma verdadeira Vênus de Milo, escultura de Alexandros de Antióquia. A moça ficou estupefata por tanta cândida beleza.
Norma
--- O senhor nunca foi casado? - - quis saber
Othon
--- Eu, nunca. Se for por causa do retrato emoldurado, ali está uma moça muito bela. Racílva. Tinha seus 22 anos. Era estudante da Universidade. Certo dia, ela foi dormir e não acordou jamais. Morreu dormindo. Um ataque do coração. A família ficou traumatizada. Eu, também. Nós estávamos nos preparando para casar tão logo Racílva terminasse os estudos. De tudo o que restou foi aquele retrato. A família mudou para São Paulo. Ela era a única filha. - - concluiu
Norma
--- Tristeza! Mundo ingrato! Não acredito! - - lamentou
Othon era funcionário da Receita Federal. Nunca tocou em tal caso a pessoas estranhas. Agora, voltou ao passado e declarou tudo o que nunca falou a ninguém. Após o almoço, e da conversa com a moça, ele adormeceu por algum tempo enquanto a doméstica cuidava dos asseios do restante da casa. Eram passadas as horas, chegando ao anoitecer quando o homem pediu a moça algo bem leve, pois o almoço o deixo cheio demais.
Othon
--- Ainda estou cheio. Faça-me uma refeição ligeira.   - - sorriu
Norma
--- É p’ra já. Não se preocupe com sua barriga.  - - sorriu também
No outro dia, pela manhã, uma segunda feira, Othon faz a sua refeição matinal com coisas leves e saiu do apartamento ditando ser oportuno ela, a moça, preparar algo sem muita gordura, pois, naquela hora, ele defecou coisas ruins e de odor desagradável.
Othon
--- Meu estômago está ruim. Flatos! - - sorriu
Norma
--- Como? - - espantada
Othon
--- Peidos. - - sorriu
Norma sorriu por sua vez. Ela não compreendia muito bem a palavra dita pelo senhor. Após esse tempo o cavalheiro voltou normalmente para o seu apartamento colendo o almoço e a janta durante toda a semana. A moça cuidava de tudo e em uma semana já era uma eximia cuidadora dos casos mais sérios a ter que fazer. Durante as noites, o homem se cuidava assistindo filmes, incluindo o tal que o rapaz do vuco-vuco mencionou: A Morte na Estação. Ele viu a cidade de Praga, naquele filme, bem diferente de Praga que já vira em outros momentos. A Morte na Estação era de um enredo semelhante ao caso sucedido na sua Cidade. Um rapaz de nome Inaldo se agarrou com um trem em tremenda velocidade tendo o seu crâneo dilacerado pela estrada da ferrovia em um longo trajeto. Othon sofreu um calafrio com as imagens do filme. Após esse tempo, ele cochilou para depois adormecer de fato. Essa era a vida que levava sem ter a noção de outros temas. Chegou o segundo domingo quando Norma lhe perguntou sem mera intenção.
Norma
--- Vai sair? - - quis saber
Othon
--- Estava pensando. Percorrer as praias distantes. Que achas? - - sorriu
Norma
--- Ótima pedida. Vai só? - - quis saber
Othon
--- Não. Acho que não. Pensava em ir com você. - - sorriu
Norma
--- Comigo? Ai meu Deus! Praias, praias, praias! Coisas que eu não conheço! - - gargalhou



quarta-feira, 26 de outubro de 2016

A MORTE NA ESTAÇÃO - 01

CAMELÓDROMO
- 01 -
O COMEÇO
Othon seguia para o chamado “vuco-vuco”, um local de vender rádios modernos, relógios de última geração, tesouras, despertadores e, em meio de tudo, tinham comidas chamadas “quentinhas” preparadas na hora. Isso, entre outras bijuterias como bonecas, CDs, DVDs de filmes entre muitas outras bugigangas importadas do porto do Paraguai negociadas por preço bem abaixo do mercado comum. Alí se encontrava de tudo. Discos e rádios velhos em meio de coisas novas. O homem entrou pelo beco existente entre o prédio do Banco e uma casa de comércio, pelo outro lado, saindo da avenida principal da cidade. Manhã de sábado, o negócio ainda era fraco nas casas de comércio entre pouca gente a buscar aquilo que lhe interessava. Um bêbado dormia sobre um banco armado junto a parede do Banco. Uma mulher gorda já saíra das lojas do vuco-vuco chamado de Camelódromo (para depositar um nome mais soberbo) e ela cruzando de momento com o senhor Othon deixando apenas um bom dia para ele o que foi correspondido plenamente. Dentro das lojas do Camelódromo era uma zoada infernal com os jogadores de damas apostando em suas preferências. Após examinar os artigos expostos nas vitrines de DVS de Filme, o homem buscou um rapaz para perguntar:
Othon
--- Novidades? - - perguntou querendo saber o que estava à venda naquela manhã de sábado
Moço
--- Algumas. Tem esse. Eu guardei especialmente para o senhor. É um filme de procedência de Praga, da República tcheca. Fala-se que é muito bom. Quer ver? - - perguntou o moço
Othon
--- A Morte na Estação! - - e o homem viu e reviu o invólucro da caixa
Moço
--- Sim. Um caso estranho. Vou colocá-lo para que possa vê-lo
Após verificar novos lançamentos, o homem embrulhou tudo, inclusive o novo filme e saiu para pegar o seu carro estacionado em uma rua lateral. Ao sair pela rua principal, Othon foi tomado por uma intensa ventania quando seus pacotes de filmes foram ao chão. Uma linda mulher, lá pelos seus 25 anos, foi também apanhada pela ventania que, quase foi ao chão. Com seu vestido branco a moça se viu atrapalhada com a ventania a jogar suas vestes totalmente para cima, pela frente e por traz. A moça ficou totalmente terrificada com suas pernas torneadas e bem-feitas totalmente a mostra. E mesmo assim, procurou se encostar em um pé de fícus “benjamim “ para ter melhor cuidado com as calcinhas estando à vontade com aquele vendaval imprevisto. A moça procurava sorrir atrapalhada e, da rua, os clientes apenas assobiaram para a doce mulher totalmente corada de raiva e medo. Já de pé, o cavalheiro Othon procurou refazer-se do imaginado susto da bela moça entre os assobios da molecada e sorrisos vãos das outras moças se acercou da dama e fez-lhe a melhor ação em acudi-la com cuidado
Moça
--- Obrigada! - -  respondeu a limpar o rosto molhado de lágrimas.
Com isso a moça se soergue e esperou que a ventania placasse para então poder sair com bastante cuidado prendendo com precaução as suas vestes brancas. Por seu lado, Othon lhe sorriu em troca e tomo o seu antigo caminho para buscar seu carro e dali seguir o seu caminho. Ele observou a hora e deu partida em seu carro chegando com certeza a velha Ribeira onde se pôs a examinar o rio a essa altura plenamente cheio. Barcos estavam atados uns aos outros e o homem mergulhou sua visão em busca de encontra os restos da velha estação da Coroa que trazia os trens de ferro pelo lado oposto do rio Potengi.
Othon
--- Só tem barro no local. - - disse ele ao ver o canto da estação
Prosseguindo, o homem visitou o remoto canto da avenida Tavares de Lira procurando divisar algo mais, assim, dos tempos remotos onde ele brincava de retirar as baratas para poder pescar com toda a certeza. Os enegrecidos batelões ainda estavam ali, já bastante carcomidos, mortos, estilhaçados. Mesmo assim, estavam ali à deriva ancorados nas pedras longe da margem do Cais, parecendo um cais de brumas, de névoa porque não dizer assim. Uma tristeza imensa invadiu o espírito do homem por nunca ter alcançado fisgar apenas um peixe, um lambari ou mesmo uma pequena piaba daquelas que não se encontra mais em loca nenhuma. Nem mesmo na praia quando vazia.
Guri
--- Pastel? - - ofereceu um guri ao soberbo mestre das andanças
Othon
--- Não. Obrigado! Espere. Dê-me um desses, por favor! -  - e o garoto cumpriu seu dever.
Com a posse de dois pasteis, o homem saiu para a beirada do cais onde pôs as migalhas de pasteis para os peixes lançarem mão a ingerir como pudessem as sobras de antigos amigos peixinhos do rio.  Feito isso, o homem pagou a sua oferta e partiu tão rápido como tão rápido chegou ali, ao cais àquela hora tardia da manhã. Ele observou o relógio de carro e viu as horas. Na calçada em frente, duas meretrizes caminhavam a conversar. Elas sorriam demais com suas histórias comuns de damas da noite, saídas de um sobrado onde elas e outras viviam as noites de suas glórias. Othon sorriu nem sabendo por que com as gaiatices das damas. O comércio já fervilhava com gente entrado e saindo das oficinas e de modestas casas de vendas. Um garçom botou para fora do seu estabelecimento um bêbado a se esborrachar pelo chão da calçada como se fosse um boneco de barro.
Na Avenida Duque de Caxias, Othon enveredou com o seu carro. Uma rua quase deserta àquela hora de muito sol de quase meio-dia ou uma hora a menos. Ao transitar pela frente da Estação ferroviária ele observou a pouca gente a esperar o trem. Para um outro lado, Othon observou um esquizofrênico a discutir severamente com um poste. Então, o homem largou a sorrir com o esquizofrênico. O sinal abriu passagem para o carro e o homem entrou em uma rua que se chegava a avenida principal da Ribeira onde outros veículos também vinham passado bem rápidos. Um homem de um armazém de madeiras despejava para fora da casa umas peças para colocar na calçada onde o freguês estava a esperar. Na sequência, um bar pouco ornamentado por sinal. Othon encostou o seu carro junto a uma loja de venda de peças de automóveis. Cumprimento um rapaz, mecânico por sinal.
Mecânico
--- Vai ao conserto? - - perguntou o mecânico a sorrir ligeiramente
Othon sorriu em troca, respondendo afinal
Othon
--- Só encostar aqui. Vou ao bar. - - e trancou o carro
O bar estava repleto de mecânicos, damas, operários e gente fina, com certeza. Um rapaz saiu ligeiro respondendo algo sem razão à dona do bar. Nesse ponto, Othon deu entrada e a mulher, baixa, forte e sorridente, abraçou o senhor
Bebé
--- Quanto tempo, heim? - - sorriu abraçada
Othon
--- Uma semana apenas. Trabalhos, trabalhos e trabalhos. - - respondeu sorrindo
Bebé
--- Vamos entrar. Tem peixe, por sinal. - - disse a mulher.
O homem se acercou e procurou um banco vazio em meio de muitos outros. Um menestrel já entoava uma melodia acompanhada por uma vitrola de bar, dessas imensas onde se punha uma ficha para se ouvir uma música nostálgica onde os ébrios se entretiam por vez. Gente até demais àquela hora da manhã, já quase meio-dia. E o barulho ensurdecedor não aplacava para qualquer lado.
Othon
--- Um drinque, por favor. - - disse o homem a sorrir
Bebé
--- Em um instante. – - sorriu a mulher
Outras mulheres despachavam aos fregueses de tudo o que eles queriam naquela manhã de sábado quente. Um mormaço cruel se fazia sentir por todo o meio ambiente do bar. Na rua, o calor era mais forte ainda. Os ébrios chegavam ao balcão pelo lado de fora do bar e pediam uma bebida. Uma das damas servia-os com presteza. Veículos tracionavam para o início da avenida, a 200 metros de distância do inferninho, como se podia chamar aquela minúscula espelunca caso se fosse comparada com os bares distintos da cidade. A velha e grande vitrola de bar continuava a tocar quando um ébrio empurrava uma ficha para ouvir a nostálgica melodia de tempos distantes,
Bebé
--- Pronto. O seu drinque - - sorriu a mulher
Othon
--- Tem fígado acebolado? - - perguntou sorrindo