- TROVÃO -
- 17 -
CLARÃO -
O açoite de um relâmpago fez
todos tremerem de susto. Em poucos instantes, o trovão irrompia. Enfim, era o
caos. Ada assumiu o volante e tocou o pé para maior velocidade. Mais que o
relâmpago era o trovão a parecer um bicho brabo do mato. Uma onça ou uma
pantera negra de olhos brancos. Nesse mesmo instante, o garoto Aldo, estremeceu
de angustiante pavor procurando o colo de sua babá, Tiana. E ele se enrolou nas
cochas de sua protetora.
Aldo
--- Um ronco! - - gritou o menino
Tiana
--- Trovão! Nada de mais. - -
sorriu sem querer.
Aldo
--- Tenho medo! - - disse o
garoto entre as pernas da moça.
Tiana
--- Não faz mal a ninguém. - -
sorriu
Aldo
--- Mande parar! - - relatou por
entre as penas da moça
Ada
--- Que é isso, menino. Foi
apenas um trovão. E lá vem outro! - - disse a sua mãe, enraivecida.
E o trovão veio mesmo de uma só
vez. Um ronco medonho que estremeceu toda a terra em volta. A mulher estremeceu
de toda. E rogou praga sem temor. Dentro de hora e meia, Ada chegou ao sítio.
Chovia intensamente. A mulher deu uma buzinada e Carcará, como sempre, veio
compressa abrir a cancela. Todo molhado, mesmo pela curta distância entre a
entrada e a cancela, ele, mesmo assim, abriu de todo os pés de pau, como se
estivesse preocupado até demais por ver a patroa sem o seu marido. Logo após,
Carcará indagou.
Carcará
--- O patrão? - - indagou
demonstrando preocupação
Ada
--- Na cidade. Eu vim na frente.
Chuva demais. Está faltando luz? - - quis saber
Carcará
--- Desde cedo. Com certeza é por
essa tromba d’água. – - disse ele.
Ada
--- Que nada. Foi uma torre que
caiu para os lados de Santa Cruz. - - declarou
Carcará
--- Verdade? É coisa preta! Caiu
mesmo? - - assustado
Ada
--- É o que dizem. Eu vim para o
sítio. Tem água? - -
Carcará
--- Tem o chafariz. Água não
falta. Nem luz também. –
Ada
--- É o que pensei. - -
Após estacionar o carro, Ada
começou a retirar todas as coisas que trazia, desde comidas até vestuários de
todos, inclusive de Tiana e Gastão, esse, o seu marido. Tiana, a doméstica,
ajuntou tudo e levou para dentro de casa com a ajuda de Maria, senhora de
Carcará, o capataz. A moçada ficou por perto esperando alguma ordem. O tempo
bradava por demais. Relâmpagos acoitava o Céu sendo acompanhados pelos trovões.
O gado se amoitou dentro do curral sobre os cuidados dos vaqueiros. Os de
menor, vigiava os burros e cavalos e animais de menor porte. Após o almoço Ada
e Tiana procuram guardar toda a roupa nos armários de dentro amplos quartos de
tamanhos enormes, feitos por artesãos de antigamente.
Tiana
--- Nossa! Isso que é quarto! - -
declarou a olhar os armários, camas, colchoes e até penicos posto por entre a
cama e a parede do quarto
Ada
--- Hoje não se faz mais nada
assim! - - relatou arrumando as tralhas
Entrementes, chegou o homem
Gastão em um outro carro. Ele estava exausto. E ficou temeroso por tanto
temporal. Esse novo auto ele havia adquirido em uma Concessionária ao lembrar
de Ada. Assim, a mulher estava com um auto e ele com outro. E aproveitando a
chuva, Gastão preferiu investir em novo veículo que, na verdade, não era tão
novo assim. Uma segunda mão apenas renovado. E a aquisição trouxe medo a todos.
Ada, sua mulher, quis logo saber.
Ada
--- De onde foi esse candango? -
- indagou com as mãos nas ancas.
Gastão
--- Comprei! - - respondeu
sorrindo
Ada
--- Comprou? Onde? - - espantada
Gastão
--- Não Loja. Não é novo. Mas dá
para o recado. Agora, você o seu. E eu tenho esse candango. - - respondeu
sorrindo e abraçado o seu capataz.
Ada
--- Agora deu! - - disse a mulher
com a cara abusada.
E a conversa prosseguiu por conta
da falta de energia, água e mesmo comidas estragadas que se deixa do armário.
Foi muita conversa. No dia seguinte, Gastão teria que voltar e rever a situação
de seu Apartamento, os materiais de telescópios entre outras coisas que
porventura poderiam se estragar com o tempo. No final de tarde ele teria que
conversar com seu capataz. As mulheres cuidavam dos arranjos para o dia
seguinte. O menino Aldo queria apenas dormir temendo os trovões. E se agarrou a
Tiana, pendurado pelo braço com suas pernas como se estivessem amarras as de
Tiana e assim foi ele adormecer sob o soar dos trovões. Tiana ficou um pouco no
quarto até Aldo pegar no sono. Chovia muito nessa ocasião. Os trovões eram de
estraçalhar os mais temerosos.
Ada
--- Menino! Que trovão! Chega me
assuntou! - - reclamou temerosa
A noite parece ter sido longa.
Havia luz na casa por força do gerador. O gado a mugir de quando em quando. Mas
todo o resto era silêncio, menos por conta do gerador a zoar constante como se
fosse o ronco de um monstro. Às dez horas ou mais da noite, todos se recolherem
aos seus cômodos. O silencio da noite era quebrado apenas pelo rugir da trovoada
e nada mais. A madrugada chegou, e os vaqueiros retiravam leite das vacas e
depositavam nos tambores para entregar aos motoristas que chagavam cedo da
madrugada. Era a sina de todas as madrugadas desse pessoal, mesmo com chuva ou
sereno. O capaz Carcará já estava atendo para receber o pagamento ou anotar na
caderneta de compra e venda, se fosse o caso.
Carcará
--- Está havendo falta de luz
onde tu moras? - - perguntava a um motorista
Motorista
--- Parece que é no mundo todo. -
- dizia o motorista
Carcará
--- É mesmo. - - cuspiu o fumo
com as mãos nos quadris.
Motorista
--- Mataram dois, noite passada.
- -
Carcará
--- Conhecidos? - -
Motorista
--- Fugitivos da cadeia. - -
Carcará
--- Menos dois. - -
O motorista sorriu
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