- SÍTIO -
- 06 -
VISITAS
A vista de Ada não parou por aí.
Ela, depois de muita conversa, desceu os batentes de trás da casa grade e foi
até o chiqueiro de porcos. Os cães de longe latiam apesar da interferência de
dona Maria para ver se eles calavam de vez. O chiqueiro era mesmo uma porcaria
como alguém já disse. O roncar dos porcos era uma loucura. De outra ocasião os
menores faziam grunhidos estranhos. O mau cheiro era um horror. Ada colocou um
lenço no nariz e procurou cair fora.
Ada
--- Que mau cheiro! Fica aí,
porcos imundos. - - disse isso e deu no pé.
Enquanto os cães latiram sem
parar, dona Maria metia-lhes um balde de água para abafar um pouco os latidos
ensurdecedores. Só assim os cães calaram. Ada sorriu e em seguida foi até a
porteira do curral onde podia entrar para o campo. Porém pensou nas urtigas e
sentiu comichão nas suas pernas como se tivesse se urtigasse. Então, a jovem
desistiu de passar de um lado para outro ficado apenas a observar com o queixo
colado na trave.
Ada
--- Lindo esse gado. - -
E lembrou do seu tempo de criança
quando seu pai a levava para tomar leite de vaca bem cedo da manhã onde outros
ordenhadores retiravam também os leites de outras vacas, e eram muitas, para
despejar nos baldes que eram levadas para a cidade grande. Um sonho muito bem
maravilhoso. Nesse instante, Ada tomou um repentino susto. Uma voz lhe
sussurrou aos seus ouvidos.
Gastão
--- Por que não passas? - -
Ada
--- Que susto! Chega estou
tremendo! Virgem! Lá só tem urtigas! - - disse a moça levemente deseducada.
Gastão sorriu e lhe pediu
desculpas pelo susto que ele provocou. E a seguir, declarou.
Gastão
--- Ali tem gados, cavalos,
ovelhas, cabras e até mesmo coelhos. É o mundo todo. Você nem imagina quanto
tem de terras de um lado para outro. Muita terra mesmo. - - declarou
Ada
--- Estou vendo que, pela
distância, é muita terra. Para além do morro. As éguas parideiras. - -
Carcará
--- E para o outro lado é que
tem. - - reparou
Ada
--- Ave Maria. Outra vez? Se um
faz de um lado o outro vem fazer de outro. -- -
Gastão
--- O que foi mesmo? - - sorriu
desavergonhado
Ada
--- Susto, ora! Vem você de um
lado. Quando eu vejo, lá está do outro! - -
Carcará
--- Desculpe! Não foi por mal.
Mas vamos seguir até mais dentro. Deixe eu puxar a cancela. –
Ada
--- Tem urtiga! Já estou me
coçando só em ver.
Carcará
--- Isso é Cansanção ou “ora pro
nobis”! Não faz mal algum! A urina é um bom remédio. - - sorriu
Ada
--- Eu? Mijar das calças? Nunca!
- - falou assombrada
Carcará
--- É um bom remédio. Passa logo
a coceira. - - alertou
Ada
--- E eu vou para o mato? Onde
fica? Aí eu firo a bunda! - - temendo
Carcará
--- Fere nada! Vamos! Eu mostro o
caminho! - - sorriu para todos os sentidos
Gastão
--- Vamos. Não custa nada. A
gente pega uns cavalos que estão na estrebaria. Vamos. –
E os cavaleiros prosseguiram
viagem. Ada foi a mais prudente com o seu vestido querendo esvoaçar para
qualquer lado. Os mosquitos a atrapalhar a visão. O cuspir para todo canto. Os
vaqueiros a tanger a boiada. Os mais afoitos que observar o que tinha por
debaixo da saia. Os bem sérios nem pensava nisso. Enfim, os três rodearam o
campo por toda sua extensão de cabo a rabo de tamanho.
Ada
--- Espera. Isso não acaba nunca?
- -
Gastão
--- Nem chegamos na metade da
terra. - - sorriu
Ada
--- Danou-se. Um calor dos
infernos. Nem vento faz. Vou voltar. - -
Carcará sorriu e quando acabou
ele falou
Carcará
--- Moça. Isso é terra. Terra
muita. E a senhora pode ser a dona. Quem sabe? - - gargalhou
Gastão
--- Deixa ela! - - gracejou
Ada
--- Eu? Nem morta! - - abanando
por causa do calor.
Ao voltarem os três cavaleiros,
já bastante suados, pelo menos Ada, cansada de tanto trotear, enfim, desceram
no curral dos equinos. Ada seguiu em frente, direto para o banheiro para se
refrescar da tormenta de cavalgar pelas terras dos senhores. Após se limpar
sentiu-se bem melhor. A água do moinho ou cata-vento era uma deliciosa passagem
do quente para o frio. Já quase pelas 11 horas, Ada sorriu por tudo o que
fizera. Nem as urtigas pinicaram, enfim. Pudera! Ela nem pisou em algum mato de
urtiga braba. Após ligeira conversa foi servido o almoço. E a moça, faminta em
sou por onde começar. Feijão de corda, carne seca e assada, porco. Uma delícia.
Servida por uma criatura ainda não vista chama por Nina, Ada de refez da
gastura.
Nina
--- Quer mais galinha? - - -
indagou a ajudante
Ada
--- Não. Para mim, chega. Eu
estou farta. - - disse isso de boca cheia
Maria
--- Quer vinho? - - indagou com a
amostra na mão
Ada
--- Isso aceito. Vinho. Delicioso
vinho! - -
Gastão
--- Tem muito. A adega está
cheia. Pode beber. - -
Ada
--- Deixa experimentar. - -
E tragou um gole, mais outro, e
outro mais. Enfim já estava a zarolhar a conversar asneiras com Gastão a
sustentar a carga.
Gastão
--- Mas um gole. - -
Ada
--- Quero beber a saúde das
vacas! - - e delirou caindo de bruços na mesa
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