terça-feira, 22 de setembro de 2015

MAR SERENO - 31 -

- GUERRILHA -
- 31 -
SEGREDO -

Naquela hora da noite, em uma sala de exposição de livros, Isis estava colhendo informes sobre o Brasil dos anos 60. Já não havia gente para atender e Moema havia saído para outro compartimento em busca de demais livros para ler. De repente, entro no salão o diplomata Ênio Monroe como se nada houve para fazer. Naquela oportunidade, Isis tomou um susto, pois não pensava haver nenhuma alma em sua sala. O diplomata sorriu e indagou se a moça estava com medo de algo tenebroso. Ela não pode refletir e nada respondeu. Apenas sorriu. O livro que estava com ele, Isis depositou na prateleira. Era algo que retravava os problemas do Araguaia quando houve tumulto naquela região distante, em meio a mata. Nesse momento, o diplomata pegou novamente o livro que a moça depositara da estante e indagou:
Monroe
--- A senhorita já leu sobre o Araguaia? - -
Isis
--- Sim. Mas, sempre estou a vasculhar assuntos pertinentes. - -
Monroe
--- Este aqui, é um volume bem qualificado. Disserta muito sobre o Araguaia. Veja bem.   Quem vê essas águas calmas do Araguaia não imagina que aqui foi um cenário de guerra há muitas décadas. –
Isis
--- É verdade. Entre 1972 e 1975, guerrilheiros de orientação comunistas e forças do Exército brasileiro se encontraram. - -
Monroe
--- Pelo país afora, quase ninguém sabia que isso estava acontecendo. E até hoje, muito do que se passou pela região continua em segredo. Esse é o caminho do Araguaia. Por exemplo: cenas de ontem e de hoje.
Isis
--- Pelo que eu li, eu não acreditava que a repressão não seria tão cruel.
Monroe
--- No período em que o Brasil participou da II Guerra Mundial, antes desse levante comunista, e então não qual morreram 480 soldados e oficiais, não há registro de quantidade de soldados das três Forças bem com da experiência como a do Araguaia. Os acontecimentos são recentes e muita coisa está por ser aberta e é preciso de uma decisão da República. - -
Isis
--- De um lado, um grupo de jovens idealistas. - -
Monroe
--- Eles acreditavam que era possível tomar o poder pelas armas. Por outro, o poder do Governo combatia o que se chamava de “terrorismo”. Houve torturas e assassinatos. Os mateiros conduziram o Exército até o grupo armado. O Exército já estava no rastro dos guerrilheiros de há um bom tempo. Muitos dos guerrilheiros foram mortos por tiros pelas costas. - -
Isis
--- A guerrilha do Araguaia é um assunto ainda polêmico. - -
Monroe
--- Mas há quem diga que, aqueles que eram espúrios e ilegal, eram os Militares. Eles tinham derrubado um Governo devidamente eleito. Eles, os Militares ou os que apoiavam, eram os espúrios.
Isis
--- Agora, o Governo quer buscar os restos mortais dos guerrilheiros mortos. E onde estão os restos mortais? - -
Monroe
--- Não existem mais ossos. Quem morreu no Araguaia os bichos comeram o que sobrou. Uma mulher pediu até mesmo os restos mortais ou a indicação de onde colocaram esses restos, esses ossos para que a família finalmente conseguir ficar em paz. –
Isis
--- Polêmica que parece longe de acabar. - -
Monroe
--- A conspiração do silêncio. Muitos dos depoimentos e das imagens que esse livro adquiriu, jamais foram ao ar. É um trabalho insano de resgate de cenas históricas e de entrevistas de personagens. Gente que viveu a guerrilha ou que esteve muito perto dos seus reflexos. -  -
Isis
--- Mas como esses jovens estudantes ou profissionais recém-formados foram parar em um lugar tão inóspito? - -
Monroe
--- Vamos voltar, no tempo: a segunda metade do século 20 começou com muita efervescência política. A Revolução Chinesa, em 1949, que teve grande apoio de camponeses, deixou marcas e fez muita gente se entusiasmar. Dez anos depois, era na América Latina que a revolução acontecia. Em 1959, um movimento revolucionário que falhara seis anos antes, dessa vez chegava ao sucesso. Liderados por figurar que iriam se tornar lendárias, como Fidel Castro e Che Guevara, os rebeldes partiram de grupos entrincheirados no mapa para tomar o poder, em Cuba. Terminava a ditadura sanguinária de Fulgêncio Batista. Daquele ponto em diante, o regime guardado por Fidel Castro foi acusado, muitas vezes, de desrespeitos aos direitos humanos. Mesmo assim, o charme revolucionário correu o mundo e contaminou a juventude
Isis
--- Havia também a perspectiva da derrota dos Estados Unidos frente ao Vietnã, anos depois. –
Monroe.
--- Havia a possibilidade de constituir o socialismo desta forma. O paradigma dos guerrilheiros do Araguaia era exatamente a guerra do Vietnã. Era uma guerra da selva, era uma guerra do pequeno contra o grande, de um país pobre contra um país rico. No Brasil, alguns grupos decidiram no início dos anos 60 que era a hora de dar início a ação. Era preciso organizar maneiras para repetir o feito cubano no maior país da América do Sul. - -
Isis
--- Era o Governo de João Goulart. Os partidos de esquerda tinham relativa liberdade de atuação nos grupos sindicais, nas organizações de camponeses e outras que cresciam aqui e alí. - -
Monroe
--- Era a convicção de que era pelas armas o país viveria uma revolução. Era pela ação de Indianapolis, em Goiás, ao Araguaia. Não eram poucas as ideias de uma ação armada.
Isis
--- E então? - - indagou em silêncio.
Monroe
--- Mas, o medo do comunismo também crescia numa parte da sociedade. O Brasil, em 1964, sofre um duro revés. Um golpe militar derruba João Goulart. Lideranças tiveram os direitos políticos cassados, partidos se tornaram clandestinos. Era o início de duas décadas de Ditadura. E também de formação de grupos para combater. - -
Isis
--- Logo viria a repressão a esses movimentos de esquerda. - -
Monroe
--- E a perseguição feroz a seus integrantes. A qualquer hora se podia ser preso e ser morto. Estava no fio da navalha. Estava-se no fugir do Brasil ou fazer como o PC do B. Procurar alguéns dos seus militantes para preparar um grupo guerrilheiro em determinada região do país. E esse pessoal que aderiu a luta armada se comprometeu em ir à batalha. Eles, os guerrilheiros, estavam decididos em doar a vida. - -
Isis
--- E como se escolheu o Araguaia? Distante e plena de acidentes! - -
Monroe
--- Eis a questão. Um dos lugares escolhidos para organizar o foco da guerrilha rural foi o Bico do Papagaio, divisa entre o Pará, o Maranhão e o Tocantins que ainda nem existia. A área ficava em Goiás. O ano era 1966. Uma área muito bem escolhida. Era muito difícil coordenar tudo aquilo. - -



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