sexta-feira, 25 de setembro de 2015

MAR SERENO - 34 -

- SOLDADO -
- 34 -
FOGO -

O diplomata Ênio Monroe, a olhar a moça a sorrir, igualmente fez o mesmo. Era engraçado ser morto por errar a senha pedida por outro soldado. Na verdade, houve casos de mortes quando se pedia a senha e a resposta era com erro. Não raro, o soldado esquecia a senha de resposta e dava algo parecido, o que não era aceito. Então, o fogo comia no centro. O soldado que fuzilava esse outro, nada mais podia fazer. Ele cumpria ordens. Acender isqueiro, fósforos ou fogo qualquer não se podia acender, sendo a noite, porque a chama identificava a presença de alguém fora do bando. Esse, fatalmente, era trucidado por guerrilheiros na mata tão escura, mesmo sendo ao meio dia, pois as árvores tinham uma altura considerável capaz de encobrir a luz do sol se estivesse estio.
Monroe
--- Houve casos onde uma patrulhado Exército foi presa pelos guerrilheiros quando os militares entraram em uma cabana para fazer sua comida. Os guerrilheiros identificaram os militares e atiraram pedras para a saída dos soldados. Foi o fim da tocaia. A patrulha de Exército foi agrada e metralhada sem dó nem piedade. - -
Isis
--- Nossa Mãe. Chega me dá medo! - - falou a moça se encolhendo toda.
Monroe.
--- No fim de 1972 ocorreu nova ofensiva do Exército considerada a Segunda Operação. Uma manobra com 2.500 homens das três Forças tentou pressionar os guerrilheiros e forção que se dispersassem. Mas, 12 dias depois a volta dos militares para Quarteis da região foi recebida pela a guerrilha como uma vitória. E com o fim dessas operações terminava a primeira etapa dos combates na mata. Isso foi uma derrota para as tropas inimigas, ou seja, dos Militares. - -
Isis
--- Eu penso no que sofreram o que esses homens sofreram. Tanto faz ser guerrilheiros ou soldados. Tanto faz. Eles eram gente! - - disse a moça se encolhendo de temor.
Monroe
--- Sim. Eles eram gente. Não restam dúvidas. Para se acreditar, hoje, nós passamos por eles, e os cumprimentamos ou não. Mas os soldados ou guerrilheiros são gente. Eu, agora, fico a imaginar: e os terroristas da Síria? Eles são o que? - -
Isis
--- Eu tenho horror em pensar nos terroristas. - -
Monroe
--- Bem. Isso é outra questão. Nós estamos no Brasil antes de entrar a liberdade. E que liberdade. Liberdade com delinquentes. Contudo, eu vejo que a ideia dos guerrilheiros de tomar o poder de onde estavam, no Araguaia, parece ingênua. Mas pensavam com o efeito multiplicador. Lucros do País inteiro poderiam seguir o exemplo deles. O sonho terminou no fim de 1974. Paulo Roberto Ferreira Marques, o Amauri, era um rapaz como tantos outros no fim dos anos 60. Aos 16 anos, escrevia poemas libertários. Ele morava em Minas Gerais e sua casa foi invadida pela Polícia Civil a serviço da Ditadura. Quando a família se mudou do interior para a capital mineira, Paulo foi trabalhar como bancário. Logo se aproximou do Sindicato e ajudou a organizar greves. Foi demitido. Cada vez mais se envolvia com a Política. Outros companheiros foram parar na guerrilha.
Isis
--- Todos? - - indagou surpresa.
Monroe
--- Sim. Mas. .... Tem aqui, no Baixo Araguaia, em início de 1973. A Guerrilha, depois das duas primeiras ofensivas do Exército experimentaram sentimento de vitória. O tempo mostraria que era só ilusão. Naqueles dias, começaria a terceira e última operação militar contra os rebeldes. Dessa vez, sem recrutas nem militares experientes. Só profissionais participariam. A primeira coisa a se fazer era conhecer os inimigos. Então, desencadeou a operação de informação, conforme declaração de uma alta patente, houve a infiltração de agentes disfarçados de diversas maneira e foi distribuído um álbum todo todos os guerrilheiros, com nomes completos. O Serviço já tinha feito o levantamento de toda a área. Inclusive o pessoal da cidade, como comerciantes, farmacêuticos, todos estavam envolvidos do lado da guerrilha. – -
Isis
--- Mas, como? - -
Monroe
---- Através da mobilidade dentro da mata. A região foi toda fotografada e se teve o trabalho de mapear as clareiras. O Exército abriu estradas na mata. Essas vias ficaram conhecidas como Estradas Operacionais (              OPS). Além de facilitar o acesso rápido das tropas de uma parte a outra da região, dificultava a movimentação dos guerrilheiros. - -  
Isis
--- Crueldade. – - falou surpresa.
Monroe
--- Guerra, é guerra, senhorita! E o Exército tirou todas as pessoas que tinham roças, como forma de isolar. As plantações eram todas destruídas. Essas pessoas davam guarida aos guerrilheiros. Tudo foi ficando mais e mais difícil para os guerrilheiros. Cada vez que se notava uma fumaça no meio da mata, logo se deduzia que era a hora dos guerrilheiros preparar o almoço, a comida. E muita gente foi presa pelo Exército. - --
Isis
--- Eles terminavam ficando cercados. - - soluçou
Monroe
--- A senhorita está entendendo. Os guerrilheiros presos eram obrigados a escrever panfletos aos colegas que resistiam tentando persuadir a se renderem. Em outubro de 1973, um acirramento da operação. Nesse ponto, 250 militares treinados para a guerra na selva chegam ao Araguaia. Andavam na floresta guiados por mateiros guiados previamente estudados pelo pessoal que traçavam as linhas táticas de combate e se recolhia essas patrulhas. A população local pagou um preço alto. Gente simples de Araguaia foi presa, espancada, presa. Judiaram muito com a população. Gente que se entrava logo depois, morta e enforcada pelo Exército. Outros moradores foram mortos e colocados em um buraco. Pelo menos 17 moradores de um vilarejo morreram durante esses anos de campanha e centenas apanharam e foram humilhados pelos militares da época. -- -
Isis
--- Praticamente, todos eram suspeitos a colaborar com os guerrilheiros. - -
Monroe
--- E muitas dessas pessoas passaram três meses ou mais nas prisões feitas em buracos para fazer além do mais terrorismo psicológico. Então, os rebeldes eram cada vez menos. Nessa etapa, o Exército já nem fazia prisioneiros. Um dos moradores que abriu a boca para falar, depois que disso o que o Exército queria saber, foi metralhado. - -
Isis
--- E houve sobreviventes? - - indagou revoltosa.
Monroe
--- Quem sobreviveu as caçadas dos Militares, ou as milícias de caçadores de recompensas, foi executado depois de preso. Pouco mais de 60 nunca mais apareceram mesmo depois de tantos anos. Alguns apanharam como bestas. Pauladas e muitas. Pendurados em coqueiros de cabeça para baixo, dormir com olhos abertos. Quem suporta? Alguns eram levados à mata para mostrar onde guardavam mantimentos e armas. Esses guerrilheiros iam e não voltavam. Eram mortos a sangue frio. - -
Isis
--- Nunca se encontros os ossos desses guerrilheiros? - - indagou com remorso.
Monroe
--- Doze ossadas dos guerrilheiros do Araguaia. Apenas duas foram identificadas. Uma delas, a do cearense Bérgson Gurgão. A instrução era não deixar marcas no Araguaia. Apagar todos os rastros. A ação para essa finalidade chamou-se certamente Operação Limpeza. O Brasil só tomou conhecimento depois de tudo o que se passou no Araguaia depois da volta da democracia, nos anos 80. - -
Isis
--- Ninguém mais falou? – - quis saber
Monroe
--- Pedro Correia Cabral. Coronel da Reserva da Aeronáutica, contou a uma Comissão do Congresso, sobre a Operação Limpeza. Na época ele era piloto de helicóptero e participou dessa operação em 1975, depois que a guerrilha tinha acabado. A ordem: era preciso dar sumiço nos corpos. Evitar investigações futuras. Os agentes fizeram um relato descrevendo onde havia sido enterrado esse pessoal e os Comandantes passaram vários dias indo com uma equipe de informações aos devidos locais e os corpos foram desenterrados, colocados em sacos plásticos, mesmo com um cheiro horrível dos defuntos sem nem poder se usar máscara e se usava lenços atados com esparadrapos ao pescoço. - -
Isis
--- E o que eram feitos com as ossadas? - -
Monroe
--- Bem. Os corpos eram levados para a Serra das Andorinhas e em um determinado local, esses corpos eram descarregados. Levava-se pneus, colheres, gasolina e então eram tocados fogo. O Exército mantém sob sigilo absoluto esses arquivos militares. - -
Seis mil homens lutaram contra 90 guerrilheiros durante o tempo que durou a ação do Araguaia. Desse total, 70 guerrilheiros e camponeses estão desaparecidos para o resto da existência. 

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