terça-feira, 30 de setembro de 2014

O INFERNO - 18 -

GRACE KELLY 
- 18 -
- ESPANTO -
O espanto atormentava sobremaneira a jovem moça a se lembrar ainda do sonho inquieto da madrugada. Ela não supunha ser de verdade aquele pesadelo. Porém, o terror foi bem maior àquela hora sombria do início da manhã. A tal demonstração da maldade e horror. As portas das casas vizinhas se abriram devagar. Os moradores comentavam o que se passava na habitação de dona Totó.
Morador:
--- Ladrões? – indagou inquieta uma das tais vizinhas com a porta um pouco fechada.
Morador 2:
--- Parece. Parece. – respondeu um homem por trás da mulher ainda vestida de trapos.
Morador 3
--- Deixa eu ver, deixa! – pedia licença a filha do casal
Assim, era o início da manhã para Norma Balistiero, assustada por tudo quanto vislumbrou em sua habitação. A moça, aturdida, pedia socorro a um dos seus vizinhos a esmurras a porta da velha e humilde casa contigua a sua. De modo impressionante a moça enxergou um cemitério antigo onde fantasmas vagavam em seus trajes tumulares. Era um mal de pessoas já mortas há centenas de anos, conforme a moça. E por isso, ele gritava pelo amor de Deus para alguém lhe proteger desses perigosos elementos mortos já há bastante tempo.
Norma:
--- Eu vi! Eu vi! Eu vi! São eles! São eles! São eles! – gritava a moça ao desespero.
O dono da casa ficou alheio aquilo que ouvira dizer por Norma àquela hora matinal. E apenas indagou com o seu rosto franzido pelo temor.
Vizinho:
--- Que ela tem? Ladrões? – indagou preocupado.
Anciã:
--- Espera! Deixa a moça contar o que viu. – falou a anciã ainda enrolada em sua coberta.
Coberta de espanto e ânsia, sempre aos gritos, Norma delirou naquilo a pronunciar ao certo e de momento afinal caiu em vômitos como se estivesse tragado algo como uma amedrontada víbora. A vidente examinou a jovem moça da cabeça aos pés e nada mais lhe declarou. Era apenas do que se tratava para falar. Diante da porta da humilde casa uma porção de gente já estava apreensiva querendo saber mais detalhes do “ladrão” misterioso. A moça arrodeou a casa de dona Ana e buscou entrar apreensiva em sua moradia.
Com mais um pouco de horas, mesmo chegando em cima da hora, Norma Balistiero chegou ao seu trabalho aonde de imediato encontrou o seu amigo Sócrates Fernandes e, então se debruçou em prantos diante do novo inexplicável ocorrido em sua mesa de trabalho.  O seu chefe ficou assombrado com tanto pranto e então indagou com precaução por temer uma reprovação qualquer:
Sócrates:
--- Que houve, menina? Algo de anormal? – indagou em espanto.
Sem consolo a moça continuava a chorar com a sua cabeça apoiada nas mãos postas em cima da escrivaninha não ouvindo além do seu desalento. O terror daquela manha ainda persistia na face de Norma como se fantasmas lhe acorressem a todo instante. Era sim, um terror estranho e por demais assustador capaz de lhe arrancar a alma. Sim! Era aquilo as portas para o além onde assombrosas causas torturavam ainda mais a mente da infante núbia. Foram preciso passar os eternos momentos para a moça de compor de verdade. E então, Norma falou com extrema reticência.
Norma:
--- Meu pai e uma porção de terríveis monstros surgiram em minha habitação. – falou com angustiosos prantos.
E então a virgem contou o sucedido buscando amparo em suas imensas agonias. O rapaz ouviu toda a história e procurou acalma-la de momento até buscar a proteção de um senhor de nome Paranhos para poder ouvir a verdade do ocorrido. Paranhos era um gigante de corpo pesando mais de cem quilos e suas mãos seriam capazes de soerguer um guindaste por possuir tamanha força. Apesar de ser um gigante a sua calma destoava do seu aspecto. Um rosto aguerrido de alguém querendo o mau, Paranhos, na sua fala era um completo contraste. Falação mansa e tranquila. Durante alguns minutos ele chegou ao escritório do rapaz. De modo simples e cordial cumprimentou os que estavam presentes. A essa altura, a moça Norma já havia parado de chorar. Mesmo assim, continuava a tremer do assombro da madrugada passada. Com um instante de conversa, Paranhos iniciou o diálogo com a moça e ela teve que recontar todo o ocorrido a começar pelo havido momentos antes, no dia anterior quando esteve com o rapaz, Sócrates Fernandes. Todos os detalhes foram expostos. E depois de ouvir o imenso relado, o homenzarrão assobiou por temor e logo falou:
Paranhos:
--- Vamos lá. Se a senhorita permitir nós estaremos em vossa casa logo mais no início da noite. – falou com muita calma.
O dia correu tranquilo apesar da moça está com “uma pulga atrás da orelha” à espera da temível noite quando podia ocorrer novas tentativas de aparições de fantasmas. O dia se tornou calmo passando a chuva fina do início da manhã. As moradias onde habitava Norma era de uma pobreza incrível. Apenas empregados da Estrada de Ferro, mecânicos de automóveis, sapateiros entre os demais de ofícios desiguais, como dona Totó. A mulher trabalhava numa firma de agave e talvez esse fosse o melhor emprego dos demais, afora o pessoal da Rede Ferroviária ou de alguns estabelecimentos bancários. O certo é que as sete horas da noite Paranhos, Sócrates e alguns outros membros do círculo estariam em casa de Norma para fazer uma sessão de obrigação contra os “encostos” ou de seres notadamente malévolos.
Então, as sete horas da noite, os membros da Mesa Branca estavam reunidos em uma sessão silenciosa. Na mesa estava um copo de água fluidificada, uma porção de terra de cemitério – em caso de haver a presença de espíritos do mau – e rosas de enfeites com velas acessas. Ao início dos trabalhos começou por desvendar o mistério da aparição de seres horrendos e malévolos da manhã naquela humilde residência. No estranho e soturno ambiente surgiu uma figura de um fantasma rompendo todas as coisas ao seu redor, inclusive a parede da sala. A moça Norma estremeceu de pavor ao ver de perto a figura horrorosa a buscar odiosidades.  E declarou, em êxtase:
Norma:
--- É ele! É ele! É ele! – falou alucinada ao ver a figura estranha.
Paranhos:
--- Silêncio. Vejamos o que ele quer! – respondeu o chefe dos médiuns.
Fantasma:
--- Isso é o que os senhores pensam. Eu procuro apenas essa mulher! Ela é minha mulher! Apenas só minha!!! – vociferou a aparição buscando atentar a moça Norma.
E em arrebatamento a moça delirou com todo o seu poder enfraquecido. Ela jamais conhecera tal horrenda criatura. Em desespero total, Norma gritou extasiada.
Norma:
--- Sai daqui seu monstro!!! Sai daqui!!! – gritou em delírio.

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