terça-feira, 29 de setembro de 2015

LUTA ARMADA - 38 -

- A LUTA -
- 38 -
O TIRO -
Durante as operações da luta armada houve troca de tiros. E nesse caso estava envolvido o líder guerrilheiro Cid Benjamim. Certa vez, o grupo a que pertencia o guerrilheiro, agiu para invadir o gasômetro do Leblon, no Rio.  A guerrilheira Sílvia (Vera Sílvia Magalhães) pediu fósforo para o Policial. No instante em que o policial foi dar o fósforo, nesse momento foi rendido um dos rapazes do grupo e um rapaz do grupo teve a intenção de abrir fogo contra o policial. Entretanto, um outro guerrilheiro vinha em sentido contrário e, nessa oportunidade, o guerrilheiro, temendo a ação do policial que já armara a sua metralhadora contra a massa insurgente, abriu fogo contra o mesmo, logo caindo, porém não foi morto. Dessa forma, a guerrilheira Silvia e o seu companheiro, foram salvos de uma enigmática cena de morte. Um outro sequestrador do Embaixador americano foi o rapaz Cláudio Torres, integrante do MR-8. Ele era o companheiro de Sílvia Magalhães na tentativa do assalto ao policial.
Cid Benjamim participou de uma operação para o resgate de dólares de um deputado que guardava dinheiros em sua casa. O deputado tinha uma coleção de quadros. Benjamim e outros companheiros da Luta Armada fizeram ligação telefônica relatando serem eles jornalistas de uma revista não definida e que estavam fazendo matérias sobre colecionadores particulares de quadros interessantes. O parlamentar se sentiu satisfeito, abrindo a porta para os guerrilheiros.
Monroe
--- Esse foi o “gancho” para que os guerrilheiros tivessem acesso à casa do deputado. –
Isis
--- Conte mais! Conte mais! – - assim procedeu a moça torcendo as mãos.
Era noite já avançada, quase madrugada, vez que o diplomata já estava desocupado de todas as obrigações daquele inquietante dia, com jantares e troca de conversas com outros diplomatas, esposas, filhas entre gente próxima assim como a irmã do diplomata, senhorita Moema e a auxiliar Iris Fernandes. Após a festa em um Clube da capital italiana onde havia uma multidão de convidados, no fim, foi a vez de voltar a sede da Embaixada entre motos, carros e jovens a ocupar os bares de esquina soltando gracejos. O diplomata sorriu vendo as alegres travessuras da rapaziada. Logo após, entro na sede da diplomacia. Quando estava a recostar em uma poltrona com as pernas esticadas em um móvel pequeno, ele não esperava a vez da jovem moça chamar sua atenção. E foi assim que começou a fala.
Monroe
--- Espere! Deixa-me repor. Bem. Os guerrilheiros, todos disfarçados, um dos quais usando uma camisa colorida a fumar um cachimbo, como um crítico de arte, enfim adentraram, e fizeram fotos dos quadros quando então cometeram o assalto. Nada mais que 70 mil dólares, na época, um valou bem mais vultoso. O deputado se chamava Edgar Guimaraes de Almeida.
Edgar Guimarães era integrante da bancada federal do MDB, do Rio de Janeiro. O dinheiro foi usado no quadro dos guerrilheiros que se situavam na clandestinidade, na ajuda de outras organizações que se encontravam em dificuldades financeiras, parte caiu nas mãos dos órgãos da repressão. Os guerrilheiros tinham a preocupação de não deixar todo o dinheiro em uma só mão. A parte que foi apreendida, foi apenas uma parte e nada mais.
Isis
--- E comunicações entre os grupos como eram feitas? - - quis saber.
Monroe
--- Aproveitando a dica, veja bem como; os programas de TV eram bastante populares. Um deles, o do Chacrinha, bem popular mesmo. E o Chacrinha tinha uma mania de mandar fazer “rodar”, com suas mãos, para entrar um comercial. “Roda, Roda, Roda. Um minuto de comerciais”. Era o que o homem fazia. Eu não sei dizer o porquê, mas o jeito como o homem fazia, todo enfeitado de palhaço, seguia como se fosse uma senha.
Isis
--- Em que isso servia? - - perguntou.
Monroe
--- Bem. A máquina que se usava para dar choque – um “telefone de campanha” – ela gerava eletricidade rodando-se a manivela. Então, os militares responsáveis por rodar choque faziam o mesmo: “Roda, Roda, Roda”. E era assim, feito.  - -
A principal sala de tortura do DOI-CODI – Destacamento de Operações e Informações – Centro do Operações de Defesa Interna – foi um órgão subordinado ao Exército, de Inteligência e Repressão do Governo Brasileiro durante o regime inaugurado com o golpe militar de 31 de março de 1964, chamado também “Anos de Chumbo”. Aliais, esse sistema foi também o usado pela Igreja Católica Romana, na França e em Portugal, durante a Inquisição, no século XII (1250) pelos Inquisidores.
No Brasil, a principal sala de tortura do DOI-CIDE nos anos de 1970 era também algo de fantasmagórico. Tinham, na sala, umas luzes roxas, e os presos sentiam-se como numa boate e dois cartazes meio rústicos, um pintado à mão com dizerem: “Aqui é o lugar que o filho chora e a mãe não morreu”. O outro tinha pintado: “Advogado, aqui, só entra preso”.  
Monroe
--- Teve preso que levou injeção de “tortura” para falar. - -
Isis
--- Que efeito fazia? - - indagou
Monroe
--- Essa injeção era chamada Pentothal, o Soro da Verdade. O preso é imobilizado e a agulha é injetada com a droga na veia. A injeção é injetada lentamente e a pessoa vai ficando “lesa”, a boca vai ficando frouxa, o pensamento se turva e os “inquisidores” fazem perguntas sem importância até chegar a questão crucial que os agentes querem mesmo saber. Entretanto, a injeção é aplicada vagarosamente para não passar da conta. Se for rápido, o preso dorme. - - destacou
Isis
--- Merda! Mas tem de tudo da ciência. - - dialogou com a resposta
Monroe
--- Mas, tem outros meios. O preso é pendurado em um “pau de arara”, de cabeça para baixo e entre outros maus tratos tem também os tradicionais telefones, ou seja, tapas dos ouvidos. - -
O médico Amílcar Lobo atuou entre 1970 e 1974, no DOI-CODI, no Rio de Janeiro. Usava o pseudônimo de “Doutor Cordeiro”. Ferido, porque resistiu à prisão. Cid Benjamin foi medicado por Amílcar Lobo do qual recebeu pontos na cabeça sem anestesia. Numa sessão da Comissão da Verdade, no Rio de Janeiro, o ex-guerrilheiro trocou um abraço com a viúva do médico que participou das sessões de tortura. Esse tenente-médico se arrependeu das torturas aplicadas nos presos políticos. Ele era uma peça da engrenagem da tortura. Objeto integrante desse sistema macabro.
Isis
--- Eu sei, de um caso de um preso que escapou de um jeep da polícia. Ele escapou no meio de um capinzal e a Polícia o perseguiu, atirando, atirando até parar. Depois de alguns anos, um ex-soldado do Exército me contou que ele foi morto pela tropa e enterrado perto do fim do morro por trás do 16º RI. Ninguém soube disso. Seu nome, eu não sei. Sei, apenas do apelido: “Pé Seco”.
Monroe
--- Tem muitos casos assim. Hoje mesmo. Eles operam com a morte e depois chega a ditar que foi “legítima defesa”. - -
Isis
--- Como se prova legítima defesa? - - quis saber.
Moema
--- É isso aí, menina! - - e saiu para outro departamento



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