- A LUTA -
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O TIRO -
Durante as operações da luta armada houve troca de tiros. E
nesse caso estava envolvido o líder guerrilheiro Cid Benjamim. Certa vez, o
grupo a que pertencia o guerrilheiro, agiu para invadir o gasômetro do Leblon,
no Rio. A guerrilheira Sílvia (Vera
Sílvia Magalhães) pediu fósforo para o Policial. No instante em que o policial
foi dar o fósforo, nesse momento foi rendido um dos rapazes do grupo e um rapaz
do grupo teve a intenção de abrir fogo contra o policial. Entretanto, um outro
guerrilheiro vinha em sentido contrário e, nessa oportunidade, o guerrilheiro,
temendo a ação do policial que já armara a sua metralhadora contra a massa
insurgente, abriu fogo contra o mesmo, logo caindo, porém não foi morto. Dessa
forma, a guerrilheira Silvia e o seu companheiro, foram salvos de uma
enigmática cena de morte. Um outro sequestrador do Embaixador americano foi o
rapaz Cláudio Torres, integrante do MR-8. Ele era o companheiro de Sílvia
Magalhães na tentativa do assalto ao policial.
Cid Benjamim participou de uma operação para o resgate de
dólares de um deputado que guardava dinheiros em sua casa. O deputado tinha uma
coleção de quadros. Benjamim e outros companheiros da Luta Armada fizeram
ligação telefônica relatando serem eles jornalistas de uma revista não definida
e que estavam fazendo matérias sobre colecionadores particulares de quadros
interessantes. O parlamentar se sentiu satisfeito, abrindo a porta para os
guerrilheiros.
Monroe
--- Esse foi o “gancho” para que os guerrilheiros tivessem
acesso à casa do deputado. –
Isis
--- Conte mais! Conte mais! – - assim procedeu a moça torcendo
as mãos.
Era noite já avançada, quase madrugada, vez que o diplomata
já estava desocupado de todas as obrigações daquele inquietante dia, com
jantares e troca de conversas com outros diplomatas, esposas, filhas entre
gente próxima assim como a irmã do diplomata, senhorita Moema e a auxiliar Iris
Fernandes. Após a festa em um Clube da capital italiana onde havia uma multidão
de convidados, no fim, foi a vez de voltar a sede da Embaixada entre motos,
carros e jovens a ocupar os bares de esquina soltando gracejos. O diplomata
sorriu vendo as alegres travessuras da rapaziada. Logo após, entro na sede da
diplomacia. Quando estava a recostar em uma poltrona com as pernas esticadas em
um móvel pequeno, ele não esperava a vez da jovem moça chamar sua atenção. E
foi assim que começou a fala.
Monroe
--- Espere! Deixa-me repor. Bem. Os guerrilheiros, todos
disfarçados, um dos quais usando uma camisa colorida a fumar um cachimbo, como
um crítico de arte, enfim adentraram, e fizeram fotos dos quadros quando então cometeram
o assalto. Nada mais que 70 mil dólares, na época, um valou bem mais vultoso. O
deputado se chamava Edgar Guimaraes de Almeida.
Edgar Guimarães era integrante da bancada federal do MDB, do
Rio de Janeiro. O dinheiro foi usado no quadro dos guerrilheiros que se situavam
na clandestinidade, na ajuda de outras organizações que se encontravam em
dificuldades financeiras, parte caiu nas mãos dos órgãos da repressão. Os
guerrilheiros tinham a preocupação de não deixar todo o dinheiro em uma só mão.
A parte que foi apreendida, foi apenas uma parte e nada mais.
Isis
--- E comunicações entre os grupos como eram feitas? - - quis
saber.
Monroe
--- Aproveitando a dica, veja bem como; os programas de TV
eram bastante populares. Um deles, o do Chacrinha, bem popular mesmo. E o Chacrinha
tinha uma mania de mandar fazer “rodar”, com suas mãos, para entrar um
comercial. “Roda, Roda, Roda. Um minuto de comerciais”. Era o que o homem
fazia. Eu não sei dizer o porquê, mas o jeito como o homem fazia, todo
enfeitado de palhaço, seguia como se fosse uma senha.
Isis
--- Em que isso servia? - - perguntou.
Monroe
--- Bem. A máquina que se usava para dar choque – um
“telefone de campanha” – ela gerava eletricidade rodando-se a manivela. Então,
os militares responsáveis por rodar choque faziam o mesmo: “Roda, Roda, Roda”.
E era assim, feito. - -
A principal sala de tortura do DOI-CODI – Destacamento de
Operações e Informações – Centro do Operações de Defesa Interna – foi um órgão
subordinado ao Exército, de Inteligência e Repressão do Governo Brasileiro
durante o regime inaugurado com o golpe militar de 31 de março de 1964, chamado
também “Anos de Chumbo”. Aliais, esse sistema foi também o usado pela Igreja
Católica Romana, na França e em Portugal, durante a Inquisição, no século XII
(1250) pelos Inquisidores.
No Brasil, a principal sala de tortura do DOI-CIDE nos anos
de 1970 era também algo de fantasmagórico. Tinham, na sala, umas luzes roxas, e
os presos sentiam-se como numa boate e dois cartazes meio rústicos, um pintado à
mão com dizerem: “Aqui é o lugar que o filho chora e a mãe não morreu”. O outro
tinha pintado: “Advogado, aqui, só entra preso”.
Monroe
--- Teve preso que levou injeção de “tortura” para falar. - -
Isis
--- Que efeito fazia? - - indagou
Monroe
--- Essa injeção era chamada Pentothal, o Soro da Verdade. O
preso é imobilizado e a agulha é injetada com a droga na veia. A injeção é
injetada lentamente e a pessoa vai ficando “lesa”, a boca vai ficando frouxa, o
pensamento se turva e os “inquisidores” fazem perguntas sem importância até
chegar a questão crucial que os agentes querem mesmo saber. Entretanto, a
injeção é aplicada vagarosamente para não passar da conta. Se for rápido, o
preso dorme. - - destacou
Isis
--- Merda! Mas tem de tudo da ciência. - - dialogou com a
resposta
Monroe
--- Mas, tem outros meios. O preso é pendurado em um “pau de
arara”, de cabeça para baixo e entre outros maus tratos tem também os
tradicionais telefones, ou seja, tapas dos ouvidos. - -
O médico Amílcar Lobo atuou entre 1970 e 1974, no DOI-CODI,
no Rio de Janeiro. Usava o pseudônimo de “Doutor Cordeiro”. Ferido, porque
resistiu à prisão. Cid Benjamin foi medicado por Amílcar Lobo do qual recebeu
pontos na cabeça sem anestesia. Numa sessão da Comissão da Verdade, no Rio de
Janeiro, o ex-guerrilheiro trocou um abraço com a viúva do médico que
participou das sessões de tortura. Esse tenente-médico se arrependeu das
torturas aplicadas nos presos políticos. Ele era uma peça da engrenagem da
tortura. Objeto integrante desse sistema macabro.
Isis
--- Eu sei, de um caso de um preso que escapou de um jeep da
polícia. Ele escapou no meio de um capinzal e a Polícia o perseguiu, atirando,
atirando até parar. Depois de alguns anos, um ex-soldado do Exército me contou
que ele foi morto pela tropa e enterrado perto do fim do morro por trás do 16º
RI. Ninguém soube disso. Seu nome, eu não sei. Sei, apenas do apelido: “Pé
Seco”.
Monroe
--- Tem muitos casos assim. Hoje mesmo. Eles operam com a
morte e depois chega a ditar que foi “legítima defesa”. - -
Isis
--- Como se prova legítima defesa? - - quis saber.
Moema
--- É isso aí, menina! - - e saiu para outro departamento
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