- GUERRILHA -
- 31 -
SEGREDO -
Naquela hora da noite, em uma
sala de exposição de livros, Isis estava colhendo informes sobre o Brasil dos
anos 60. Já não havia gente para atender e Moema havia saído para outro
compartimento em busca de demais livros para ler. De repente, entro no salão o
diplomata Ênio Monroe como se nada houve para fazer. Naquela oportunidade, Isis
tomou um susto, pois não pensava haver nenhuma alma em sua sala. O diplomata
sorriu e indagou se a moça estava com medo de algo tenebroso. Ela não pode
refletir e nada respondeu. Apenas sorriu. O livro que estava com ele, Isis
depositou na prateleira. Era algo que retravava os problemas do Araguaia quando
houve tumulto naquela região distante, em meio a mata. Nesse momento, o diplomata
pegou novamente o livro que a moça depositara da estante e indagou:
Monroe
--- A senhorita já leu sobre o
Araguaia? - -
Isis
--- Sim. Mas, sempre estou a
vasculhar assuntos pertinentes. - -
Monroe
--- Este aqui, é um volume bem
qualificado. Disserta muito sobre o Araguaia. Veja bem. Quem vê
essas águas calmas do Araguaia não imagina que aqui foi um cenário de guerra há
muitas décadas. –
Isis
--- É verdade. Entre 1972 e 1975,
guerrilheiros de orientação comunistas e forças do Exército brasileiro se encontraram.
- -
Monroe
--- Pelo país afora, quase
ninguém sabia que isso estava acontecendo. E até hoje, muito do que se passou
pela região continua em segredo. Esse é o caminho do Araguaia. Por exemplo:
cenas de ontem e de hoje.
Isis
--- Pelo que eu li, eu não
acreditava que a repressão não seria tão cruel.
Monroe
--- No período em que o Brasil
participou da II Guerra Mundial, antes desse levante comunista, e então não
qual morreram 480 soldados e oficiais, não há registro de quantidade de
soldados das três Forças bem com da experiência como a do Araguaia. Os
acontecimentos são recentes e muita coisa está por ser aberta e é preciso de
uma decisão da República. - -
Isis
--- De um lado, um grupo de
jovens idealistas. - -
Monroe
--- Eles acreditavam que era possível
tomar o poder pelas armas. Por outro, o poder do Governo combatia o que se
chamava de “terrorismo”. Houve torturas e assassinatos. Os mateiros conduziram
o Exército até o grupo armado. O Exército já estava no rastro dos guerrilheiros
de há um bom tempo. Muitos dos guerrilheiros foram mortos por tiros pelas
costas. - -
Isis
--- A guerrilha do Araguaia é um
assunto ainda polêmico. - -
Monroe
--- Mas há quem diga que, aqueles
que eram espúrios e ilegal, eram os Militares. Eles tinham derrubado um Governo
devidamente eleito. Eles, os Militares ou os que apoiavam, eram os espúrios.
Isis
--- Agora, o Governo quer buscar
os restos mortais dos guerrilheiros mortos. E onde estão os restos mortais? - -
Monroe
--- Não existem mais ossos. Quem
morreu no Araguaia os bichos comeram o que sobrou. Uma mulher pediu até mesmo
os restos mortais ou a indicação de onde colocaram esses restos, esses ossos
para que a família finalmente conseguir ficar em paz. –
Isis
--- Polêmica que parece longe de
acabar. - -
Monroe
--- A conspiração do silêncio.
Muitos dos depoimentos e das imagens que esse livro adquiriu, jamais foram ao
ar. É um trabalho insano de resgate de cenas históricas e de entrevistas de
personagens. Gente que viveu a guerrilha ou que esteve muito perto dos seus reflexos.
- -
Isis
--- Mas como esses jovens
estudantes ou profissionais recém-formados foram parar em um lugar tão
inóspito? - -
Monroe
--- Vamos voltar, no tempo: a
segunda metade do século 20 começou com muita efervescência política. A
Revolução Chinesa, em 1949, que teve grande apoio de camponeses, deixou marcas
e fez muita gente se entusiasmar. Dez anos depois, era na América Latina que a
revolução acontecia. Em 1959, um movimento revolucionário que falhara seis anos
antes, dessa vez chegava ao sucesso. Liderados por figurar que iriam se tornar
lendárias, como Fidel Castro e Che Guevara, os rebeldes partiram de grupos
entrincheirados no mapa para tomar o poder, em Cuba. Terminava a ditadura
sanguinária de Fulgêncio Batista. Daquele ponto em diante, o regime guardado
por Fidel Castro foi acusado, muitas vezes, de desrespeitos aos direitos
humanos. Mesmo assim, o charme revolucionário correu o mundo e contaminou a
juventude
Isis
--- Havia também a perspectiva da
derrota dos Estados Unidos frente ao Vietnã, anos depois. –
Monroe.
--- Havia a possibilidade de
constituir o socialismo desta forma. O paradigma dos guerrilheiros do Araguaia
era exatamente a guerra do Vietnã. Era uma guerra da selva, era uma guerra do
pequeno contra o grande, de um país pobre contra um país rico. No Brasil,
alguns grupos decidiram no início dos anos 60 que era a hora de dar início a
ação. Era preciso organizar maneiras para repetir o feito cubano no maior país
da América do Sul. - -
Isis
--- Era o Governo de João
Goulart. Os partidos de esquerda tinham relativa liberdade de atuação nos
grupos sindicais, nas organizações de camponeses e outras que cresciam aqui e
alí. - -
Monroe
--- Era a convicção de que era
pelas armas o país viveria uma revolução. Era pela ação de Indianapolis, em
Goiás, ao Araguaia. Não eram poucas as ideias de uma ação armada.
Isis
--- E então? - - indagou em
silêncio.
Monroe
--- Mas, o medo do comunismo
também crescia numa parte da sociedade. O Brasil, em 1964, sofre um duro revés.
Um golpe militar derruba João Goulart. Lideranças tiveram os direitos políticos
cassados, partidos se tornaram clandestinos. Era o início de duas décadas de
Ditadura. E também de formação de grupos para combater. - -
Isis
--- Logo viria a repressão a
esses movimentos de esquerda. - -
Monroe
--- E a perseguição feroz a seus
integrantes. A qualquer hora se podia ser preso e ser morto. Estava no fio da
navalha. Estava-se no fugir do Brasil ou fazer como o PC do B. Procurar alguéns
dos seus militantes para preparar um grupo guerrilheiro em determinada região
do país. E esse pessoal que aderiu a luta armada se comprometeu em ir à
batalha. Eles, os guerrilheiros, estavam decididos em doar a vida. - -
Isis
--- E como se escolheu o
Araguaia? Distante e plena de acidentes! - -
Monroe
--- Eis a questão. Um dos lugares
escolhidos para organizar o foco da guerrilha rural foi o Bico do Papagaio,
divisa entre o Pará, o Maranhão e o Tocantins que ainda nem existia. A área
ficava em Goiás. O ano era 1966. Uma área muito bem escolhida. Era muito
difícil coordenar tudo aquilo. - -
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