- HOSPITAL -
- 05 -
SONHO
Uma noite qualquer de dias à
frente o casal dormia eu próprio quarto. A madrugada era de um sábado, coisa de
duas horas antes do amanhecer. Norma dormia enquanto Othon ainda dormindo,
soltou uma brutal gargalhada. Foi tão forte o gargalha que a senhora acordou
com presa, achando que o céu caía sobre a Terra. Naquele momento, ainda meio
dormindo, a mulher sacudiu o marido para ele parar de gargalhar.
Norma
--- Acorda, homem. Que gritaria é
essa? Que susto! - - acordou a mulher dizendo isso.
O homem ainda dormindo foi
acordando de vagar para reportar o ocorrido. Ele disse que percebia a mulher completamente
nua andando pelo apartamento.
Othon
--- Foi um caso fantástico! Você
plenamente despida e eu simplesmente a olhar! Você seguia pelo corredor e eu
apenas a olhar! - - e soltou uma bela gargalhada outra vez.
Norma
--- Que coisa! Nem eu, heim? - -
e tornou a dormir
O sono. Ele adormeceu junto à
mulher. Dormiram por mais um tempo até chegar a manhã. Quando tocou às seis
horas, o homem acordou de repente e mais que isso procurou as chinelas de
veludo do chão. Calçou e se levantou apressado com algo indecifrável para ele.
Vestia apenas um camisolão e saiu na carreira para o sanitário. A mulher
dormia. Foi isso que acordou. Um estrondo descomunal do homem veio do
sanitário. E um mau cheiro horrível a seguir. O homem estava defecando a toda
sorte. E o barulho do peido o acompanhava. A mulher acordou de vez e indagou o
que seria aquilo. Ele, então, declarou estar defecando.
Othon
--- Acho que foi o peru! - - e
laçava a mão na descarga para amenizar o volume.
Norma
--- Peru? Que peru? Você só tomou
sopa! Que peru foi esse? Ô mau cheiro! Que bosta amarga!
Othon
--- Sei lá. Algo que comi ontem
ou antes. - -
Norma
--- Espera! Vou sair! Não
aguento! Mau cheiro horroroso! - - e a mulher largou a cama e caiu fora
Ao sair, abriu todas as janelas
para ventilar ainda mais. A reclamação não parava. Peru, lagosta ou coisa
assim. Quanto mais arejado, melhor ficava o apartamento. E a mulher foi para
mais longe no próprio recinto procurando vomitar por conta dos gases soltos no
sanitário por seu marido. Por fim, ela fez uma garapa para o homem ingerir
quanto saísse do sanitário. Após alguns minutos o homem saiu e reclamou da
diarreia.
Othon
--- Puta merda! Diarreia! Dê-me
algo para tomar. Buscopan! Algo assim! - - disse o homem um pouco tonto
E foi assim que tudo se acalmou.
Por mais uma vez, Othon voltou ao sanitário, porém nada defecou. Era apenas uma
vontade recolhida. O medicamento fizera efeito de repente. No resto da manhã,
ele não quis comer coisa alguma. Apenas tomou um chá e nada mais. Dessa forma o
homem foi ouvir música das que trouxe de São Paulo. Um gorgolejo na barriga foi
o que inquietou. Porém, depois, logo passou. Era como se fosse um trovão à
distância e se perdendo no infinito. Chegando a hora do almoço, o homem
rejeitou comer tudo o que lhe punha à mesa. Ele apenas engoliu um pouco de maçã
e nada mais.
Norma
--- Sente algo? - - indagou
Othon
--- Vou ao médico. Pode ser que
tenha sido algo estranho. Não sei. Tenho medo! - - reclamou
Norma
--- Caganeira dá em qualquer um!
Mas se quer ir, que vá! Não tenho nada ao contrário! – - declarou de sorte.
Logo após o almoço, Othon foi,
com sua mulher, ao hospital da UNIMED procurar um atendimento de urgência para
ter certeza do que havia de fato na sua barriga. Ele confessou à doutora que
estava com medo, muito medo de ter algo inquieto em seu estômago naquele ponto.
Podia não ser nada. Contudo podia ser um verme ou outra coisa qualquer. A
médica olhou bem os olhos, a língua, a pressão e logo mandou que ele fosse ao
interior do hospital para ver mais por outros gastroenterologistas. E assim
seguiu o paciente com sua protetora, Norma. Levou a tarde toda em exames até
que enfim chegou-se ao diagnóstico: Pâncreas!
Médico.
--- Tem que ser operado com
urgência. - - declarou.
O pâncreas é uma glândula fazendo
parte do sistema digestivo e endócrino que se localiza atrás do estômago e
entre o duodeno e o baço. E dessa forma, montou-se uma cadeia para atender a Othon
de forma rápida. Perguntou-se a mulher se ele tinha parentes além dela.
Norma
--- Não senhor. Somos casados e
só isso. Nada mais! - - relatou
Othon foi para a mesa de operação
com toda a urgência a ser submetido a intervenção cirúrgica como forma de
estancar a secreção dos hormônios. O homem adormeceu por lago tempo enquanto se
fazia a cirurgia com precisão. A mulher, em uma sala ao fundo do corredor,
chorava, copiosa, com temor de que tudo não daria certo. Médicos, enfermeiros,
agentes de saúde entravam e saiam por outros lados enquanto a mulher esperava
sem graça. Longas horas se passaram até que uma maca com o paciente passou
conduzida por dois auxiliares.
Médico
--- Ele está bem. Vai ficar aqui
por três dias. Depois a senhora procure saber o que fazer. Ele não pode comer
farinha, por enquanto. Qualquer coisa, a senhora terá ajuda de uma
nutricionista.
No dia seguinte, um domingo, o homem acordou
levemente e indagou à esposa onde estava. A mulher lhe disse. E ele lembrou.
Norma falou ter que sair para trocar de roupa e ele estava em um quarto de
hospital. Ela procuraria uma ajudante para garantir os cuidados especiais para
com ele. Depois ela retornaria. Avisou aos empregados do setor e logo, saiu.
Norma chorou demais até chegar de taxi ao seu apartamento. Cuidou do que tinha
para cuidar. Como não tinha ninguém para chamar mesmo ao telefone, ela nada fez
nesse sentido. Depois de um café, ela resolveu voltar, no domingo ainda, ao
hospital. Recomposta e com roupas a mais, Norma chegou e foi logo para o
apartamento onde Othon estava. Chegou, e observou o homem. Ele dormia. A mulher
indagou da atende se fazia muito tem. A atendente respondeu que não. Quase que
de imediato, o homem despertou. E indagou.
Othon
--- Você aqui? Eu não posso
trabalhar manhã. Você tem que ir à Repartição comunicar que eu estou
hospitalizado. - - relatou com fraca voz.
Norma
--- Está bem. Algo para deixar na
Receita? - -
Othon
--- Eles sabem. Eles sabem. - -
falou como com ternura.
E a mulher ficou sentada em uma
cadeira a folhear uma revista médica que de nada, ao menos lhe importava. Lá
para as tantas uma nutricionista adentrou ao quarto e, com vagar, foi até o
homem para observar os aparelhos ligado ao seu corpo. Viu tudo e mediu a
pressão arterial com um esfigmomanômetro com a abraçadeira ao redor do braço.
Com o estetoscópio ao ouvido, a mulher começou a inflar a braçadeira. Então
começou a ouvir a pulsação da artéria. Continuou inflado até o som do pulso
desaparecer. Então começou a esvaziar a braçadeira de forma lenta.
A nutricionista guardou sua
aparelhagem e conversou um pouco com o paciente relatando que tudo estava bem.
Após esse ciclo procurou a esposa para indagar se ele era, de fato, o seu
marido e a mulher respondeu afirmativo.
Norma
--- Por que a pergunta? –
Nutricionista
--- Nada. Apenas para
conhece-la. É a primeira vez que ele
está aqui? - -
Norma
--- Creio que sim. Nós nos
casamos há poucos meses. Não sabia de nada do passado. –
Nutricionista
--- Tenho uma receita para a
senhora fazer. Principalmente o que não deve comer, por enquanto.