- GUERRILHA -
- 33 -
A FALA -
Nesse momento o diplomata, Ênio
Monroe, calou fundo. Pelo menos nunca se soube o porquê daquele cruciante
silêncio. Os retratos nas paredes da sala onde Isis e Monroe estavam, parece a
correr de um lado para outro como se fosse um trem desesperado em ânsia para
alcançar o seu destino ignorado. A brisa a soprar como forte calou de certo
instante para depois começar. O uivo era terrível soprando como um coiote. Uma
desconhecida moto passou célere em rumo desconhecido. De repente, um motor de
um carro, talvez um caminhão passando ao longe. E tudo mais era silencio. Nesse
ponto, o diplomata levantou a vista e falou.
Monroe
--- Em 1976, em uma emboscada
conhecida logo após como Chacina da Lapa, ele foi morto por agentes da Ditadura
ao lado de outros guerrilheiros. No Araguaia, eles se tratavam pelo codinome
que os recebiam para esconder sua verdadeira identidade. Isso, também, coube ao
Chefe Militar, Ângelo Arroyo. - -
Isis
--- Quer dizer que ninguém se
conhecia? - - indagou
Monroe
--- Eles não se conheciam de
verdade. Teve gente que nunca teve em outro acampamento que não fosse o dele.
Os rebeldes tinham seus parceiros. Esses eram os que levavam informações de um
lugar para outro. Exemplo: um elemento era o responsável em levar informes de
um destacamento para outro. E só ele é quem podia conhecer o caminho e nada
mais. Eram vários destacamentos. Era uma casa simples, E até nesse distante
ponto outros guerrilheiros não tinham conhecimento de quem fazia a entrega da
mensagem. Nem sabiam que mensagem era.
Isis
--- Segredo absoluto! - - relatou
Monroe
--- Em 1970, os guerrilheiros que
eventualmente estavam na cidade de Imperatriz, para eles foram demonstrados um
treinamento das Forças Aramadas com base na anti-guerrilha. E estavam as três
Forças comunistas ali presente. Logo após, o Exército armou a operação de
Combate, mas não se sabia quem o Exército queria enfrentar. - -
Isis
--- Então, eram os soldados sem
experiência de combate. - -
Monroe
--- Isso! Isso! O Exército teve
treinamento de tiro noturno. Os soldados ficaram preocupados com isso sem saber
o porquê de atirar à noite em plena selva.
Informação seguinte era que os soldados teriam que viajar e sem saber
para onde. Quem vinha de fora seguia pela Belém-Brasília desembarcado nos
distritos. Ao chegar no rio Araguaia, os soldados eram informados da missão.
Eles enfrentariam os “comunistas” algo que os soldados nem entendiam. Pessoas
que estavam contra o Governo.
Isis
--- E os guerrilheiros sabiam
disso? - - perguntou assustada
Monroe
--- Alguns, sabiam de um
enfrentamento. Mas, não tinhas armas adequadas. O que eles tinham, eram um
facão, uma espingarda, facas e coisas naturais. Armas de fogo, apenas um
revólver 38 ou armas mais potentes tomadas de assaltos às delegacias. - -
Isis
--- Nossa! Vão morrer todos! - -
declarou assustada.
Monroe
--- (sorriu) – A questão é que
houve prisões. O primeiro foi José Genuíno conhecido por “Geraldo Cearense”.
Esse, depois de muito tempo, um deputado federal, que saiu pela mata em companhia
do líder Osvaldão (Osvaldo Orlando da Costa) quando então foi preso. Nesse
ponto, João Amazonas deixou a região.
Ele era o líder do PC do B. Então, o Exército despachou 750 militares,
dez vezes o número de guerrilheiros. Os soldados se embrenharam pela floresta
dia e noite. A mata era fechada, sombria, escura, mosquitos “tatuquira”. Os
mosquitos penetravam no fardamento dos militares e picavam quando podiam.
Outros casos eram as cobras, calor, suor e chuva. - -
Isis
--- E a comida dos Militares? - -
quis saber.
Monroe
--- Brotos de palmitos até chegar
a uma clareira onde podiam receber, por helicóptero, a alimentação. Soldados
desconheciam tudo da vida. Eles ficaram sabendo o que estavam fazendo ali,
quando caiam em prantos. Uns, desistiram de ficar na mata e perseguir
guerrilheiros. - -
Isis
--- Terrível! O sofrimento não
era só dos guerrilheiros. Os militares também sofriam! - -
Monroe
--- Os soldados ficavam sem
dormir, a se proteger, a defender os colegas. Um mínimo de vacilo, o soldado
era apanhado e morria pela ação guerrilheira. A esperança era de que o dia
amanhecesse, pois o temo era levar um tiro no coração. Era total escuridão onde
não se enxergava um palmo à frente. Qualquer barulho, era pensar ser um
guerrilheiro. Até as cartas que os soldados mandavam para seus familiares,
tinham que ser lidas pelos Oficiais para evitar traições. - -
Isis
---Que horror! O Exército nem
confiava nos seus? - -
Monroe
--- Era para manter sigilo sobre
a guerrilha na selva. Escrever para a família, era tudo lido pelo Exército. Nem
tudo podia passar. Muitas cartas não chegavam porque não se podia traçar as
informações de lugares onde o soldado se encontrava. Para receber da família,
era também pesquisada. Esse Comando era o S-2. - -
Isis
--- E os guerrilheiros como
viviam? - -
Monroe
--- Bem. Os guerrilheiros levavam
vantagem em um ponto essencial: a prática. Eles guardavam seus mantimentos,
estrategicamente, em vários pontos da mata. A exemplo disso, ele, os da
guerrilha, guardavam seus mantimentos por um período de até quatro anos. Sua
locomoção era de levar mantimentos guardados em sacos, atravessando lagos,
rios, córregos, pântanos. A construção de depósitos subterrâneos. Eles cavavam
em sentido vertical e logo após, horizontal para não sofrer umidades. Ali
faziam os depósitos de alimentos e medicamentos. - -
Isis
--- Inteligentes! - -sorriu.
Monroe
--- Mensagem tentavam
desestimular os soldados. Tentativa de aliciamento. Os guerrilheiros escreviam
bilhetes e colocavam nas árvores para os soldados do Exército. Eram dias muito
tenso e se precisasse de correr, dentro da mata, o militar não sabia para onde
estava correndo. Podia cair em uma armadilha do guerrilheiro. Havia a ocasião
em se deixar uma arma com dois cartuchos armados para ser detonados pelos soldados
e acabar, o soldado feria o outro. Qualquer movimento, dentro da selva, era
pedido a senha. Isso teria que ser dado de imediato pelo Militar. Se o soldado
não desse a senha, era morto pelo outro militar. Trinta segundos! - -
Isis
--- Nossa Mãe! - - falava
alarmada com temor.
Monroe
--- Era a guerra. E uma guerra
sem Quartel! Todos estavam na mata. Militares e Guerrilheiros. Imagine a pessoa
suada, com fome, com sede, toda picada de mosquito. Imagine. Ele não tinha
negócio para não fornecer a senha. E nem podia esquecer. A senha, podia ser a
do dia passado. Então, o militar era um homem morto: exemplo: se o militar
exigisse uma senha, o outro tinha que saber. Laranja! Um declarava. Em seguida, o outro respondia:
“podre”. Se fosse a certa, então ele estava salvo. Se dissesse outra condição,
como por exemplo: “madura”. O fogo comia. Não era a resposta desejada. - -
Iris gargalhou por demais.
Iris
--- Não tem jeito! - - gargalhou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário