segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

SUPLÍCIO DE UM MISTÉRIO - 17 -

- TROVÃO -
- 17 -
CLARÃO - 

O açoite de um relâmpago fez todos tremerem de susto. Em poucos instantes, o trovão irrompia. Enfim, era o caos. Ada assumiu o volante e tocou o pé para maior velocidade. Mais que o relâmpago era o trovão a parecer um bicho brabo do mato. Uma onça ou uma pantera negra de olhos brancos. Nesse mesmo instante, o garoto Aldo, estremeceu de angustiante pavor procurando o colo de sua babá, Tiana. E ele se enrolou nas cochas de sua protetora.
Aldo
--- Um ronco! - - gritou o menino
Tiana
--- Trovão! Nada de mais. - - sorriu sem querer.
Aldo
--- Tenho medo! - - disse o garoto entre as pernas da moça.
Tiana
--- Não faz mal a ninguém. - - sorriu
Aldo
--- Mande parar! - - relatou por entre as penas da moça
Ada
--- Que é isso, menino. Foi apenas um trovão. E lá vem outro! - - disse a sua mãe, enraivecida.
E o trovão veio mesmo de uma só vez. Um ronco medonho que estremeceu toda a terra em volta. A mulher estremeceu de toda. E rogou praga sem temor. Dentro de hora e meia, Ada chegou ao sítio. Chovia intensamente. A mulher deu uma buzinada e Carcará, como sempre, veio compressa abrir a cancela. Todo molhado, mesmo pela curta distância entre a entrada e a cancela, ele, mesmo assim, abriu de todo os pés de pau, como se estivesse preocupado até demais por ver a patroa sem o seu marido. Logo após, Carcará indagou.
Carcará
--- O patrão? - - indagou demonstrando preocupação
Ada
--- Na cidade. Eu vim na frente. Chuva demais. Está faltando luz? - - quis saber
Carcará
--- Desde cedo. Com certeza é por essa tromba d’água. – - disse ele.
Ada
--- Que nada. Foi uma torre que caiu para os lados de Santa Cruz. - - declarou
Carcará
--- Verdade? É coisa preta! Caiu mesmo? - - assustado
Ada
--- É o que dizem. Eu vim para o sítio. Tem água? - -
Carcará
--- Tem o chafariz. Água não falta. Nem luz também. –
Ada
--- É o que pensei. - -
Após estacionar o carro, Ada começou a retirar todas as coisas que trazia, desde comidas até vestuários de todos, inclusive de Tiana e Gastão, esse, o seu marido. Tiana, a doméstica, ajuntou tudo e levou para dentro de casa com a ajuda de Maria, senhora de Carcará, o capataz. A moçada ficou por perto esperando alguma ordem. O tempo bradava por demais. Relâmpagos acoitava o Céu sendo acompanhados pelos trovões. O gado se amoitou dentro do curral sobre os cuidados dos vaqueiros. Os de menor, vigiava os burros e cavalos e animais de menor porte. Após o almoço Ada e Tiana procuram guardar toda a roupa nos armários de dentro amplos quartos de tamanhos enormes, feitos por artesãos de antigamente.
Tiana
--- Nossa! Isso que é quarto! - - declarou a olhar os armários, camas, colchoes e até penicos posto por entre a cama e a parede do quarto
Ada
--- Hoje não se faz mais nada assim! - - relatou arrumando as tralhas
Entrementes, chegou o homem Gastão em um outro carro. Ele estava exausto. E ficou temeroso por tanto temporal. Esse novo auto ele havia adquirido em uma Concessionária ao lembrar de Ada. Assim, a mulher estava com um auto e ele com outro. E aproveitando a chuva, Gastão preferiu investir em novo veículo que, na verdade, não era tão novo assim. Uma segunda mão apenas renovado. E a aquisição trouxe medo a todos. Ada, sua mulher, quis logo saber.
Ada
--- De onde foi esse candango? - - indagou com as mãos nas ancas.
Gastão
--- Comprei! - - respondeu sorrindo
Ada
--- Comprou? Onde? - -  espantada
Gastão
--- Não Loja. Não é novo. Mas dá para o recado. Agora, você o seu. E eu tenho esse candango. - - respondeu sorrindo e abraçado o seu capataz.
Ada
--- Agora deu! - - disse a mulher com a cara abusada.
E a conversa prosseguiu por conta da falta de energia, água e mesmo comidas estragadas que se deixa do armário. Foi muita conversa. No dia seguinte, Gastão teria que voltar e rever a situação de seu Apartamento, os materiais de telescópios entre outras coisas que porventura poderiam se estragar com o tempo. No final de tarde ele teria que conversar com seu capataz. As mulheres cuidavam dos arranjos para o dia seguinte. O menino Aldo queria apenas dormir temendo os trovões. E se agarrou a Tiana, pendurado pelo braço com suas pernas como se estivessem amarras as de Tiana e assim foi ele adormecer sob o soar dos trovões. Tiana ficou um pouco no quarto até Aldo pegar no sono. Chovia muito nessa ocasião. Os trovões eram de estraçalhar os mais temerosos.
Ada
--- Menino! Que trovão! Chega me assuntou! - - reclamou temerosa
A noite parece ter sido longa. Havia luz na casa por força do gerador. O gado a mugir de quando em quando. Mas todo o resto era silêncio, menos por conta do gerador a zoar constante como se fosse o ronco de um monstro. Às dez horas ou mais da noite, todos se recolherem aos seus cômodos. O silencio da noite era quebrado apenas pelo rugir da trovoada e nada mais. A madrugada chegou, e os vaqueiros retiravam leite das vacas e depositavam nos tambores para entregar aos motoristas que chagavam cedo da madrugada. Era a sina de todas as madrugadas desse pessoal, mesmo com chuva ou sereno. O capaz Carcará já estava atendo para receber o pagamento ou anotar na caderneta de compra e venda, se fosse o caso.
Carcará
--- Está havendo falta de luz onde tu moras? - - perguntava a um motorista
Motorista
--- Parece que é no mundo todo. - - dizia o motorista
Carcará
--- É mesmo. - - cuspiu o fumo com as mãos nos quadris.
Motorista
--- Mataram dois, noite passada. - -
Carcará
--- Conhecidos? - -
Motorista
--- Fugitivos da cadeia. - -
Carcará
--- Menos dois. - -
O motorista sorriu

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