PENNY LANE
- 03 -
PENNY LANE
Na segunda-feira, o dia seguinte,
Ava estava desperta. Eram 5 e 30 da manhã. Gastão havia ido tomar ducha. Ela o
esperava, apesar de ter dois banheiros no AP. Manhã logo cedo, Ava sentia
náuseas. Ela pensava em vir morar no AP nesse dia, como prometera a Gastão. Uma
decisão bem melhor do que morar em uma pensão de estudantes. Para quem tinha
Diploma, certamente seria uma nova decisão. Da sala, ele ouviu um barulho. Não
sabia quem. O arrastar das chinelas no meio da sala, Ava entendeu ser a
governanta que chegara bem mais cedo.
Corina
--- Tem gente aqui? - - bateu na
porta do quarto
Ava
--- Só eu. - - respondeu vagarosa
Corina
--- Já sabia. Gente nova, com
certeza. - - disse Corina arrastando os pés.
Ava
--- Nova? Tem mais de uma? - -
pensou alarmada.
Corina
--- O leite está morno. Foi
tirado inda agora do peito da vaca! - - disse a mulher ao seu patrão que estava
na sauna
Gastão
--- Ponha um pouco na mesa. Veja
café e pães. - - gritou o homem de dentro da sauna
Corina
--- Ora basta! Quer me ensinar? -
- indagou abusada
Gastão
--- Só estou dizendo. Tem visita
na casa. - - alertou
Corina
--- Já sei. Pensa que eu não vi?
- - indagou de mau humor
Gastão
--- Só estou informando. É uma
doutora. Chegou de São Paulo. Eu ofereci aposentos. –
Corina
--- Já sei. Não precisa gritar. -
- respondeu
Da ducha vieram sorrisos imensos.
Após alguns minutos, Ada já
estava pronta da cabeça aos pés, mas sem calcinhas. Essa peça estava úmida por
ter Ada que lavá-la. E então ficou sem a veste intima. Nem por isso, ela se
incomodava. Com certeza, na Itália, as moças não vestiam esses trajes. O mesmo
ocorria em São Paulo e no mesmo interior do seu Estado. Não importava cor.
Preta, branca ou vermelha. No momento ter ou não calcinha pouco importava. Seis
horas, o café estava pronto. Ela conversou asneiras para com o seu venerável
mestre, o Gastão. De sua parte, a robusta empregada vinha e voltava com seus
passos miúdos a servir o que merecia ser feito. Gastão pôs um DVD com André
Rieu a tocar.
Ada
--- Música? - - inquietou-se
Gastão
--- André Rieu. Tenho várias.
Música erudita, por sinal, Nana Mouskouri, Blues. Conheces? - -
Ada
--- Sim. Mas não tanto. Penny
Lane, em Liverpool, imortalizada pelos Beatles. Penny Lane é nome de rua. Rua
Penny Lane. Ou seja, “Beco do Vintém”. Quando os Beatles fizeram a melodia,
nada havia por lá. Era um beco comum, dizia meu avô. - - sorriu
Gastão
--- Era como o Beco da Lama. No
passado, há anos, nada havia no beco. Moradias e muita lama a escorrer com destino
ao bairro da Ribeira. Como era um beco de lama ficou sendo chamado assim: Beco
da Lama. Coincide com Beco do Vintém. Beco de Homens que faziam meia-sola em
sapatos.
Ada
--- Em cada pais temos casos
semelhantes. Matança, local de sacrificar o gado. Pescado onde se vende peixe.
Tocos, onde se tirava pés de paus e ficava apenas o toco, um pedaço da mata.
Gastão
--- Aqui, na cidade, você
encontra desses nomes. Quintas! Você sabe o que é? - -
Ada
--- Não. Explique. - -
Gastão
--- Quando o Rei de Portugal
ofereceu terras no Brasil aos senhores, o Rei exigia o pagamento da Quinta
parte do lucro obtido. Daí o nome Quintas ou mesmo Quinta-Parte. Nunca ninguém
pagou ao Rei. - - gargalhada.
Após o desjejum, ambos saíram a conversar
com as sutilezas de amor, algo simples de se falar a meia luz. O carro seguiu
até a pensão onde abrigava a jovem moça e a promessa de que Ada voltaria no
início da noite de mala e cuia.
Ada
--- Agora eu vou para
Universidade. - - risos
Á noite, como prometera, Ada
chegou ao Apartamento de Gastão com a aparência de cansada por ter de arrastar
o seu pacote de roupas, miçangas, sapatos entre tantas coisas. Ela entrou no AP
e desajeitada ainda teve a coragem de se deitar no acolchoado para ter que
repousar um pouco. De repente, dona Corina chegou de dentro do AP e quis saber.
Corina
--- Ajuda? - -
Ada
--- Estou morta. Deus me acuda.
Essas tralhas pesam mais do que chumbo! Nossa Senhora! - -
E Corina arrastou o monte de
coisa reclamando como podia se por tanta coisa de uma só vez.
Corina
--- É vida para carregador. Essa
está cheia que só maluco pode. - - falava a mulher arrastando o saco.
Ada
--- Vamos pôr aqui por enquanto.
Quando o patrão chegar, ele define. - - reclamou receosa.
Corina
--- Tem mais? - - indagou
Ada
--- Só pacotes pequenos.
Sandálias, calcinhas e objetos de passar da face. - -
Corina
--- Pequeno? Haja pequeno nisso!
- - e arrastou o pacote para o quarto
Com meia hora após, chegou Gastão
todo animando, torcendo as mãos como que saía de uma vitoriosa campanha de
bilhar. E foi de imediato perguntando
Gastão
--- Como está a festa? - -
sorrindo
Ada
--- Só falta você! - - respondeu
a moça com cara de não saber de nada.
Corina
--- Onde eu ponho esses negócios?
- - indagou sem gracejos
Gastão
--- Vamos ver! O quarto lhe
serve? - - perguntou a Ada
Ada
--- É! Pra quem não tem aonde ir, qualquer caminho é
caminho! - - respondeu com cara de aflita.
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