terça-feira, 30 de setembro de 2014

O INFERNO - 18 -

GRACE KELLY 
- 18 -
- ESPANTO -
O espanto atormentava sobremaneira a jovem moça a se lembrar ainda do sonho inquieto da madrugada. Ela não supunha ser de verdade aquele pesadelo. Porém, o terror foi bem maior àquela hora sombria do início da manhã. A tal demonstração da maldade e horror. As portas das casas vizinhas se abriram devagar. Os moradores comentavam o que se passava na habitação de dona Totó.
Morador:
--- Ladrões? – indagou inquieta uma das tais vizinhas com a porta um pouco fechada.
Morador 2:
--- Parece. Parece. – respondeu um homem por trás da mulher ainda vestida de trapos.
Morador 3
--- Deixa eu ver, deixa! – pedia licença a filha do casal
Assim, era o início da manhã para Norma Balistiero, assustada por tudo quanto vislumbrou em sua habitação. A moça, aturdida, pedia socorro a um dos seus vizinhos a esmurras a porta da velha e humilde casa contigua a sua. De modo impressionante a moça enxergou um cemitério antigo onde fantasmas vagavam em seus trajes tumulares. Era um mal de pessoas já mortas há centenas de anos, conforme a moça. E por isso, ele gritava pelo amor de Deus para alguém lhe proteger desses perigosos elementos mortos já há bastante tempo.
Norma:
--- Eu vi! Eu vi! Eu vi! São eles! São eles! São eles! – gritava a moça ao desespero.
O dono da casa ficou alheio aquilo que ouvira dizer por Norma àquela hora matinal. E apenas indagou com o seu rosto franzido pelo temor.
Vizinho:
--- Que ela tem? Ladrões? – indagou preocupado.
Anciã:
--- Espera! Deixa a moça contar o que viu. – falou a anciã ainda enrolada em sua coberta.
Coberta de espanto e ânsia, sempre aos gritos, Norma delirou naquilo a pronunciar ao certo e de momento afinal caiu em vômitos como se estivesse tragado algo como uma amedrontada víbora. A vidente examinou a jovem moça da cabeça aos pés e nada mais lhe declarou. Era apenas do que se tratava para falar. Diante da porta da humilde casa uma porção de gente já estava apreensiva querendo saber mais detalhes do “ladrão” misterioso. A moça arrodeou a casa de dona Ana e buscou entrar apreensiva em sua moradia.
Com mais um pouco de horas, mesmo chegando em cima da hora, Norma Balistiero chegou ao seu trabalho aonde de imediato encontrou o seu amigo Sócrates Fernandes e, então se debruçou em prantos diante do novo inexplicável ocorrido em sua mesa de trabalho.  O seu chefe ficou assombrado com tanto pranto e então indagou com precaução por temer uma reprovação qualquer:
Sócrates:
--- Que houve, menina? Algo de anormal? – indagou em espanto.
Sem consolo a moça continuava a chorar com a sua cabeça apoiada nas mãos postas em cima da escrivaninha não ouvindo além do seu desalento. O terror daquela manha ainda persistia na face de Norma como se fantasmas lhe acorressem a todo instante. Era sim, um terror estranho e por demais assustador capaz de lhe arrancar a alma. Sim! Era aquilo as portas para o além onde assombrosas causas torturavam ainda mais a mente da infante núbia. Foram preciso passar os eternos momentos para a moça de compor de verdade. E então, Norma falou com extrema reticência.
Norma:
--- Meu pai e uma porção de terríveis monstros surgiram em minha habitação. – falou com angustiosos prantos.
E então a virgem contou o sucedido buscando amparo em suas imensas agonias. O rapaz ouviu toda a história e procurou acalma-la de momento até buscar a proteção de um senhor de nome Paranhos para poder ouvir a verdade do ocorrido. Paranhos era um gigante de corpo pesando mais de cem quilos e suas mãos seriam capazes de soerguer um guindaste por possuir tamanha força. Apesar de ser um gigante a sua calma destoava do seu aspecto. Um rosto aguerrido de alguém querendo o mau, Paranhos, na sua fala era um completo contraste. Falação mansa e tranquila. Durante alguns minutos ele chegou ao escritório do rapaz. De modo simples e cordial cumprimentou os que estavam presentes. A essa altura, a moça Norma já havia parado de chorar. Mesmo assim, continuava a tremer do assombro da madrugada passada. Com um instante de conversa, Paranhos iniciou o diálogo com a moça e ela teve que recontar todo o ocorrido a começar pelo havido momentos antes, no dia anterior quando esteve com o rapaz, Sócrates Fernandes. Todos os detalhes foram expostos. E depois de ouvir o imenso relado, o homenzarrão assobiou por temor e logo falou:
Paranhos:
--- Vamos lá. Se a senhorita permitir nós estaremos em vossa casa logo mais no início da noite. – falou com muita calma.
O dia correu tranquilo apesar da moça está com “uma pulga atrás da orelha” à espera da temível noite quando podia ocorrer novas tentativas de aparições de fantasmas. O dia se tornou calmo passando a chuva fina do início da manhã. As moradias onde habitava Norma era de uma pobreza incrível. Apenas empregados da Estrada de Ferro, mecânicos de automóveis, sapateiros entre os demais de ofícios desiguais, como dona Totó. A mulher trabalhava numa firma de agave e talvez esse fosse o melhor emprego dos demais, afora o pessoal da Rede Ferroviária ou de alguns estabelecimentos bancários. O certo é que as sete horas da noite Paranhos, Sócrates e alguns outros membros do círculo estariam em casa de Norma para fazer uma sessão de obrigação contra os “encostos” ou de seres notadamente malévolos.
Então, as sete horas da noite, os membros da Mesa Branca estavam reunidos em uma sessão silenciosa. Na mesa estava um copo de água fluidificada, uma porção de terra de cemitério – em caso de haver a presença de espíritos do mau – e rosas de enfeites com velas acessas. Ao início dos trabalhos começou por desvendar o mistério da aparição de seres horrendos e malévolos da manhã naquela humilde residência. No estranho e soturno ambiente surgiu uma figura de um fantasma rompendo todas as coisas ao seu redor, inclusive a parede da sala. A moça Norma estremeceu de pavor ao ver de perto a figura horrorosa a buscar odiosidades.  E declarou, em êxtase:
Norma:
--- É ele! É ele! É ele! – falou alucinada ao ver a figura estranha.
Paranhos:
--- Silêncio. Vejamos o que ele quer! – respondeu o chefe dos médiuns.
Fantasma:
--- Isso é o que os senhores pensam. Eu procuro apenas essa mulher! Ela é minha mulher! Apenas só minha!!! – vociferou a aparição buscando atentar a moça Norma.
E em arrebatamento a moça delirou com todo o seu poder enfraquecido. Ela jamais conhecera tal horrenda criatura. Em desespero total, Norma gritou extasiada.
Norma:
--- Sai daqui seu monstro!!! Sai daqui!!! – gritou em delírio.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

O INFERNO - 17 -

JENNIFER LAWRENCE
- 17 -
TERROR
De forma repentina, Norma acordou assustada com a visagem que tivera de um homem dizendo apenas ser o seu pai em outras gerações. O seu coração pulsava de modo alucinado e o suor lhe dominava a face. O seu cômodo onde dormia estava às escuras. Uma luz se projetava de um lado de trás da cozinha. A sua mãe talvez dormisse sossegada em outro cômodo, pois a calma da madrugada provinha a plena e total tranquilidade. Um rato passou por entre o camiseiro e a parede com a porta ainda casualmente fechada, provocando em Norma um leve temor com tal inquieto barulho. Ela olhou o rato a sair com pressa e nada fez. Da cobertura da casa descia um véu de teia de aranha junto a parede que dava para o oitão onde havia um muro. Norma olhou a névoa de repente e se estremeceu como jamais vira o tal véu. A escuridão da noite fazia o véu da aranha algo impressionante. Um gato pulou em cima do cômodo próximo a cama derrubando um vidro de perfume e isso fez maior desastre no escuro noturno da madrugada.  Um vento morno correu por entre portas e arcadas da casa soltando um uivo tal qual um sedento lobo. Em instantes ouviu-se um cão latir forte por alguma coisa qualquer. O terror louco fez tremer a moça por pressentir um redemoinho em sua volta como se alguém estivesse partindo para o escuro luto do sem fim.
Norma:
--- Mãe? – gritou estremecida toda nervosa.
A mulher demorou a responde diante das frequentes chamadas da sua filha. Por certo período, entrou no quarto vizinho ao seu a mulher toda coberta de trapos e se envergando por completo como se estivesse com um intenso frio. Maria Augusta era o seu nome. Porém alguém a conhecer a chamava apenas de “Totó” ou dona Totó, como era habito. Totó trabalhava em uma empresa de tecer agave e o expediente era diurno com pausa para o almoço. Sua habitação era próxima da Vila Ferroviária de Natal e o seu caminhar era feito pela rua das Oficinas da Rede Ferroviária. Quando o apito a Rede soava, era hora de começar o expediente para todos os trabalhadores, inclusive da fábrica de agave. A sua habitação ficava próxima da fábrica o que dava a oportunidade da mulher chegar logo cedo a empresa. Com um salário mínimo Totó se mantinha e a sua casa. Nesse ponto quando a filha também arranjou um trabalho no escritório a coisa ficou mais simples. O marido de Totó abandonou a casa e não deu mais notícias. A moça soube através de um espírito ter o homem arranjado um emprego de transportador, porém não houve uma explicação para o caso.
Quando dona Totó chegou ao quarto onde a filha dormia a encontrou em um assombro absoluto. Totalmente despenteada, a moça apenas gritava de espanto e horror. Aquilo era um pesadelo infernal para todos os sentidos da vida. Em pânico, Norma gritava para a sua mãe que o seu pai estava ali bem perto da mulher. E apontava com o dedo da mão em êxtase total. O cobertor da cama estava aos pandarecos e Norma saltava apavorada em cima do seu leito. E a continuar, o colchão rolou para baixo. O inferno era o mínimo que se podia aludir.
Norma:
--- É o Lorde, mãezinha! É o Lorde! – bramia a moça ao desespero.
Totó:
--- Que Lorde, menina? Tu me acordas no meio da noite para conversar besteiras? Vai dormir! Ora mais! – reclamou a mulher aborrecida com a filha.
E a moça chorava como criança agarrando-se a sua mãe com todo o espanto possível. A mulher procurava sair do entrave totalmente aborrecida. Um rato correu por entre a parede a sair pela porta do quarto. Em seguida, em sua perseguição, corria o gato. Nem demorou muito para animal estrangular o pequeno rato. Ouvia-se os gritos afiados do bicho contra o rosnar cruel do infame felino. A mulher dona Totó se espantou com a tal carnificina. E então procurou se desvencilhar das mãos de sua filha e, de chinelo na mão, seguiu os dois contendedores e abaixou o chinelo no minguado roedor. Apesar de sua determinação em ajudar o seu gato, esse foi mais rápido e saiu do local onde se encontrava, agarrando o rato pelo pescoço e se perdendo de vista de dona Totó alcançando a baixa parede da casa de duas águas, fugindo então com sua caça.
No instante seguinte, a jovem moça Norma se acercou da sua mãe, senhora Totó e pedia proteção da mulher, pois estava terrificada com o surgimento do seu antigo pai. E lhe pediu amparo:
Norma:
--- Por favor mãezinha! É verdade! Eu juro! Ele estava aqui! – rogava a moça
Totó:
--- Besteira! Vá dormir! Você está de regras? – indagou surpresa.
Então a moça caiu no choro ainda mais forte e frequente. Nada havia em comum entre uma coisa e outra. Ela havia visto o espírito do seu pai de antigas datas. Lord Thomas Connor Ryan e nada mais. E dessa vez um tanto velho e esmolambado. A imagem seguinte era um lar abandonado onde habitavam moradores nas casas velhas em ruínas a ficar bem distante o centro de uma cidade, com certeza. Lembrava a moça de túmulos assombrosos onde estariam sepultados os velhos moradores dessas soberbas residências já então nem tão arrogantes. Aquele pesadelo que assustou Norma, virou enfim realidade. Uma realidade apavorante. Do lado de fora da sua habitação um vento forte e soturno se fez presente. Um ruído aterrorizante envolvia tudo o que encontrava pelo caminho e levantando voo para o alto levando todo o achado. A moça se assombrou mais ainda e gritou por sua mãe. A mulher estava à procura do gato e fez sinal de silencio para Norma.
Totó:
--- Shitt. Silêncio! Queres acordar todo o povo da rua? – disse a mulher com espanto.
Norma:
--- Que é isso? – gritou alarmada pelo vento forte.
Totó:
--- Não tá vendo que é chuva! Vá para cama! No meu quarto! E veja se dorme um pouco mais! – falou brava em voz baixa.
E Norma procurou adormecer na cama de sua mãe naquela madrugada terrível. Ela não podia conciliar o sono. As cinco e meia dona Totó levantou de vez para arrumar o almoço da mocinha e levar um pouco para a sua refeição a meia jornada do trabalho, às 11 horas matinal. Dona Totó verificou a filha e a viu dormir por um pouco de tempo. Logo em seguida, com a refeição em cima da cabeça, saiu Totó a contar os passos verificando as horas, pois tinha que entrar na tecelagem de agave antes do horário previsto. Ela não perdeu o sentido em se lembrar da sua filha ainda a dormir após as horas de angustias das tempestades da madrugada. Fora de sua casa, Totó enfrentou a parca chuva do nascer do dia. Com poucos minutos, Norma se levantou da cama e buscou os afazeres domésticos. Ela não esquecera nem um pouco da visagem tida do homem a si dizer o seu antigo pai. Quando Norma estava trancada no banheiro ouviu um inquieto barulho por dentro da casa. Foi um instante rápido. A moça estremeceu de medo. Algo podia estar fazendo proezas. De repente, a moça abriu a porta do banheiro e olhou para o lado de fora. Nada havia o que repor. Um gato, com certeza, foi o que Norma supôs. Mas não era gato. Uma assombração do outro mundo estava ali, presente, a sair da catacumba nunca existido naquela região. Mas, não era aquela a região. Era um lugar dos mortos outrora bem longe de onde a moça estava. Um pesadelo demoníaco e cruel capaz de virar e destruir todas as forças presentes. Uma demonstração de pura maldade. A moça gritou de terror por causa das portas se abrindo para os degraus da morte. Era um novo pesadelo vivo. Cruel. Ao desespero, a moça correu assustada buscando as vestes a qualquer modo para se ver livre daquela aparição.
Norma:
--- (grito de terror) – Socorro! É o demônio! Socorro! – gritava ao terror da aparição.
E saiu do local do banheiro/sanitário a se trancar no quarto onde tinha o seu leito. O assombroso tirano estava ali, dentro de sua casa, em pela manhã de chuva. Em êxtase, Norma vestiu uma roupa qualquer a encontrar no armário e saiu desabalada de porta a fora em busca de algum socorro. Ouvia-se apenas o seu gritar:
Norma:
--- (gritando e chorando) – Um fantasma! Cemitérios! Cemitérios! Cemitérios! – gritava a batia com força na porta de uma casa vizinha a sua como estivesse no colapso da morte.
A dona da casa abriu a porta com muito vagar, mas a força da moça foi maior e empurrou de rojão tudo o que estava a avistar e entrou de repente e assombrada. A mulher, sua vizinha, caiu para trás e o seu marido e as filhas acorreram para atender a moça sem saber o estado real de Norma.
Homem:
--- Que foi? – perguntou com susto.
E a velha corcunda, pequena e quase muda, declarou sem muita pressa, segurando a moça pelo seu braço e se enfurnando para o seu quarto de dormir e caminhando com outras pessoas da sua casa:
Velha:
--- Pera aí. Vamos cá pra dentro. E você, sem susto, me conte a história do mal que você diz ter visto. Vamos, vamos. – caminhada a velha mulher a assegurar pelo braço a frágil donzela.
E após ouvir o contar de sua história, a moça chorava copiosamente ante o tenebroso assombro por ela vivido a tão cedo do dia. No quarto da velha senhora não entrava ninguém, pois a mulher, Donana tinha trancado com o ferrolho a única porta de entrada. O verdadeiro nome da velhinha era Maria Ana do Coração de Jesus Macedo. Por ser um nome tão extenso, o povo de acostumou a lhe chamar de “Donana”. O tempo se passou mais ou menos rápido e a velha, com ramo de folhas que as costumava ter em seu minúsculo quarto fez uma oração de benzeu a moça a lhe recomendar ir logo à noite a um centro espírita onde poderia contar de novo a sua macabra história. 


sábado, 27 de setembro de 2014

O INFERNO - 16 -

Jennifer Lawrence
- 16 -
- APARIÇÕES -

Acima do horror tétrico a virgem Norma ainda falou de momentos crucias quando nem por sonho acordara. Eram verdadeiros fantasmas aqueles apavorantes seres aparecendo de um gigante vulcão cheio de lavas capaz de tragar vivas as criaturas indefesas e trôpegas em busca do infernal destino. Entre tais seres a virgem era capaz de vera figura do garoto Francisco a suplicar clemencia em proteção do seu infeliz destino. Macabras figuras plenas de odiosidade e terror sangravam as suas enigmáticas vítimas ao descer às profundezas do abismo da destruição eterna em um profundo lago de chamas.
Norma:
--- Era um passado assustador e cruel. Um horror inimaginável. Os corpos eram arrastados para o fundo abismal. Uma destruição fantástica. Um aniquilamento total. – relatou a moça cheia de temor e espanto
O jovem Sócrates estremeceu de horror com o contar do enigmático sonho da virgem. Algo de sepulcral tornava-se uma realidade diabólica. Acontecimentos cruéis e monstruosos. Algo fantástico e nebuloso. Enfim, o jovem despertou para a realidade e voltou a conversar.
Sócrates:
--- Contudo. ... E o ser que se diz ser o seu filho? – indagou preocupado.
Norma parecia dormir apesar de atormentada. Vagou pelo espaço para depois relatar.
Norma:
--- Eu sei que tive um câncer aos 20 anos. Eu fui atendida em um hospital – não sei aonde e nem por quem. E sei bem, que os médicos me deram pouca chance de vida. Eu digo isso porque em outros sonhos eu tive essa informação. Com eu era de menor, não liguei muito ao fato. Hoje estou mais alerta. Isto quer dizer que eu vivi em outra existência. E nesse tempo foi o meu aborto, com certeza. É o que suponho. – falou em lágrimas.
Sócrates:
--- O espírito do seu filho está junto agora. É por isso que a senhorita está chorando. Ele chora. Essa sua vida foi de muitas gerações anteriores. Não foi logo em sequência. Quem me fala é o meu mentor. – salientou nervoso.
Norma:
--- Entendo. Entendo. Tem uma floresta perto de onde eu morava naquele tempo. Agora eu não sei em qual lugar. Tinha uma estrada longa. Casas velhas. Névoa. Muita névoa. Eu vi isso em uma espécie de visão. Mas eu não estava mais em meu corpo. Acompanhava uma charrete usada como ambulância.  A charrete era puxada a cavalos. Seis cavalos. A minha família tinha posses. Não sei dizer. Mas era família rica. O meu pai era um Nobre. Eu me lembro de cavalos. Às vezes eu corria a cavalos. – destacou.
Sócrates:
--- Lord Thomas Connor Ryan! – respondeu uma voz.
Norma:
--- Quem falou? – perguntou sobressaltada.
Sócrates:
--- Um Mestre. Ele está falando. A senhorita estava na Inglaterra. Idade Média. A senhorita estava com 21 anos. Um câncer no útero. Problema de uma vida anterior. A senhorita era casada de poucos meses. Já chegou sem vida ao hospital. – falou o rapaz ouvindo o Mensageiro da Paz.
Norma ficou pasma com a grandiosidade do conhecedor de sua história. Quanto mais ela ouvia muito mais impressionada ela ficava. O pensamento mais forte era saber como o Mensageiro podia saber de todo o seu passado. Era a primeira vez que Norma conhecia a sua vida anterior. Então a virgem ainda quis saber:
Norma:
--- O meu pai é separado de minha mãe. E onde está vivendo esse homem agora? – dirigiu a pergunta ao Mensageiro.
Sócrates se encheu de energia para ter a possibilidade de responder a questão em um curto prazo de tempo. E com poucos instantes, respondeu.
Mensageiro:
--- O homem que tu perguntas é o teu atual pai. Ele vive como caminhoneiro. Agora, o teu pai anterior, ele está a teu lado! – respondeu o Mensageiro
A virgem se estremeceu de súbito e procurou perceber alguém que fosse o seu passado fraternal pai. Porém não avistou esse homem, outrora um Lord. Cheio de cismas voltou a querer saber:
Norma:
--- Onde? Aqui não vejo nem alma. – falou a moça com imenso susto.
Mensageiro:
--- Tu verás! Tu verás. Agora, não é possível. Mas tarde. Quando fores dormir. – declarou o Mensageiro e se evaporou de vez.
Sócrates despertou do êxtase e perguntou à virgem o que sucedera. Ele estava como sonolento e cheio de temor. A virgem relatou o ocorrido adiantando ser à noite o crucial encontro com o seu pai anterior, Lord Thomas Connor Ryan.
Norma;
--- Ele esteve aqui comigo! – relatou a moça cheia de temor.
Sócrates:
--- É assim a vida. Quem procura, acha. Eu indago agora: a senhorita não pensa ir ao Centro? – perguntou com uma cara sisuda. 
Norma:
--- Hoje? – indagou surpresa.
À noite, o Centro estava repleto de gente. Uns com aleijo, outros gritando, alguns se retorcendo todo, uma mulher a dormir. Entre outras estranhas pessoas onde nenhum mostrava sinal de sossego ou quietude. Após a dissertação do Evangelho houve uma pausa. Apagaram-se as luzes da sala e o povo caminho para receber os passes, de acordo com as suas necessidades. Uma mulher era levada por dois acompanhantes, sinal de que ela era paraplégica e utilizava inclusive uma cadeira de rodas. Um rapaz fazia convulsões com a sua cabeça, um instante para cima e para baixo. Um rapaz andava com os seus quadris no chão. Era todo o desatino dos viventes.
Logo mais tarde, quando Norma se acolheu em seus aposentos para então dormir, ela pensava em conhecer o seu antigo pai. Levou um longo tempo para a virgem conciliar o sono. Por mais que se remexesse na humilde cama, o sono era um sacrifício. Após um longo período, a virgem adormeceu. E sonho com algo lúgubre. Ferramentas diversas espalhadas pelo chão da casa onde pensava estar. Ainda, uma escada demostrando ali ser uma casa funerária. Uma energia intensa sacudiu todo o seu inanimado corpo. Por mais que se sacudisse na cama, não havia um local para, consciente, despertar de fato. Era ela como uma jovem mulher a estar em um confuso cemitério onde os cadáveres dormiam os seus eternos sonos. O mais grave de tudo: ela não tinha local para onde caminhar. Era um passado mórbido o que estava Norma a enxergar. A um certo instante, Norma avistou um cemitério com suas catacumbas semiabertas. Então era enfim tudo náusea.  Macabras figuras asquerosas passeavam sonolentas vestindo suas roupas em trapos, umas agarradas às outras nos expostos locais tumulares. Era a morte entre os vivos. E, de repente, uma voz soturna ecoou:
Defunto:
--- Norma! Eu estou aqui ao teu lado! – disse o morto coma sua pesada voz.
Norma:
--- Quem? – ela se voltou de repente para o cadáver.
Defunto:
--- Eu. Lord Thomas Connor Ryan. O teu pai. – falou tristonho o cadáver.
Norma:
--- Meu pai? – indagou plenamente assustada.
A efígie do ser apenas sorriu lhe querendo ditar ser ele um ex-Lord pois aonde estava aquele título de nada lhe servia. Suas roupas eram rotas e o ente aparentava estar em uma pobreza extrema, algo como alguém já sem nada mais a importar. Ele era apenas cansado e doente de esgotamento sem eras. A tez era sombria e os seus cabelos da cabeça eram tão ralos como uma nuvem ou uma árvore desfolhada e expirada.   

O INFERNO - 15 -

Emmanuelle Riva
15
ASSOMBRAÇÕES

No dia seguinte, pela manhã, onde não havia ainda um bom movimento, a virgem estava em sua máquina de datilografia escrevendo pedidos às firmas de outros Estados e o seu chefe concluía as remessas do dia passado. O rapaz da limpeza fazia seu serviço antes que o patrão chegasse ao escritório, caso de não demorar muito. O garoto dos jornais matutinos entregava os exemplares do dia com uma pressa tremenda e em seguida se punha ao largo para a entrega em outras repartições do mesmo edifício. A manhã era calma e de sol e se ouvia da rua gente a conversar assuntos atuais. Um veículo a passar fazia zoada irritante com o espocar do motor dando tiros a todo instante. O caso era hilário e em seguida alguém falava ao motorista para colocar gasolina na frente porque o motor estava suado até demais. Outros engraçados bagunceiros torciam risos pela razão do fato em si. Essa era a vida da rua em seu início de labor. De repente, a virgem Norma achou de indagar ao seu chefe, senhor Sócrates Fernandes.
Norma:
--- O senhor tem sonhos? – indagou curiosa.
O rapaz estava por demais distraído que não entende a questão. Então voltou a pergunta:
Sócrates:
--- O que? Sonhos? E quem não tem? Sonhos mesmo? – indagou meio descrente.
Norma:
--- Sim. Sonhos. Pesadelos. Assombrações! Tudo isso! -  fez ver a virgem.
Sócrates:
--- Eu não sei bem o que a senhorita pergunta. Mas sonhos, todo mundo tem. E, por acaso por qual motivo me questiona? – indagou meio desligado.
Norma:
--- É o seguinte: a noite passada em tive um pesadelo. Uma assombração, pelo que se diz. Eu creio que, neste mundo, o mal é uma realidade. Nas sombras mais escuras e nos lugares mais comuns pessoas inocentes são tragadas por fatos inimagináveis. Eu, ontem pela madrugada tive uma assombração além da minha razão. – tentou explicar.
O rapaz que estava ocupado com uns certos documentos, resolveu pôr tudo para um lado e se ligou a escutar. Em sua cadeira estofada, ele assim debruçou.
Sócrates:
--- Conte. Pode contar. Sou todo ouvidos. – alertou o rapaz.
Norma:
--- Foi assim: Eu já percebi ter problemas além dos cinco sentidos. Dessa vez, em profundo silêncio, algo desconhecido tentou falar comigo. Algo que me atormenta e se diz destruir o que me é mais sagrado. Entre o mundo que eu vejo e as coisas que eu temo, existem portas. E quando elas se abrem os pesadelos se tornam realidade. É uma possessão maléfica. A minha casa é uma terra de fantasma e demônios. Um médium já esteve em minha casa e a batizou de fantasma do diabo. Existem na residência apavorantes encontros sobrenaturais. São verdadeiras assombrações aterrorizantes. Tem fantasmas que não andam nem falam. Nós moramos da mesma residência cerca de cinco anos. E desde esse tempo eu vejo fantasmas. Monstros invisíveis! Certa vez, um intrigante homem surgiu em nossa casa. Seu nome era Eugênio. Ele falou que habitação tinha gente demais. Eu fiquei impressionada. Só estavam eu e minha mãe. Eu senti através do homem coisas fantásticas. Ele era um depósito de fantasma. Eu já li sobre paranormalidade e mesmo de dia em sentia espíritos. Uma atividade sobrenatural eu vi no corpo do homem – Eugênio. Algo que coisa que eu posso sentir. Entende? – falou a virgem.
Sócrates.
--- Quer dizer que a senhorita tem poderes para ver os mortos? – perguntou de forma bem cuidada.
Norma:
--- Sim. Eu tenho esses poderes. Por exemplo: eu estou “vendo” junto ao senhor um homem vestido de branco, um pouco alto, ligeiramente gordo. Não muito. E atrás desse homem outros estão sem sorrir. Apenas escutam. – falou a virgem.
Sócrates:
--- É verdade! São os meus guardiões. Todos eles. – destacou com sobriedade.
Norma:
--- Guardiões! Eu acho que não tenho esses fantasmas! – relatou com a cara feia.
Sócrates:
--- Tem. Você tem! – contradisse.
Norma:
--- E o resto? Quer ouvir? – perguntou cismada.
O homem sorriu e fez com a cabeça de “sim”.
Sócrates:
--- Prossiga! – relatou.
Norma:
--- A minha mãe achava que era uma “coisa” ruim. Ela teme ocorrer alguma coisa de risco. As vezes ela mesma já viu um garoto de cabelos louros. E ele vem para brincar com outros garotos que moram na minha casa. E eu despertei por causa desse garoto. Ele me sacolejou para que eu acordasse. Dias passados eu vi o garoto do lado de fora da casa. E era de dia. A minha mãe chamou o médium e ele levou uns artefatos. Era para indagar o que a minha queria saber. A minha mãe quis saber do nome do espírito. E ele disse se chamar “Francisco”. A sessão prosseguiu e o espírito declarou ser aquela a sua casa, porque foi ali que ele foi abortado por sua mãe. O espírito de Francisco declarou está ali por longo tempo até que a sua mãe lhe desse a oportunidade de nascer de novo. – falou com medo.
Sócrates:
--- Mãe? E quem era a sua mãe? Mãe do espirito? – indagou com espanto.
A moça calou por um instante para depois responder:
Norma:
--- Eu! Eu mesma! Em outra existência! Quer dizer: eu era a mulher que o meu filho a procurava! Isso há muito tempo. – relatou.
Sócrates:
--- Nossa! Não acredito? Como é que pode? A senhorita ser a mãe de uma criatura no passado? Eu pergunto: você frequenta algum centro? – indagou perplexo.
Norma;
--- Algumas vezes. Mas nem sempre. – disse a virgem.
Sócrates:
--- Tem alguém com a senhorita? – voltou a querer saber.
Norma:
--- Namorado? Não! Nunca tive. E nem penso em ter. – relatou melancólica.
Sócrates:
--- Bem. Se a senhoria teve coragem de me contar tal pesadelo, deve também ir ao Centro. Verdade? – indagou
Norma:
--- Eu penso demais em ir. Não sei. Espírito! –reclamou a virgem
Sócrates:
--- Bem. É só querer. Acreditas? – indagou a sorrir.


segunda-feira, 15 de setembro de 2014

O INFERNO - 14 -

Angelina Jolie
14
O FOGO

Alguns dias se passaram. A situação não mudara para a virgem Norma Balistiero. Ela estava trabalhando. E então era a nova funcionária do gabinete do doutor Augusto Novais. O homem, para Norma, era um “esquisito” ou estranho. Vivia enfurnado em seu gabinete no outro compartimento da sala. Em outra sala, por assim definir. O escritório era dividido em salas. A de Augusto Novais parecia um grande túmulo feito somente para o chefe. A virgem não tinha o direito de poder entrar naquele faustoso espaço todo trancado de não se notar coisa alguma.  Apenas o auxiliar direto do homem, Sócrates, tinha acesso ao estranho local. Para a virgem era um mistério o que se passava dentro do lugar. Quem sabe ali era a decidida a verdadeira sorte dos mortos. Ou dos vivos. Homem baixo, gordo, voz diferente dos demais, sapatos sem saltos como se fosse sandálias, calças compridas e nunca usava paletó. Apenas uma camisa presa para dentro da calça atada por um cinturão de cor marrom. Era costume desse senhor quase sempre escarrar. Um serviçal colhia aquele vômito de quando em quando e despejava em uma latrina no fim do gabinete. O serviçal era calado como se fosse um mudo. Seu nome: Juvenal. Apelido: Manga Rosa. Sempre que era necessário o chefe o chamava:
Augusto:
--- Manga Rosa! – era a voz gasguita e alta do chefe a chamar Juvenal para algum serviço.
E o homem de quase cinquenta anos ou mais se levantava do seu acanhado canto de se sentar para ir atender ao berro do chefe. Um birô com uma gaveta em baixo de tudo cheia de papel picado, de tamanho variado. Eram os papeis de fazer cálculo.
Norma:
--- Nojentesa! – era o que pensava a moça quando um dia percebeu o monte de papéis e o cesto de escarrar do seu chefe.
Com o passar dos dias, Norma foi se habituando com esses traumas e inertes loucuras. Livros espalhados pelo chão, alguns de capas diversas e de orientações sedutoras e sofismais. Por exemplo: um livro sobre o Inferno: - O Eterno Abismo da Morte.  A virgem notou tal livro quando teve de procurar em uma pilha de velhos jornais um trazendo notícia sobre assunto qualquer do qual ela precisava para entremear matéria de outras datas. Ao remexer nas folhagens de jornais lhe caiu às mãos esse tomo de características estonteantes. Algo sobre o Eterno, o Invulgar, a Besta, o Demônio ou algo em tal sentido. De imediato Norma recolheu suas mãos temerosa como se estivesse sendo atacada por uma enorme e malévola serpente. Com cuidado, a virgem aos poucos foi revendo o volumoso e enigmático livro talvez cheio de importantes e timoratos contextos. Cruzes, ambientes sombrios, túmulos entre tenras árvores de ciprestes formando tudo isso em um ambiente lúgubre e assombroso. A luz da lua entremeada de tremenda escuridão sepulcral. Entre estonteantes vitrais, a catedral do mal. O abismo mortal. Enigmáticas figuras apareciam com suas bocas abertas a mostrar as suas malévolas presas em carcomida e hedionda máscara. Aquele era o mortal Inferno no eterno abismo de esgotamento, cheio de ruínas e iniquidades. O sepulcral inferno era o responsável pelos os maiores pavores da brutal realidade. Anjos caídos em deformadas cores era o magnifico e estonteante horror. Tortura, sofrimento e dor por seu total enigmático desconhecido. Fogo escaldante a produzir as chamas e as ameaçadoras hostis nuvens onde nenhuma alma seria capaz de escapar para outro local nem tanto desprezível e nevoento do mundo enganoso. Para alguns, o Inferno não só é real como pode ser encontrado nos seus malévolos ambientes onde habitam. Cavernas escuras com fogos ardentes no seu interior entre as inimigas florestas do mal em torpor de um enigmático termo. Esse é o Inferno, um verdadeiro lago de extremosas chamas em um deserto estonteante de lamentos inacabáveis. Local plenamente remoto como antigas entradas para o sepulcral e desmaiado ambiente infernal onde a escuridão sepulta os doentios mortos.
Há milhares de anos e em culturas diversificadas os vivos entendem ser o inferno abaixo dos seus próprios pés. Existem seis entradas para o Inferno por todo o Globo terrestre e os vivos não tem escapatória como evitar. Ele é o lugar para a punição eterna. A tentativa de se buscar as entradas de cada um dos Infernos demoníacos repletas de estranhas e malévolas figuras entre escuridão aberrante é o sonho irreal de se pôr os pés quando vivo em fantástico poder a entrar outro mundo. Essas são as entradas para o submundo sendo essas a qual não há defesa possível. Os portões do Inferno são vistos apenas nos lugares áridos como os desertos e vulcões onde nenhum ser humano poderá jamais entrar sem a permissão do Demônio. Quem chegou bem perto revelou histórias impressionantes. Esqueletos são encontrados como prova de quem vai, não volta jamais. Eles ficam sepultados em locais sóbrios e de fumo ardente. Eles, enfim, se parecem com o abismo, um corpo sem fim causando a sessão desesperadora e aterrorizante das almas dos quais um dia foram para nunca mais voltar.
Cada local e cada lenda apresenta visões assustadoras e semelhantes do sofrido e doentio portal entre elementos do submundo. Enfim, essa é a questão crucial e derradeira: o que aguarda a cada ser o ter de passar pelos portões para o Inferno. Em Xabalba, próximo a Masaya, na Nicarágua, coração do País, há o imenso abismo na Terra. É um vulcão chamado Masaya. Porém há séculos ele é conhecido por um nome mais sinistro: Boca do Inferno. A dimensão do Masaya é inacreditável. É um gigantesco abismo, uma rachadura na Terra. A imaginação é fértil: para onde esse buraco leva. Por milhares de anos o Masaya vem exalando uma fumaça assustadora e pode ser vista há quilometro de distância. Um gás tóxico que se eleva e se curva como se fosse uma criatura viva. No topo da cratera imensa há uma cruz, uma indicação da história profana de Masaya. Por séculos, histórias sombrias de mortes e sacrifícios humanos cercaram o hediondo e misterioso vulcão.
Nesse instante, a virgem Norma estremeceu de pavor. Um frio arrebatador lhe desceu pelo corpo como se fosse uma febre momentânea a lhe acudir sobremaneira. Ela ficou em êxtase por um breve período tal qual tudo o que lera se tornasse realidade. A sua cabeça rodou como um pião e ela temeu desmaiar de ânsia. O que Norma estava a ler, era como se fosse verdadeiro. Uma nuvem pairou no Céu e se dissipou de vez. Maquinas de jornal batiam como de costume e com isso ela também estremeceu. Uma porta se abriu arrebatadora e Norma voltou a tremer. Com espasmo a virgem se virou para olhar e observou a figura esguia de seu chefe de escritório. Sócrates sorriu e indagou se ela havia encontrado o jornal. Norma não sou o que falar. Tudo em sua mente era nebuloso e turvo. A virgem apenas olhava para Sócrates e nada podia raciocinar. Um tremor angustiante lhe assomou o corpo. Porém uma luz tênue e acariciante lhe agitou a mente e assim, no estertor da vida e da morte ela raciocinou aos poucos. E falou:
Norma:
--- Esse? – perguntou ainda pálida de susto.
Sócrates:
--- Esse mesmo! Mas. ...Você está bem?  - indagou surpreso.
Norma;
--- Sim. Foi apenas um susto. A porta bateu com ímpeto! – respondeu com a cara de quem faz riso.
Sócrates:
--- Ah. Sim. Essa porta faz medo mesmo. – relatou sorrindo. E viu o livro Inferno entreaberto. Mesmo assim não teceu comentários.
O Livro Inferno ficou no seu local um pouco entreaberto e a moça procurou guarda-lo de vez com todo o cuidado. Ela mesma não sabia o que fazer. Mesmo assim, procurou manter o tomo sob guarda e nada mais. A preocupação era ela voltar a ler o que começara, uma vez ter notado importância demais no opúsculo com um gosto de desgaste por seu uso. Na sequência a virgem retornou ao seu escritório onde a máquina de escrever lhe esperava, silenciosa e guardiã dos velhos sonhos de outrora. Era a máquina um ataúde mudo. Como sempre fora no passar das quimeras.
À noite ou madrugada, um sonho acudiu Norma em seu puro leito de alcova. Algo delirante e infernal e lúgubre. Uma série de cavernas de lavas escaldantes cheias de horrendos temores. A virgem suava frio pois estava a penetrar na boca da Terra. Realmente um sonho assustador. Entre os canais de lavas a virgem consegue chega a boca de um ermo e tenebroso Inferno onde cadáveres desembocam para o fundo do imenso chão. Chamas tétricas buscam alimentar os seus incestos vis. O fogo assumia proporções alarmantes e temerosas. Ondas de calor tragava os mortos-vivos com toda a fúria escaldante. Aquela era, sem dúvidas, as chamas mortais da Boca do Inferno. Há milhares de séculos aquela era a boca onde os divos funestos devoravam a carne das suas vítimas quando mortas. Aquela era a entrada sagrada para o mundo real dos fenecidos. Os apavorantes Deuses viventes das cavernas do Inferno vomitam sangue extraído das suas putrefatas e horrorosas vítimas. A virgem teve a oportunidade de ver de perto os rituais supremos da sinistra morte. Eram aqueles sacrifícios humanos dos inomináveis terráqueos onde eram jogados em baixo da cratera. Crianças, mulheres e homens eram sacrificados a um único tempo. Os que descessem jamais voltaram à vida terrena. Esse portal do inferno estava descrito nos livros sagrados do tempo tal qual um abismo sem fim e suas chamas cruéis encobriam o Sol. Era ali o próprio Inferno e algo demoníaco comandava as tristes verdades cruéis. O horror satânico brotava por todo lado do abismo monstruoso. Naquele local estava vivendo para todo o sempre a figura de Satanás. Quando a virgem olhou para o Demônio soltou um extasiante grito de horror. Nesse instante, Norma, sem que nem mais assombrada e suada despertou.
Aquele antro infernal havia sido preparado pelo Demônio e seus anjos, conforme está escrito nos livros sagrados do tempo anterior a Gilgamésh. Satanás, ao cair do Céu levou um terço dos seus Exércitos de anjos, arcanjos, querubins e serafins. E para isso o Inferno na verdade, fora cientificamente preparado. Satanás era um dos Deuses do Céu vindo da nave espacial em uma Noite Sinistra acompanhado pelos Anunnakis os Deuses da Iniciação da humanidade na Terra. Tais Divindades tem o decifrar de “aqueles de sangue real”. Foram eles os criadores da raça nesse obscuro planeta. 


domingo, 14 de setembro de 2014

O INFERNO - 13

Gene Tierney
13
ENTERRO
Na segunda-feira, pela manhã, Sócrates estava em seu trabalho, em um edifício de um andar mais o térreo, na Rua Dr. Barata quando observou de cima o estranho trajeto de um lutuoso sepultamento. O carro fúnebre seguia à frente em seu silencio sepulcral e logo após outros veículos, cada um com grinaldas para depositar junto ao morto. Isso não era tão comum naquela estreita rua onde cabiam dois carros e nada mais. Mesmo assim, Sócrates deu importância ao fausto sepultamento a transitar por aquela artéria pouco lembrada por moradores de outros bairros. Com razão o rapaz observou com bastante atenção a passagem do féretro seguido de veículos dada a importância do morto. A morte do falecido tinha sido anunciada nos jornais e a emissora de rádio da cidade. O féretro era do doutor Claudio Alcântara de Melo, homem de tradição social na cidade no Natal tendo ocupado a Presidência do Tribunal de Justiça por um longo período. Cidadão querido por toda a gente influente da província e mesmo do Estado o doutor Claudio Melo, já desembargador estava aposentado, porém todos os convivas teciam saudades por sua gestão à frente do Tribunal de Justiça por longos tempos. Homem austero e de pouca conversa, salvo com amigos mais chegados. Ele havia nascido naquela rua há longo tempo e sempre desejou quando viesse a ser sepultado ser o cortejo passar por aquela rua.  Na cúpula da Igreja do Senhor do Bom Jesus os acordes comoventes e melancólicos dos sinos repicavam a um som em compasso angustioso e lento estimando à lembrança do importante morto. Era então a hora da despedida para o magistral homem das letras. Pelo sabido de fontes acadêmicas o Doutor Claudio Alcântara de Melo tinha escrito diversos volumes, principalmente sobre a tardia seca do Estado onde ele nascera. O caso, para Sócrates, teve grande importância pelo morto ser padrinho do seu patrão Augusto Novais. E não por acaso ter Sócrates acompanhado com o seu olhar todo o féretro. As lojas de comercio fecharam suas portas como justa homenagem ao ilustre fidalgo desaparecido. O rapaz teve oportunidade de ver o auto do seu patrão a conduzir soberbo acoplado a sua esposa e as duas filhas do casal. Era o tempo de contrito rezar.
Com o passar das horas Sócrates se voltou ao seu afazer. Ele estava a cuidar dos livros do escritório e receber a moça dos seus 18 anos que chegava pela primeira vez para o seu novo emprego. Com certeza a virgem não sabia de nada e estava apenas à espera do que o rapaz dissesse o que teria de fazer, como espanar os moveis ou outra coisa qualquer. Mesmo assim não foi decerto que Sócrates se posicionou. E indagou com calma:
Sócrates:
--- Teu nome? – indagou.
Moça:
--- Norma. Norma Balistiero. É italiano. Meu pai. – decifrou a moça.
Sócrates:
--- Hum! Belo nome. Balistiero. Você já trabalhou em alguma loja ou escritório? – quis saber.
Norma:
--- Eu, nunca! Esse é o meu primeiro trabalho. Eu cuido sempre da minha casa. – fez ver.
Sócrates:
--- A senhorita saber bater máquina? – indagou com paciência.
Norma:
--- Eu fiz o curso. Sete meses. Aqui está o diploma. – lhe entregou o certificado de conclusão
Sócrates passou vistas no certificado e em seguida lhe disse:
Sócrates:
--- Bem. Já é um bom proveito. A senhorita fica naquela mesa onde está a máquina e aonde tem uns papeis para datilografar. Deixe-me os seus documentos para o registro formal. O chefe da repartição, como a senhorita deve saber, é o doutor Augusto Novais. Ele está um pouco tardio pois foi a um sepultamento. Certo? – dialogou.
Norma:
--- (Eu) compreendo. Com licença. – e se voltou para a mesa de datilografia.
Ao se postar na máquina de datilografia, Norma Balistiero notou a existência de um livro, por sinal de teor espírita, e não quis mais folhear o volume por ser do chefe ou do seu auxiliar, com certeza. No entanto Norma foi por demais astuta e embora com o volume fechado, notou algo que depressa o identificou. Muito embora soletrando o seu datilografar, observou no compêndio algo bem mais salutar. O livro tinha em seu início a palavra “Arcano”. Um profundo segredo; um mistério.  Algo de surpresa lhe sacolejou o cérebro. Muito embora o livro estivesse fechado, de modo sutil Norma indagou ao seu superior que estava no seu local de trabalho o tal enigmático e por demais desconhecido tomo.
Norma:
--- Com licença. Esse livro é do senhor? – indagou cismada.
O rapaz, com surpresa, declarou:
Sócrates:
--- Ô! É. Pode deixa-lo guardado na gaveta! – disse o homem como por descuido.
O livro focava o conhecimento misterioso às pessoas comuns. Uma essência secreta ou remédio: um elixir. E destacava o livro: “No coração de toda grande tradição mística e religiosa persiste um segredo, uma verdade universal: O Grande Arcano”. Ao longo da história foi expressamente proibido revelar os segredos do Grande Arcano ao público. Assim seus mistérios permaneceram um legado oculto velados por histórias místicas e pela herança mundial da arte e literatura para todos admirarem. Alguns imitarem, mas poucos entenderem. Escondida nas faces silenciosas dos monumentos egípcios sob o olhar dos deuses védicos entre as linhas dos antigos livros de alquimia e nos atormentando pelos mitos astecas e maias a essência da Doutrina Secreta sempre esteve presente. Durante toda a história da humanidade somente os poucos eleitos foram iniciados nos mistérios desta Grande Verdade Universal e estes poucos guiaram o resto da humanidade e deram a ela os símbolos externos desta Verdade como orientação.  Pois o Grande Arcano, o segredo dos segredos, era ferozmente protegido e oferecido apenas aos que tinham provado sua pureza moral e confiabilidade. Mas como a humanidade se degenerou em barbarismo e crueldade, o conhecimento divino foi ocultado para sobreviver em bolsos isolados ao redor do mundo. Por muitos séculos o Grande Arcano tem acenado à humanidade por detrás de histórias e mitos que o velavam. O conhecimento que ele entrega é universal e se aplica a todas as verdadeiras religiões e tradições místicas. Quer seja a serpente de Adão e Eva da tradição judaico-cristã, a serpente alada de Quetzalcoatl da tradição asteca, as serpentes escalando o caduceu do deus grego Hermes ou as serpentes das tradições hindu ou budista, todos estes símbolos contêm o mesmo ensinamento. Enfim, depois de séculos de escuridão e ignorância, chegou a hora desta doutrina secreta ser revelada.
SEXO
Todas as religiões são joias preciosas no cordão de ouro da divindade. A palavra “Religião” deriva-se da raiz latina “religare”, que significa “União”. A palavra “yoga” é derivada da raiz sânscrita “yug”, que também significa “união”. Em sua base, as diferentes tradições do oriente e ocidente descrevem a mesma meta: “União com a Divindade”. As tradições religiosas provêm o mapa que deve ser seguido para se alcançar a unificação com o Divino. Toda religião busca expressar o mesmo núcleo de conhecimento. Mas são necessárias as ferramentas certas para ler o mapa. Com as ferramentas certas e o uso adequado delas um aspirante de qualquer religião ou tradição pode entrar no conhecimento da experiência direta com o Divino. Pode ser visto, então, que existe na verdade uma única ciência, um único caminho, mas aparecendo com diferentes nomes e faces. “Porque estreita é a porta e apertado o caminho que conduz à vida, e são poucos os que a encontram”. Em suma: “a porta é a abertura da entrada para aonde o órgão sexual masculino penetra para despejar o sêmen lá dentro e conceber o seu filho ou filha”. Em grego, o caminho estreito é chamado “Gnosis” que significa “conhecimento”. Em hebraico, o mesmo caminho estreito é chamado “Daath” que também significa “conhecimento”. Este caminho é representado pela famosa Árvore do Conhecimento - “a mulher” - no livro de Gênesis. E a pista para se entrar na experiência direta de Deus “na bíblia hebraica se registra “Deuses” pode ser encontrada através do entendimento do símbolo da Árvore do Conhecimento – o conhecimento do homem com a mulher. – o ato sexual - O Gênesis, o ensinamento judaico-cristão da criação foi escrito como um meio para se transmitir o conhecimento do Grande Arcano para aqueles que tivessem “olhos para ver e ouvidos para ouvir”. Sua origem foi influenciada por ambas as tradições oriental e ocidental a fim de prover a humanidade uma chave contida na fundação de todas as grandes religiões do mundo.
- oOo -
Eram 11 horas da manhã. Por conseguinte, a hora do almoço dos funcionários. No escritório, Norma Balistiero nada falava. O chefe geral ou patrão dos funcionários, Augusto Novais, tinha chegado bem tarde e, possivelmente ainda tinha muito o que fazer. O sepultamento do seu padrinho, Claudio Alcântara de Melo atrasou bastante, com os profundos sentimentos de pesar expressados por cada qual e isso retardou densamente o féretro. Além disso houve discursos de velhos amigos, a fala do Governador do Estado, oração ao pé do tumulo pelo vigário e mais e mais. A moça esperava o sinal de saída para poder ir de vez e voltar a uma hora da tarde. Na certa alguém falaria com Norma, certamente.