segunda-feira, 31 de outubro de 2016

A MORTE NA ESTAÇÃO - 05 -

- HOSPITAL -
- 05 -
SONHO
Uma noite qualquer de dias à frente o casal dormia eu próprio quarto. A madrugada era de um sábado, coisa de duas horas antes do amanhecer. Norma dormia enquanto Othon ainda dormindo, soltou uma brutal gargalhada. Foi tão forte o gargalha que a senhora acordou com presa, achando que o céu caía sobre a Terra. Naquele momento, ainda meio dormindo, a mulher sacudiu o marido para ele parar de gargalhar.
Norma
--- Acorda, homem. Que gritaria é essa? Que susto! - - acordou a mulher dizendo isso.
O homem ainda dormindo foi acordando de vagar para reportar o ocorrido. Ele disse que percebia a mulher completamente nua andando pelo apartamento.
Othon
--- Foi um caso fantástico! Você plenamente despida e eu simplesmente a olhar! Você seguia pelo corredor e eu apenas a olhar! - - e soltou uma bela gargalhada outra vez.
Norma
--- Que coisa! Nem eu, heim? - - e tornou a dormir
O sono. Ele adormeceu junto à mulher. Dormiram por mais um tempo até chegar a manhã. Quando tocou às seis horas, o homem acordou de repente e mais que isso procurou as chinelas de veludo do chão. Calçou e se levantou apressado com algo indecifrável para ele. Vestia apenas um camisolão e saiu na carreira para o sanitário. A mulher dormia. Foi isso que acordou. Um estrondo descomunal do homem veio do sanitário. E um mau cheiro horrível a seguir. O homem estava defecando a toda sorte. E o barulho do peido o acompanhava. A mulher acordou de vez e indagou o que seria aquilo. Ele, então, declarou estar defecando.
Othon
--- Acho que foi o peru! - - e laçava a mão na descarga para amenizar o volume.
Norma
--- Peru? Que peru? Você só tomou sopa! Que peru foi esse? Ô mau cheiro! Que bosta amarga!
Othon
--- Sei lá. Algo que comi ontem ou antes. - -
Norma
--- Espera! Vou sair! Não aguento! Mau cheiro horroroso! - - e a mulher largou a cama e caiu fora
Ao sair, abriu todas as janelas para ventilar ainda mais. A reclamação não parava. Peru, lagosta ou coisa assim. Quanto mais arejado, melhor ficava o apartamento. E a mulher foi para mais longe no próprio recinto procurando vomitar por conta dos gases soltos no sanitário por seu marido. Por fim, ela fez uma garapa para o homem ingerir quanto saísse do sanitário. Após alguns minutos o homem saiu e reclamou da diarreia.
Othon
--- Puta merda! Diarreia! Dê-me algo para tomar. Buscopan! Algo assim! - - disse o homem um pouco tonto
E foi assim que tudo se acalmou. Por mais uma vez, Othon voltou ao sanitário, porém nada defecou. Era apenas uma vontade recolhida. O medicamento fizera efeito de repente. No resto da manhã, ele não quis comer coisa alguma. Apenas tomou um chá e nada mais. Dessa forma o homem foi ouvir música das que trouxe de São Paulo. Um gorgolejo na barriga foi o que inquietou. Porém, depois, logo passou. Era como se fosse um trovão à distância e se perdendo no infinito. Chegando a hora do almoço, o homem rejeitou comer tudo o que lhe punha à mesa. Ele apenas engoliu um pouco de maçã e nada mais.
Norma
--- Sente algo? - - indagou
Othon
--- Vou ao médico. Pode ser que tenha sido algo estranho. Não sei. Tenho medo! - - reclamou
Norma
--- Caganeira dá em qualquer um! Mas se quer ir, que vá! Não tenho nada ao contrário! – - declarou de sorte.
Logo após o almoço, Othon foi, com sua mulher, ao hospital da UNIMED procurar um atendimento de urgência para ter certeza do que havia de fato na sua barriga. Ele confessou à doutora que estava com medo, muito medo de ter algo inquieto em seu estômago naquele ponto. Podia não ser nada. Contudo podia ser um verme ou outra coisa qualquer. A médica olhou bem os olhos, a língua, a pressão e logo mandou que ele fosse ao interior do hospital para ver mais por outros gastroenterologistas. E assim seguiu o paciente com sua protetora, Norma. Levou a tarde toda em exames até que enfim chegou-se ao diagnóstico: Pâncreas!
Médico.
--- Tem que ser operado com urgência. - - declarou.
O pâncreas é uma glândula fazendo parte do sistema digestivo e endócrino que se localiza atrás do estômago e entre o duodeno e o baço. E dessa forma, montou-se uma cadeia para atender a Othon de forma rápida. Perguntou-se a mulher se ele tinha parentes além dela.
Norma
--- Não senhor. Somos casados e só isso. Nada mais! - - relatou
Othon foi para a mesa de operação com toda a urgência a ser submetido a intervenção cirúrgica como forma de estancar a secreção dos hormônios. O homem adormeceu por lago tempo enquanto se fazia a cirurgia com precisão. A mulher, em uma sala ao fundo do corredor, chorava, copiosa, com temor de que tudo não daria certo. Médicos, enfermeiros, agentes de saúde entravam e saiam por outros lados enquanto a mulher esperava sem graça. Longas horas se passaram até que uma maca com o paciente passou conduzida por dois auxiliares.
Médico
--- Ele está bem. Vai ficar aqui por três dias. Depois a senhora procure saber o que fazer. Ele não pode comer farinha, por enquanto. Qualquer coisa, a senhora terá ajuda de uma nutricionista.
 No dia seguinte, um domingo, o homem acordou levemente e indagou à esposa onde estava. A mulher lhe disse. E ele lembrou. Norma falou ter que sair para trocar de roupa e ele estava em um quarto de hospital. Ela procuraria uma ajudante para garantir os cuidados especiais para com ele. Depois ela retornaria. Avisou aos empregados do setor e logo, saiu. Norma chorou demais até chegar de taxi ao seu apartamento. Cuidou do que tinha para cuidar. Como não tinha ninguém para chamar mesmo ao telefone, ela nada fez nesse sentido. Depois de um café, ela resolveu voltar, no domingo ainda, ao hospital. Recomposta e com roupas a mais, Norma chegou e foi logo para o apartamento onde Othon estava. Chegou, e observou o homem. Ele dormia. A mulher indagou da atende se fazia muito tem. A atendente respondeu que não. Quase que de imediato, o homem despertou. E indagou.
Othon
--- Você aqui? Eu não posso trabalhar manhã. Você tem que ir à Repartição comunicar que eu estou hospitalizado. - - relatou com fraca voz.
Norma
--- Está bem. Algo para deixar na Receita? - -
Othon
--- Eles sabem. Eles sabem. - - falou como com ternura.
E a mulher ficou sentada em uma cadeira a folhear uma revista médica que de nada, ao menos lhe importava. Lá para as tantas uma nutricionista adentrou ao quarto e, com vagar, foi até o homem para observar os aparelhos ligado ao seu corpo. Viu tudo e mediu a pressão arterial com um esfigmomanômetro com a abraçadeira ao redor do braço. Com o estetoscópio ao ouvido, a mulher começou a inflar a braçadeira. Então começou a ouvir a pulsação da artéria. Continuou inflado até o som do pulso desaparecer. Então começou a esvaziar a braçadeira de forma lenta.
A nutricionista guardou sua aparelhagem e conversou um pouco com o paciente relatando que tudo estava bem. Após esse ciclo procurou a esposa para indagar se ele era, de fato, o seu marido e a mulher respondeu afirmativo.
Norma
--- Por que a pergunta? –
Nutricionista
--- Nada. Apenas para conhece-la.  É a primeira vez que ele está aqui? - -
Norma
--- Creio que sim. Nós nos casamos há poucos meses. Não sabia de nada do passado. –
Nutricionista
--- Tenho uma receita para a senhora fazer. Principalmente o que não deve comer, por enquanto.

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