- SEQUESTRO -
- 36 -
O MOMENTO -
Não querendo ser austero, Ênio Monroe apenas fez um leve
sorriso na face, deixando passar aquela atitude sombria da bela moça, Maria
Isis Fernandes. E fitou muito terno e afeto a face da revoltada senhorita. Quem
sabe se alí estava nascendo um sentimento de afeição? Pedia ser, muito bem um
doce carinho a brotar para o eterno ser. E ele, prosseguiu com a conversa,
Monroe
--- Nem tudo se deve odiar para sempre. - -
Isis
--- Nem tudo. Meu tio deixou a mulher e debandou mundo afora.
O que o senhor acha disso? - -
Monroe
--- Talvez não gostasse mais da mulher. Talvez por encontrar
outra mais carinhosa. Teve filhos?
Isis
--- Oito, se não me falha a memória. - - emburrada.
Monroe
---De que vivia seu tio? - - com paciência
Isis
--- Da roça. Se não chovia, ele fazia qualquer coisa.
Carregar água nos burros. - - falou com a cara abusada.
Monroe sorriu fazendo um gracejo sem grande expressão. Algo
de apenas sorrir e nada mais.
Monroe
--- Bois bem. Vamos
falar, ainda sobre Benjamim. Cid de Queiroz Benjamim, nascido em Recife e
quando deposto, mandado para a Argélia. Era o tempo da Tortura dos presos
políticos. E, certo dia. Estavam Cide Benjamim e o companheiro, Franklin
Martins na Rua Marques em um encontro de guerrilheiros, pois já era do MR-8,
quando ele viu passar o carro do Embaixador americano dirigido por apenas o
motorista. Isso chamou a atenção de Cid, até porque pouco tempo antes tinha
havido um atentado contra o Embaixador americano da Guatemala. - -
Isis
--- O mesmo? - -indagou
Monroe
--- Não. Um outro. Esse foi metralhado pelos guerrilheiros.
Mas, os guerrilheiros do Brasil já estavam preocupados em soltar presos,
principalmente os que estavam sob tortura. Nesse ponto, ele cogitou em fazer um
preso tão importante que pudesse ser trocado pelos presos políticos existente
no país, mais precisamente, no Rio de Janeiro. ---
Isis
--- Como ele fez, então? - - quis saber.
Monroe
--- Bem. Ele fez um levantamento com a colaboração da
guerrilheira Vera Sílvia Magalhães. Eles foram como um casal de namorados e, em
certo momento, a Vera foi sozinha e começou a conversar com um Segurança da
casa do Embaixador e disse que era uma moça recém-chegada, queria conhecer o
Rio de Janeiro e logo o Chefe de Segurança se candidatou à mostra o Rio. - -
Moema sorriu. E Isis que saber o ocorrido. Então, Moema
respondeu.
Moema
--- Uma pergunta tola. - - e gargalhou
Monroe
--- Para você ver. E nessa ocasião, Vera Magalhaes indagou ao
ver o carro sair com o embaixador se era comum ele sair sem segurança nenhuma.
O segurança sorriu e respondeu que ele seguia sempre sozinho, apenas com o
carro a levar as bandeirinhas do Brasil e dos Estados Unidos.
Moema
--- Ele era muito metódico. – - respondeu a moça.
Monroe
--- Para se notar. Ele cumpria o mesmo horário, o mesmo
trajeto. E ele, Cid Benjamim, levou até um vidro de clorofórmio posto por sua
mãe, química por sinal, para outro assunto. Não, para o sequestro. Acontece
que, no sequestro do Embaixador, estava do mesmo modo, o motorista. E, então,
quando, no dia do sequestro, eles, os sequestradores, abandonassem o carro, no
Jardim Botânico, o motorista fosse posto a dormir para não dar o aviso. Mas, na
hora, ele se esqueceu e o vidro de clorofórmio ficou caído dentro do carro. - -
Isis
--- Assim, sem mais nem menos? - - quis saber a moça fazendo
gesto com os braços
E Moema gargalhou para complementar a história do sequestro
elementar. Monroe por sua vez sorriu também.
Isis
--- Prossiga! - - falou a moça para acabar com as risadas.
Monroe
--- Então – (ainda sorrido por causa do clorofórmio) – Houve
um equívoco nesse sequestro. Nesse dia do sequestro o Embaixador americano não
saiu de casa, logo pela manhã. E apareceu um carro muito semelhante e um
“engenheiro” que estava na esquina deu o sinal. E o que o grupo fez, não se
sabe responder. - -
Todos gargalharam, enfim. Era Moema e o seu irmão em uma só
medida. Isis era a mais irritada querendo saber o que se fez em seguida.
Isis
--- Parem, por favor! Agora, deu! Estão todos a sorrir! - -
falou irritada
Após um certo período de tempo, o diplomata voltou a
conversa.
Monroe
--- Muito bem! Desculpe-me! A questão é que o Embaixador
americano surpreendeu todos os guerrilheiros. Ele era um diplomata de carreira
e uma pessoa experiente. Bastante liberal. E falava um bom português, pois já
tinha servido em Portugal. As conversas com os guerrilheiros eram francas, o diplomata
Charles Elbrick criticava a Ditadura militar brasileira. Ele falava mal da
Censura em compreender da proibição dos nomes de personalidades como dom Elder Câmara,
conhecido em todo o mundo. Condenava as
torturas a presos as quais era ele contrário. - -
Isis
--- Que maravilha! Sério mesmo? - - indagou preocupada
Monroe
--- Sério! Infelizmente isso que foi gravado estava nas mãos
de Órgão de Segurança, tempos mais tarde, e não pode ser usado.- -
Isis
--- Qual Órgão? - - quis saber
Monroe
--- Centro do Informações da Marinha, órgão conhecido por
Cenimar. Mas a questão outra foi doar ao Embaixador Americano, Charles Elbrick
um livro de poemas de Ho Chi Minh, líder da vietnamita, principal inimigo dos
Estados Unidos. O livro foi “Poema do Cárcere”, doado por Franklin Martins,
Jornalista bem conhecido no Brasil. Ele fez até uma dedicatória: ”Ao nosso
primeiro prisioneiro político com os votos de congratulações”. –
Isis
--- Quem era esse ... Ho Chi Minh? - -
Monroe
--- Ho Chi Minh foi um revolucionário e estadista do Vietnã.
- - explicou
Isis
--- O Vietnã é um pais comunista? - - indagou.
Monroe
--- Sim. É aliado à China. Somente a Rússia deixou de ser. -
-
Isis
--- E além desse? – - quis saber
Monroe
--- Laos e Coreia do Norte. - -
Isis
--- Poucos! - -disse em tom de mágoa
Monroe
--- A tendência é acabar de vez. - -
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