GRACE KELLY
- 18 -
- ESPANTO -
O espanto atormentava sobremaneira a jovem moça a se lembrar ainda
do sonho inquieto da madrugada. Ela não supunha ser de verdade aquele pesadelo.
Porém, o terror foi bem maior àquela hora sombria do início da manhã. A tal
demonstração da maldade e horror. As portas das casas vizinhas se abriram
devagar. Os moradores comentavam o que se passava na habitação de dona Totó.
Morador:
--- Ladrões? – indagou inquieta uma das tais vizinhas com a porta
um pouco fechada.
Morador 2:
--- Parece. Parece. – respondeu um homem por trás da mulher ainda
vestida de trapos.
Morador 3
--- Deixa eu ver, deixa! – pedia licença a filha do casal
Assim, era o início da manhã para Norma Balistiero, assustada por
tudo quanto vislumbrou em sua habitação. A moça, aturdida, pedia socorro a um
dos seus vizinhos a esmurras a porta da velha e humilde casa contigua a sua. De
modo impressionante a moça enxergou um cemitério antigo onde fantasmas vagavam em
seus trajes tumulares. Era um mal de pessoas já mortas há centenas de anos,
conforme a moça. E por isso, ele gritava pelo amor de Deus para alguém lhe
proteger desses perigosos elementos mortos já há bastante tempo.
Norma:
--- Eu vi! Eu vi! Eu vi! São eles! São eles! São eles! – gritava a
moça ao desespero.
O dono da casa ficou alheio aquilo que ouvira dizer por Norma
àquela hora matinal. E apenas indagou com o seu rosto franzido pelo temor.
Vizinho:
--- Que ela tem? Ladrões? – indagou preocupado.
Anciã:
--- Espera! Deixa a moça contar o que viu. – falou a anciã ainda
enrolada em sua coberta.
Coberta de espanto e ânsia, sempre aos gritos, Norma delirou
naquilo a pronunciar ao certo e de momento afinal caiu em vômitos como se
estivesse tragado algo como uma amedrontada víbora. A vidente examinou a jovem
moça da cabeça aos pés e nada mais lhe declarou. Era apenas do que se tratava
para falar. Diante da porta da humilde casa uma porção de gente já estava
apreensiva querendo saber mais detalhes do “ladrão” misterioso. A moça arrodeou
a casa de dona Ana e buscou entrar apreensiva em sua moradia.
Com mais um pouco de horas, mesmo chegando em cima da hora, Norma
Balistiero chegou ao seu trabalho aonde de imediato encontrou o seu amigo
Sócrates Fernandes e, então se debruçou em prantos diante do novo inexplicável
ocorrido em sua mesa de trabalho. O seu
chefe ficou assombrado com tanto pranto e então indagou com precaução por temer
uma reprovação qualquer:
Sócrates:
--- Que houve, menina? Algo de anormal? – indagou em espanto.
Sem consolo a moça continuava a chorar com a sua cabeça apoiada
nas mãos postas em cima da escrivaninha não ouvindo além do seu desalento. O
terror daquela manha ainda persistia na face de Norma como se fantasmas lhe
acorressem a todo instante. Era sim, um terror estranho e por demais assustador
capaz de lhe arrancar a alma. Sim! Era aquilo as portas para o além onde
assombrosas causas torturavam ainda mais a mente da infante núbia. Foram
preciso passar os eternos momentos para a moça de compor de verdade. E então,
Norma falou com extrema reticência.
Norma:
--- Meu pai e uma porção de terríveis monstros surgiram em minha
habitação. – falou com angustiosos prantos.
E então a virgem contou o sucedido buscando amparo em suas imensas
agonias. O rapaz ouviu toda a história e procurou acalma-la de momento até
buscar a proteção de um senhor de nome Paranhos para poder ouvir a verdade do
ocorrido. Paranhos era um gigante de corpo pesando mais de cem quilos e suas
mãos seriam capazes de soerguer um guindaste por possuir tamanha força. Apesar
de ser um gigante a sua calma destoava do seu aspecto. Um rosto aguerrido de
alguém querendo o mau, Paranhos, na sua fala era um completo contraste. Falação
mansa e tranquila. Durante alguns minutos ele chegou ao escritório do rapaz. De
modo simples e cordial cumprimentou os que estavam presentes. A essa altura, a
moça Norma já havia parado de chorar. Mesmo assim, continuava a tremer do
assombro da madrugada passada. Com um instante de conversa, Paranhos iniciou o
diálogo com a moça e ela teve que recontar todo o ocorrido a começar pelo
havido momentos antes, no dia anterior quando esteve com o rapaz, Sócrates
Fernandes. Todos os detalhes foram expostos. E depois de ouvir o imenso relado,
o homenzarrão assobiou por temor e logo falou:
Paranhos:
--- Vamos lá. Se a senhorita permitir nós estaremos em vossa casa
logo mais no início da noite. – falou com muita calma.
O dia correu tranquilo apesar da moça está com “uma pulga atrás da
orelha” à espera da temível noite quando podia ocorrer novas tentativas de
aparições de fantasmas. O dia se tornou calmo passando a chuva fina do início
da manhã. As moradias onde habitava Norma era de uma pobreza incrível. Apenas
empregados da Estrada de Ferro, mecânicos de automóveis, sapateiros entre os
demais de ofícios desiguais, como dona Totó. A mulher trabalhava numa firma de
agave e talvez esse fosse o melhor emprego dos demais, afora o pessoal da Rede
Ferroviária ou de alguns estabelecimentos bancários. O certo é que as sete
horas da noite Paranhos, Sócrates e alguns outros membros do círculo estariam
em casa de Norma para fazer uma sessão de obrigação contra os “encostos” ou de
seres notadamente malévolos.
Então, as sete horas da noite, os membros da Mesa Branca estavam
reunidos em uma sessão silenciosa. Na mesa estava um copo de água fluidificada,
uma porção de terra de cemitério – em caso de haver a presença de espíritos do
mau – e rosas de enfeites com velas acessas. Ao início dos trabalhos começou
por desvendar o mistério da aparição de seres horrendos e malévolos da manhã
naquela humilde residência. No estranho e soturno ambiente surgiu uma figura de
um fantasma rompendo todas as coisas ao seu redor, inclusive a parede da sala.
A moça Norma estremeceu de pavor ao ver de perto a figura horrorosa a buscar odiosidades.
E declarou, em êxtase:
Norma:
--- É ele! É ele! É ele! – falou alucinada ao ver a figura
estranha.
Paranhos:
--- Silêncio. Vejamos o que ele quer! – respondeu o chefe dos
médiuns.
Fantasma:
--- Isso é o que os senhores pensam. Eu procuro apenas essa
mulher! Ela é minha mulher! Apenas só minha!!! – vociferou a aparição buscando
atentar a moça Norma.
E em arrebatamento a moça delirou com todo o seu poder
enfraquecido. Ela jamais conhecera tal horrenda criatura. Em desespero total,
Norma gritou extasiada.
Norma:
--- Sai daqui seu monstro!!! Sai daqui!!! – gritou em delírio.
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