- PINÓQUIO -
- 02 -
BECOS
Ao fim da sessão de cinema,
Gastão e Ava deixaram o recinto com gente de todo tipo falando sobre a trama
vista. Carros passavam de um lado para outro, casas de comércio estavam vazias
porque era um dia de domingo quando não havia expediente normal e, mesmo assim,
havia ainda os notívagos adormecidos pelos restos das calçadas. O calor era
intenso quando Ava percebeu após de sair da sala e pegar o rumo da frente do
cinema. Era como sair de um freezer e entrar em uma torradeira.
Ava
--- Do frio para o quente. - -
sorriu
Gastão
--- O sol está escaldante. Vamos
beber um refresco? - - indagou a sorrir.
Ava
--- Uma bebida como vinho? - -
indagou a sorrir
Gastão
--- Pode ser. Vamos no Beco! - - apontou a entrada do Beco.
Ava
--- Beco? Coisa estranha! Beco
mesmo? - - falou com cisma
Gastão
--- Sim. Beco da Lama. Tem um bar logo a entrada. - - declarou
Ava
--- Essa agora foi pior. - -
declarou ainda mais
Ao entra no Bar, foram eles logo
sendo servidos. Um homem de seus 40 anos vestindo de acordo com um barman, com
uma toalha presa no braço foi por demais cortes.
Barman
--- Pois não. Vamos entrar.
Sentem-se. Aqui tem uma mesa desocupada. - - sorriu por sorrir
O bar tinha duas fileiras de
mesas. Um pessoal relativo. Gargalhadas se ouviam. No fim do Bar estava um
outro barman a despachar para seus clientes. Tinha uma cabeça calva, por sinal.
Aliais, era comum se encontrar homens de cabeça calva por toda a cidade.
Parecia até que sofreram alguma epidemia na infância. O barman que servia os
dois novos clientes também era calvo. Portanto, Ava nem ligou para tal efeito.
Ela apenas sentou de frente para Gastão. E esse conferiu o cardápio para ver as
novidades. Ostras, de preferência. Vinho seco era o que pensava.
Gastão
--- Ostras? - - se dirigiu a Ava
Ava
--- De início. Escargot, sim. Com
certeza. - - sorriu
Gastão
--- Depois outros frutos do mar
como caranguejos. - - destacou sorrindo
Ava
--- Caranguejos, lagostas,
guaiamuns. Ótimos crustáceos. - - sorridente
Gastão
--- Conte-me as novidades. - -
Ava
--- Nada de importância. Nem
mesmo nas estrelas. -- -
Gastão
--- Física Quântica! Verdade? O
segredo descoberto por Max Planck em seus princípios da física.
Ava
--- Esse foi o início da
trajetória da Física ou Mecânica Quântica. - - sorriu.
A conversa prosseguiu entre
vinhos, champanha e vermute, uma mistura inebriante com assuntos delicados
quando já eram duas horas da tarde. Daí então Gastão seguiu para outro ponto do
estado, com Ava a gargalhar pelo vento frio a sacudir sua saia mesmo dentro do
auto. O veículo estava com as suas janelas abertas para o gosto de Gastão a
delirar com tudo o apresentado naquela ocasião. As belas coxas da mulher amada
a suplicar um pouco enfim de amor sensual. E assim, eles ficaram na chamada praia de
Cotovelo, lugar ermo e distante. Entre um caso e outro, conversas brandas entre
os enegrecidos rochedos, deu-se a moenda do amor.
Cinco horas da tarde o carro
girou para seu retorno à cidade. A ninfa já estava adormecida quando Gastão
entrou no pátio do seu Apartamento. Pouco mais das seis horas. O movimento no
edifício era célere. Carros entrando e saindo. Mães em desacordo com os seus
pequenos filhos. De longe, o mar, a praia já escurecida, a iluminação a neon
dos imensos postes. Moças da vida alegre rodavam a bolsa em suas mãos a procura
de alguém embriagado. Bus a passar no alto, correndo para chegar em baixo e
retornar depois. Gastão despertou Ava para poder entrar em seu AP. Ela, meio
dormindo, ainda indagou.
Ava
--- Chegamos? - -
Gastão
--- Sim. É aqui que eu moro:
vendo a praia. - - disse levemente
Ava
--- Praia? Eu sinto que vou
vomitar. - - disse isso enjoada
Gastão
--- Ponha para fora o que te
ofende. - - sorriu o homem
Ava
--- Que horas? - -
Gastão
--- Quase sete. - -
Ava
--- Vou tomar banho. E logo! - -
Após um banho morno, a moça saiu
do banheiro, enrolada em um toalhão já tremendo de frio. O homem também tomou
sua ducha e voltou a sala de refeição. Pôs o café no fogo, pães, bauru e
geleia. Veio, e sentou à mesa aguardando o que ainda faltava. Ava olhou bem
para o homem e findou dizendo com seriedade.
Ava
--- O que você falou, é sério? -
- quis saber
Gastão
--- O que? Da transferência. De
você vir morar comigo? Isso é sério! É só você pegar as trouxas! Aceita? - -
Ava
--- Não sei. Tem gente aqui? - -
Gastão
--- Apenas Corina, a mulher que
varre a casa. Um tipo gordo. Hoje, ela não veio. Tem mais o leiteiro. Esse só
faz a entrega e some mundo afora.
Ava
--- Parentes? - -
Gastão
--- Nunca vêm. Eu sempre que vou
a fazenda. Eu tenho uma fazenda perto de Macaíba. É uma terra não imensa. Crio
gado, bodes entre outros animais. O senhor que cuida nunca vem aqui. Eu é que
vou para ver como estão os estragos. Foi terra do meu bisavô.
Ava
--- Ah! Eu sei bem desses
arranjos. Meu pai tem terras de ninguém. Nem sei quantas.
Gastão
--- É costume. Quem vai daqui
para Açu, se prestar atenção, verá várias terras parecendo devolutas. –
Ava
--- Verdade. –
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