Sandra Bullock
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O TIBETE
E
o pessoal que estava na sala, gargalhou. O ancião, sem ter nunca ouvido falar
em espiritismo ou mesmo assuntos da Bíblia – Livro – nada sabia do certo ou do
errado. Quando Sócrates narrou o episódio de Abraão, para o ancião foi uma
surpresa. O velho era casado com dona Aurea no civil e no religioso (católico).
Mesmo assim pouco ou nada sabia da crença. Ele fazia o que era ditado fazer.
Apenas isso. Às vezes, algumas moças a viajar no trem, entregavam-lhe os
“santinhos” como propaganda de suas Igrejas ou Templos, então ele recebia
aqueles pequenos papeis e assim que auferia colocava tudo do bolso de sua
túnica, e nada mais. Cosme sabia ler, escrever e o que de fato ouvia era rádio
de fora do Estado onde sorria a valer com as aventuras desempenhadas pelos
artistas da emissora, mais da Rádio Nacional, do Rio de Janeiro. Ao ditar “degenerado”
ao Patriarca Abraão foi apenas o gatilho para todos da casa gargalhar. Na
verdade, os historiadores do ensino bíblico nunca encontraram nenhuma prova da
existência de Abraão apesar do Judaísmo fundar o monoteísmo por todos esses
tempos. Abraão é citado no livro de Gênesis como a nona geração de Sem, o qual
foi um dos filhos do patriarca de Noé que teria sobrevivido do dilúvio. Porém,
entre risos e lágrimas Sócrates, também a sorrir, teve o ensejo de declarar
mais outros assuntos. O Dalai Lama ou as suas escrituras:
Sócrates:
---
Vamos ter calma! (Sorrindo). Vamos ter calma! Eu tenho mais um assunto a
declarar. É um caso sério. Trata-se de um dos livros mais sagrados do Mundo. A
Escritura essencial do Dalai Lama. A exata descrição da experiência dos que
foram declarados clinicamente mortos. Esse livro foi escrito no século VIII
antes de Cristo, o tal chamado Livro Tibetano dos Mortos é um guia para quem
morre, um mapa da jornada que será feita após a visa. Esse é o primeiro manual
do mundo. O que esse obscuro texto capturou a imaginação de tantos em nossa
cultura? Qualquer um que leia o livro aprenderá algo. Nele há uma sabedoria
universal. Ele nos dá a ferramenta para, esta vida, todos nós atingirmos a
verdadeira liberdade. As respostas a tais questões afetam todos nós. Se a
antiga cultura tiver correta, o Livro dos Mortos é a chave da vida após a morte
e a respostas às mais velhas perguntas da humanidade.
Racílva:
---
Conte logo, conte! – falou saltitando os as batendo.
Canindé:
---
Espera! Deixa ele contar! – falou bastante sério.
Sócrates
sorriu e começou enfim a contar para todos com uma voz bastante grossa.
Sócrates:
---
Morte! O grande mistério da humanidade! Esse é o país desconhecido. A Terra de
onde ninguém volta, disse isso Shakespeare. Todas as culturas do mundo estudam
a Morte sabendo até o infalível quanto o inevitável. Nenhuma delas conseguiu
desvendar seu mistério. Mas em um canto remoto do Mundo uma civilização afirma
saber exatamente o que acontece após a morte. Para eles, a resposta está
contida em um misterioso texto de mais de três mil e duzentos anos chamado
Livro Tibetano dos Mortos. Ele pode ser entendido como um guia geral, um mapa
sagrado para todos aqueles que queiram descobrir e conhecer o supremo
significado da vida e da experiência após a morte. – relatou o rapaz.
Racílva:
---
Ave! Chega me dá arrepios. – falou a virgem encolhendo os braços.
E
o rapaz sorriu enquanto Canindé a mandar ter mais sossego. Racilva não se
conteve e estirou a língua para o irmão lhe fazendo careta. Cosme, o seu pai,
parou a discussão mandando Sócrates prosseguir com o que estava a falar.
Sócrates:
---
Está certo. O Livro Tibetano dos Mortos é o primeiro livro de diretrizes ou
manual. É um livro guia para os mortos e vai orientá-los em sua viagem no mundo
do além, com conselhos diários. Durante séculos esse livro foi mantido em
segredo em uma terra tão isolada que era chamada de “Reino Proibido”. Mas, no
alvorecer do século XX, um americano solitário saiu em pesquisa espiritual. Ele
viajou sozinho pela Europa, Arábia e Índia chegando, finalmente, às fronteiras
do Tibete, onde se acham os picos mais altos do planeta. E, ali, em um pequeno
Mosteiro tornou-se o primeiro ocidental a descobrir o livro que desvendava os
mistérios da vida após a morte. O norte americano passou três anos ajudando a
traduzir o texto que publicou em inglês, em 1927. Seu nome é Walter
Evans-Wentz. Hoje, esse enigmático livro pode ser adquirido em livrarias em
meia dúzia de traduções. Escrito no século oitavo, o Livro Tibetano dos Mortos
é uma descrição precisa do que cada indivíduo enfrentará no além. Uma
experiência que os tibetanos chamam de “Bardo”. – discorreu o médium.
Canindé:
---
Eu creio que vou procurar esse livro. – respondeu cismado.
Sócrates:
---
É livro muito bom para se ler. Qualquer um, quando morre, renascerá em outro
lugar. O tempo de intervalo pode ser
chamado de vida intermediária. Em tibetano chama-se “Bardo”. No budismo
tibetano a maior ênfase está na morte porque, embora, considerando-se a vida
terrestre importante, não será tanto quanto a vida seguinte. – relatou o homem
Surpreendentemente
as palavras do Livro Tibetano dos Mortos encaixam-se com as modernas descrições
de quem morreu clinicamente na mesa de operação. A chamada experiência “quase
morte”. Para todos a semelhança é de arrepiar. Quase todos falam em uma luz
ofuscante e muitas vezes é chamada de “luz branca”. O Livro Tibetano dos Mortos
fala dessa “luz branca”. É muito clara. Arrebatadora. O Livro descreve essa
“luz” com impressionante precisão. É muito sedutora e o maior fascínio em todas
essas histórias de morte. Eles – os quase mortos – querem caminhar à luz. Quer
em trepidantes cidades modernas, quer em pacatas vilas tibetanas, a grande
constante da humanidade é o mistério da morte. E a morte chegou a uma pequena
vila rural do Tibete. Pode ter sido ontem. Pode ter sido há séculos.
No
Tibete, o ritual da morte continua o mesmo há mais de seiscentos anos. Um jovem
morreu na aldeia. Sua família chorou a perda e começou a preparar-se para os
funerais. A mãe do jovem mandou chamar os Monges locais. Ou os Lamas. Eles se
posicionaram ao lado do corpo afim de ler o Livro Tibetano dos Mortos. As palavras
são destinadas a guiar o morto pelo assustador mundo do além. A experiência
será aterradora. No Bardo eles podem ver várias luzes diferentes, causando
grande confusão. E o medo, é muito
forte. Apenas o Livro pode guiar a alma a uma nova vida. Para poder compreender
do Livro Tibetano dos Mostos é preciso aprender, primeiro, as suas raízes. Os
tibetanos praticam uma certa forma de budismo, uma das grandes religiões da
Ásia. Começou a 500 anos antes de Jesus. Os tibetanos começam a estudar os
ensinamentos de Buda, aquele que despertou, o Iluminado. O budismo é uma velha
tradição de 2.500 anos. O ponto básico do budismo é uma simples e profunda
verdade: a vida está cheia de
sofrimentos.
Sócrates:
---
O budismo não é só uma religião. É uma filosofia. Dois pontos são distintos. UM
– é a compaixão. Outro – a sabedoria. Quando o adepto adquire essas duas
coisas, já é Iluminado.
Um
conceito central em todas as formas de budismo é a reencarnação. A ideia de que
após a morte a pessoa renasce. Com esse conceito vem a ideia do Karma, a crença
de que o bem e o mal praticados, serão compensados na vida seguinte. O objetivo
do budismo é deixar a roda eterna do Karma e libertar-se do sofrimento. Mas o Livro Tibetano dos Mortos promete um
atalho para essa libertação. Existem certas técnicas para retirar a consciência
da cabeça do corpo do falecido e mandá-la para um mundo melhor. Durante séculos
o segredo do Livro Tibetano dos Mortos até que foi publicada no ano de 1927. E
nunca mais saiu do preso a partir deste ano. Há seis ou mais traduções diretas
do tibetano e continuam a instigar a imaginação ocidental.
Racilva:
---
Incrível! Incrível! Como é que pode? Eu nunca ouvi falar nesse livro! – disse
mais curiosa.
Sócrates:
---
Espere! Espere! Tem mais coisas que eu não disse. Nos Estados Unidos, um editor
declarou que o Livro Tibetano era a melhor viagem com o LSD – Ácido Lisérgico
conhecido há séculos pelos indígenas do México. O livro aparece em músicas e
até desenhos de moda. – relatou
Atrás
dessa fascinação pairava o mistério simples e poderoso de uma antiga cultura.
Seria possível saber o que vem depois da morte? Talvez não se trate de
sabedoria mítica. Mas da visão empírica da consciência. Talvez haja a
continuação da consciência além a morte. Acaso esse velho texto de um recanto
perdido do Mundo teria a resposta para a mais antiga pergunta do homem? A morte
visita todos os lares. Mas no Tibete os costumes e ritos são diferentes de
quantos existem no Mundo.
Sócrates;
---
Dizem que é comum o espírito ou “fantasma”, ainda no “Bardo”, voltar ao lar
familiar, ao local de trabalho e pairar sobre os entes queridos. O melhor que
os familiares podem fazer é, em silencio, assegurar a alma que tudo está bem em
seu antigo lar. E dizer a ele que tem
coisa mais importante para fazer. O melhor é seguir em paz – relatou com
paciência.
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