quarta-feira, 30 de setembro de 2015

LUTA ARMADA - 39 -

- PRESOS -
- 39 -
A QUESTÃO -

No sábado à noite, em hora prolongada, o diplomata Ênio Monroe, depois de assistir a um programa na TV foi de pronto indagar a senhorita Isis Fernandes. Ele queria saber se importava em descobrir algo mais que então não sabia. A moça estava a conversar com a amiga Moema e quase não se deu por conta. Apenas ouviu quando o diplomata se espojou na portona deixado a TV ligada e ele com as mãos a sustentar a cabeça, fazendo um leve aceno para a sua predileta amiga. Foi assim que sucedeu. Isis compreendeu e disse ser bom prosseguir na história do Doutor Cordeiro. E o diplomata entendeu. Com isso, foi à frente.
Monroe
--- Correto. O Doutor Cordeiro, não é isso? - - indagou a pensar melhor.
Isis
--- Sim. Isso mesmo. - - confirmou
Monroe
--- Isso é interessante. Esse médico atuou no DOI-CODI, no Rio de Janeiro. Ele usava o pseudônimo de Doutor Cordeiro, como a senhorita já sabe. Ele era um tenente médico. E demonstrou seu arrependimento pelo papel que cumpria. Nos presos, ele aplicou Pentothal. E quando se arrependeu o doutor Amílcar Lobo perdeu o seu registro de médico. E foi a primeira pessoa a falar daquela “Casa da Morte”, em Petrópolis, para onde levavam presos e quase todos morreram em suplício. - -
Moema
--- Essa “Casa da Morte”, se não me falha a memória, levou grandes traumas emocionais para as famílias dos presos políticos. Teve vários casos semelhantes. Um deles foi com uma guerrilheira, Inês Etienne, levada também para essa Casa. Um cabo do Exército, de nome Victor Papandreu, tirou a arma de dentro do bolso do paletó e matar a moça com um tiro na testa. Para uma pessoa normal, isso é algo terrível. Eu fiz a matéria quando ainda era estudante. - -
Monroe
--- Há inúmeros casos envolvendo a Casa da Morte, do Rio. O caso do detento Rubens Paiva até hoje é notícia. Esse homem morreu dizendo o nome do médico Amílcar Lobo. Foi um caso incrível. Esse prisioneiro foi arrancado de sua casa do dia 20 de janeiro, um dia feriado de São Sebastião, pelo Capitão Anselmo. O Exército, de imediato, chamou o Doutor Amílcar, pois estava com um preso “quente”, como se dizia quando se tinha em detenção um detento perigoso, para eles. Totalmente nu, Rubens Paiva apenas dizia o seu nome para depois morrer. Rubens Paiva morreu de uma hemorragia interna. - -
Isis
--- Horrível! E esse médico? - - indagou alarmada.
Monroe
--- A dona Maria Helena falou, certa vez, que o seu marido foi muito pressionado pelos Militares e certa vez, homens da polícia em trajes civis o agarraram na rua. Ele sentiu que a injeção provocaria um colapso do coração. Conseguiu escapar e chegar até a um Hospital, em Ipanema, no Rio. De qualquer forma, o médico Amílcar Lobo ficou com problemas nervosos, abatido e veio a falecer em um sítio no interior do Estado. Era um trapo. A Esquerda procurou tentar fazer o médico sobreviver, para contar mais história, porém não foi possível. O caso é muito simples: o futuro da tortura está ligado ao futuro dos torturadores. - -
Moema
--- Ao se ouvir, hoje, a opinião de um guerrilheiro ou ex-guerrilheiro, ele irá dizer que não tortura quem o torturou. Mas, há os que tem suas opiniões. Certa vez, eu ouvi de um deles que perdoava aquele que o torturou. É difícil se dizer “que eu te perdoo”. Muito difícil. Em se olhar cara a cara com um matador de presos é difícil se perdoar. - -
Monroe
--- Difícil, é. Impossível, não. O ex-preso político, ele pode até guardar mágoa eterna contra o seu torturador. Mesmo assim, o ex-preso não vê a face do torturador. Ele apanha de todo modo, mas não sabe que bateu. Ou ele fica com rancor de todo que ele encontra, do contrário ele prefere esquecer. Veja só: existe o temor de se está matando uma pessoa inocente. Ocorreu uma cena entre um sequestrado e um torturador, de nome Luís Timóteo. Os dois se cruzaram em um gabinete sanitário. O torturador ficou com temor de estar ali com um inimigo de velhas eras. E o torturado sorriu para ele a perguntar: “Você se lembra de mim? ”. Esse Militar, especializado em dar choque nos pênis dos presos se assustou e saiu do mictório. - -
Isis
--- Covarde! - - cuspiu de lado.
Moema
--- É isso, criança! Nunca diga que não faz aquilo que você pode fazer. O tempo muda! –
Monroe
--- Não raro, tanto tempo depois. Os ex-guerrilheiro se encontra, com os seus verdugos do passado. O medo acolhe aquele verdugo a ponte de falar que ele nunca colocou a mão para bater em um guerrilheiro. Mas, o tempo é passado e o guerrilheiro diz ser verdade, pois naquele momento do passado ele estava pendurado em um pau de arara e o verdugo não lhe fizera mau. Porém, o que ele fazia era dar as ordens para batessem com força no guerrilheiro. -- -
Isis
--- E o guerrilheiro perdoava? Eu não sei mais quem é nojento! - -
Moema se torceu em gargalhadas. O seu irmão também sorriu.
Monroe
--- O tempo passa e, não raro, nós nos esquecemos do que se faz com nós mesmos.
Isis
--- Nem vem que não tem! - -
Moema
--- Eu temo que isso, em alguns casos, possa ser verdade. O medo é mortal! - -
Isis
--- Mas, para os torturados, aqueles assassinos eram monstros. Porém, tem um livro escrito feito pela senhora Hanna Arendt, filósofa, no qual demonstra que o senhor Adolf Eichmann, tenente-coronel da SS, na Alemanha nazista e exterminador de milhões de pessoas era um homem completamente normal. Apesar de ter cometido as atrocidades. Ele, em si, não deixava se ser horrivelmente normal. Ele era um burocrata que cumpria ordens sem questioná-las. - -
Moema
--- Os monstros, passado o período do terror, eram bons vizinhos, em suas casas, amava seus filhos, bons pais de famílias, preparar um churrasco entre amigos distante do instante de maltratar os guerrilheiros, homens e mulheres perigosos. Porém, nem todos eram os bons. Havia psicopatas, sádicos e se pressionava, presos, aquilo, para esses monstros, era uma coisa normal. Isso ocorre hoje em dia. Veja os jornais. ---
Isis
--- Eu não suporto essa bandidagem! – - com rancor.
Monroe
--- Nem todos podem ser enquadrados na condição de monstros e leva uma vida social de monstro. Pessoas que aparentemente são normais, possam ser torturadores quando assumem o seu serviço. O ser humano é capaz dos gestos mais nobres e dos mais ignóbeis. A sociedade em que vivemos é uma sociedade que não aboliu por inteiro a tortura. Não se tomou a consciência de que a tortura é uma coisa abominável. Isso é dramático.- -
Isis
--- Há exemplo de psicopatas. No interior, um soldado pegou o preso e o fez comer fezes como se aquilo fosse uma coisa boa. E depois, atirou na coluna do preso. E sorriu. - -


terça-feira, 29 de setembro de 2015

LUTA ARMADA - 38 -

- A LUTA -
- 38 -
O TIRO -
Durante as operações da luta armada houve troca de tiros. E nesse caso estava envolvido o líder guerrilheiro Cid Benjamim. Certa vez, o grupo a que pertencia o guerrilheiro, agiu para invadir o gasômetro do Leblon, no Rio.  A guerrilheira Sílvia (Vera Sílvia Magalhães) pediu fósforo para o Policial. No instante em que o policial foi dar o fósforo, nesse momento foi rendido um dos rapazes do grupo e um rapaz do grupo teve a intenção de abrir fogo contra o policial. Entretanto, um outro guerrilheiro vinha em sentido contrário e, nessa oportunidade, o guerrilheiro, temendo a ação do policial que já armara a sua metralhadora contra a massa insurgente, abriu fogo contra o mesmo, logo caindo, porém não foi morto. Dessa forma, a guerrilheira Silvia e o seu companheiro, foram salvos de uma enigmática cena de morte. Um outro sequestrador do Embaixador americano foi o rapaz Cláudio Torres, integrante do MR-8. Ele era o companheiro de Sílvia Magalhães na tentativa do assalto ao policial.
Cid Benjamim participou de uma operação para o resgate de dólares de um deputado que guardava dinheiros em sua casa. O deputado tinha uma coleção de quadros. Benjamim e outros companheiros da Luta Armada fizeram ligação telefônica relatando serem eles jornalistas de uma revista não definida e que estavam fazendo matérias sobre colecionadores particulares de quadros interessantes. O parlamentar se sentiu satisfeito, abrindo a porta para os guerrilheiros.
Monroe
--- Esse foi o “gancho” para que os guerrilheiros tivessem acesso à casa do deputado. –
Isis
--- Conte mais! Conte mais! – - assim procedeu a moça torcendo as mãos.
Era noite já avançada, quase madrugada, vez que o diplomata já estava desocupado de todas as obrigações daquele inquietante dia, com jantares e troca de conversas com outros diplomatas, esposas, filhas entre gente próxima assim como a irmã do diplomata, senhorita Moema e a auxiliar Iris Fernandes. Após a festa em um Clube da capital italiana onde havia uma multidão de convidados, no fim, foi a vez de voltar a sede da Embaixada entre motos, carros e jovens a ocupar os bares de esquina soltando gracejos. O diplomata sorriu vendo as alegres travessuras da rapaziada. Logo após, entro na sede da diplomacia. Quando estava a recostar em uma poltrona com as pernas esticadas em um móvel pequeno, ele não esperava a vez da jovem moça chamar sua atenção. E foi assim que começou a fala.
Monroe
--- Espere! Deixa-me repor. Bem. Os guerrilheiros, todos disfarçados, um dos quais usando uma camisa colorida a fumar um cachimbo, como um crítico de arte, enfim adentraram, e fizeram fotos dos quadros quando então cometeram o assalto. Nada mais que 70 mil dólares, na época, um valou bem mais vultoso. O deputado se chamava Edgar Guimaraes de Almeida.
Edgar Guimarães era integrante da bancada federal do MDB, do Rio de Janeiro. O dinheiro foi usado no quadro dos guerrilheiros que se situavam na clandestinidade, na ajuda de outras organizações que se encontravam em dificuldades financeiras, parte caiu nas mãos dos órgãos da repressão. Os guerrilheiros tinham a preocupação de não deixar todo o dinheiro em uma só mão. A parte que foi apreendida, foi apenas uma parte e nada mais.
Isis
--- E comunicações entre os grupos como eram feitas? - - quis saber.
Monroe
--- Aproveitando a dica, veja bem como; os programas de TV eram bastante populares. Um deles, o do Chacrinha, bem popular mesmo. E o Chacrinha tinha uma mania de mandar fazer “rodar”, com suas mãos, para entrar um comercial. “Roda, Roda, Roda. Um minuto de comerciais”. Era o que o homem fazia. Eu não sei dizer o porquê, mas o jeito como o homem fazia, todo enfeitado de palhaço, seguia como se fosse uma senha.
Isis
--- Em que isso servia? - - perguntou.
Monroe
--- Bem. A máquina que se usava para dar choque – um “telefone de campanha” – ela gerava eletricidade rodando-se a manivela. Então, os militares responsáveis por rodar choque faziam o mesmo: “Roda, Roda, Roda”. E era assim, feito.  - -
A principal sala de tortura do DOI-CODI – Destacamento de Operações e Informações – Centro do Operações de Defesa Interna – foi um órgão subordinado ao Exército, de Inteligência e Repressão do Governo Brasileiro durante o regime inaugurado com o golpe militar de 31 de março de 1964, chamado também “Anos de Chumbo”. Aliais, esse sistema foi também o usado pela Igreja Católica Romana, na França e em Portugal, durante a Inquisição, no século XII (1250) pelos Inquisidores.
No Brasil, a principal sala de tortura do DOI-CIDE nos anos de 1970 era também algo de fantasmagórico. Tinham, na sala, umas luzes roxas, e os presos sentiam-se como numa boate e dois cartazes meio rústicos, um pintado à mão com dizerem: “Aqui é o lugar que o filho chora e a mãe não morreu”. O outro tinha pintado: “Advogado, aqui, só entra preso”.  
Monroe
--- Teve preso que levou injeção de “tortura” para falar. - -
Isis
--- Que efeito fazia? - - indagou
Monroe
--- Essa injeção era chamada Pentothal, o Soro da Verdade. O preso é imobilizado e a agulha é injetada com a droga na veia. A injeção é injetada lentamente e a pessoa vai ficando “lesa”, a boca vai ficando frouxa, o pensamento se turva e os “inquisidores” fazem perguntas sem importância até chegar a questão crucial que os agentes querem mesmo saber. Entretanto, a injeção é aplicada vagarosamente para não passar da conta. Se for rápido, o preso dorme. - - destacou
Isis
--- Merda! Mas tem de tudo da ciência. - - dialogou com a resposta
Monroe
--- Mas, tem outros meios. O preso é pendurado em um “pau de arara”, de cabeça para baixo e entre outros maus tratos tem também os tradicionais telefones, ou seja, tapas dos ouvidos. - -
O médico Amílcar Lobo atuou entre 1970 e 1974, no DOI-CODI, no Rio de Janeiro. Usava o pseudônimo de “Doutor Cordeiro”. Ferido, porque resistiu à prisão. Cid Benjamin foi medicado por Amílcar Lobo do qual recebeu pontos na cabeça sem anestesia. Numa sessão da Comissão da Verdade, no Rio de Janeiro, o ex-guerrilheiro trocou um abraço com a viúva do médico que participou das sessões de tortura. Esse tenente-médico se arrependeu das torturas aplicadas nos presos políticos. Ele era uma peça da engrenagem da tortura. Objeto integrante desse sistema macabro.
Isis
--- Eu sei, de um caso de um preso que escapou de um jeep da polícia. Ele escapou no meio de um capinzal e a Polícia o perseguiu, atirando, atirando até parar. Depois de alguns anos, um ex-soldado do Exército me contou que ele foi morto pela tropa e enterrado perto do fim do morro por trás do 16º RI. Ninguém soube disso. Seu nome, eu não sei. Sei, apenas do apelido: “Pé Seco”.
Monroe
--- Tem muitos casos assim. Hoje mesmo. Eles operam com a morte e depois chega a ditar que foi “legítima defesa”. - -
Isis
--- Como se prova legítima defesa? - - quis saber.
Moema
--- É isso aí, menina! - - e saiu para outro departamento



segunda-feira, 28 de setembro de 2015

LUTA ARMADA - 37 -

- PAU DE ARARA -

- 37 -
DEBATE -



O tempo passava com a noite tranquila tendo os ônibus, trens, aviões e carros a cruzar por todo o ambiente entre tantas outras tantas coisas como bares e casas noturnas. Na sala onde estavam Ângelo Monroe, o estadista, a sua irmã Moema, e a amiga em comum, Maria Isis Fernandes, o debate prosseguia para o tempo sem fim dos três – com certeza, amigos -, onde o homem continuava a debater as suas certezas da história por ele não vivida. Apenas lida em trabalhos discutidos no correr do tempo. As moças a ouvir, após um tempo de gargalhadas.
Monroe
--- Com relação a Ho Chi Minh, ele comandou o Vietnã do Norte na Guerra contra a intervenção americana no sudeste asiático. Ele publicou “Poema do Cárcere”. E em seu tempo, no Brasil, o Embaixador norte americano, Charles Elbrick, demonstrou uma posição política que era algo que os guerrilheiros não esperavam. É bom falar que Vera Sílvia Magalhães foi a única mulher a participar do sequestro do Embaixador Elbrick. Ela foi presa seis meses depois do sequestro. Uma vizinha a denunciou. - -
Isis
--- Cadela! Infame! Mulher vulgar! - - arrastou a moça
Moema
--- Quem? - - quis saber.
Isis:
--- Essa otária. A vizinha a pobre! A dedo duro! - - descompôs irada.
Monroe sorriu e pediu licença para prosseguir.  
Monroe
--- Deixa-me prosseguir. Prosseguindo. Ele, o Embaixador, se negou a falar quem eram os tais sequestradores ao se referir não está reconhecendo nenhum dos libertados no aeroporto. Foi uma ação “mentirosa”, por assim dizer, do Elbrick que teve para proteger os sequestradores. Reconhecer por fotografias se bem o digo. - -
Isis
--- E os sequestradores não falavam com o Embaixador? - -
Monroe
--- Certo. Certo. Mas, com capuz. E isso, o homem disse as autoridades militares. O que não era verdadeiro. Nós falávamos com Elbrick da forma simples. Sem máscara. O que Elbrick falou desagradou, muito os Generais brasileiros ao afirmar que os guerrilheiros eram jovens. Idealistas e queria o melhor para o Brasil.  - -
Isis
--- Falou certo. – - ressaltou a moça de forma orgulhosa.
Moema sorriu pela atitude de Isis. O seu irmão olhou de forma firme para Moema e ela reconheceu e voltou ao seu normal. Isis observou a atitude do diplomata e calou.
Monroe
--- O que o diplomata voltou a relatar é ele temia pela vida de cada um dos guerrilheiros.
Mas se os Militares não tivessem aceitado as exigências dos sequestradores, esses teriam a ação de matar Charles Elbrick, pois grave esse duelo, o grupo já havia acertado. Porém, o Brasil estava nas mãos dos Estados Unidos. Era uma dependência total. E não se cogitaria em não se soltar o Embaixador Elbrick de forma alguma. O País não teve outra solução. Foi tanto que os Generais acederam ao pedido em menos de 24 horas. Os guerrilheiros foram libertados e posto a bordo do avião da FAB. Divulgou-se em rádios, TVs, e jornais o Manifesto entregue pelo comando da Luta Armada.
“Grupos revolucionários detiveram, hoje, o senhor Charles Burke Elbrick, Embaixador dos Estados Unidos, levando para algum lugar do País, onde o mantém preso. O senhor Burke Elbrick representa em nosso País os interesses do imperialismo que, aliados aos grandes patrões, aos grandes fazendeiros e aos grandes banqueiros nacionais, mantém o regime de opressão e exploração. A vida e a morte do senhor Embaixador estão nas mãos da Ditadura. Se ela atender às duas exigências, o senhor Burke Elbrick será libertado. Caso contrário seremos obrigados a cumprir a justiça revolucionária. Nossas duas exigências, são: A) – A libertação de 15 pesos políticos. São 15 revolucionários entre os milhares que sofrem as torturas nas prisões dos Quarteis de todo o País. Que são espancados, seviciados e amargam as humilhações impostas pelos Militares. B) – A publicação e leitura dessa mensagem na íntegra, nos principais jornais, rádios e televisões de todo o País. A Ditadura tem 48 horas para responder, publicamente, se aceita ou rejeita a nossa proposta. Finalmente: queremos advertir àqueles que torturam espancam e matam nossos companheiros: Não vamos aceitar a continuação dessa prática odiosa. Estamos dando o último aviso. Quem prosseguir torturando, espancado e matando ponha as barbas de molho. Agora, é olho por olho e dente por dente”.
Monroe
--- Os guerrilheiros estavam decididos a morrer e a matar, se houvesse “invasão”. Eles morreriam. Mas Elbrick não seria resgatado. Eles tinham, na prisão, armas, granadas, metralhadoras e revólveres. Então, haveria tiroteio. Os guerrilheiros estavam prontos para não entregar o ponto. - - relatou
Isis
Isis
--- E o Comando Militar já havia descoberto esse esconderijo? - - quis saber.
Monroe:
--- Não. Tão cedo, não havia descoberto. Inclusive, o Embaixador Elbrick tinha a sua convicção de que não havia possibilidade de se descobri tão cedo. Ele era até contrário à Ditadura Militar no pouco tempo vivido com os guerrilheiros. Ele havia demostrado ser contrário à censura, à prática de torturas e tudo isso jamais correspondia ao desejo do Governo Americano. - -
Isis
--- Diga-me. Os terroristas não correram algum risco durante o sequestro? - - indagou.
Monroe
--- (sorriu) – Bem. Quando a Ditadura atendeu a todas as exigências feitas pelo Comando guerrilheiro, então, era a hora de libertar o Embaixador. Nesse instante, os guerrilheiros notaram que a casa estava vigiada por viatura do Cenimar e os rebeldes saíram do local em dois carros com o Embaixador e mais dois companheiros seguindo como em um filme com carros subindo pelas calçadas, gente correndo com pavor. Mesmo assim, não houve troca de tiros. - -
Moema
--- Houve sorte, então. - - declarou a irmã.
Monroe
--- Houve incidentes de mostrar armas durante a perseguição. Mesmo assim, os veículos da Cenimar se mantiveram à distância. Nessa oportunidade houve certa confusão onde os guerrilheiros se perdesse uns dos outros. Após esse extravio, eles se encontraram. –
O Embaixador norte americano, Charles Elbrick foi libertado nas proximidades do Estádio do Maracanã no final da tarde do domingo, 7 de setembro de 1969. Os sequestradores aproveitaram o grande movimento nas proximidades do Estádio depois do jogo Cruzeiro e Fluminense para se dispersar.
Isis
--- Jesus Cristo! Foi uma terrível luta! - - detonou.
Moema
--- É! O melhor é dormir! Amanhã você conta mais história.  – - sorriu para o irmão







sexta-feira, 25 de setembro de 2015

MAR SERENO - 36 -

- SEQUESTRO -
- 36 -
O MOMENTO -

Não querendo ser austero, Ênio Monroe apenas fez um leve sorriso na face, deixando passar aquela atitude sombria da bela moça, Maria Isis Fernandes. E fitou muito terno e afeto a face da revoltada senhorita. Quem sabe se alí estava nascendo um sentimento de afeição? Pedia ser, muito bem um doce carinho a brotar para o eterno ser. E ele, prosseguiu com a conversa,
Monroe
--- Nem tudo se deve odiar para sempre. - -
Isis
--- Nem tudo. Meu tio deixou a mulher e debandou mundo afora. O que o senhor acha disso? - -
Monroe
--- Talvez não gostasse mais da mulher. Talvez por encontrar outra mais carinhosa. Teve filhos?
Isis
--- Oito, se não me falha a memória. - - emburrada.
Monroe
---De que vivia seu tio? - - com paciência
Isis
--- Da roça. Se não chovia, ele fazia qualquer coisa. Carregar água nos burros. - - falou com a cara abusada.
Monroe sorriu fazendo um gracejo sem grande expressão. Algo de apenas sorrir e nada mais.
Monroe
--- Bois bem.  Vamos falar, ainda sobre Benjamim. Cid de Queiroz Benjamim, nascido em Recife e quando deposto, mandado para a Argélia. Era o tempo da Tortura dos presos políticos. E, certo dia. Estavam Cide Benjamim e o companheiro, Franklin Martins na Rua Marques em um encontro de guerrilheiros, pois já era do MR-8, quando ele viu passar o carro do Embaixador americano dirigido por apenas o motorista. Isso chamou a atenção de Cid, até porque pouco tempo antes tinha havido um atentado contra o Embaixador americano da Guatemala. - -
Isis
--- O mesmo? - -indagou
Monroe
--- Não. Um outro. Esse foi metralhado pelos guerrilheiros. Mas, os guerrilheiros do Brasil já estavam preocupados em soltar presos, principalmente os que estavam sob tortura. Nesse ponto, ele cogitou em fazer um preso tão importante que pudesse ser trocado pelos presos políticos existente no país, mais precisamente, no Rio de Janeiro. ---
Isis
--- Como ele fez, então? - - quis saber.
Monroe
--- Bem. Ele fez um levantamento com a colaboração da guerrilheira Vera Sílvia Magalhães. Eles foram como um casal de namorados e, em certo momento, a Vera foi sozinha e começou a conversar com um Segurança da casa do Embaixador e disse que era uma moça recém-chegada, queria conhecer o Rio de Janeiro e logo o Chefe de Segurança se candidatou à mostra o Rio. - -
Moema sorriu. E Isis que saber o ocorrido. Então, Moema respondeu.
Moema
--- Uma pergunta tola. - - e gargalhou
Monroe
--- Para você ver. E nessa ocasião, Vera Magalhaes indagou ao ver o carro sair com o embaixador se era comum ele sair sem segurança nenhuma. O segurança sorriu e respondeu que ele seguia sempre sozinho, apenas com o carro a levar as bandeirinhas do Brasil e dos Estados Unidos.
Moema
--- Ele era muito metódico. – - respondeu a moça.
Monroe
--- Para se notar. Ele cumpria o mesmo horário, o mesmo trajeto. E ele, Cid Benjamim, levou até um vidro de clorofórmio posto por sua mãe, química por sinal, para outro assunto. Não, para o sequestro. Acontece que, no sequestro do Embaixador, estava do mesmo modo, o motorista. E, então, quando, no dia do sequestro, eles, os sequestradores, abandonassem o carro, no Jardim Botânico, o motorista fosse posto a dormir para não dar o aviso. Mas, na hora, ele se esqueceu e o vidro de clorofórmio ficou caído dentro do carro. - -
Isis
--- Assim, sem mais nem menos? - - quis saber a moça fazendo gesto com os braços
E Moema gargalhou para complementar a história do sequestro elementar. Monroe por sua vez sorriu também.
Isis
--- Prossiga! - - falou a moça para acabar com as risadas.
Monroe
--- Então – (ainda sorrido por causa do clorofórmio) – Houve um equívoco nesse sequestro. Nesse dia do sequestro o Embaixador americano não saiu de casa, logo pela manhã. E apareceu um carro muito semelhante e um “engenheiro” que estava na esquina deu o sinal. E o que o grupo fez, não se sabe responder. - -
Todos gargalharam, enfim. Era Moema e o seu irmão em uma só medida. Isis era a mais irritada querendo saber o que se fez em seguida.
Isis
--- Parem, por favor! Agora, deu! Estão todos a sorrir! - - falou irritada
Após um certo período de tempo, o diplomata voltou a conversa.
Monroe
--- Muito bem! Desculpe-me! A questão é que o Embaixador americano surpreendeu todos os guerrilheiros. Ele era um diplomata de carreira e uma pessoa experiente. Bastante liberal. E falava um bom português, pois já tinha servido em Portugal. As conversas com os guerrilheiros eram francas, o diplomata Charles Elbrick criticava a Ditadura militar brasileira. Ele falava mal da Censura em compreender da proibição dos nomes de personalidades como dom Elder Câmara, conhecido em todo o mundo.  Condenava as torturas a presos as quais era ele contrário. - -
Isis
--- Que maravilha! Sério mesmo? - - indagou preocupada
Monroe
--- Sério! Infelizmente isso que foi gravado estava nas mãos de Órgão de Segurança, tempos mais tarde, e não pode ser usado.- -
Isis
--- Qual Órgão? - - quis saber
Monroe
--- Centro do Informações da Marinha, órgão conhecido por Cenimar. Mas a questão outra foi doar ao Embaixador Americano, Charles Elbrick um livro de poemas de Ho Chi Minh, líder da vietnamita, principal inimigo dos Estados Unidos. O livro foi “Poema do Cárcere”, doado por Franklin Martins, Jornalista bem conhecido no Brasil. Ele fez até uma dedicatória: ”Ao nosso primeiro prisioneiro político com os votos de congratulações”. –
Isis
--- Quem era esse ... Ho Chi Minh? - -
Monroe
--- Ho Chi Minh foi um revolucionário e estadista do Vietnã. - - explicou
Isis
--- O Vietnã é um pais comunista? - - indagou.
Monroe
--- Sim. É aliado à China. Somente a Rússia deixou de ser. - -
Isis
--- E além desse? – - quis saber
Monroe
--- Laos e Coreia do Norte. - -
Isis
--- Poucos! - -disse em tom de mágoa
Monroe
--- A tendência é acabar de vez. - -



MAR SERENO - 35 -

- REVOLUÇÃO -
- 35 -
PRESOS POLÍTICOS -

Na noite do dia seguinte, bem mais diligente, o diplomata Monroe, após feito o jantar, se juntou as duas amigas, uma delas sua irmã, senhorita Moema. E Isis estava toda alegre por ver mais de perto, como nunca. Naquela hora, após sentar em uma poltrona com as pernas estiradas, postas em um banquinho, Monroe indagou às moças o que se podia fazer, naquele tempo. E Moema declarou sem sentir:
Moema
---- Algo sobre a Revolução. – - e sorriu
Monroe
--- Revolução! - (pensativo) – E a senhorita? – - falou para Isis.
Isis
--- Araguaia! - - e gargalhou
Monroe
--- Gostou de tema? Bem! Tem outras coisas. Histórias nem muito bem contadas. Ex-guerrilheiro e os “Torturadores”. Relato de um militante. Homem que conheceu os porões da Ditadura. Cid Benjamim, líder de 20 anos de idade no tempo do ocorrido, ano de 1968, Ano do AI-5 – Ato Institucional – que mergulhou o País numa Ditadura absoluta. Logo, o líder estudantil estava “voando” na clandestinidade. Terminou entrando para a Luta Armada, no movimento Revolucionário “8 DE OUTUBRO”. A data, 8 de outubro, é uma referência a morte do guerrilheiro “Che” Guevara, o médico argentino que abandonou tudo para participar da revolução cubana. Entenderam? - - indagou
Isis
--- Para mim, é novidade! - -
Moema
--- Che Guevara, eu conheci. Não conheci, como se pensa. Mas, conheci através dos livros. Ele esteve no Brasil, foi condecorado pelo Presidente Jânio Quadros. Tudo isso eu vi em artigos de jornais antigos. - -
Monroe
--- Muito bem. Para você, não é novidade. Mas. .... Com relação a Cid Benjamin, sabe-se que em poucos meses ele se tornou o co-realizador e um dos executores do mais ousado, mais inesperado e mais surpreendente Golpe praticado contra a Ditadura Militar: o sequestro do Embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Elbrick no começo da tarde do dia 4 de setembro de 1969, numa rua de Botafogo na zona sul do Rio. Uma Junta Militar formada pelos Ministros do Exército, Marinha e Aeronáutica governava o País, Perguntas? - - ele olhou para o semblante das duas senhoritas
Moema
--- Não. Prossiga! – - falou séria com a mão a pôr na boca e mastiga as unhas.
Ele olhou para Iris e essa nada declarou. E continuou a explanação.
Monroe
--- Muito bem. Jornais da época, registram: 4.200 agentes participaram da caça aos sequestradores, no Rio e em Estados vizinhos. Os Órgãos de Segurança divulgaram os retratos falados dos sequestradores, entre eles, o de Cid Benjamin. Pela primeira vez, um diplomata estrangeiro era usado como moeda de troca para forçar os Militares a libertar presos políticos.
Moema
--- Eu me recordo de ter feito um trabalho escolar sobre esse caso. - - falou a moça
Monroe
--- Verdade? É um caso bastante rumoroso se formos pensar naquela época. - -
Isis
--- Eu nem era nascida! - - sorriu
Moema
--- Mas o mundo inteiro soube. Japão, China, Rússia, França, Inglaterra, Espanha e os Países das Américas, principalmente os Estados Unidos. - - falou com simplicidade.
Monroe
--- Muito bem. Deixa p’ra lá. O Embaixador foi levado para a casa de número 26 da Rua Barão de Petrópolis, em Santa Tereza. O endereço de um jovem jornalista, editor de um jornal chamado “Resistência”. Nome: Fernando Gabeira, autor do “Treze Guerrilheiros”, do MR-8 e do Movimento Ação Libertadora Nacional, a ALN, participaram da Operação Sequestro. Os guerrilheiros ameaçavam: ou o Regime Militar libertava 15 presos políticos ou o Embaixador americano seria executado. E mais: exigiam que um manifesto denunciando a Ditadura fosse lido em emissoras de rádio e de TV de todos o País.  Compreendido? - - trocou olhar severo
A moça Isis fez um gesto singular com os seus lábios.
Isis
--- Eles eram o “cão”! - -
Moema sorriu.
Moema
--- É Guerra! - - gargalhou
Monroe
--- Na verdade, era guerra! Como os guerrilheiros estão fazendo na Síria. Ou mata ou morre. Bem. As exigências dos sequestradores foram aceitas. Quinze presos políticos foram libertados e embarcados em um avião da FAB, no Aeroporto do Galeão, rumo ao exilio. Preso pelos Órgãos de Segurança sete meses depois, Cid Benjamim se tornou personagem indireto de outro sequestro. Estava na lista de presos políticos libertados em junho de 1970 em troca do Embaixador alemão. Destino: quase dez anos de exílio. Cuba, Chile e Suécia. Só voltaria ao Brasil nas asas da anistia em 1979. - -
Isis
--- Rebelde mesmo! – - declarou sem graça
Moema
--- Na época, tinha que ser assim.
Monroe sorriu e declarou.
Monroe
--- Vejam que pode ser a mim, também. Com esses morticínios da Síria, Israel, Jordânia, Jerusalém quem pode assegurar que eu não seja moeda de troca? - - quis saber
Moema
--- Isola! – (bateu na cadeira ao notar ser possível a essa ação, com já houve na Alemanha)
Isis
--- Eu não perdoava. É dramático. Não se pode perdoar a quem mata por seu autor. - -
Moema
--- Em por ser a última coisa a se fazer? - - perguntou


MAR SERENO - 34 -

- SOLDADO -
- 34 -
FOGO -

O diplomata Ênio Monroe, a olhar a moça a sorrir, igualmente fez o mesmo. Era engraçado ser morto por errar a senha pedida por outro soldado. Na verdade, houve casos de mortes quando se pedia a senha e a resposta era com erro. Não raro, o soldado esquecia a senha de resposta e dava algo parecido, o que não era aceito. Então, o fogo comia no centro. O soldado que fuzilava esse outro, nada mais podia fazer. Ele cumpria ordens. Acender isqueiro, fósforos ou fogo qualquer não se podia acender, sendo a noite, porque a chama identificava a presença de alguém fora do bando. Esse, fatalmente, era trucidado por guerrilheiros na mata tão escura, mesmo sendo ao meio dia, pois as árvores tinham uma altura considerável capaz de encobrir a luz do sol se estivesse estio.
Monroe
--- Houve casos onde uma patrulhado Exército foi presa pelos guerrilheiros quando os militares entraram em uma cabana para fazer sua comida. Os guerrilheiros identificaram os militares e atiraram pedras para a saída dos soldados. Foi o fim da tocaia. A patrulha de Exército foi agrada e metralhada sem dó nem piedade. - -
Isis
--- Nossa Mãe. Chega me dá medo! - - falou a moça se encolhendo toda.
Monroe.
--- No fim de 1972 ocorreu nova ofensiva do Exército considerada a Segunda Operação. Uma manobra com 2.500 homens das três Forças tentou pressionar os guerrilheiros e forção que se dispersassem. Mas, 12 dias depois a volta dos militares para Quarteis da região foi recebida pela a guerrilha como uma vitória. E com o fim dessas operações terminava a primeira etapa dos combates na mata. Isso foi uma derrota para as tropas inimigas, ou seja, dos Militares. - -
Isis
--- Eu penso no que sofreram o que esses homens sofreram. Tanto faz ser guerrilheiros ou soldados. Tanto faz. Eles eram gente! - - disse a moça se encolhendo de temor.
Monroe
--- Sim. Eles eram gente. Não restam dúvidas. Para se acreditar, hoje, nós passamos por eles, e os cumprimentamos ou não. Mas os soldados ou guerrilheiros são gente. Eu, agora, fico a imaginar: e os terroristas da Síria? Eles são o que? - -
Isis
--- Eu tenho horror em pensar nos terroristas. - -
Monroe
--- Bem. Isso é outra questão. Nós estamos no Brasil antes de entrar a liberdade. E que liberdade. Liberdade com delinquentes. Contudo, eu vejo que a ideia dos guerrilheiros de tomar o poder de onde estavam, no Araguaia, parece ingênua. Mas pensavam com o efeito multiplicador. Lucros do País inteiro poderiam seguir o exemplo deles. O sonho terminou no fim de 1974. Paulo Roberto Ferreira Marques, o Amauri, era um rapaz como tantos outros no fim dos anos 60. Aos 16 anos, escrevia poemas libertários. Ele morava em Minas Gerais e sua casa foi invadida pela Polícia Civil a serviço da Ditadura. Quando a família se mudou do interior para a capital mineira, Paulo foi trabalhar como bancário. Logo se aproximou do Sindicato e ajudou a organizar greves. Foi demitido. Cada vez mais se envolvia com a Política. Outros companheiros foram parar na guerrilha.
Isis
--- Todos? - - indagou surpresa.
Monroe
--- Sim. Mas. .... Tem aqui, no Baixo Araguaia, em início de 1973. A Guerrilha, depois das duas primeiras ofensivas do Exército experimentaram sentimento de vitória. O tempo mostraria que era só ilusão. Naqueles dias, começaria a terceira e última operação militar contra os rebeldes. Dessa vez, sem recrutas nem militares experientes. Só profissionais participariam. A primeira coisa a se fazer era conhecer os inimigos. Então, desencadeou a operação de informação, conforme declaração de uma alta patente, houve a infiltração de agentes disfarçados de diversas maneira e foi distribuído um álbum todo todos os guerrilheiros, com nomes completos. O Serviço já tinha feito o levantamento de toda a área. Inclusive o pessoal da cidade, como comerciantes, farmacêuticos, todos estavam envolvidos do lado da guerrilha. – -
Isis
--- Mas, como? - -
Monroe
---- Através da mobilidade dentro da mata. A região foi toda fotografada e se teve o trabalho de mapear as clareiras. O Exército abriu estradas na mata. Essas vias ficaram conhecidas como Estradas Operacionais (              OPS). Além de facilitar o acesso rápido das tropas de uma parte a outra da região, dificultava a movimentação dos guerrilheiros. - -  
Isis
--- Crueldade. – - falou surpresa.
Monroe
--- Guerra, é guerra, senhorita! E o Exército tirou todas as pessoas que tinham roças, como forma de isolar. As plantações eram todas destruídas. Essas pessoas davam guarida aos guerrilheiros. Tudo foi ficando mais e mais difícil para os guerrilheiros. Cada vez que se notava uma fumaça no meio da mata, logo se deduzia que era a hora dos guerrilheiros preparar o almoço, a comida. E muita gente foi presa pelo Exército. - --
Isis
--- Eles terminavam ficando cercados. - - soluçou
Monroe
--- A senhorita está entendendo. Os guerrilheiros presos eram obrigados a escrever panfletos aos colegas que resistiam tentando persuadir a se renderem. Em outubro de 1973, um acirramento da operação. Nesse ponto, 250 militares treinados para a guerra na selva chegam ao Araguaia. Andavam na floresta guiados por mateiros guiados previamente estudados pelo pessoal que traçavam as linhas táticas de combate e se recolhia essas patrulhas. A população local pagou um preço alto. Gente simples de Araguaia foi presa, espancada, presa. Judiaram muito com a população. Gente que se entrava logo depois, morta e enforcada pelo Exército. Outros moradores foram mortos e colocados em um buraco. Pelo menos 17 moradores de um vilarejo morreram durante esses anos de campanha e centenas apanharam e foram humilhados pelos militares da época. -- -
Isis
--- Praticamente, todos eram suspeitos a colaborar com os guerrilheiros. - -
Monroe
--- E muitas dessas pessoas passaram três meses ou mais nas prisões feitas em buracos para fazer além do mais terrorismo psicológico. Então, os rebeldes eram cada vez menos. Nessa etapa, o Exército já nem fazia prisioneiros. Um dos moradores que abriu a boca para falar, depois que disso o que o Exército queria saber, foi metralhado. - -
Isis
--- E houve sobreviventes? - - indagou revoltosa.
Monroe
--- Quem sobreviveu as caçadas dos Militares, ou as milícias de caçadores de recompensas, foi executado depois de preso. Pouco mais de 60 nunca mais apareceram mesmo depois de tantos anos. Alguns apanharam como bestas. Pauladas e muitas. Pendurados em coqueiros de cabeça para baixo, dormir com olhos abertos. Quem suporta? Alguns eram levados à mata para mostrar onde guardavam mantimentos e armas. Esses guerrilheiros iam e não voltavam. Eram mortos a sangue frio. - -
Isis
--- Nunca se encontros os ossos desses guerrilheiros? - - indagou com remorso.
Monroe
--- Doze ossadas dos guerrilheiros do Araguaia. Apenas duas foram identificadas. Uma delas, a do cearense Bérgson Gurgão. A instrução era não deixar marcas no Araguaia. Apagar todos os rastros. A ação para essa finalidade chamou-se certamente Operação Limpeza. O Brasil só tomou conhecimento depois de tudo o que se passou no Araguaia depois da volta da democracia, nos anos 80. - -
Isis
--- Ninguém mais falou? – - quis saber
Monroe
--- Pedro Correia Cabral. Coronel da Reserva da Aeronáutica, contou a uma Comissão do Congresso, sobre a Operação Limpeza. Na época ele era piloto de helicóptero e participou dessa operação em 1975, depois que a guerrilha tinha acabado. A ordem: era preciso dar sumiço nos corpos. Evitar investigações futuras. Os agentes fizeram um relato descrevendo onde havia sido enterrado esse pessoal e os Comandantes passaram vários dias indo com uma equipe de informações aos devidos locais e os corpos foram desenterrados, colocados em sacos plásticos, mesmo com um cheiro horrível dos defuntos sem nem poder se usar máscara e se usava lenços atados com esparadrapos ao pescoço. - -
Isis
--- E o que eram feitos com as ossadas? - -
Monroe
--- Bem. Os corpos eram levados para a Serra das Andorinhas e em um determinado local, esses corpos eram descarregados. Levava-se pneus, colheres, gasolina e então eram tocados fogo. O Exército mantém sob sigilo absoluto esses arquivos militares. - -
Seis mil homens lutaram contra 90 guerrilheiros durante o tempo que durou a ação do Araguaia. Desse total, 70 guerrilheiros e camponeses estão desaparecidos para o resto da existência. 

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

MAR SERENO - 33 -

- GUERRILHA -
- 33 -
A FALA -

Nesse momento o diplomata, Ênio Monroe, calou fundo. Pelo menos nunca se soube o porquê daquele cruciante silêncio. Os retratos nas paredes da sala onde Isis e Monroe estavam, parece a correr de um lado para outro como se fosse um trem desesperado em ânsia para alcançar o seu destino ignorado. A brisa a soprar como forte calou de certo instante para depois começar. O uivo era terrível soprando como um coiote. Uma desconhecida moto passou célere em rumo desconhecido. De repente, um motor de um carro, talvez um caminhão passando ao longe. E tudo mais era silencio. Nesse ponto, o diplomata levantou a vista e falou.
Monroe
--- Em 1976, em uma emboscada conhecida logo após como Chacina da Lapa, ele foi morto por agentes da Ditadura ao lado de outros guerrilheiros. No Araguaia, eles se tratavam pelo codinome que os recebiam para esconder sua verdadeira identidade. Isso, também, coube ao Chefe Militar, Ângelo Arroyo. - -
Isis
--- Quer dizer que ninguém se conhecia? - - indagou
Monroe
--- Eles não se conheciam de verdade. Teve gente que nunca teve em outro acampamento que não fosse o dele. Os rebeldes tinham seus parceiros. Esses eram os que levavam informações de um lugar para outro. Exemplo: um elemento era o responsável em levar informes de um destacamento para outro. E só ele é quem podia conhecer o caminho e nada mais. Eram vários destacamentos. Era uma casa simples, E até nesse distante ponto outros guerrilheiros não tinham conhecimento de quem fazia a entrega da mensagem. Nem sabiam que mensagem era. 
Isis
--- Segredo absoluto! - - relatou
Monroe
--- Em 1970, os guerrilheiros que eventualmente estavam na cidade de Imperatriz, para eles foram demonstrados um treinamento das Forças Aramadas com base na anti-guerrilha. E estavam as três Forças comunistas ali presente. Logo após, o Exército armou a operação de Combate, mas não se sabia quem o Exército queria enfrentar. - -
Isis
--- Então, eram os soldados sem experiência de combate. - -
Monroe
--- Isso! Isso! O Exército teve treinamento de tiro noturno. Os soldados ficaram preocupados com isso sem saber o porquê de atirar à noite em plena selva.  Informação seguinte era que os soldados teriam que viajar e sem saber para onde. Quem vinha de fora seguia pela Belém-Brasília desembarcado nos distritos. Ao chegar no rio Araguaia, os soldados eram informados da missão. Eles enfrentariam os “comunistas” algo que os soldados nem entendiam. Pessoas que estavam contra o Governo.
Isis
--- E os guerrilheiros sabiam disso? - - perguntou assustada
Monroe
--- Alguns, sabiam de um enfrentamento. Mas, não tinhas armas adequadas. O que eles tinham, eram um facão, uma espingarda, facas e coisas naturais. Armas de fogo, apenas um revólver 38 ou armas mais potentes tomadas de assaltos às delegacias. - -
Isis
--- Nossa! Vão morrer todos! - - declarou assustada.
Monroe
--- (sorriu) – A questão é que houve prisões. O primeiro foi José Genuíno conhecido por “Geraldo Cearense”. Esse, depois de muito tempo, um deputado federal, que saiu pela mata em companhia do líder Osvaldão (Osvaldo Orlando da Costa) quando então foi preso. Nesse ponto, João Amazonas deixou a região.  Ele era o líder do PC do B. Então, o Exército despachou 750 militares, dez vezes o número de guerrilheiros. Os soldados se embrenharam pela floresta dia e noite. A mata era fechada, sombria, escura, mosquitos “tatuquira”. Os mosquitos penetravam no fardamento dos militares e picavam quando podiam. Outros casos eram as cobras, calor, suor e chuva. - -
Isis
--- E a comida dos Militares? - - quis saber.
Monroe
--- Brotos de palmitos até chegar a uma clareira onde podiam receber, por helicóptero, a alimentação. Soldados desconheciam tudo da vida. Eles ficaram sabendo o que estavam fazendo ali, quando caiam em prantos. Uns, desistiram de ficar na mata e perseguir guerrilheiros. - -
Isis
--- Terrível! O sofrimento não era só dos guerrilheiros. Os militares também sofriam! - -
Monroe
--- Os soldados ficavam sem dormir, a se proteger, a defender os colegas. Um mínimo de vacilo, o soldado era apanhado e morria pela ação guerrilheira. A esperança era de que o dia amanhecesse, pois o temo era levar um tiro no coração. Era total escuridão onde não se enxergava um palmo à frente. Qualquer barulho, era pensar ser um guerrilheiro. Até as cartas que os soldados mandavam para seus familiares, tinham que ser lidas pelos Oficiais para evitar traições. - -
Isis
---Que horror! O Exército nem confiava nos seus? - -
Monroe
--- Era para manter sigilo sobre a guerrilha na selva. Escrever para a família, era tudo lido pelo Exército. Nem tudo podia passar. Muitas cartas não chegavam porque não se podia traçar as informações de lugares onde o soldado se encontrava. Para receber da família, era também pesquisada. Esse Comando era o S-2. - -
Isis
--- E os guerrilheiros como viviam? - -
Monroe
--- Bem. Os guerrilheiros levavam vantagem em um ponto essencial: a prática. Eles guardavam seus mantimentos, estrategicamente, em vários pontos da mata. A exemplo disso, ele, os da guerrilha, guardavam seus mantimentos por um período de até quatro anos. Sua locomoção era de levar mantimentos guardados em sacos, atravessando lagos, rios, córregos, pântanos. A construção de depósitos subterrâneos. Eles cavavam em sentido vertical e logo após, horizontal para não sofrer umidades. Ali faziam os depósitos de alimentos e medicamentos. - -  
Isis
--- Inteligentes! - -sorriu.
Monroe
--- Mensagem tentavam desestimular os soldados. Tentativa de aliciamento. Os guerrilheiros escreviam bilhetes e colocavam nas árvores para os soldados do Exército. Eram dias muito tenso e se precisasse de correr, dentro da mata, o militar não sabia para onde estava correndo. Podia cair em uma armadilha do guerrilheiro. Havia a ocasião em se deixar uma arma com dois cartuchos armados para ser detonados pelos soldados e acabar, o soldado feria o outro. Qualquer movimento, dentro da selva, era pedido a senha. Isso teria que ser dado de imediato pelo Militar. Se o soldado não desse a senha, era morto pelo outro militar. Trinta segundos! - -
Isis
--- Nossa Mãe! - - falava alarmada com temor.
Monroe
--- Era a guerra. E uma guerra sem Quartel! Todos estavam na mata. Militares e Guerrilheiros. Imagine a pessoa suada, com fome, com sede, toda picada de mosquito. Imagine. Ele não tinha negócio para não fornecer a senha. E nem podia esquecer. A senha, podia ser a do dia passado. Então, o militar era um homem morto: exemplo: se o militar exigisse uma senha, o outro tinha que saber. Laranja!  Um declarava. Em seguida, o outro respondia: “podre”. Se fosse a certa, então ele estava salvo. Se dissesse outra condição, como por exemplo: “madura”. O fogo comia. Não era a resposta desejada. - -
Iris gargalhou por demais.
Iris
--- Não tem jeito! - - gargalhou.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

MAR SERENO - 32 -

- GUERRILHEIRO -
- 32 -

DURO REVÉS -

Entre uma questão e outra, Isis continuou o seu debate com o diplomata Ênio Monroe entrando em conflito quando o assunto descambava contra os guerrilheiros, como sendo a ação governista dos duros reveses da Revolução e dos perigos enfrentados pelos Generais e seus seguidores de direita porque esse modo quer apenas se consolidar. É como um jogo de futebol. A mesma coisa. Começa com a fase punitiva inicial com riscos e perigos porque em sua ação se comete muitos erros. Na Comissão Geral de Investigação foram cometidos erros brutais com a cassação e demissão de pessoas do próprio Governo como catedráticos e professores.
Isis
--- Eu acho que Juscelino Kubistchek jamais deveria ser cassado. - - falou com cismas,
Monroe
--- Partidos se tornaram clandestinos. Era o início de duas décadas de Ditadura e, também, da formação de grupos para combate-la. Logo viria a repressão a esses movimentos de esquerda e a repressão a seus integrantes. A escolha do Araguaia foi um marco heroico pois é uma região pouco habitada do Brasil. Em Marabá, no Pará, tem, hoje, 250 mil habitantes e é banhada pelo rio Tocantins. Cerca de trinta quilômetros acima ele recebe as águas do rio Araguaia. A zona rural é coberta por toda a floresta amazônica como era no ponto da guerrilha. - - alertou.
Isis
--- Algumas pessoas, naquela época, já viviam nas matas, do extrativismo vegetal, como eu tive um parente. Ele, no ano de 1937, viveu nessa região, colhendo borracha. - - alegou
Monroe
== E tinha gente, em 1970 ou antes, em 1950. Vivendo na região inóspita, cuidado de gado e tirando mesmo a borracha. Era uma selva. Agora, a tática dos guerrilheiros era fazer amizade com essas pessoas, gente rude, por sinal, para depois convencê-la a lutar contra o Governo e até mesmo pegar em armas, se fosse necessário. - -
Isis
--- A população dessa região padeceu muito por tal questão. Então, o movimento guerrilheiro, era quem chamava o povo a participar.
Monroe
--- Esse livro que a senhorita estava a ler, tem muitos casos de tal natureza. Não sei como o autor conseguiu detalhar, O se esteve mesmo no lugar e disse por apenas ouvir falar. Mas, o que eu percebo é que entre os forasteiros, chamados de “paulistas” havia várias especialidades profissionais: Medicina, Enfermagem, Engenharia, e enfim, viviam de tocar calados a sua vida, trabalhando, sem ninguém saber o que, de fato, eles queriam. - -
Isis
--- A prestação de serviços à gente simples do Araguaia, logo facilitou a amizade. - -
Monroe
--- A narrativa conta que um dos guerrilheiros mantinha uma farmácia em um casebre de palha de buriti e taipa tocando a sua vida sem esse negócio de perseguição sendo benquisto por todos. Isso quem contou foi um homem morador desde o ano de 1952. Seu Saturnino Alves. E ainda contou que o “paulista” era capaz de atender as pessoas enfermas, crianças carentes de vacinas ou mesmo mulher estando a ter um filho. Tratava a todos e não cobrava nada. Seu nome, nunca se soube. Era apenas o “paulista”. - -
Isis
--- Tinham também mulheres. Alice, era uma combatente e enfermeira. Criméia Alice, era seu nome. Ela extraia dentes, fazia curativos, apuntava dedos. Coisas absurdas. - - sorriu
Monroe também sorriu. E falou.
Monroe
--- Era a vida do mato. Alguns daqueles integrantes do movimento havia recebido treinamento de guerrilha. Osvaldão, cujo nome era Osvaldo Orlando da Costa tinha treinamento na China e foi um dos primeiros a chegar no Araguaia, em 1967. O mesmo aconteceu com Michéas Gomes de Almeida que ficou conhecido por Zezinho do Araguaia. Certa vez, Michéas declarou que ele e outros guerrilheiros foram para a China em 1965. Ele tirou o seu passaporte com o nome legítimo pegando o avião em Viracopos indo a Paris e, depois, a China. - -
Isis
--- Eram tempos de treinamento duro. - - falou calma
Monroe
--- Isso. Isso. Treinamentos duros, hierarquia militar.  Lugares muito inóspitos. Mas, Zezinho disse que não se queixava. Quando seguiu os treinamentos na China todo mundo clamava da dureza. Para ele, esse treinamento era algo de muito natural. A não ser, o manuseio de arma que, para ele, era desconhecida. Outros tiveram de aprender no lugar onde seria já no campo de batalha, em plena Amazônia. O treinamento era muito duro. Primeiro, porque a fase de atração era dura, física e psicologicamente. E as munições eram todas escondidas na mata. - -
Isis
--- E a perseguição aos guerrilheiros? - - indagou
Monroe
--- A vida se tornou muito diferente para quem esteve no Araguaia. Afinal de contas, era gente na cidade. Profissionais, estudantes. Esse pessoal aprendeu a viver na mata. E isso nem foi o pior. Logo, o Exército descobriu que o movimento crescia e se organizava no interior do país.  E a caçada começou. - - relatou e sorriu.
Isis
--- Como? - - indagou assustada.
Monroe
--- A vida seguia para os “paulistas”, os forasteiros que se infiltrava pelas matas do Araguaia. Isolados, eles recebiam notícia no resto do mundo, pelo rádio. Cada casa tinha um rádio. Um Transglobe que era impecável onde os guerrilheiros ouviam a Radio Tirana, da Albânia, Radio Pequim, Voz da América e BBC. Os guerrilheiros acompanhavam o que acontecia no mundo. As lideranças do Grupo a que eles pertenciam – o PC do B – acreditavam que, no máximo eles estariam prontos para dar início à tomada do poder. O que havia era pouca presença do Estado por aquelas bandas. - -
Isis
--- Ninguém conhecia a região? - -
Monroe
--- Uma área que o Governo conhecia como o ex-ministro Militar, governador do Pará. Coronel Jarbas Passarinho, falava sempre com o Comando, era uma região inóspita e os que entravam ali, só penetravam para cobrar impostos e nada mais. O povo estava abandonado. Eram os tempos da construção da Transamazônica. Nesse tempo, havia as lendas. O povo contava que a estrada era o novo tempo que estava se abrindo. E os moradores nunca tinham visto aquelas máquinas que arrebentavam a floresta, a cavar tanta terra. Aquilo parecia uma maldição dos tempos. E havia uma lenda de quem não atravessasse o Araguaia naquele momento, não atravessaria jamais, porque o Araguaia seria convertido em um “grande fogo”. - -
Isis
--- Era uma previsão do Padre Cícero, do Juazeiro. - - gargalhou
Monroe
--- Então. – (também sorriu) – Mas, em 1971, cerca de 70 pessoas vindas de várias partes do país se dividiam em três grupos com um comando central. Havia mais alguns simpatizantes vindos da própria região. O trio que comandava era composto por João Amazonas, Maurício Garbois e Ângelo Arroyo. O paraense, militante comunista era militante desde 1935. No Araguaia representava o Comando Supremo e encarava as questões que o seu partido defendia o da soberania do Brasil.
Isis
--- Ele era velho. - -
Monroe
--- Sim. Já estava com 72 anos. Ele nasceu em 1912, em Belém, do Pará. Foi tido como uma epopéia pela liberdade na guerrilha do Araguaia. O líder morreu em 2002. Mauricio Garbois era baiano. Foi para o Rio de Janeiro na Escola Militar e, logo, se aproximou dos Comunistas. No comando da guerrilha era considerado um estrategista. Jamais voltaria do Araguaia. Morreu exilado pelas Tropas que o caçavam pelas matas. Ângelo Arroyo era o Chefe Militar do Grupo. Líder do Sindicato do Metalúrgicos de São Paulo nos anos 50. Foi um dos poucos a escapar naquelas selvas. Ajudado por Zezinho do Araguaia, conseguiu chegar a São Paulo. - -
Isis
--- E escapou mesmo? - - perguntou querendo saber.