sábado, 13 de setembro de 2014

O INFERNO - 12 -

 
Sandra Bullock
12
O TIBETE
 
E o pessoal que estava na sala, gargalhou. O ancião, sem ter nunca ouvido falar em espiritismo ou mesmo assuntos da Bíblia – Livro – nada sabia do certo ou do errado. Quando Sócrates narrou o episódio de Abraão, para o ancião foi uma surpresa. O velho era casado com dona Aurea no civil e no religioso (católico). Mesmo assim pouco ou nada sabia da crença. Ele fazia o que era ditado fazer. Apenas isso. Às vezes, algumas moças a viajar no trem, entregavam-lhe os “santinhos” como propaganda de suas Igrejas ou Templos, então ele recebia aqueles pequenos papeis e assim que auferia colocava tudo do bolso de sua túnica, e nada mais. Cosme sabia ler, escrever e o que de fato ouvia era rádio de fora do Estado onde sorria a valer com as aventuras desempenhadas pelos artistas da emissora, mais da Rádio Nacional, do Rio de Janeiro. Ao ditar “degenerado” ao Patriarca Abraão foi apenas o gatilho para todos da casa gargalhar. Na verdade, os historiadores do ensino bíblico nunca encontraram nenhuma prova da existência de Abraão apesar do Judaísmo fundar o monoteísmo por todos esses tempos. Abraão é citado no livro de Gênesis como a nona geração de Sem, o qual foi um dos filhos do patriarca de Noé que teria sobrevivido do dilúvio. Porém, entre risos e lágrimas Sócrates, também a sorrir, teve o ensejo de declarar mais outros assuntos. O Dalai Lama ou as suas escrituras:
Sócrates:
--- Vamos ter calma! (Sorrindo). Vamos ter calma! Eu tenho mais um assunto a declarar. É um caso sério. Trata-se de um dos livros mais sagrados do Mundo. A Escritura essencial do Dalai Lama. A exata descrição da experiência dos que foram declarados clinicamente mortos. Esse livro foi escrito no século VIII antes de Cristo, o tal chamado Livro Tibetano dos Mortos é um guia para quem morre, um mapa da jornada que será feita após a visa. Esse é o primeiro manual do mundo. O que esse obscuro texto capturou a imaginação de tantos em nossa cultura? Qualquer um que leia o livro aprenderá algo. Nele há uma sabedoria universal. Ele nos dá a ferramenta para, esta vida, todos nós atingirmos a verdadeira liberdade. As respostas a tais questões afetam todos nós. Se a antiga cultura tiver correta, o Livro dos Mortos é a chave da vida após a morte e a respostas às mais velhas perguntas da humanidade.
Racílva:
--- Conte logo, conte! – falou saltitando os as batendo.
Canindé:
--- Espera! Deixa ele contar! – falou bastante sério.
Sócrates sorriu e começou enfim a contar para todos com uma voz bastante grossa.
Sócrates:
--- Morte! O grande mistério da humanidade! Esse é o país desconhecido. A Terra de onde ninguém volta, disse isso Shakespeare. Todas as culturas do mundo estudam a Morte sabendo até o infalível quanto o inevitável. Nenhuma delas conseguiu desvendar seu mistério. Mas em um canto remoto do Mundo uma civilização afirma saber exatamente o que acontece após a morte. Para eles, a resposta está contida em um misterioso texto de mais de três mil e duzentos anos chamado Livro Tibetano dos Mortos. Ele pode ser entendido como um guia geral, um mapa sagrado para todos aqueles que queiram descobrir e conhecer o supremo significado da vida e da experiência após a morte. – relatou o rapaz.
Racílva:
--- Ave! Chega me dá arrepios. – falou a virgem encolhendo os braços.  
E o rapaz sorriu enquanto Canindé a mandar ter mais sossego. Racilva não se conteve e estirou a língua para o irmão lhe fazendo careta. Cosme, o seu pai, parou a discussão mandando Sócrates prosseguir com o que estava a falar.
Sócrates:
--- Está certo. O Livro Tibetano dos Mortos é o primeiro livro de diretrizes ou manual. É um livro guia para os mortos e vai orientá-los em sua viagem no mundo do além, com conselhos diários. Durante séculos esse livro foi mantido em segredo em uma terra tão isolada que era chamada de “Reino Proibido”. Mas, no alvorecer do século XX, um americano solitário saiu em pesquisa espiritual. Ele viajou sozinho pela Europa, Arábia e Índia chegando, finalmente, às fronteiras do Tibete, onde se acham os picos mais altos do planeta. E, ali, em um pequeno Mosteiro tornou-se o primeiro ocidental a descobrir o livro que desvendava os mistérios da vida após a morte. O norte americano passou três anos ajudando a traduzir o texto que publicou em inglês, em 1927. Seu nome é Walter Evans-Wentz. Hoje, esse enigmático livro pode ser adquirido em livrarias em meia dúzia de traduções. Escrito no século oitavo, o Livro Tibetano dos Mortos é uma descrição precisa do que cada indivíduo enfrentará no além. Uma experiência que os tibetanos chamam de “Bardo”. – discorreu o médium.
Canindé:
--- Eu creio que vou procurar esse livro. – respondeu cismado.
Sócrates:
--- É livro muito bom para se ler. Qualquer um, quando morre, renascerá em outro lugar.  O tempo de intervalo pode ser chamado de vida intermediária. Em tibetano chama-se “Bardo”. No budismo tibetano a maior ênfase está na morte porque, embora, considerando-se a vida terrestre importante, não será tanto quanto a vida seguinte. – relatou o homem   
Surpreendentemente as palavras do Livro Tibetano dos Mortos encaixam-se com as modernas descrições de quem morreu clinicamente na mesa de operação. A chamada experiência “quase morte”. Para todos a semelhança é de arrepiar. Quase todos falam em uma luz ofuscante e muitas vezes é chamada de “luz branca”. O Livro Tibetano dos Mortos fala dessa “luz branca”. É muito clara. Arrebatadora. O Livro descreve essa “luz” com impressionante precisão. É muito sedutora e o maior fascínio em todas essas histórias de morte. Eles – os quase mortos – querem caminhar à luz. Quer em trepidantes cidades modernas, quer em pacatas vilas tibetanas, a grande constante da humanidade é o mistério da morte. E a morte chegou a uma pequena vila rural do Tibete. Pode ter sido ontem. Pode ter sido há séculos.
No Tibete, o ritual da morte continua o mesmo há mais de seiscentos anos. Um jovem morreu na aldeia. Sua família chorou a perda e começou a preparar-se para os funerais. A mãe do jovem mandou chamar os Monges locais. Ou os Lamas. Eles se posicionaram ao lado do corpo afim de ler o Livro Tibetano dos Mortos. As palavras são destinadas a guiar o morto pelo assustador mundo do além. A experiência será aterradora. No Bardo eles podem ver várias luzes diferentes, causando grande confusão.  E o medo, é muito forte. Apenas o Livro pode guiar a alma a uma nova vida. Para poder compreender do Livro Tibetano dos Mostos é preciso aprender, primeiro, as suas raízes. Os tibetanos praticam uma certa forma de budismo, uma das grandes religiões da Ásia. Começou a 500 anos antes de Jesus. Os tibetanos começam a estudar os ensinamentos de Buda, aquele que despertou, o Iluminado. O budismo é uma velha tradição de 2.500 anos. O ponto básico do budismo é uma simples e profunda verdade: a vida está cheia de sofrimentos.
Sócrates:
--- O budismo não é só uma religião. É uma filosofia. Dois pontos são distintos. UM – é a compaixão. Outro – a sabedoria. Quando o adepto adquire essas duas coisas, já é Iluminado.
Um conceito central em todas as formas de budismo é a reencarnação. A ideia de que após a morte a pessoa renasce. Com esse conceito vem a ideia do Karma, a crença de que o bem e o mal praticados, serão compensados na vida seguinte. O objetivo do budismo é deixar a roda eterna do Karma e libertar-se do sofrimento.  Mas o Livro Tibetano dos Mortos promete um atalho para essa libertação. Existem certas técnicas para retirar a consciência da cabeça do corpo do falecido e mandá-la para um mundo melhor. Durante séculos o segredo do Livro Tibetano dos Mortos até que foi publicada no ano de 1927. E nunca mais saiu do preso a partir deste ano. Há seis ou mais traduções diretas do tibetano e continuam a instigar a imaginação ocidental.
Racilva:
--- Incrível! Incrível! Como é que pode? Eu nunca ouvi falar nesse livro! – disse mais curiosa.
Sócrates:
--- Espere! Espere! Tem mais coisas que eu não disse. Nos Estados Unidos, um editor declarou que o Livro Tibetano era a melhor viagem com o LSD – Ácido Lisérgico conhecido há séculos pelos indígenas do México. O livro aparece em músicas e até desenhos de moda. – relatou
Atrás dessa fascinação pairava o mistério simples e poderoso de uma antiga cultura. Seria possível saber o que vem depois da morte? Talvez não se trate de sabedoria mítica. Mas da visão empírica da consciência. Talvez haja a continuação da consciência além a morte. Acaso esse velho texto de um recanto perdido do Mundo teria a resposta para a mais antiga pergunta do homem? A morte visita todos os lares. Mas no Tibete os costumes e ritos são diferentes de quantos existem no Mundo.
Sócrates;
--- Dizem que é comum o espírito ou “fantasma”, ainda no “Bardo”, voltar ao lar familiar, ao local de trabalho e pairar sobre os entes queridos. O melhor que os familiares podem fazer é, em silencio, assegurar a alma que tudo está bem em seu antigo lar.  E dizer a ele que tem coisa mais importante para fazer. O melhor é seguir em paz – relatou com paciência.
 


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