sábado, 7 de janeiro de 2017

SUPLÍCIO DE UM MISTÉRIO - 06 -

- SÍTIO -
- 06 -

VISITAS

A vista de Ada não parou por aí. Ela, depois de muita conversa, desceu os batentes de trás da casa grade e foi até o chiqueiro de porcos. Os cães de longe latiam apesar da interferência de dona Maria para ver se eles calavam de vez. O chiqueiro era mesmo uma porcaria como alguém já disse. O roncar dos porcos era uma loucura. De outra ocasião os menores faziam grunhidos estranhos. O mau cheiro era um horror. Ada colocou um lenço no nariz e procurou cair fora.
Ada
--- Que mau cheiro! Fica aí, porcos imundos. - - disse isso e deu no pé.
Enquanto os cães latiram sem parar, dona Maria metia-lhes um balde de água para abafar um pouco os latidos ensurdecedores. Só assim os cães calaram. Ada sorriu e em seguida foi até a porteira do curral onde podia entrar para o campo. Porém pensou nas urtigas e sentiu comichão nas suas pernas como se tivesse se urtigasse. Então, a jovem desistiu de passar de um lado para outro ficado apenas a observar com o queixo colado na trave.
Ada
--- Lindo esse gado. - -
E lembrou do seu tempo de criança quando seu pai a levava para tomar leite de vaca bem cedo da manhã onde outros ordenhadores retiravam também os leites de outras vacas, e eram muitas, para despejar nos baldes que eram levadas para a cidade grande. Um sonho muito bem maravilhoso. Nesse instante, Ada tomou um repentino susto. Uma voz lhe sussurrou aos seus ouvidos.
Gastão
--- Por que não passas? - -
Ada
--- Que susto! Chega estou tremendo! Virgem! Lá só tem urtigas! - - disse a moça levemente deseducada.
Gastão sorriu e lhe pediu desculpas pelo susto que ele provocou. E a seguir, declarou.
Gastão
--- Ali tem gados, cavalos, ovelhas, cabras e até mesmo coelhos. É o mundo todo. Você nem imagina quanto tem de terras de um lado para outro. Muita terra mesmo. - - declarou
Ada
--- Estou vendo que, pela distância, é muita terra. Para além do morro. As éguas parideiras. - -
Carcará
--- E para o outro lado é que tem. - - reparou
Ada
--- Ave Maria. Outra vez? Se um faz de um lado o outro vem fazer de outro. -- -
Gastão
--- O que foi mesmo? - - sorriu desavergonhado
Ada
--- Susto, ora! Vem você de um lado. Quando eu vejo, lá está do outro! - -
Carcará
--- Desculpe! Não foi por mal. Mas vamos seguir até mais dentro. Deixe eu puxar a cancela. –
Ada
--- Tem urtiga! Já estou me coçando só em ver.
Carcará
--- Isso é Cansanção ou “ora pro nobis”! Não faz mal algum! A urina é um bom remédio. - - sorriu
Ada
--- Eu? Mijar das calças? Nunca! - - falou assombrada
Carcará
--- É um bom remédio. Passa logo a coceira. - - alertou
Ada
--- E eu vou para o mato? Onde fica? Aí eu firo a bunda! - - temendo
Carcará
--- Fere nada! Vamos! Eu mostro o caminho! - - sorriu para todos os sentidos
Gastão
--- Vamos. Não custa nada. A gente pega uns cavalos que estão na estrebaria. Vamos. –
E os cavaleiros prosseguiram viagem. Ada foi a mais prudente com o seu vestido querendo esvoaçar para qualquer lado. Os mosquitos a atrapalhar a visão. O cuspir para todo canto. Os vaqueiros a tanger a boiada. Os mais afoitos que observar o que tinha por debaixo da saia. Os bem sérios nem pensava nisso. Enfim, os três rodearam o campo por toda sua extensão de cabo a rabo de tamanho.
Ada
--- Espera. Isso não acaba nunca? - -
Gastão
--- Nem chegamos na metade da terra. - - sorriu
Ada
--- Danou-se. Um calor dos infernos. Nem vento faz. Vou voltar. - -
Carcará sorriu e quando acabou ele falou
Carcará
--- Moça. Isso é terra. Terra muita. E a senhora pode ser a dona. Quem sabe? - - gargalhou
Gastão
--- Deixa ela! - - gracejou
Ada
--- Eu? Nem morta! - - abanando por causa do calor.
Ao voltarem os três cavaleiros, já bastante suados, pelo menos Ada, cansada de tanto trotear, enfim, desceram no curral dos equinos. Ada seguiu em frente, direto para o banheiro para se refrescar da tormenta de cavalgar pelas terras dos senhores. Após se limpar sentiu-se bem melhor. A água do moinho ou cata-vento era uma deliciosa passagem do quente para o frio. Já quase pelas 11 horas, Ada sorriu por tudo o que fizera. Nem as urtigas pinicaram, enfim. Pudera! Ela nem pisou em algum mato de urtiga braba. Após ligeira conversa foi servido o almoço. E a moça, faminta em sou por onde começar. Feijão de corda, carne seca e assada, porco. Uma delícia. Servida por uma criatura ainda não vista chama por Nina, Ada de refez da gastura.
Nina
--- Quer mais galinha? - - - indagou a ajudante
Ada
--- Não. Para mim, chega. Eu estou farta. - - disse isso de boca cheia
Maria
--- Quer vinho? - - indagou com a amostra na mão
Ada
--- Isso aceito. Vinho. Delicioso vinho! - -
Gastão
--- Tem muito. A adega está cheia. Pode beber. - -
Ada
--- Deixa experimentar. - -
E tragou um gole, mais outro, e outro mais. Enfim já estava a zarolhar a conversar asneiras com Gastão a sustentar a carga.
Gastão
--- Mas um gole. - -
Ada
--- Quero beber a saúde das vacas! - - e delirou caindo de bruços na mesa 

Nenhum comentário:

Postar um comentário