quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

SUPLICIO DE UM MISTÉRIO - 18 -

- GADO SOLTO -
- 18 -
MANHÃ -
O dia amanheceu nublado, porém sem chuva. Os vaqueiros estavam todos na ordenha do gado e os menores a cavalgar para despertar o sono dos cavalos. Maria, mulher de Carcará, já cuidava da refeição matinal para o pessoal que ainda dormia em seus cômodos, menos a moça Tiana. Essa levantou logo cedo e foi ajudar Maria nos afazeres domésticos. Antes de tudo, Tiana foi tomar leite da vaca. Leite gostoso, viscoso, saboroso até, coisa que a moça há muito não fazia. Ela sorriu e perguntou ao vaqueiro se podia beber um pouco daquele leite.
Vaqueiro
--- Beber Leite? Pode! Mas está quente. Tirado do peito agora! - - disse espantado
Tiana
--- Eu sei. Estou acostumada. Desde menina que faço isso. - - respondeu sorrindo  
O vaqueiro nada respondeu. Apenas continuou a puxar as tetas da vaca enchendo o copo da moça e, em seguida, entrega-la para prosseguir sua faina diária. Tirar leite para um, tirar leite para outro e as moscas a azucrinar com o vaqueiro com suas mãos, espanta-las, sentado em seu banco de três pernas. Nesse ponto, Tiana teve que sair, arrotando pelo leite que tomou. Outros vaqueiros passaram para um fundo do quintal falado sobre algo que não se podia deduzir. E a moça foi para a cozinha ajudar a Maria nos afazeres do dia da manhã.
Pouco mais das sete horas, a família estava toda reunida na mesa para cuidar da pança. Toda, menos o menino Aldo que ainda dormia. Gastão naquela hora, falou ter que ir à cidade. Se tivesse algo ele tomaria conta. Caso contrário, voltaria logo cedo, antes das onze horas.
Gastão
--- Jornais do dia só amanhã. Duvido que venha hoje. Também! -- - falou sem ter certeza
Nesse instante, entrou o capataz Carcará. O que estava a falar era sobre uma res. A vaca morreu talvez por um choque de algum relâmpago na noite passada. Ele esteve a vadear por todo o extenso campo procurando o gado. Alguns deles, extraviaram-se. Só encontrou uma res morta. E retirou o chapéu da cabeça pondo-se a abanar como estivesse fazendo calor.
Maria
--- Café? - - indagou a mulher com o seu olhar matuto
Carcará
--- Um pouco. - - respondeu sem fé. Ele estava triste com a morte da vaca.
Gastão
--- Só uma? - - indagou com relação a vaca morta.
Carcará
--- Até agora, sim. Os vaqueiros estão em busca pelo cercado. Lá longe. Merda! - -
Gastão
--- É merda mesmo. Foi chuva braba. Relâmpagos sem fim. Eu penso que tem mais vacas mortas. Que merda mesmo? - - falou desgostoso.
Com um pouco mais, Gastão teve que sair para o seu serviço na capital. Ada lembrou dele passar no Apartamento e ver se tudo estava em ordem. Ela lembrava do seu equipamento, o telescópio que havia deixado com a cobertura por todo o canto. O homem respondeu que sim e ficaria no trabalho o tempo de pudesse. Nesse ponto, o garoto Aldo veio do quarto onde dormira. Ele estava ainda com o consolo na boca e o pano caindo ao solo. Meio com sono, Aldo deitou no colo de Tiana onde pretendia dormir mais um pouco. A moça nada reclamou e, pois, o menino um pouco mais confortável, como podia. Ada caminhou até o cercado como se não tivesse ido outrora. Ela olhou o céu ainda nublado e comentou para si.
Ada
--- Céu carrancudo! Deve chover ainda hoje, - - 

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

SUPLÍCIO DE UM MISTÉRIO - 17 -

- TROVÃO -
- 17 -
CLARÃO - 

O açoite de um relâmpago fez todos tremerem de susto. Em poucos instantes, o trovão irrompia. Enfim, era o caos. Ada assumiu o volante e tocou o pé para maior velocidade. Mais que o relâmpago era o trovão a parecer um bicho brabo do mato. Uma onça ou uma pantera negra de olhos brancos. Nesse mesmo instante, o garoto Aldo, estremeceu de angustiante pavor procurando o colo de sua babá, Tiana. E ele se enrolou nas cochas de sua protetora.
Aldo
--- Um ronco! - - gritou o menino
Tiana
--- Trovão! Nada de mais. - - sorriu sem querer.
Aldo
--- Tenho medo! - - disse o garoto entre as pernas da moça.
Tiana
--- Não faz mal a ninguém. - - sorriu
Aldo
--- Mande parar! - - relatou por entre as penas da moça
Ada
--- Que é isso, menino. Foi apenas um trovão. E lá vem outro! - - disse a sua mãe, enraivecida.
E o trovão veio mesmo de uma só vez. Um ronco medonho que estremeceu toda a terra em volta. A mulher estremeceu de toda. E rogou praga sem temor. Dentro de hora e meia, Ada chegou ao sítio. Chovia intensamente. A mulher deu uma buzinada e Carcará, como sempre, veio compressa abrir a cancela. Todo molhado, mesmo pela curta distância entre a entrada e a cancela, ele, mesmo assim, abriu de todo os pés de pau, como se estivesse preocupado até demais por ver a patroa sem o seu marido. Logo após, Carcará indagou.
Carcará
--- O patrão? - - indagou demonstrando preocupação
Ada
--- Na cidade. Eu vim na frente. Chuva demais. Está faltando luz? - - quis saber
Carcará
--- Desde cedo. Com certeza é por essa tromba d’água. – - disse ele.
Ada
--- Que nada. Foi uma torre que caiu para os lados de Santa Cruz. - - declarou
Carcará
--- Verdade? É coisa preta! Caiu mesmo? - - assustado
Ada
--- É o que dizem. Eu vim para o sítio. Tem água? - -
Carcará
--- Tem o chafariz. Água não falta. Nem luz também. –
Ada
--- É o que pensei. - -
Após estacionar o carro, Ada começou a retirar todas as coisas que trazia, desde comidas até vestuários de todos, inclusive de Tiana e Gastão, esse, o seu marido. Tiana, a doméstica, ajuntou tudo e levou para dentro de casa com a ajuda de Maria, senhora de Carcará, o capataz. A moçada ficou por perto esperando alguma ordem. O tempo bradava por demais. Relâmpagos acoitava o Céu sendo acompanhados pelos trovões. O gado se amoitou dentro do curral sobre os cuidados dos vaqueiros. Os de menor, vigiava os burros e cavalos e animais de menor porte. Após o almoço Ada e Tiana procuram guardar toda a roupa nos armários de dentro amplos quartos de tamanhos enormes, feitos por artesãos de antigamente.
Tiana
--- Nossa! Isso que é quarto! - - declarou a olhar os armários, camas, colchoes e até penicos posto por entre a cama e a parede do quarto
Ada
--- Hoje não se faz mais nada assim! - - relatou arrumando as tralhas
Entrementes, chegou o homem Gastão em um outro carro. Ele estava exausto. E ficou temeroso por tanto temporal. Esse novo auto ele havia adquirido em uma Concessionária ao lembrar de Ada. Assim, a mulher estava com um auto e ele com outro. E aproveitando a chuva, Gastão preferiu investir em novo veículo que, na verdade, não era tão novo assim. Uma segunda mão apenas renovado. E a aquisição trouxe medo a todos. Ada, sua mulher, quis logo saber.
Ada
--- De onde foi esse candango? - - indagou com as mãos nas ancas.
Gastão
--- Comprei! - - respondeu sorrindo
Ada
--- Comprou? Onde? - -  espantada
Gastão
--- Não Loja. Não é novo. Mas dá para o recado. Agora, você o seu. E eu tenho esse candango. - - respondeu sorrindo e abraçado o seu capataz.
Ada
--- Agora deu! - - disse a mulher com a cara abusada.
E a conversa prosseguiu por conta da falta de energia, água e mesmo comidas estragadas que se deixa do armário. Foi muita conversa. No dia seguinte, Gastão teria que voltar e rever a situação de seu Apartamento, os materiais de telescópios entre outras coisas que porventura poderiam se estragar com o tempo. No final de tarde ele teria que conversar com seu capataz. As mulheres cuidavam dos arranjos para o dia seguinte. O menino Aldo queria apenas dormir temendo os trovões. E se agarrou a Tiana, pendurado pelo braço com suas pernas como se estivessem amarras as de Tiana e assim foi ele adormecer sob o soar dos trovões. Tiana ficou um pouco no quarto até Aldo pegar no sono. Chovia muito nessa ocasião. Os trovões eram de estraçalhar os mais temerosos.
Ada
--- Menino! Que trovão! Chega me assuntou! - - reclamou temerosa
A noite parece ter sido longa. Havia luz na casa por força do gerador. O gado a mugir de quando em quando. Mas todo o resto era silêncio, menos por conta do gerador a zoar constante como se fosse o ronco de um monstro. Às dez horas ou mais da noite, todos se recolherem aos seus cômodos. O silencio da noite era quebrado apenas pelo rugir da trovoada e nada mais. A madrugada chegou, e os vaqueiros retiravam leite das vacas e depositavam nos tambores para entregar aos motoristas que chagavam cedo da madrugada. Era a sina de todas as madrugadas desse pessoal, mesmo com chuva ou sereno. O capaz Carcará já estava atendo para receber o pagamento ou anotar na caderneta de compra e venda, se fosse o caso.
Carcará
--- Está havendo falta de luz onde tu moras? - - perguntava a um motorista
Motorista
--- Parece que é no mundo todo. - - dizia o motorista
Carcará
--- É mesmo. - - cuspiu o fumo com as mãos nos quadris.
Motorista
--- Mataram dois, noite passada. - -
Carcará
--- Conhecidos? - -
Motorista
--- Fugitivos da cadeia. - -
Carcará
--- Menos dois. - -
O motorista sorriu

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

SUPLÍCIO DE UM MISTÉRIO - 16 -

- TEMPORAL -
- 16 -
CHUVA

O dia amanheceu totalmente chuvoso. Trovões rimbombavam a cada instante. De onde se estava, não dava para vislumbrar nem mesmo a praia com mais profundidade. Nada era permitido de andar para a zona sul onde estava a Universidade. Ada fez questão em alertar quem pudesse de não poder sair de seu apartamento àquela hora da manhã. Gastão foi quem pode sair tão logo a chuva aplacasse. Pescadores transitava pelo alto da avenida levando seu peixe para vender no mercado. Os ônibus paravam de circular por causa do temporal naquele instante. Dona Corina até a manhã bem cedo não aparecera. O garoto Aldo também não pode sair para assistir aula maternal. Um vento forte zoava cada instante. As lavadeiras foram outras a não sair de casa para ir ao tanque. Uma cratera se abriu na ligação entre o bairro do Baldo e a Cidade Alta, obrigando aos motoristas transitar com seus autos para parte alta do Tirol.
Mecânico
--- É o mundo todo! - - gritava sorridente
Na ponte do Igapó, um desastre. Um ônibus que vinha para o centro da cidade, derrapou e ficou preso com a metade para dentro do rio. Houve pânico geral. Mulheres e meninos choravam com temor do perigo do ônibus derrapar de vez para dentro do rio. Foi gritaria sem precedentes. Os demais carros ficaram presos sem poder passar de um lado para o outro. Nem mesmo um guindaste pode seguir para o local do acidente. Bombeiros da Policia estavam ocupados em outras ocorrências. Nada podia ser feito na ponte de Igapó. As lanchas que transitavam da Redinha para a Ribeira, bairro de primeira necessidade, ficaram enganchados no cais da Avenida Tavares de Lyra, pontos de embarque e desembarque
Tiana
--- Está ruim mesmo. Agora faltou luz. Ninguém pode nem descer do apartamento! - - tremendo de medo.
Aldo
--- Maínha! Vou me deitar. - - declarou tremendo
A falta de energia afetou toda a cidade. Não se podia nem pensar do se podia ser feito. Uma Torre de alimentação de luz se rompeu em Santa Cruz, município distante da capital, precipitando o corte de energia para todo o Estado.
Ada
--- E agora? O que eu faço? - - de olhos aboticados
Tiana
--- É esperar que Deus dê bom tempo! - - lamentou
Ada
--- Onde foi que houve acidente? - -
Tiana
--- O homem do rádio disse ter sido em Santa Cruz! - - informou
Ada
--- Santa Cruz? Isso é longe! E agora? - - indagou alarmada
Na Cidade, os jornais não puderam sair por falta de energia. Esperava-se que um deles pudesse colocar um gerador de energia colocando naquele dia tudo em ordem. Mesmo assim, isso era difícil de se colocar um gigante a gerar luz. Contudo, foram à frente. Os jornais do dia foram impressos na Paraíba e apenas chegaram a Natal por volta das 9 horas da noite
Gastão voltou para o seu apartamento antes do meio dia falando com Ada sobre o ocorrido. Ele não sabia o sucedido com a Torre de Santa Cruz. Veio saber por meio de Tiana. A moça ouviu contar ter uma Torre despencado próximo à Cidade de Santa Cruz, duas horas de meia de Natal e que poderia haver falta de água por esses dias.
Gastão
--- Água? Quem disse isso? - - espantado
Tiana
--- O homem que tem um rádio aí em cima. - - e apontou com o dedo
Gastão
--- Leopoldo? Vou saber dele! - - e correu para o andar de cima
Ada
--- Quem disse isso a você? - - perguntou a Tiana
Tiana
--- A empregada da casa. - - declarou
Ada
--- Eu não sabia disso! - - alarmada
Tiana
--- Mas eu disse a senhora! - - alertou
Ada
---Você me disse? - - perguntou
Tiana
--- Parece que sim. Falei em Santa Cruz. E em todo o Estado. - - declarou
Ada
--- Parece que sim. - - preocupada.
Tiana
--- E a luz? - - perguntou
Ada
--- E a luz!!! Vamos para Macaíba! No sítio tem cata-vento! Vamos embora! - - assustada
Tiana
--- E a chuva? - -
Ada
--- Passou mais. Vamos embora. E já! - - arrumou o que tinha de levar
Aldo
--- Mainha, estou com fome. Tem sopa? - - perguntou o menino na hora de se levantar antes do meio dia.
Ada
--- Lá vem você. Tiana, prepare uma sopa para o menino. - -
Tiana
--- Eu já fiz. Está na panela. - -
Gastão voltou de imediato e disse a mulher que Leopoldo tinha saído.
Ada
--- Nós vamos para o sítio. –
Gastão
--- Agora? - - assustado
Ada
--- Que horas pensa que vamos? - - com as mãos nos quadris
Gastão
--- Mais tarde. E eu tenho que ficar. - -
Ada
--- Fazendo o que? Pois vamos nós. Tiana, assume a trouxa. - - falou brava
Tiana
--- Aqui tem tudo arrumado. - -
Gastão
--- E eu? - - preocupado
Ada
--- Você se ajeita por aí. - - relatou enquanto virava tudo

SUPLÍCIO DE UM MISTÉRIO - 15 -

- TEMPORAL -
- 15 -
NOITE -

Certa noite, todos já dormiam, inclusive Ada, pois a chuva empatava ver as estrelas pelo telescópio e, desta forma, o sono não deu trégua na astrônoma, fazendo com que a mulher fosso dormir mais cedo. Tiana também adormecera com temor dos relâmpagos e trovoes a açoitarem toda a cidade, sem clemência. E, por certo, Aldo também dormia em sua cama nova. O sono era tranquilo que ele nem mesmo mexia a perna, dando sinal de acordar. Era uma noite de chuva intensa que começara no meio da tarde, para todos os efeitos. Gastão adormecera logo após o jornal da TV. O frio também era mais intenso. O ribombar dos trovoes fazia com o susto nas pessoas fosse mais agudo. Era esse o sinal do inverno intempestivo. Foi então que Aldo, adormecido, se encontrou com uma menina dos seus quatro anos, bem cheinha de gordura e de nome Bianca. Ele estava dormindo, porém, em seu sonho, brincava com um trem elétrico puxado por uma locomotiva com ranhura musical
A menina Bianca tinha uma cozinha bem arrumada, com liquidificador, assadeira de pão, pratos para lavar, panelas, copos e xicaras, todo isso de brinquedo. E a menina, bem tranquila, dizia a Aldo que tudo aquilo foi dado por papai Noel, na festa do natal passado. O garoto respondia que o seu trem com comprado por seu pai, mas não era para dizer a ninguém, pois se tratava de um presente de natal. E os dois meninos brincavam em baixo de uma árvore bastante frondosa, possivelmente cajueiro ou mangueira. Fazia sol. Porém não os incomodava porque a sombra da árvore aquietava os garotos. Bianca trajava um vestido longo, todo branco, com rosas de cor, meias longas, cobrindo os pés, sapatinhos cor de rosas, iguais com toda a vestimenta. E a própria garota também era alva com cabelos loiros descendo pelo pescoço. Era ela uma verdadeira boneca encantadora depositada em uma vitrine de cristal.   
Aldo
--- Meu trem tem música bruuuuuuu! Olha? - - falou o garoto a Bianca
Bianca
--- Aqui tenho tudo o que eu quero. - - e fez o seu jeito de enxugar os pratos
Aldo
--- Teu pai comprou aqui mesmo? - - indagou
Bianca
--- Foi Papai Noel quem me deu! - - falou a criança
Aldo
--- Que idade você tem? - - quis saber
Bianca
---- Quatro – e fez com a mão expondo os três dedinhos
Aldo
--- Eu vou fazer quatro. Não sei quando. Parece que no mês que vem. - - fez um gesto com a mão
Bianca
--- Você já pediu a Papai Noel o seu presente? - - indagou tocando na panela
Aldo
--- Eu não. Meu pai compra. Se eu pedir vai ser um burro pedrês. - - relatou
Bianca
--- Pedrês? Que burro é esse? - - lembrou
Aldo
--- Um burro bem grandão! - - fez o menino esticando o braço
Bianca
--- Eu quero que Papai Noel de traga um presente em segredo. Eu digo só a ele conversando no ouvido do Bom Velhinho. - -
Aldo
--- E ele gosta de segredos? - -
Bianca
--- Gosta. Eu só peço em segredo. - - relatou enquanto preparava a comida de brinquedo
Aldo
--- Pois eu vou escrever uma carta para o Velho e mando pelo Correio. - -
Bianca
--- Você achou seu carrinho? - - indagou fazendo a mesa
Aldo
--- Que carrinho? - - perguntou
Bianca
--- Um que você perdeu, um dia! - -
Aldo
--- Não. Ele foi roubado por um velho. - -
Bianca
--- Velho? Que velho? - -
Aldo
--- Um grandão. Ele esteve na minha casa. E desapareceu. - -
Bianca
--- Pois o velho me disse que escondeu de você em um baú. - -
Aldo
--- Quando ele disse? - -
Bianca
--- Não sei. Faz tempo. - -
Aldo
--- E por que me disse agora? - -
Bianca
--- Eu vi mais você. –
Aldo
--- Vou buscar. – - e saiu correndo
Nesse momento, o garoto acordou. Estava tudo escuro no interior do Apartamento, salvo por uma lâmpada na cozinha. O garoto se levantou da cama e saiu devagarzinho a procura do baú onde sua mãe guardava objetos antigos, em um depósito de um cômodo no final do AP. E por lá buscou encontrar o tal brinquedo sumido há algum tempo. Mexeu em tudo procurando o tal carrinho. Quando já estava perdendo a esperança, o encontrou. E gritou
Aldo
--- Viva. Achei o meu brinquedo. Viva! - - gritou alarmado por achar o seu carrinho
Nesse ponto, chegou igualmente vagarosa a babá Tiana. E foi logo perguntando.
Tiana
--- Que está fazendo, garoto? - -
Assustado, Aldo respondeu escondendo o carrinho por traz de suas costas.
Aldo
--- O carrinho perdido. - - choroso
Tiana
--- Está vendo? Está vendo? Deixando a gente maluca por um carrinho desses! - - olhar firme
Aldo
--- Mas ele é o meu carrinho. - - chorou
Tiana
--- Quem te disse que estava nesse baú? - -
Aldo
--- Bianca, minha amiga de sonho. - - chorando


quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

SUPLÍCIO DE UM MISTÉRIO - - 14 -

- GAROTO -
- 14 - 
MEDO

Certa noite, altas horas, Tiana já dormia em sua cama quando foi despertada pelo menino de mais de dois anos. Aldo veio de pé ante pé e se deitou também naquela cama estreita e logo adormeceu. A moça ficou alarmada com aquela estranha figura. E se levantou puxando o menino para acordá-lo de vez e saber qual o motivo do infante vir dormir em outra cama.
Tiana
--- Acorda menino! Acorda! Quem te mandou para cá? - - insistiu a moça
Aldo
--- Tenho medo. Um bicho! - - declarou o garoto com o rosto tapado com um lençol
Tiana
--- Que bicho que nada! Levanta! Vamos! - - e pegou o menino levando para o seu berço
Aldo
--- Tenho medo. Tenho medo! O bicho está lá. - - dizia o garoto com o rosto encoberto com o vestido e Tiana
Tiana saiu apressada e tocou na porta onde dormiam Ada e Gastão em sono profundo. Após três toques suaves, Ala acordou sonolenta. E perguntou:
Ada
--- Tiana? - - indagou
Tiana
--- Sou eu mesma. – - e foi abrindo a porta com o menino nos braços
Ada
--- Que houve? - - indagou enquanto via o garoto encolhido no colo de Tiana
Tiana
--- O menino foi dormir na minha cama agora mesmo. A desculpa é de que está medroso. - -
Ada
--- Medroso? Com que? - - e levou o menino para o seu berço onde pôs o garoto
Tiana
--- E eu sei? Coisa de menino! Acordou assustado e saiu correndo daqui. –
Ada
--- Ora essa! Vá dormir aqui. Moleque! - - disse a mãe meio brava.
Gastão
--- Que está acontecendo? - - sonolento
Ada
--- Esse moleque. Foi dormir na cama de Tiana. - - disse a mãe
Gastão
--- Por que ele fugiu? - -
Ada
--- Sei lá. Coisa dele mesmo. - - e voltou a se deitar.
Tiana
--- Desculpe, senhora. Vou ver se durmo ainda. - - desculpou a babá
Ada
--- Va dormir. Eu cuido dele. - - abusada
Aldo
--- O bicho está ali. - -
Ada
--- Durma que ele vai embora. - -
Aldo
--- Vai não. Ele quer me pegar. - - lamentou o garoto
Ada
--- Você que apanhar? Vem dormir aqui, com teu pai. - -
E o garoto pulou do berço e foi para o meio da cama.
Gastão
--- Deixa ele aqui. Eu vou espantar o bicho! - -
Aldo
--- Vai mesmo? Ele está ali, sorrindo. - -
Gastão
--- Está bom. Vou desligar a luz para ele partir. –
Aldo
--- Não. A luz, não! Com escuro ele vem p’ra cima de mim. –
Ada
--- Tá bom. Deixe acessa! Agora, durma! - - a acolheu o pequeno na cama
No dia seguinte, o garoto estava à procura de um brinquedo entre os tantos que Aldo tinha. E procurou por todo meio sem achar nem sombra. Foi até a cozinha e voltou depressa. Ada indagou de Corina que estava procurando o garoto.
Corina
--- Nem o vi aqui. Onde ele está? - - indagou assustada
Ada
--- Brincando. Mas procura um brinquedo comum e não encontra. - - sorriu
Tiana
--- Eu não sei de brinquedo! Onde você colocou? - - foi o que Ada ouviu quando a babá falou na sala de entrada
Aldo
---Eu coloquei aqui, com os outros. - -
Tiana
--- Então deve estar aí. - -deu busca também
Aldo
--- Não está. - - respondeu abusado
Ada
--- Que brinquedo é esse? - -
Aldo
--- Um carrinho de brinquedo. Ele estava aqui. - -
Ada
--- Vamos ver se achamos. - - disse a mãe do garoto
E se procurou o carrinho por todo canto da casa e nada se se encontrar. Tiana vasculhou pela estante, em baixo do berço, por cima do armário, na cozinha, em tudo o que se podia colocar esse brinquedo, e nada encontrou
Tiana
--- Você não o brinquedo a alguém? Outro menino? - - quis saber
Aldo
--- Não dei brinquedo a ninguém. Meus brinquedos são só meus.
Tiana
--- Imagine! - - disse a moça à Ada.

sábado, 14 de janeiro de 2017

SUPLÍCIO DE UM MISTÉRIO - 13 -

- BATIZADO -
- 13 -
BABÁ -

Com poucos dias de nascido, Ada já arranjou uma babá de nome Tiana para cuidar do neném. A moça era delicada, protetora e gostava de passear pela cedinho com Aldo pela calçada do edifício, quando fazia sol. Como dia era de sol, Tiana estava acolhida com o neném junto com outras amigas. Umas, conduziam uns carrinhos de bebê estilo Conforto. Outras, acudiam apenas no braço as crianças tenras. As horas de passeio ficavam mais divertidas e bonitas. Com um desenho moderno e na cor rosa, os carrinhos traziam mais sofisticação e leveza nos momentos de condução, levando conforto ao recém-nascido. E assim foi que Tiana começou o seu labor diário e levar a criancinha de nome Aldo a passear todos os dias no parque do edifício, com carinho e com afeto. A mãe da criança, ainda bebê, sempre olhava lá de cima onde Ada tinha seus aparelhos de telescópio montados, para ver como fazia Tiana com o seu filho. Passeios, conversas com outras babás, olhar o mar, carros a passar, pássaros a gorjear. Todos esses encantos que dava gasto a ver de perto ou mesmo de longe, do alto do apartamento. Os meses foram se distanciando e Tiana cada vez mais ia ficando mais amena do o filho de Ada. Na Fazenda, em Macaíba, distante de qualquer outro recanto. Ou no médico, para dar seu diagnóstico para qualquer problema surgido.
Logo ao domingo, Gastão acertou com o Vigário da Igreja para o batismo da criança. Estava fazendo um mês que Aldo havia nascido. Tudo pronto, padrinhos acertados, a babá Tiana com o neném fazendo a fez de “madrinha de bunda” foram eles, a mãe Ada, o pai, Gastão, os padrinhos e o bebê. Toda arrumada, da cabeças aos pés, a criança nem sabia o que seria feita com ela. Após a preleção o padre benzeu a criança depositando sal na língua de Aldo e lhe ungindo a cabeça com água benta. O berreiro foi total. Ao sentir a água em sua moleira o bebê postou-se a chorar. E a babá sorriu, retirando Aldo para canto distante. Os demais, sorriram de monta. Todos já sabiam que Aldo não se conformara com aquele banho frio, bem cedo da manhã. E foi assim que se deu. Depois do batismo, no AP de Gastão, bolos e café para os que não haviam tomado banho nas suas moleiras.
A vida prosseguia igual a um relógio. Tiana com o seu bebê passeava pela manhã sob o olhar da mãe de Aldo. Passaram-se meses e Aldo tomava corpo a cada dia. Aos seis meses de idade, ela já rejeitava os mamilos de sua mãe. Ada o depositava no carrinho de bebê. Às vezes colhia o neném para passear e cantava modinhas que o nem gostava de ouvir
Ada
--- Bom barquinho, bom barquinho deixarás passar, carregado de filhinhos para ajudar a criar.
Esse era o tipo de modinha que Aldo ouvia e remexia os pés em sinal de aprovação. Sorria demais soltando um gritinho para ouvir de novo. Tiana sorria com as travessuras da criança. As duas mulheres passeavam por todo o recanto, no baixio do majestoso apartamento com a criança bem sadia e feliz. Em dias de chuvas, Tiana se recolhia com Aldo para evitar a criança se molhar
Ada
---- Cuidado! O tempo está frio! - - relatava.
Tiana
--- Vai chover o dia todo. - - argumentava
Em um domingo de sol, Aldo já estava em posição de andar a cavalo. E foi assim que ele se pôs a cavalgar em companhia de Tiana, no cercado de Macaíba ao olhar de Ada, Gastão, Carcará, o vaqueiro e demais pessoas. Aldo montado no cavalo, seguro pela babá sorria de contentamento. O cavalo Manso, era um dos muitos equinos que havia no cercado muito longe para mais o que a vista tinha visão. Mesmo assim, Tiana se protegeu, cavalgando apenas do terreiro da frente da fazenda. Todos sorriram com a destreza a moça, por ter mãos firmes e seguras a cavalgar segurando o menino
Vaqueiros
--- Boa, boa, boa. Assim mesmo. - - gritavam todos
Após a peleja, a turma tomou seu lugar no alpendre da fazenda. O menino Aldo foi quem demostrou sua aptidão por ser vaqueiro. Inda criança, quando voltava, sempre queria montar a cavalo. E de pronto, quis usar até mesmo roupa de vaqueiro. Sob argumentos de “mais tarde você veste”, o menino se inquietava até o ponto de se mandar fazer uma roupa para caber no garoto. Chapéu, gibão de couro, perneira, peitoral entre tudo o que se usava para ser um bom vaqueiro. Quase toda a semana, Ada e seu marido, chegavam da capital conduzindo o garoto e Tiana para fazer a festa. Aldo já estava com um ano de idade. A primeira feita na fazenda: o aniversário de Aldo. Comidas e bebidas com fartura e até mesmo seus avós estavam presentes. Brindes e brindes se faziam compor na festa de primeiro ano. E o garoto feliz da vida com toda a sua roupa de vaqueiro.
Avô
--- Esse menino vai ser um bom vaqueiro. - - dizia o velho
Ada
--- Mas é claro! Tem sangue da família. - -
Avô
--- Verdade. Verdade. Tem sangue de meu avô. - -
Após o almoço e o descanso só restava contar fábulas. E cada qual as melhores. Até mesmo do burrinho pedrês ou do padre que celebrou missa apenas para uma vaca. Todos sorriram com as astucias do velho avô, inclusive o menino Aldo costumando-se a dizer
Aldo
--- Eu nunca vou esquecer essa! - - e gargalhava
Passaram-se os dias e meses. O menino crescia a cada vez mais. Tiana cuidava do garoto e sua mãe cuidava de olhar as estrelas, á noite. O pai o colocava no colo certas vezes e a doméstica ficava a olhar para o garbo infante. Era uma vida tranquila. Aos sábados, o menino corria à praia a colher conchas do mar. Tiana as recolhia. A sua mãe, sorria pelas peraltices do garoto. As meninas também corriam ao leu. Eram meninas pequenas. Elas ofereciam conchas ao garoto. Ele as aceitava. O seu pai conversava bobagem com os pais das meninas. Esse papo de conversa de botequim. Quando dava a horar, o homem, sua mulher, a doméstica e o menino seguiam de volta para o apartamento. No AP tomavam banho e descansavam um pouco. Era aquele o início da vida
Certa vez, o garoto quis saber de Tiana
Aldo
--- Tiana. O vaqueiro tem reza? - - quis sabe
Tiana
--- Sei não. Por que? - -
Aldo
--- Por nada. Só perguntei. - - relatou
Tiana
--- Só conheço uma de um cantador de sanfona.
Aldo
--- Sanfona? O que é isso? –
Tiana
--- Sanfona é fole. - -
Aldo
--- Fole? Essa é boa! Fole! - - sorriu o menino
Tiana
--- Fole é acordeom, menino. - - falou meio zangada
Então foi que o menino gargalhou sem parar a se rolar pelo chão atapetado da sala.
Ada que vinha chegando, perguntou.
Ada
--- Que história é essa? - -
Tiana
--- Aldo quer saber o que é fole. –
Ada
--- Fole? Não é sanfona? - -
Tiana
--- Eu disse a ele. - -
E o menino se torceu todo a gargalhar.
Ada
--- Que é isso, menino? - - arrogante
E o menino não para de gargalhar. 

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

SUPLÍCIO DE UM MISTÉRIO - 12 -

- MÃE E SEU FILHO -
- 12 -

FILHO -
Após horas. Ada entrava em serviço de parto na Maternidade. O seu marido, Gastão, ficou de pé na entrada da Maternidade, com a mão na cabeça a pensar mil coisas. Às vezes voltava e sentava em uma cadeira. De outra levantava para indagar a moça atendente o tempo. Voltava para olhar a rua e ver carros a passar de um lado para outro. Depois voltava a sentar. E assim continuava no vai e vem sem parar. Indagava se o médico já estava com sua mulher. Se tinha anestesista. Quantas enfermeiras. Então indaga se era parto normal. E ficava nessa lengalenga no vai e vem de um pai pela primeira vez. Ele olhava para o relógio do hospital e acertava o seu
Gastão
--- Que horas, por favor! - - indagou a atendente
Atendente
--- Sete horas. - - tinha a resposta
Gastão
--- Demora muito? -  - indagou apreensivo
Atendente
--- Não veio nenhuma notícia até agora. - -
Gestão
--- Deve demorar. Por favor tem cigarro? - - perguntou ele a atendente
Atendente
--- É proibido fumar nesse hospital.  E eu não fumo. - - respondeu
Gastão
--- Ah sim. Tem razão. - - desgostoso.
Quando menos esperava, apareceu uma enfermeira no saguão da Maternidade. A moça vinha sorrindo e procurou por seu Gastão. E de repente ele se voltou para enfermeira. Ela relatou com efeito
Enfermeira
--- Seu   Gastão? Podemos subir! - - sorrindo
Gastão
--- Eu já posso. Eu já posso? Com está a minha mulher? E o bebê? - - alegre de fazer medo
Enfermeira
--- Ada está ótima. O bebê também. Vamos! - - sorrindo
E os dois seguiram para o apartamento onde Ada estava no segundo andar, do lado direito. Gastão passou por uma mulher que estraga o chão com um roldo tendo ao lado um vasilhame onde despejava tudo o que retirava do liso solo todo branco. O homem chorava copiosamente ao penetrar no recinto onde se encontrava a sua amada. Quase correndo, esfregando as mãos, ele quis pergunta tão de repente. Mas foi Ada quem falou
Ada
--- Veja seu filho! - - disse ao ver o bebê se amamentado
Gastão
--- Ele é ele. É? - - indagou querendo ver o menino.
Ada
--- Não está vendo? Quatro quilos. Um meninão!  - - relatou vendo o seu filho
Gastão
--- Eu nem posso sustenta-lo. Dá medo. - - relatou esfregando as mãos
Enfermeira
--- Já tem nome? - - indagou a olhar o neném
Ada
--- Aldo! Que achas? - - indagou
Enfermeira
--- Aldo! “Aquele que é nobre”. Belo nome. - - respondeu
Ada
--- Era o nome do meu bisavô. Que achas, Gastão? - - sorriu
Gastão
--- Belo nome mesmo. Aldo. Também significa Ald, “o sábio”. - - sorriu
Ada
--- Nem pensei nisso. O sábio? - - indagou
Gastão
--- Sim. O sábio. Lindo nome! - - relatou
Ada
--- Pois ele vai ser o nosso “sábio”. Deixa está. - - e a mulher se deslocava um pouco para melhor amamentar
Enfermeira
--- O sábio! Que nome? O sábio! Vou anotar na minha caderneta de nomes célebres. - - relatou
Uma semana e Ada e o seu filho Aldo estavam em seu AP. Ela, amamentado o pequeno sob a sombra de Gastão que olhava o mar, sentado, de pernas esticadas e pensando em nada. O barco de pesca adentrava à costa, com sua vela branca panda ao vento. Era maravilhoso se observar os barcos de pesca vindos de mar bravio.
Gastão
--- Parece um sonho. De onde ele vem? – - matutando. 
Ada
--- Quem, amor?  - - quase preocupada
Gastão
--- O barco. Chega a passar quatro dias em alto mar. Fico a imaginar. De onde ele vem? - -
Ada
--- Só Deus sabe. É muita aventura. Os pobres coitados passam dias e mais dias. –
Gastão
--- E a gente ainda fica a reclamar do preço de peixe. - -
Ada
--- É porque a gente não vai pescar. Dia e noite. É um tormento! - -
Gastão
--- Por acaso. Tem peixe no freezer? - -
Ada
--- Acho que sim. Você quer? - -
Gastão
--- Não sei. Corina está em casa? - -
Ada
--- Sim. Quer que eu a chame? - -
Gastão
--- Não é preciso. Eu vou mesmo. - - e arrastou a cadeira
Ada
--- Vai chover.  - -
Gastão
--- Está coberto. - - ele se referiu ao telescópio.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

SUPLÍCIO DE UM MISTÉRIO - 11 -

- CASAMENTO -
- 11 -
CASAMENTO -

Alguns dias depois, antes de viajar a São Paulo, o casal estava pronto para o casamento. Ele, de roupa grã-fina, na maior elegância do mundo, traje azul marinho feito sob medidas com seus assessórios, uma grata vermelha em forma de borboleta presa a garganta, sustentando uma camisa branca e, a noiva, em traje de branco longo cobrindo os pês, um véu, a face, uma coroa de prata em cima da cabeça com um par de botas finas, todas brancas, enfeitadas de bordas douradas indo até a canela, nem por isso a mostrar sua enigmática sensualidade, tendo às mãos um cacho de rosas. A noiva estava pronta para seguir até o altar. Toda pintada, a face era um visor para alguém que a visse, sorridente e delirante, entrar na Igreja dos Capuchinhos. O órgão iniciou a Marcha Nupcial. O toque de três trompetes com a melodia de Uma Odisseia no Espaço, ao som de tambores, surdos, violinos e pratos, ela, enrubescida, se punha do lado de fora do portal do Convento, à espera do final de entrada, acompanhada do seu padrinho de cerimônia. Em seguida, a melodia triunfal de Mendelssohn, dava abertura ao altar, da apreensiva noiva. O noivo não suportou a emoção e, então, chorou comovente. Era um delírio incontido da parte do noivo. Ada, sorridente, caminhava solene, em trajes claras, com o seu padrinho. Várias pessoas que estavam no caminho da Igreja, também choraram de emoção. Flores ao leu enfeitavam o caminho da noiva. Em seguida, Ada parou para receber a mão do seu noivo. E um abraço fraternal do padrinho.
Após a cerimônia religiosa, os nubentes caminharam até fora da Igreja sob aplausos comoventes de vários circunstantes para tomar um coche que os levaria até um salão de baile. Eles estavam emocionados. Beijos furtivos encobriam a face de Ada dados pelo seu noivo. A festa rolou por longas horas sem fim. O pai de Ada não se furtava aos brindes. Com suas canecas, levantava até o alto a festejar a noiva, A sua mãe, emocionada, continuava a chorar.
Mãe
--- Minha filha. Minha filha querida. Que Deus te faça feliz para sempre. - - disse chorando
Ada
--- Obrigada, mãezinha! Seja feliz a senhora! - - lagrimas na face
Pai
--- Viva a noiva! - - dizia o velho já cambaleante.
Entre mil abraços, os noivos seguiram direto para o Aeroporto. Naquele dia, eles rumaram para São Paulo. A noiva trocou de roupa. Corina foi quem ficou ajeitado tudo em seu baú. Ainda chorosa pelo que viu na Igreja, a mulher deseja:
Corina
--- Deus te guie. - - lacrimosa.
No outro dia, depois do almoço no Hotel, Ada foi buscar os melhores equipamentos de observar o espaço e todos os demais que se fizeram necessários. Buscou em um e outros locais, logo, logo resolveu ficar com aquele primeiro. Dois dias de pesquisa e conversas com especialistas Ada decidiu por adquirir aquele que mais servisse. Telescópio astronômicos. Seus acessórios, TVs para monitorar os astros. Tudo o que fosse necessário para um iniciante em pesquisa celeste. Ada sabia muito bem, pela experiência adquirida que os telescópios podiam ser os refratores. Esses exigem prisma diagonal. Os refletores exigem mais cuidados e manutenção, como corrente de ar que embaçam a imagem. De um ou de outro, ela preferiu ficar com o segundo. Binóculo era essencial.
Ada
--- Esse aqui é bom! - - declarou
Arrumado tudo e sem faltar mais nada, Ada sorriu para o seu marido. Esse de nada pode oferecer como sugestão. Apenas sorriu de volta. Revistas astronômicas eram também importantes. Uma delas, Ada a tinha em seu baú. Na Universidade, tinham muitas revistas. Outros colegas de estudos já haviam montado seus aparelhos nas próprias residências onde habitavam. Alguns, até mesmo nas fazendas, longe de cidades. Nos campos propriamente ditos.
Gastão
--- Você pensa em montar tudo isso em nosso apartamento? - -
Ada
--- Sim. É melhor do que em Macaíba. Não perco esse negócio de vai e vem. - - sorriu
Gastão
--- E se chover? - -
Ada
--- Com chuva ou sem chuva eu vou p’ra lá! - - risadas
Gastão
--- E em Macaíba? - - quis saber
Ada
--- Que? Com aquelas vacas mugindo o tempo todo? Nunca! - - falou brava.
Gastão
--- As bichinhas são tão mansas.  - - relatou
Ada ainda fez “hum” com as mãos na cintura a olha-lo de cima para baixo.
Eles passaram uma semana em clima de festa. Visitaram museus, assistiram filmes, alguns antigos, andaram em rodas gigantes, em parques infantis, assistiram shows. Tudo isso, foi encantador. Tudo isso era tranquilizante até o tempo de retornar ao serviço. O homem ficou mais sossegado a passar dois meses sem nada fazer. Sempre olhava os acadêmicos objetos que sua ama estava a pôr em funcionamento, dessa vez, na cobertura do edifício onde nada podia incomodá-la. Nem mesmo a chuva. E toda a noite Ada estava lá, olhando o Céu escuro, quando era noite sem luar. E ficava noites e noites a observar as estrelas com sua barriga a botar pela boca. Quando vez a barriga dava um pulo. E ela perguntava ao marido.
Ada
--- Está vendo? - - sorria
Gastão
--- Não. O que? - - distraído sentado em uma cadeira de mola ouvindo a noite
Ada
--- Teu velho. Já vai sair. - - respondia
Gastão
--- Quando? - -
Ada
--- Por esses dias. Não tarda muito. - -
Certa noite, quase 5 da madrugada, Ada chamou o marido que ainda dormia o seno dos justos. Ele despertou sem saber o que ocorrera. Ada falou.
Ada
--- Já é hora! - -
Gastão
--- Agora? Que horas? - - procurou ver o relógio de pulso
Ada
--- Quase cinco. - -
O homem se levantou, vestiu a calça por uma perna. E teve que desmanchar por não poder andar. Aperreado, quase louco. Reclamava por qualquer coisa e Ada a sorrir, despreocupada. A espera do marido. Do tem que se abotoada. Um pé na chinela e outro no sapato. A mulher a sorris apenas a dizer para Gastão vestir a cueca. Ele, azucrinado. Ainda a reclamar
Gostão
--- Que horas, que horas? - -
Ada
--- Vamos embora! Se não eu tenho o menino no carro. - - sorria
Gastão
--- Espere. Minhas meias. - -
E assim foi o homem, cambaleado de sono, procurando as chaves de carro. Por fim, acelerou com toda a presa em chegar a Maternidade, desorientado, a indagaras as horas e ouvir a resposta.
Ada
--- Já está saindo. Apresse. Vá pelo lado que não tem carro. Tá saindo, não te disse. – 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

SUPLÍCIO DE UM MISTÉRIO - 10 -

- MULHER GRÁVIDA -
- 10 -
GRAVIDEZ

Um dia, à noite, Ada chegou ao seu apartamento com um rosto como se estivesse sorrindo; Gastão estava sentado olhando para praia, vendo a movimentação de pessoas e carros, ambulantes, pedintes, mulheres da noite, pescadores entre outros tantos. Ela sentou em uma cadeira que estava ao lado e então, começo a falar.
Ada
--- De férias? - - indagou
Gastão
--- Sim. Na verdade, são dois meses. - - respondeu sem fumar cachimbo
Ada
--- E o cacimbo? - - quis saber
Gastão
--- Joguei fora. Estava fedendo demais. - - explicou
Ada
--- Então podemos conversar? - - sorriu
Gastão
---- Conte os seus pecados. - - sorriu em troca olhando a praia
Ada
--- Pecados! É o seguinte: vamos viajar? - -
Gastão
--- Boa pedida. Para onde? - -
Ada
--- São Paulo. Eu vou comprar um telescópio. Macaíba eu descartei. Vou instala-lo em casa mesmo. Que achas? - -
Gastão
--- Concordo. O que mais? - -
Ada
--- O que mais? Bem. O que mais! Eu estou grávida! - - sorriu
Gastão
--- Ah. Bom. É natural. Heim? Gravida? Você está gravida? Nossa! Você está brincando! Grávida mesmo! Não. Não acredito! - -
Ada
--- Por que? É tão normal. Você vai ser papai. Vai ninar a criança! Não é? - - sorridente
Gastão
--- Não pode ser! Eu? Um velho? Seu papai? Que é que eu fiz para aguentar esse tranco? - -
Ada
--- Você fez o filho e eu vou ser a mãe. Eu fui ao ginecologista, e ele passou a receita. Agora já sei. Eu, barriguda! Olha a lapa! - - e envergou a barriga
O homem sorriu sem querer. E sorria cada vez mais. Até a barriga dele estourar! Sorria muito ao ponto de a mulher indagar.
Ada
--- Qual é a graça? - - indagou preocupada
Gastão
--- Eu pegando o neném! - - gargalhou
Ada
--- Pois é. Vamos? - -
Gastão
--- Vamos pra onde? O bebê já está feito. - - gargalhou
Ada
--- São Paulo, sua besta. Já pesquisei e já sei onde vou comprar. –
Gastão
--- E o casamento? - -
Ada
--- Deixa pra lá. Estou interessada no telescópio. O resto, basta. - -
Gastão
--- Não senhora. Vamos casar! - -
Ada
--- Por que esse interesse? - -
Gastão
--- Porque sim. Você casada é outra coisa! E vamos logo. Antes tarde do que nunca! - -
Ada
--- Está bem. Concordo. Mas tem São Paulo. - -
Gastão
--- Dá tempo. Casa e viaja. - -
Ada
--- Pode até dar. Mas tem uma coisa: montar o telescópio. Local, posição, iluminação, televisou. Tudo isso. - -
Gastão
--- Isso se ajeita. Na sala. Na entrada. Mas tem o casório. –
Ada
--- Casório. Grande merda. Fica para depois. - - abusada
Gastão
---- Fica pra depois, não senhora! Os papeis. Vamos. Os papeis! - -
Ada
--- Isso é uma merda! Para que fui falar? Agora, o homem quer casar! Mais tarde! - -
Gastão
--- Nada disso. Eu vou me preparar. Tarjes novos. E você também. Vestido branco. Véu, rosas, vestido até o fim. Sapatos. Tudo de um jeito delicado. - -
Ada gargalhou e disse em seguida
Ada
--- E as meninas segurando o rabo da saia? - - gargalhou
Gastão
--- É danado. A gente não quer rir. Mais não pode. Tá bem. Tá bem. Como você quiser! - -
Ada
--- Está justo. Vamos fazer como você gosta. Eu caso de véu e grinalda. - - gargalhou
Gastão
--- Ótimo. Assim é que se fala. Amanhã dou entrada nos papeis.
Ada
--- Eu posso ir de sandália? - - gargalhou
Gastão
--- Você quer me tirar do sério. Vá de botas. E compridas. - -
Ada
--- Boa ideia. Como as moças de mato. Vou de botas. - - gargalhou
Gastão olhou para Ada e não sorriu 

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

SUPLÍCIO DE UM MISTÉRIO - 09 -

- JESUS CRISTO -
- 09 -
JESUS -

Passaram-se dias e desta vez, à noite, estava Gastão fumando o seu gostoso cachimbo e olhando para o mar quando disse algo em torno de Jesus Cristo. Nada de importância. Porém, aquilo despertou a atenção de Ada que, de repente indagou quem foi Jesus. Gastão, então, respondeu que Ele era Deus. Pelo menos Deus dos Cristãos, aqueles que o seguiram, como João, o santo. Ada replicou sorrindo.
Ada
--- Só isso? - - sorriu
Gastão
--- Pelo que eu sei, esse é Jesus. - - relatou
Ada
--- Vejamos. Jesus não é um nome. É um título para designar Messias. Em certo tempo, 3.500 anos antes de Jesus, tivemos Hórus, na mitologia egípcia, representante do Deus Sol. No Palácio de Luxor tem imagens da Anunciação, da imaculada concepção, do nascimento e da adoração a Hórus. Foi a mãe Isis que geraria Hórus. E tem o parto e a adoração de Isis. Esse é o milagre da concepção de Hórus e mais tarde o mesmo foi feito do Jesus.
Gastão
--- E esse Hórus quem foi?  - -
Ada
--- Uma espécie de deus. A semelhança entre Hórus e Jesus são flagrantes. Houve uma batalha de Hórus contra seu irmão, Seth. Hórus era filhos de Osiris, do Egito. Osiris foi um Deus. O Deus Rá, o Deus Sol. A mãe de Hórus foi a Deusa Isis, uma mulher que aparece com um bebê no colo.
Gastão
--- Esse fazia procissão com a mãe Isis? - -
Ada
--- Sim. Por muito tempo. Os soldados romanos veneravam Isis como uma Santa. Isso até o século 4. Daí então ela foi perdendo sua força. Mas ainda hoje tem Igrejas da Deusa e do seu filho, Hórus. Ela é chamada de a Rainha do Céu. Uma imagem popular do Império romano. Vestes brancas, cinta azul, coroa de ouro em sua cabeça, adornos descendo do seu busto. Os heróis diziam que era ela a Estrela do Mar além de ser a Rainha do Céu.
Gastão
--- Isso há mais de 3.500 ano antes de Jesus? - - espantado
Ada
--- Com toda a certeza. O culto de Isis é um significativo rival a religião de Jesus que veio muito tempo depois. Ela ainda hoje é mostrada em tumbas em pergaminhos que datam dos anos 3.500 antes de Cristo. No ano 40, depois de Cristo, o imperador Calígula construiu um templo para Isis, em Roma.
Gastão
--- Eu nunca estudei sobre isso. - - decepcionado
Ada
--- Tem muita coisa que nós não sabemos. Maria Santíssima e Isis são chamadas como Rainha do Céu e de Santa Mãe de Deus. A iconografia com Maria conduzindo Jesus no colo foi tirada diretamente do culto a Isis, no antigo Egito, onde ele é a mãe de Deus Hórus. A Rainha do Céu. Isis é a Santa Mãe de Deus. E tem a mulher ou serpente Apofis que foi derrotada pelo Deus Seth. Apofis é a representação do caos. A grande serpente nunca morria. Mas Seth venceu a serpente com um golpe na cabeça e em seguida trancou a cobra no abismo. Por isso, Seth se tornou o herdeiro do trono de Osiris, seu pai.
Gastão
--- Como foi? - - estupefato
Ada
--- Seth sempre brigou com seu irmão Hórus. Mas Seth ficou com o escuro. Certa vez, Hórus retornou ao Império, apenas com o olho esquerdo fechado e desafia Seth novamente para a batalha. Ele então, dessa vez, Hórus anuncia que Seth é o falso Messias não merecia o trono do seu Pai, Osiris.
Gastão
--- Que confusão. É sempre assim. Brigas e mais brigas. Até mesmo na antiguidade. - - reprovou
Ada sorriu e continuou.
Ada
--- Quer saber mais? - -
Gastão
--- Conte, conte, por favor. - - disse isso bufando
Ada
--- Hórus é conhecido como o Bom Pastor. O Início e o fim. O deus sol do Egito. Ele é o Sol antropomorfizado. Essa dualidade mitológica é um fator onipresente que ainda hoje é sempre utilizada. Os crentes ou evangélicos usam muito entre Deus e o Diabo que eles chamam de Satanás.
Gastão
--- Eu escuto muito essa alusão de Satanás feitas pelos Pastores dessas Igrejas. - - repugnando
Ada
--- Satanás não existe. Inferno também não existe. Isso é propagandas de Pastores. –
Gastão
--- Inferno é o chão. Como se diz: “desceu ao inferno”. Quer dizer: foi sepultado.
Ada
--- Pois bem. Vamos adiante. Para se ter certeza, vejamos: Hórus nasceu a 25 de dezembro da Virgem Isis Maria. O seu nascimento foi acompanhado por uma estrela o oeste e seguida por três reis em busca do Salvador recém-nascido. Continuou como uma criança prodígio aos 12 anos e aos 30 foi batizado por uma figura conhecida Anup no rio Eridanus. Hórus teve 12 discípulos e viajou com eles. Fez milagres, curou os enfermos e andou sobre as águas. Hórus também era conhecido por vários nomes como a Verdade, A Luz, O Filho Adorado de Deus, o Bom Pastor entre muitos outros.
Gastão
--- Quer dizer que antes de Jesus teve outro? - - assustado
Ada
--- Para você ver. A chamada Bíblia não diz, em nenhum momento que Jesus nasceu a 25 de dezembro. Nem eles e nenhum outro. 25 de dezembros é a passagem do equinócio. O Sol, no hemisfério norte, tarda a amanhecer e adormece mais cedo. É o início de inverno pela região norte do Globo. Acontece o contrário no hemisfério sul. O Sol mais cedo e continua mais tarde.
Gastão
--- Eu sei apenas que aqui a gente atrasa uma hora no verão. - -
Ada
--- Mas no Norte é o contrário. - - sorriu
Gastão
--- Continue se possível. - -
Ada
--- É o seguinte. Diz a lenda que Hórus, aos 33 anos, foi morto e enterrado por três dias e então ressuscitou a 25 de dezembro. Esse atributo de Hórus parece influenciar varas culturas mundiais com a mesma estrutura mitológica. Atti, da Grécia nasceu de uma virgem a 25 de dezembro, Krishna, da Índia, Mithra, da Pérsia. Existiram inúmeros Salvadores em diferentes períodos em diversos lugares que preenchem essas mesmas características.
Gastão
--- Eu acho que vou voltar para a Escola. - - desiludido
Ada
--- Não é preciso. Estude aqui mesmo. Verás o que não foi ministrado a você. –