- ARAGUAIA -
- 30 -
GETÚLIO -
Em tarde de noite estia, Moema
estava a ler com atenção o romance de Lev Tolstói, cujo nome era “Anna Karenina” um dos retratos
femininos mais profundos e sugestivos da Literatura. Foi nesse ponto que Isis
indagou, com fala amena quem era esse homem, João Pessoa o qual nunca ouvira
falar de certo modo. A jovem moça estava atenta a leitura e demorou a decifrar
a questão, pois sairia de ponto para outro.
Moema
--- João Pessoa? João Pessoa foi
um advogado e político. Ele era sobrinho de Epitácio Pessoa, um homem que foi
presidente do Brasil. É esse que você questiona?
Isis
--- Acho que sim. Ele foi
Presidente? - - quis saber.
Moema
--- Não. Espere. Onde você está
lendo isso? - -
Isis
--- Nesse livro. Eu queria apenas
saber. E quem ele foi? - -
Moema
--- Ah! João Pessoa foi Ministro
da Justiça Militar e presidente da Paraíba, o seu Estado. Em 1930, foi
candidato a vice-presidente na chapa de Getúlio Vargas. Mesmo assim, ele saiu
derrotado por Júlio Prestes. Nesse ponto, João Pessoa foi morto por um algoz,
no Recife. Ele ainda era Governador da Paraíba. Daí, veio a Revolução de 1930.
- -
Isis
--- Ah. Agora eu estou ciente.
Mas houve outro João no Governo? Um presidente? - -
Moema
--- Outros? Houve vários. Agora,
antes de João Goulart, tivemos João Café. Ele, também, era vice-presidente no
Governo de Getúlio Vargas, em 1950. Mas, Getúlio pois termo a vida e João Café
assumiu o poder de mando. - -
Isis
--- E esse João Café, quem foi? -
-
Moema guardou o livro pois sentia
a conversa ser bastante longa. E se voltou.
Moema
--- Bem. Café Filho nasceu em
Natal. Ele era filho de João Fernandes Campos Café. Ele não era Advogado. Porém
tinha grande experiência no meio. Em lugar de ser Advogado, Café Filho foi Jornalista.
Fundou jornais, concorreu a vereador, em Natal, e perdeu, foi para outros
Estados, sempre como redator de notícias e em 1930 retornou a Natal, sua terra.
Ele, quando menino, jogava bola no barro da Ribeira, onde residia. - -
Isis
--- E ele residiu na Ribeira? - -
perguntou espantada
Moema
--- E você pensa o que? Na
Ribeira, em uma casa pequena de uma sala, um quarto ou dois, uma sala de janta
e um banheiro. Era uma casa estreita, a Rua 15 de Novembro. - -
Isis
--- 15 de Novembro? A rua das mulheres
de vida alegre? - - sorriu amplo
Moema
--- Não sorria. A rua ainda não
era tao famosa assim. Depois é que mudaram o nome. Hoje, está quase que ninguém
sabe. - -
Isis gargalho e depois resolveu
não mais fazer tais risadas. E deixou a amiga descrever.
De cara trancada, a moça voltou a
falar com pouca graça.
Moema
--- Bem. Ele foi o primeiro
protestante a ocupar a Presidência do País.
E Igreja sentiu-se ofendida. O Militares o consideravam um
“esquerdista”. Café Filho foi contra a aplicação da Lei de Segurança Nacional.
O Governador de São Paulo, Ademar de Barros, foi seu grande defensor e chegou a
ditar que a candidatura seria mantida custasse o que custasse. Getúlio nunca
confiou em Café Filho. - -
Isis
--- E houve briga de faca? - -
indagou surpresa.
Moema
--- De faca, como você fala, não
houve. Mas, o Ministro da Justiça, Tancredo Neves, declarou a Getúlio Vargas
não renunciar o Poder como Café disse, pois, aquilo era um golpe. E Getúlio
falou a Café não renunciar por conta do Atentado da Rua Tonelero que deflagrou
uma crise política. –
Isis
--- Que foi esse atentado? - -
indagou sem compreender de tudo
Moema
--- Foi a tentativa de
assassinato contra o jornalista Carlos Lacerda ocorrida a 5 de agosto de 1954
em frente à sua residência na Rua Tonelero, em Copacabana, no Rio. Ganhou
importância histórica por se tornar o fato que constituiu no marco da derrocada
do Presidente da República, Getúlio Vargas, que culminou com o seu suicido,
dezenove dias depois. –
Isis
--- Mas, esse atendado foi
encomendo? - - perguntou aguçada.
Moema
--- Bem. Eu não sei muito ao
certo. Porém. Naquele tempo, o Rio de Janeiro tinha ruas mal iluminadas. O
atentado era contra Carlos Lacerda, principal opositor ao então presidente
Getúlio Vargas. Mas quem morreu foi o segurança do jornalista Rubens Vaz. Na
questão, Carlos Lacerda levou um tiro no pé e acusou Getúlio pelo crime. A
reação dos militares culminou como suicídio de Presidente. –
Isis
--- E o Presidente mandou matar
mesmo? - - indagou com olhar aguçado
Moema
--- Hoje se conta outra história.
Dizem que o autor dos disparos foi João Alcino do Nascimento. Ele foi preso e
condenado. E, depois de tantos anos ele atribui o atentado a Carlos Lacerda,
até mesmo ao assassinato do assassinato do major da Aeronáutica Rubens Vaz. E
atribui ter dado um tiro só contra o peito do segurança. Alegou ter sido a
Aeronáutica ter feito dele o criminoso
Isis
--- Não entendo. - - rejeitou
Moema
--- Pelo que eu li, Alcino terá
sido atacado pelo major Rubens Vaz e Carlos Lacerda desfechado o tiro contra as
costas do major, o pondo morto. Tudo foi armando pelas Forças Armadas. O
negócio era derrubar o Presidente. E então, Carlos Lacerda foi o autor do
disparo contra o seu próprio pé. Foi tudo forjado.
Isis
--- Que escândalo! – - denunciou.
Moema
--- Naquela época, ser
funcionário de Prefeitura era uma coisa boa. Hoje, não é mais. - -
Isis
--- Admito. – - falou
sombriamente
Moema
--- Eu sei, pelo que leio,
Gregório Fortunato. Homem de confiança de Getúlio, foi assassinado da prisão.
Outro participante, o Climério, morreu na cadeia e o Nelson também foi morto. E
não se sabe por quem ou como. - -
Isis
--- Tinha tanta gente assim? - -
indagou assustada
A noite estava morna e de longe
se ouvia ruídos de conversas dos italianos, animando o clima para dormir de
vez. Carros passavam em longa presa e rapazes e moças, a gargalhar, tomavam
destino ignorado até desaparecer por completo.
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