- PAU DE ARARA -
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DEBATE -
O tempo passava com a noite tranquila tendo os ônibus, trens,
aviões e carros a cruzar por todo o ambiente entre tantas outras tantas coisas
como bares e casas noturnas. Na sala onde estavam Ângelo Monroe, o estadista, a
sua irmã Moema, e a amiga em comum, Maria Isis Fernandes, o debate prosseguia
para o tempo sem fim dos três – com certeza, amigos -, onde o homem continuava
a debater as suas certezas da história por ele não vivida. Apenas lida em
trabalhos discutidos no correr do tempo. As moças a ouvir, após um tempo de gargalhadas.
Monroe
--- Com relação a Ho Chi Minh, ele comandou o Vietnã do Norte
na Guerra contra a intervenção americana no sudeste asiático. Ele publicou
“Poema do Cárcere”. E em seu tempo, no Brasil, o Embaixador norte americano,
Charles Elbrick, demonstrou uma posição política que era algo que os
guerrilheiros não esperavam. É bom falar que Vera Sílvia Magalhães foi a única
mulher a participar do sequestro do Embaixador Elbrick. Ela foi presa seis
meses depois do sequestro. Uma vizinha a denunciou. - -
Isis
--- Cadela! Infame! Mulher vulgar! - - arrastou a moça
Moema
--- Quem? - - quis saber.
Isis:
--- Essa otária. A vizinha a pobre! A dedo duro! - -
descompôs irada.
Monroe sorriu e pediu licença para prosseguir.
Monroe
--- Deixa-me prosseguir. Prosseguindo. Ele, o Embaixador, se
negou a falar quem eram os tais sequestradores ao se referir não está
reconhecendo nenhum dos libertados no aeroporto. Foi uma ação “mentirosa”, por
assim dizer, do Elbrick que teve para proteger os sequestradores. Reconhecer
por fotografias se bem o digo. - -
Isis
--- E os sequestradores não falavam com o Embaixador? - -
Monroe
--- Certo. Certo. Mas, com capuz. E isso, o homem disse as
autoridades militares. O que não era verdadeiro. Nós falávamos com Elbrick da
forma simples. Sem máscara. O que Elbrick falou desagradou, muito os Generais
brasileiros ao afirmar que os guerrilheiros eram jovens. Idealistas e queria o
melhor para o Brasil. - -
Isis
--- Falou certo. – - ressaltou a moça de forma orgulhosa.
Moema sorriu pela atitude de Isis. O seu irmão olhou de forma
firme para Moema e ela reconheceu e voltou ao seu normal. Isis observou a
atitude do diplomata e calou.
Monroe
--- O que o diplomata voltou a relatar é ele temia pela vida
de cada um dos guerrilheiros.
Mas se os Militares não tivessem aceitado as exigências dos
sequestradores, esses teriam a ação de matar Charles Elbrick, pois grave esse duelo,
o grupo já havia acertado. Porém, o Brasil estava nas mãos dos Estados Unidos.
Era uma dependência total. E não se cogitaria em não se soltar o Embaixador
Elbrick de forma alguma. O País não teve outra solução. Foi tanto que os
Generais acederam ao pedido em menos de 24 horas. Os guerrilheiros foram libertados
e posto a bordo do avião da FAB. Divulgou-se em rádios, TVs, e jornais o
Manifesto entregue pelo comando da Luta Armada.
“Grupos revolucionários detiveram, hoje, o senhor Charles Burke
Elbrick, Embaixador dos Estados Unidos, levando para algum lugar do País, onde
o mantém preso. O senhor Burke Elbrick representa em nosso País os interesses
do imperialismo que, aliados aos grandes patrões, aos grandes fazendeiros e aos
grandes banqueiros nacionais, mantém o regime de opressão e exploração. A vida
e a morte do senhor Embaixador estão nas mãos da Ditadura. Se ela atender às duas
exigências, o senhor Burke Elbrick será libertado. Caso contrário seremos
obrigados a cumprir a justiça revolucionária. Nossas duas exigências, são: A) –
A libertação de 15 pesos políticos. São 15 revolucionários entre os milhares
que sofrem as torturas nas prisões dos Quarteis de todo o País. Que são
espancados, seviciados e amargam as humilhações impostas pelos Militares. B) –
A publicação e leitura dessa mensagem na íntegra, nos principais jornais,
rádios e televisões de todo o País. A Ditadura tem 48 horas para responder,
publicamente, se aceita ou rejeita a nossa proposta. Finalmente: queremos
advertir àqueles que torturam espancam e matam nossos companheiros: Não vamos
aceitar a continuação dessa prática odiosa. Estamos dando o último aviso. Quem prosseguir
torturando, espancado e matando ponha as barbas de molho. Agora, é olho por
olho e dente por dente”.
Monroe
--- Os guerrilheiros estavam decididos a morrer e a matar, se
houvesse “invasão”. Eles morreriam. Mas Elbrick não seria resgatado. Eles tinham,
na prisão, armas, granadas, metralhadoras e revólveres. Então, haveria
tiroteio. Os guerrilheiros estavam prontos para não entregar o ponto. - -
relatou
Isis
Isis
--- E o Comando Militar já havia descoberto esse esconderijo?
- - quis saber.
Monroe:
--- Não. Tão cedo, não havia descoberto. Inclusive, o
Embaixador Elbrick tinha a sua convicção de que não havia possibilidade de se
descobri tão cedo. Ele era até contrário à Ditadura Militar no pouco tempo vivido
com os guerrilheiros. Ele havia demostrado ser contrário à censura, à prática
de torturas e tudo isso jamais correspondia ao desejo do Governo Americano. - -
Isis
--- Diga-me. Os terroristas não correram algum risco durante
o sequestro? - - indagou.
Monroe
--- (sorriu) – Bem. Quando a Ditadura atendeu a todas as
exigências feitas pelo Comando guerrilheiro, então, era a hora de libertar o
Embaixador. Nesse instante, os guerrilheiros notaram que a casa estava vigiada
por viatura do Cenimar e os rebeldes saíram do local em dois carros com o
Embaixador e mais dois companheiros seguindo como em um filme com carros
subindo pelas calçadas, gente correndo com pavor. Mesmo assim, não houve troca
de tiros. - -
Moema
--- Houve sorte, então. - - declarou a irmã.
Monroe
--- Houve incidentes de mostrar armas durante a perseguição.
Mesmo assim, os veículos da Cenimar se mantiveram à distância. Nessa
oportunidade houve certa confusão onde os guerrilheiros se perdesse uns dos
outros. Após esse extravio, eles se encontraram. –
O Embaixador norte americano, Charles Elbrick foi libertado
nas proximidades do Estádio do Maracanã no final da tarde do domingo, 7 de
setembro de 1969. Os sequestradores aproveitaram o grande movimento nas
proximidades do Estádio depois do jogo Cruzeiro e Fluminense para se dispersar.
Isis
--- Jesus Cristo! Foi uma terrível luta! - - detonou.
Moema
--- É! O melhor é dormir! Amanhã você conta mais
história. – - sorriu para o irmão
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