segunda-feira, 28 de setembro de 2015

LUTA ARMADA - 37 -

- PAU DE ARARA -

- 37 -
DEBATE -



O tempo passava com a noite tranquila tendo os ônibus, trens, aviões e carros a cruzar por todo o ambiente entre tantas outras tantas coisas como bares e casas noturnas. Na sala onde estavam Ângelo Monroe, o estadista, a sua irmã Moema, e a amiga em comum, Maria Isis Fernandes, o debate prosseguia para o tempo sem fim dos três – com certeza, amigos -, onde o homem continuava a debater as suas certezas da história por ele não vivida. Apenas lida em trabalhos discutidos no correr do tempo. As moças a ouvir, após um tempo de gargalhadas.
Monroe
--- Com relação a Ho Chi Minh, ele comandou o Vietnã do Norte na Guerra contra a intervenção americana no sudeste asiático. Ele publicou “Poema do Cárcere”. E em seu tempo, no Brasil, o Embaixador norte americano, Charles Elbrick, demonstrou uma posição política que era algo que os guerrilheiros não esperavam. É bom falar que Vera Sílvia Magalhães foi a única mulher a participar do sequestro do Embaixador Elbrick. Ela foi presa seis meses depois do sequestro. Uma vizinha a denunciou. - -
Isis
--- Cadela! Infame! Mulher vulgar! - - arrastou a moça
Moema
--- Quem? - - quis saber.
Isis:
--- Essa otária. A vizinha a pobre! A dedo duro! - - descompôs irada.
Monroe sorriu e pediu licença para prosseguir.  
Monroe
--- Deixa-me prosseguir. Prosseguindo. Ele, o Embaixador, se negou a falar quem eram os tais sequestradores ao se referir não está reconhecendo nenhum dos libertados no aeroporto. Foi uma ação “mentirosa”, por assim dizer, do Elbrick que teve para proteger os sequestradores. Reconhecer por fotografias se bem o digo. - -
Isis
--- E os sequestradores não falavam com o Embaixador? - -
Monroe
--- Certo. Certo. Mas, com capuz. E isso, o homem disse as autoridades militares. O que não era verdadeiro. Nós falávamos com Elbrick da forma simples. Sem máscara. O que Elbrick falou desagradou, muito os Generais brasileiros ao afirmar que os guerrilheiros eram jovens. Idealistas e queria o melhor para o Brasil.  - -
Isis
--- Falou certo. – - ressaltou a moça de forma orgulhosa.
Moema sorriu pela atitude de Isis. O seu irmão olhou de forma firme para Moema e ela reconheceu e voltou ao seu normal. Isis observou a atitude do diplomata e calou.
Monroe
--- O que o diplomata voltou a relatar é ele temia pela vida de cada um dos guerrilheiros.
Mas se os Militares não tivessem aceitado as exigências dos sequestradores, esses teriam a ação de matar Charles Elbrick, pois grave esse duelo, o grupo já havia acertado. Porém, o Brasil estava nas mãos dos Estados Unidos. Era uma dependência total. E não se cogitaria em não se soltar o Embaixador Elbrick de forma alguma. O País não teve outra solução. Foi tanto que os Generais acederam ao pedido em menos de 24 horas. Os guerrilheiros foram libertados e posto a bordo do avião da FAB. Divulgou-se em rádios, TVs, e jornais o Manifesto entregue pelo comando da Luta Armada.
“Grupos revolucionários detiveram, hoje, o senhor Charles Burke Elbrick, Embaixador dos Estados Unidos, levando para algum lugar do País, onde o mantém preso. O senhor Burke Elbrick representa em nosso País os interesses do imperialismo que, aliados aos grandes patrões, aos grandes fazendeiros e aos grandes banqueiros nacionais, mantém o regime de opressão e exploração. A vida e a morte do senhor Embaixador estão nas mãos da Ditadura. Se ela atender às duas exigências, o senhor Burke Elbrick será libertado. Caso contrário seremos obrigados a cumprir a justiça revolucionária. Nossas duas exigências, são: A) – A libertação de 15 pesos políticos. São 15 revolucionários entre os milhares que sofrem as torturas nas prisões dos Quarteis de todo o País. Que são espancados, seviciados e amargam as humilhações impostas pelos Militares. B) – A publicação e leitura dessa mensagem na íntegra, nos principais jornais, rádios e televisões de todo o País. A Ditadura tem 48 horas para responder, publicamente, se aceita ou rejeita a nossa proposta. Finalmente: queremos advertir àqueles que torturam espancam e matam nossos companheiros: Não vamos aceitar a continuação dessa prática odiosa. Estamos dando o último aviso. Quem prosseguir torturando, espancado e matando ponha as barbas de molho. Agora, é olho por olho e dente por dente”.
Monroe
--- Os guerrilheiros estavam decididos a morrer e a matar, se houvesse “invasão”. Eles morreriam. Mas Elbrick não seria resgatado. Eles tinham, na prisão, armas, granadas, metralhadoras e revólveres. Então, haveria tiroteio. Os guerrilheiros estavam prontos para não entregar o ponto. - - relatou
Isis
Isis
--- E o Comando Militar já havia descoberto esse esconderijo? - - quis saber.
Monroe:
--- Não. Tão cedo, não havia descoberto. Inclusive, o Embaixador Elbrick tinha a sua convicção de que não havia possibilidade de se descobri tão cedo. Ele era até contrário à Ditadura Militar no pouco tempo vivido com os guerrilheiros. Ele havia demostrado ser contrário à censura, à prática de torturas e tudo isso jamais correspondia ao desejo do Governo Americano. - -
Isis
--- Diga-me. Os terroristas não correram algum risco durante o sequestro? - - indagou.
Monroe
--- (sorriu) – Bem. Quando a Ditadura atendeu a todas as exigências feitas pelo Comando guerrilheiro, então, era a hora de libertar o Embaixador. Nesse instante, os guerrilheiros notaram que a casa estava vigiada por viatura do Cenimar e os rebeldes saíram do local em dois carros com o Embaixador e mais dois companheiros seguindo como em um filme com carros subindo pelas calçadas, gente correndo com pavor. Mesmo assim, não houve troca de tiros. - -
Moema
--- Houve sorte, então. - - declarou a irmã.
Monroe
--- Houve incidentes de mostrar armas durante a perseguição. Mesmo assim, os veículos da Cenimar se mantiveram à distância. Nessa oportunidade houve certa confusão onde os guerrilheiros se perdesse uns dos outros. Após esse extravio, eles se encontraram. –
O Embaixador norte americano, Charles Elbrick foi libertado nas proximidades do Estádio do Maracanã no final da tarde do domingo, 7 de setembro de 1969. Os sequestradores aproveitaram o grande movimento nas proximidades do Estádio depois do jogo Cruzeiro e Fluminense para se dispersar.
Isis
--- Jesus Cristo! Foi uma terrível luta! - - detonou.
Moema
--- É! O melhor é dormir! Amanhã você conta mais história.  – - sorriu para o irmão







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