sexta-feira, 28 de outubro de 2016

A MORTE NA ESTAÇÃO - 02

RESTAURANTE
- 02 -
NORMA

Othon foi servido com o seu gosto. A moça que o acompanhou foi Norma, moça vinda do interior do Estado. Eles conversaram e a dona do Bar foi quem a trouxe até o homem. Mulher bonita, esbelta, sensual. Mulher da qual não se precisa mais. Entre olhares sadios aquele homem foi em busca do que achava o complemento de sua ânsia. Ele buscara uma doméstica de há muito e quis saber se Norma queria lhe servir a contento.
Othon
--- Você está aqui há muito tempo? - - quis saber
Norma
--- Uma semana. Tinha um pai. Ele foi morto. Então eu resolvi partir para a Capital.  – - explicou
Othon
--- Ah. Capital é uma nova história. Aqui se encontra de tudo. Agora está aqui? - - quis saber
Norma
--- Sim. Por um tempo. Talvez eu encontre uma outra moradia. - -
Othon
--- Você já conhecia a dona? - -
Norma
--- Sim. Ela também é da minha terra. Fiz a mala e escapei para cá. - - explicou
E a conversa se prolongou por mais algum tem até a chegada de Bebé quando a moça falou de que estava a necessitar de uma doméstica em seu apartamento, com já dissera antes a própria Bebé. Ela, Bebé, confirmou já saber do assunto. Naquele instante a palavra estava com Norma.
Bebé
--- É com você, agora. - - respondeu sem pressa.
Norma
--- E eu vou p’ra lá? - - indagou com a face enrugada
Othon
--- Você indo eu pago bem. Tem o seu próprio leito. Se quiser, tem folga semanal. - -
Norma
--- E eu vou? - - quis sabe de Bebé
Bebé
--- Decida-se. Um emprego sempre é um emprego. Eu acho que você aceitar. –
No domingo, Norma já estava instalada em seu novo lar. Cuidar da casa por total. O homem tinha o seu gabinete de trabalho onde passou toda a manhã a ouvir suas músicas preferidas como a Canção de Ninar, de Brahms, A Valsa, Dança Húngara e tantas outras, desse e de outros autores eruditos. Por sua vez, a moça procurou saber do que prepararia para o almoço. E teve como resposta fazer de qualquer coisa. Frango assado, peixe frito ou coisa do gênero. Para garantir o seu sustento, Othon manteve o cuidado de comprar, na véspera, tudo o que podia adquirir. A última doméstica deixou a casa limpa de tudo. Nada havia para se comer naqueles dias. O homem passou a fazer refeição nos restaurantes da Cidade ou mesmo, nas peixarias existentes do Canto do Mangue ou nas praias, aos domingos onde havia recitais e banquetes, sempre aos finais de semana.
Norma
--- Está na mesma! Frango assado. Molho e vinho. Mais alguma coisa? - - quis saber.
Othon
--- Já? - - espantado
Norma
--- 12 e meia. É tarde. Agora eu vou ao banheiro. - - explicou
Othon
--- Espere! Venha almoçar comigo! Eu espero! - - disse o homem
A moça sorriu e rumou para o banheiro onde pode se ajeitar por completo. Após o almoço, ambos conversaram sobre as suas vidas, trabalhos e cortiços. O homem tinha um retrato em moldura posto sobre a escrivaninha. Por cuidado, ao limpar a casa como um todo, Norma observou com atenção aquele retrato de uma atraente jovem. Norma ficou admirada por tão belo encanto. Uma verdadeira Vênus de Milo, escultura de Alexandros de Antióquia. A moça ficou estupefata por tanta cândida beleza.
Norma
--- O senhor nunca foi casado? - - quis saber
Othon
--- Eu, nunca. Se for por causa do retrato emoldurado, ali está uma moça muito bela. Racílva. Tinha seus 22 anos. Era estudante da Universidade. Certo dia, ela foi dormir e não acordou jamais. Morreu dormindo. Um ataque do coração. A família ficou traumatizada. Eu, também. Nós estávamos nos preparando para casar tão logo Racílva terminasse os estudos. De tudo o que restou foi aquele retrato. A família mudou para São Paulo. Ela era a única filha. - - concluiu
Norma
--- Tristeza! Mundo ingrato! Não acredito! - - lamentou
Othon era funcionário da Receita Federal. Nunca tocou em tal caso a pessoas estranhas. Agora, voltou ao passado e declarou tudo o que nunca falou a ninguém. Após o almoço, e da conversa com a moça, ele adormeceu por algum tempo enquanto a doméstica cuidava dos asseios do restante da casa. Eram passadas as horas, chegando ao anoitecer quando o homem pediu a moça algo bem leve, pois o almoço o deixo cheio demais.
Othon
--- Ainda estou cheio. Faça-me uma refeição ligeira.   - - sorriu
Norma
--- É p’ra já. Não se preocupe com sua barriga.  - - sorriu também
No outro dia, pela manhã, uma segunda feira, Othon faz a sua refeição matinal com coisas leves e saiu do apartamento ditando ser oportuno ela, a moça, preparar algo sem muita gordura, pois, naquela hora, ele defecou coisas ruins e de odor desagradável.
Othon
--- Meu estômago está ruim. Flatos! - - sorriu
Norma
--- Como? - - espantada
Othon
--- Peidos. - - sorriu
Norma sorriu por sua vez. Ela não compreendia muito bem a palavra dita pelo senhor. Após esse tempo o cavalheiro voltou normalmente para o seu apartamento colendo o almoço e a janta durante toda a semana. A moça cuidava de tudo e em uma semana já era uma eximia cuidadora dos casos mais sérios a ter que fazer. Durante as noites, o homem se cuidava assistindo filmes, incluindo o tal que o rapaz do vuco-vuco mencionou: A Morte na Estação. Ele viu a cidade de Praga, naquele filme, bem diferente de Praga que já vira em outros momentos. A Morte na Estação era de um enredo semelhante ao caso sucedido na sua Cidade. Um rapaz de nome Inaldo se agarrou com um trem em tremenda velocidade tendo o seu crâneo dilacerado pela estrada da ferrovia em um longo trajeto. Othon sofreu um calafrio com as imagens do filme. Após esse tempo, ele cochilou para depois adormecer de fato. Essa era a vida que levava sem ter a noção de outros temas. Chegou o segundo domingo quando Norma lhe perguntou sem mera intenção.
Norma
--- Vai sair? - - quis saber
Othon
--- Estava pensando. Percorrer as praias distantes. Que achas? - - sorriu
Norma
--- Ótima pedida. Vai só? - - quis saber
Othon
--- Não. Acho que não. Pensava em ir com você. - - sorriu
Norma
--- Comigo? Ai meu Deus! Praias, praias, praias! Coisas que eu não conheço! - - gargalhou



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