RESTAURANTE
- 02 -
NORMA
Othon foi servido com o seu
gosto. A moça que o acompanhou foi Norma, moça vinda do interior do Estado.
Eles conversaram e a dona do Bar foi quem a trouxe até o homem. Mulher bonita,
esbelta, sensual. Mulher da qual não se precisa mais. Entre olhares sadios
aquele homem foi em busca do que achava o complemento de sua ânsia. Ele buscara
uma doméstica de há muito e quis saber se Norma queria lhe servir a contento.
Othon
--- Você está aqui há muito
tempo? - - quis saber
Norma
--- Uma semana. Tinha um pai. Ele
foi morto. Então eu resolvi partir para a Capital. – - explicou
Othon
--- Ah. Capital é uma nova
história. Aqui se encontra de tudo. Agora está aqui? - - quis saber
Norma
--- Sim. Por um tempo. Talvez eu
encontre uma outra moradia. - -
Othon
--- Você já conhecia a dona? - -
Norma
--- Sim. Ela também é da minha
terra. Fiz a mala e escapei para cá. - - explicou
E a conversa se prolongou por
mais algum tem até a chegada de Bebé quando a moça falou de que estava a
necessitar de uma doméstica em seu apartamento, com já dissera antes a própria
Bebé. Ela, Bebé, confirmou já saber do assunto. Naquele instante a palavra
estava com Norma.
Bebé
--- É com você, agora. - -
respondeu sem pressa.
Norma
--- E eu vou p’ra lá? - - indagou
com a face enrugada
Othon
--- Você indo eu pago bem. Tem o
seu próprio leito. Se quiser, tem folga semanal. - -
Norma
--- E eu vou? - - quis sabe de
Bebé
Bebé
--- Decida-se. Um emprego sempre
é um emprego. Eu acho que você aceitar. –
No domingo, Norma já estava
instalada em seu novo lar. Cuidar da casa por total. O homem tinha o seu
gabinete de trabalho onde passou toda a manhã a ouvir suas músicas preferidas
como a Canção de Ninar, de Brahms, A Valsa, Dança Húngara e tantas outras, desse
e de outros autores eruditos. Por sua vez, a moça procurou saber do que
prepararia para o almoço. E teve como resposta fazer de qualquer coisa. Frango
assado, peixe frito ou coisa do gênero. Para garantir o seu sustento, Othon
manteve o cuidado de comprar, na véspera, tudo o que podia adquirir. A última
doméstica deixou a casa limpa de tudo. Nada havia para se comer naqueles dias.
O homem passou a fazer refeição nos restaurantes da Cidade ou mesmo, nas
peixarias existentes do Canto do Mangue ou nas praias, aos domingos onde havia
recitais e banquetes, sempre aos finais de semana.
Norma
--- Está na mesma! Frango assado.
Molho e vinho. Mais alguma coisa? - - quis saber.
Othon
--- Já? - - espantado
Norma
--- 12 e meia. É tarde. Agora eu
vou ao banheiro. - - explicou
Othon
--- Espere! Venha almoçar comigo!
Eu espero! - - disse o homem
A moça sorriu e rumou para o
banheiro onde pode se ajeitar por completo. Após o almoço, ambos conversaram
sobre as suas vidas, trabalhos e cortiços. O homem tinha um retrato em moldura
posto sobre a escrivaninha. Por cuidado, ao limpar a casa como um todo, Norma
observou com atenção aquele retrato de uma atraente jovem. Norma ficou admirada
por tão belo encanto. Uma verdadeira Vênus de Milo, escultura de Alexandros de
Antióquia. A moça ficou estupefata por tanta cândida beleza.
Norma
--- O senhor nunca foi casado? -
- quis saber
Othon
--- Eu, nunca. Se for por causa
do retrato emoldurado, ali está uma moça muito bela. Racílva. Tinha seus 22
anos. Era estudante da Universidade. Certo dia, ela foi dormir e não acordou
jamais. Morreu dormindo. Um ataque do coração. A família ficou traumatizada.
Eu, também. Nós estávamos nos preparando para casar tão logo Racílva terminasse
os estudos. De tudo o que restou foi aquele retrato. A família mudou para São
Paulo. Ela era a única filha. - - concluiu
Norma
--- Tristeza! Mundo ingrato! Não
acredito! - - lamentou
Othon era funcionário da Receita
Federal. Nunca tocou em tal caso a pessoas estranhas. Agora, voltou ao passado
e declarou tudo o que nunca falou a ninguém. Após o almoço, e da conversa com a
moça, ele adormeceu por algum tempo enquanto a doméstica cuidava dos asseios do
restante da casa. Eram passadas as horas, chegando ao anoitecer quando o homem
pediu a moça algo bem leve, pois o almoço o deixo cheio demais.
Othon
--- Ainda estou cheio. Faça-me
uma refeição ligeira. - - sorriu
Norma
--- É p’ra já. Não se preocupe
com sua barriga. - - sorriu também
No outro dia, pela manhã, uma
segunda feira, Othon faz a sua refeição matinal com coisas leves e saiu do
apartamento ditando ser oportuno ela, a moça, preparar algo sem muita gordura,
pois, naquela hora, ele defecou coisas ruins e de odor desagradável.
Othon
--- Meu estômago está ruim.
Flatos! - - sorriu
Norma
--- Como? - - espantada
Othon
--- Peidos. - - sorriu
Norma sorriu por sua vez. Ela não
compreendia muito bem a palavra dita pelo senhor. Após esse tempo o cavalheiro
voltou normalmente para o seu apartamento colendo o almoço e a janta durante
toda a semana. A moça cuidava de tudo e em uma semana já era uma eximia
cuidadora dos casos mais sérios a ter que fazer. Durante as noites, o homem se
cuidava assistindo filmes, incluindo o tal que o rapaz do vuco-vuco mencionou:
A Morte na Estação. Ele viu a cidade de Praga, naquele filme, bem diferente de
Praga que já vira em outros momentos. A Morte na Estação era de um enredo
semelhante ao caso sucedido na sua Cidade. Um rapaz de nome Inaldo se agarrou
com um trem em tremenda velocidade tendo o seu crâneo dilacerado pela estrada
da ferrovia em um longo trajeto. Othon sofreu um calafrio com as imagens do
filme. Após esse tempo, ele cochilou para depois adormecer de fato. Essa era a
vida que levava sem ter a noção de outros temas. Chegou o segundo domingo
quando Norma lhe perguntou sem mera intenção.
Norma
--- Vai sair? - - quis saber
Othon
--- Estava pensando. Percorrer as
praias distantes. Que achas? - - sorriu
Norma
--- Ótima pedida. Vai só? - -
quis saber
Othon
--- Não. Acho que não. Pensava em
ir com você. - - sorriu
Norma
--- Comigo? Ai meu Deus! Praias,
praias, praias! Coisas que eu não conheço! - - gargalhou
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