- GUERRILHA -
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LEITURA -
Alguns dias, Moema já estava
folheado um livro a tratar sobre o Golpe de Estado do Brasil, em 1964. Era
noite e Isis estava folheando revistas brasileiras sentada em uma banca. O
edifício de três andares era um luxo só. A arcada era cheia de brilhantes cores
a revirar os cânones da percepção. A
Casa tinha de tudo, inclusive servidores, homens, mulheres e também meninas.
Para quem nunca viu uma Casa do gênero, aquela maravilha era deslumbrante,
principalmente para Isis, moça do interior do nordeste brasileiro. O Centro
Cultural Brasil-Itália é uma instituição fundada na década de 60 vinculada ao
Setor Cultural da Embaixada do Brasil em Roma fazendo parte da Rede Brasil
Cultural. Suas atividades visam o ensino e a promoção da língua portuguesa e da
cultura brasileira. Diante disso, Moema soltou a palavra para Isis como quem
podia falar a partir daquele instante por estar vivendo em um país distante.
Moema
--- Veja aqui. Agora estamos na
Itália. Não se tem preocupação com nada. Além do mais, aqui é a sedo do nosso
País e nós estamos guardadas de todos. Passando à frente, vejamos o que diz
esse documento. Veja:
E Isis observou, com certeza. Jânio
tinha tomado posse após uma sessão muito difícil em 61, após a renúncia de
Jânio Quadros, em seguida de três semanas e muda o presidencialismo em janeiro
e toda a ação do Jango era muito marcada por uma hostilidade em relação ao Congresso
Nacional.
Isis
--- Por qual motivo? – - indagou
preocupada.
Moema
--- Espere e verás. Eu vou ler o
que está escrito. Escute! - -
Moema
--- O Jânio sempre teve muita
dificuldade para tratar com as forças democráticas. Ele não era um candidato
vitorioso. Havia perdido, inclusive para vice-presidente, no seu Estado, o Rio
Grande do Sul. Mas foi eleito em 1960, em uma eleição muito disputada com a contenda
entre vários candidatos. Porém, quando chega a conjuntura de 63, o Jango, está
muito claro, que ele quer permanecer. Ele quer ser candidato nas eleições de
65. Para ser candidato ele precisava mudar a Constituição. Ele tem uma
hostilidade com o Congresso Nacional. Ele dizia ser muito explícito viver com o
Congresso. - -
Isis
--- Procuro entender. Continue. -
-
Moema
--- Bem. Eu tenho a impressão que
as Forças Militares de não se tornar legal o Partido Comunista, Jango procurava
entender da sua existência em qualquer fase da Política e a sobrevivência da
sua existência em uma Ditadura ou não. Mas, desse modo isso permitiu que uma
ala das “esquerdas” partisse para a luta armada. Essa ala estava mais sequiosa
pelo mando, pelo comando do Poder. Porque, eles “esquerdistas” tinham como
certo, ou Leonel Brizola. Ou o Miguel Arras. E o Jango queria também ficar ou
ser uma espécie de títere, boneco, fantoche, marionete de Carlos Prestes, o
líder da ”esquerda”. Essa era a efervescência de 63. - -
Isis
--- Ele queria ser um fantoche? -
- sorriu.
Moema fechou a cara para depois
prosseguir.
Moema
--- Bem. Tinham-se várias
propostas de golpe de estado. Na época, não era só a direita que tentaria um
golpe de estado. A “esquerda” também tinha suas propostas golpistas. O Partido
Comunista; o Golpe do Brizola era outra; e a do Jango, provavelmente aliado na
ocasião ao Partido Comunista. Então, tinham-se várias propostas de Golpes. É
difícil dizer que o Golpe da Direta era uma espécie de contragolpe a um
possível golpe da “esquerda”. Hoje, se
diz “oposição”. Mas, era à esquerda. Quando o poder está nas mãos dos
“esquerdistas”, então, a direita pode ser nesse ponto a esquerda. - - sorriu
querendo dizer “de um lado ou de outro”, fazendo isso com as mãos.
E Isis também faz a menção.
Esquerda e direita. E sorriu.
Moema prosseguiu.
Moema
--- Entre a “direita” golpista e
a “esquerda” golpista havia também perspectiva democrática naquela conjuntura.
- -
Isis
--- Eu acho que esses foram os
grandes derrotados. O Golpe da “direita” não foi contra a “esquerda”. - -
Moema
--- O grupo de “esquerda” que
entrara contra o Regime Militar, preferido a Luta Armada com assaltos a Bancos
e a ação do rio Araguaia era ligado a organizações da geração stalinista. Essa
tradição é a que diz que a ditadura boa é aquela que vai abrir as portas do
futuro para toda a humanidade. Ela não é uma tradição democrática, evidentemente.
- -
Isis
--- A leitura que a esquerda, em
64, fez de uma certa direita era como se tivesse somente duas alternativas. Ou
o Golpe Militar ou a Revolução Socialista. Isso, não é verdade. Tem as
tentativas de Francisco Santiago Dantas buscando construir um grande bloco
reformista. Isso seria uma solução que daria um salto de qualidade da
democracia brasileira. - - enfatizou
Moema
--- O Janto, em momento algum,
teve a proposta de reformas. Ele, somente apresenta os programas de reformas em
Mensagem Presidencial em março de 64. É alí que se tem um esboço do que o João
Goulart defendia como Reformas. Mesmo assim, não tinha nenhuma, um projeto de
Lei. Alugueis, reforma agraria, refinarias, apartamentos. Para encaminhar como
projeto de Lei, o Jango tinha que encaminhar para o Congresso Nacional. Isso
não era com ele. Jango queria a saída do impasse. E esse impasse era levar
Jango a eleição em 1965. E Leonel Brizola não podia ser candidato a Presidente
porque sendo cunhado não podia ser candidato. O Jango queria alterar a
Constituição de forma autoritária. - -
Isis
--- É bom lembrar que o AI-5, no
dia 03 dezembro, não teve nenhuma manifestação no Brasil. Alguém pode dizer que
o domínio do Presidente Costa e Silva era tão grande à época que impediu
qualquer manifestação no Brasil. Havia um cansaço as manifestações de 68. Eu li
um artigo em que o jornalista diz ter sido a “passeata dos cem mil” jovens, no
mesmo dia em São Paulo teve um atentado terrorista no II Exército causando a
morte de um jovem militar. - -
Moema
--- A Luta Armada é uma história
muito usada diante do poder da Ditadura. A questão é de saber se ela é válida
tem uma resposta dos “Iluministas”, isto é: do direito à Resistencia por todos
os meios diante dos Regimes Opressivos. Então, essa resposta moral já foi
dada. E ainda há uma discussão política
sobre isso. Normalmente a Luta Armada, nas formas da guerrilha tende a fazer
com que a repressão dos Estados autoritários recaia principalmente não sobre os
guerrilheiros. Mas sobre a população que está em seu entorno que não tem os
meios que os guerrilheiros têm de se proteger das medidas do Estado. Então, no
sentido político, as vítimas principais em sua maioria de ação guerrilheira,
não são os que combatem, e sim a população. - -
Isis
--- Antes de 64 já existia a
perspectiva do movimento guerrilheiro. As Ligas Camponesas tenham seus centros
que acabaram sendo descobertos com grandes escândalos na época. As Ligas,
através do seu braço armado o Movimento Revolucionário Tiradentes já colocava
que o caminho era pela guerrilha. E o PC
do B manda jovens para Pequim nas vésperas do Golpe, no mês de março de 64.
Esse grupo foi treinar na China. É bom lembrar que o partido nasceu em 1962,
uma dissidência do PCB, apostando na luta armada. Desde então houve o processo
da luta armada.
Moema
--- E, logo após o Golpe Militar,
houve o movimento, entre 1964 e 1968 para mover uma série de movimento de
esquerda com Impressa Alternativa, Teatro de Protesto, Festivais de Música e
contestação antimilitar. E Movimentos Terroristas formando grupos de luta
urbana ou de campo. Alguém diz que a Luta Armada nasceu após 1968, após o AI-5.
Eu vejo muita mentira nisso tudo. - -
Isis
--- Luta Armada nasceu antes de
1935 - - falou
Moema
--- A Luta de Quartel –
salientou.
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