segunda-feira, 21 de setembro de 2015

MAR SERENO - 30 -

- ARAGUAIA -
- 30 -
GETÚLIO -

Em tarde de noite estia, Moema estava a ler com atenção o romance de Lev Tolstói, cujo nome era “Anna Karenina” um dos retratos femininos mais profundos e sugestivos da Literatura. Foi nesse ponto que Isis indagou, com fala amena quem era esse homem, João Pessoa o qual nunca ouvira falar de certo modo. A jovem moça estava atenta a leitura e demorou a decifrar a questão, pois sairia de ponto para outro.
Moema
--- João Pessoa? João Pessoa foi um advogado e político. Ele era sobrinho de Epitácio Pessoa, um homem que foi presidente do Brasil. É esse que você questiona?
Isis
--- Acho que sim. Ele foi Presidente? - - quis saber.
Moema
--- Não. Espere. Onde você está lendo isso? - -
Isis
--- Nesse livro. Eu queria apenas saber. E quem ele foi? - -
Moema
--- Ah! João Pessoa foi Ministro da Justiça Militar e presidente da Paraíba, o seu Estado. Em 1930, foi candidato a vice-presidente na chapa de Getúlio Vargas. Mesmo assim, ele saiu derrotado por Júlio Prestes. Nesse ponto, João Pessoa foi morto por um algoz, no Recife. Ele ainda era Governador da Paraíba. Daí, veio a Revolução de 1930. - -
Isis
--- Ah. Agora eu estou ciente. Mas houve outro João no Governo? Um presidente? - -
Moema
--- Outros? Houve vários. Agora, antes de João Goulart, tivemos João Café. Ele, também, era vice-presidente no Governo de Getúlio Vargas, em 1950. Mas, Getúlio pois termo a vida e João Café assumiu o poder de mando. - -
Isis
--- E esse João Café, quem foi? - -
Moema guardou o livro pois sentia a conversa ser bastante longa. E se voltou.
Moema
--- Bem. Café Filho nasceu em Natal. Ele era filho de João Fernandes Campos Café. Ele não era Advogado. Porém tinha grande experiência no meio. Em lugar de ser Advogado, Café Filho foi Jornalista. Fundou jornais, concorreu a vereador, em Natal, e perdeu, foi para outros Estados, sempre como redator de notícias e em 1930 retornou a Natal, sua terra. Ele, quando menino, jogava bola no barro da Ribeira, onde residia. - -
Isis
--- E ele residiu na Ribeira? - - perguntou espantada
Moema
--- E você pensa o que? Na Ribeira, em uma casa pequena de uma sala, um quarto ou dois, uma sala de janta e um banheiro. Era uma casa estreita, a Rua 15 de Novembro. - -
Isis
--- 15 de Novembro? A rua das mulheres de vida alegre? - - sorriu amplo
Moema
--- Não sorria. A rua ainda não era tao famosa assim. Depois é que mudaram o nome. Hoje, está quase que ninguém sabe. - -
Isis gargalho e depois resolveu não mais fazer tais risadas. E deixou a amiga descrever.
De cara trancada, a moça voltou a falar com pouca graça.
Moema
--- Bem. Ele foi o primeiro protestante a ocupar a Presidência do País.  E Igreja sentiu-se ofendida. O Militares o consideravam um “esquerdista”. Café Filho foi contra a aplicação da Lei de Segurança Nacional. O Governador de São Paulo, Ademar de Barros, foi seu grande defensor e chegou a ditar que a candidatura seria mantida custasse o que custasse. Getúlio nunca confiou em Café Filho. - -
Isis
--- E houve briga de faca? - - indagou surpresa.
Moema
--- De faca, como você fala, não houve. Mas, o Ministro da Justiça, Tancredo Neves, declarou a Getúlio Vargas não renunciar o Poder como Café disse, pois, aquilo era um golpe. E Getúlio falou a Café não renunciar por conta do Atentado da Rua Tonelero que deflagrou uma crise política. –
Isis
--- Que foi esse atentado? - - indagou sem compreender de tudo
Moema
--- Foi a tentativa de assassinato contra o jornalista Carlos Lacerda ocorrida a 5 de agosto de 1954 em frente à sua residência na Rua Tonelero, em Copacabana, no Rio. Ganhou importância histórica por se tornar o fato que constituiu no marco da derrocada do Presidente da República, Getúlio Vargas, que culminou com o seu suicido, dezenove dias depois. –
Isis
--- Mas, esse atendado foi encomendo? - - perguntou aguçada.
Moema
--- Bem. Eu não sei muito ao certo. Porém. Naquele tempo, o Rio de Janeiro tinha ruas mal iluminadas. O atentado era contra Carlos Lacerda, principal opositor ao então presidente Getúlio Vargas. Mas quem morreu foi o segurança do jornalista Rubens Vaz. Na questão, Carlos Lacerda levou um tiro no pé e acusou Getúlio pelo crime. A reação dos militares culminou como suicídio de Presidente. –
Isis
--- E o Presidente mandou matar mesmo? - - indagou com olhar aguçado
Moema
--- Hoje se conta outra história. Dizem que o autor dos disparos foi João Alcino do Nascimento. Ele foi preso e condenado. E, depois de tantos anos ele atribui o atentado a Carlos Lacerda, até mesmo ao assassinato do assassinato do major da Aeronáutica Rubens Vaz. E atribui ter dado um tiro só contra o peito do segurança. Alegou ter sido a Aeronáutica ter feito dele o criminoso
Isis
--- Não entendo. - - rejeitou
Moema
--- Pelo que eu li, Alcino terá sido atacado pelo major Rubens Vaz e Carlos Lacerda desfechado o tiro contra as costas do major, o pondo morto. Tudo foi armando pelas Forças Armadas. O negócio era derrubar o Presidente. E então, Carlos Lacerda foi o autor do disparo contra o seu próprio pé. Foi tudo forjado.
Isis
--- Que escândalo! – - denunciou.
Moema
--- Naquela época, ser funcionário de Prefeitura era uma coisa boa. Hoje, não é mais. - -
Isis
--- Admito. – - falou sombriamente
Moema
--- Eu sei, pelo que leio, Gregório Fortunato. Homem de confiança de Getúlio, foi assassinado da prisão. Outro participante, o Climério, morreu na cadeia e o Nelson também foi morto. E não se sabe por quem ou como. - -
Isis
--- Tinha tanta gente assim? - - indagou assustada
A noite estava morna e de longe se ouvia ruídos de conversas dos italianos, animando o clima para dormir de vez. Carros passavam em longa presa e rapazes e moças, a gargalhar, tomavam destino ignorado até desaparecer por completo.


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