- TEATRO -
- 04 -
TRAVIATA
Acossada com os sapatos de salto
alto, as meias a beliscar seus membros, um arrocho por conta era por demais no
seu traje. E assim, Norma comentava baixinho os desacertos de sua roupa. O
traje de gala era plenamente sofisticado com um comprimento de varrer o chão.
Um vestido feito com um tecido glamoroso com seda e tafetá. Flores e broches
foram detalhes esmerados. Um par de calçado salto alto combinando com a cor do
vestido. Brincos de chandelier. Um diamante e uma pulseira. Brincos simples e
um belo colar competindo com seu brilho. Joias de verdade – alugadas – e uma
bolsa de mão combinando com o vestido e os sapatos. Uma glamorosa maquiagem de
noite.
Norma
--- Chateação! Tudo apertado! - -
reclama a moça
Othon
--- Acalme-se. Estamos no Teatro.
Esse povo não é chique. As damas fazem de conta que são chiques. Acalme-se. - -
sorrio baixinho para a sua dama
O tempo foi passando, cadeiras,
camarotes, gerais e freezer totalmente lotados. Depois das 9 horas da noite
ouviu-se uma batida surda. Em poucos momentos abriram-se as cortinas. Um
silêncio total. Apagaram-se as luzes. Apenas o palco era iluminado. Atores
surgiram do palco. Após ruídos aplausos, houve-se silencio total. A orquestra
assumiu a festa com o tocar lento aparecendo uns acordes e, logo após ligeiras
fase começando o canto de atores bem vestidos, com roupa do tempo em que se fez
a ópera, 1852 por Giuseppe Verdi. Conforme estudiosos, o título da Obra é “A
Mulher Caída”, baseado no romance “A Dama das Camélias”, de Alexandre Dumas. O
silêncio era quebrado quando a plateia ovacionava ao fim de um ato. Foram
quatro, na sequência. A noite de festa, o primeiro. O relacionamento amoroso,
no segundo. O grupo de mascarados, no terceiro. Por fim, o quarto Ato, a morte
da moça! Houve palmas e lágrimas entre o povo da plateia. Um soberbo espetáculo
chegado ao fim depois de muita ovação.
Com o povo na rua, alguns
chorando, outros alarmados com a Ópera e entre todos, estava Norma a falar
baixinho ao seu companheiro:
Norma
--- Não entendi nada com os
gritos ferinos dos cantores. Mas achei engraçado. Até mesmo no fim com a mulher
morrendo. - - sorriu e calhou
Othon
--- Aquela é uma ópera. Sinal de
quem toca ou tocava para uma nobre plateia. La Traviata é uma das muitas, como
“Carmem”, de George Bizet, “A Flauta Mágica”, de Mozart e assim por diante.
Norma
--- O senhor conhece essas? - -
Othon
--- Algumas as tenho. - - sorrio se voltando para Norma
Nessa noite, ao chegar em seu
apartamento, Othon tomou um gole de vinho e a festa continuo com Norma. Eles,
enfeitiçados, fizeram sexo. Foi a primeira vez. Na cama. E nos outros dias,
fizeram sexo da rede, na cadeira e até mesmo no elevador do edifício. Othon
estava em êxtase. Bastava chegar em seu
apartamento, à noite, o primeiro a fazer era sexo. Sexo pela primeira vez e
pelas outras vezes. Um dia, já era mais de um mês, o homem chegou eufórico com
uma máquina fotográfica à mão para observar um outro apartamento, no edifício
em frente, quando uma moça tomava banho no chuveiro elétrico. Alí mesmo ele fez
as fotos. E assim continuou a fazer durante tempos. A sua mulher nada fazia a
não ser sorrir. Eles se amaram em profusão até um dia em que ele propôs um
casamento. E assim ficaram noivos de fato
Norma
--- Quando? - -
Othon
--- Amanhã. Depois. Um dia
qualquer. Nós chegamos ao Juiz e pronto. –
Norma
--- E a Igreja? –
Othon
--- Você tem religião? - -
Norma
--- Nem sei bem. - - declarou
confusa
No final do mês – era o segundo
mês – ele entrou em gozo de férias. Já casados, os dois pegaram um avião e
foram para São Paulo. Ela nunca voara de avião. Por isso mesmo teve medo.
Quando o aparelho começou a se preparar para sair, algo demais ocorreu. A
mulher, nervosa, ficou em pânico, pois queria saber o que diabo era aquilo
Othon
--- Nada demais. O bicho se
preparando para voar. –
Norma
--- Bicho? Que bicho? - - quis
saber
Othon
--- O Boeing. Esse cavalo de aço.
Avião. - - respondeu sorrindo
Logo em São Paulo, a primeira
coisa a fazer foi se hospedar em um hotel de classe, pois nos outros não valia
a pena. Por isso Othon procurou um estilo London Classe assim como estavam
ainda em sua cidade. Um hotel dessa casse valia a pena gastar muito. E por lá
se fixaram por uma semana, observando de tudo um pouco. Ela, sempre agarrada ao
braço do marido. Um cinema, uma boate, um Teatro e demais aquisições de DVDs
célebres, como Tommy Dorsey, Count Basie, Benny Goodman, Glenn Miller, Artie
Shaw e tanto outros. Foi uma semana de farra e sexo para a eternidade. Eles
voltaram com uma mala cheia de brindes, presentes para os conhecidos, como Bebé
a dona do Bar onde eles se conheceram há mais de dois meses. Tinha de tudo para
se ofertar, até blusão de frio e casaco de lã de pura estampa.
Acaba a festa, um mês depois
Othon já estava no trabalho. A moça, no serviço comum como todas donas de casa.
Em um dia qualquer da semana, Norma estava esperando o marido para indagar
sobre um caso. Ela foi indagada se estava a necessitar de uma empregada. De
surpresa, ela perguntou quem a mandou. A empregada lhe disse ter sido um homem
lá de baixo. Então Norma matutou.
Norma
--- Lá de baixo? Mas, quem? - -
Empregada
--- Ele disse que procurasse a
senhora. –
Norma
--- Já basta de empregada. Mas,
venha mais tarde que eu todo a decisão de quem falou. –
E trancou a porta das ventas da
empregada, pois a mulher, bem nova ainda, não lhe foi possível responder mais
algo. Passou o tempo até quando chego ao apartamento o seu marido com uma fome
dos diabos. Entre uma coisa e outra a mulher resolveu indagar sobre a tal
doméstica que apareceu de repente causando temor para quem quisesse. Uma
doméstica desse jeito não se encontrar nunca.
Othon
--- O homem lá de baixo? Que
homem é esse? Quando foi que ela esteve aqui? - -
Norma
--- Pelas nove horas. - -
replicou
Othon
--- Eu não mandei ninguém. Se
você quiser, a vontade e tua! - - respondeu
Norma
--- Por mim não aceito. Ela
surgiu do mato? - -
Othon
--- Do mato! É possível! Das brenhas,
possivelmente. - - sorriu
Norma
--- É possível. - -
E a conversa terminou nesse passo.
E se a doméstica aparecesse na sua porta outra vez, ela enxotava, como se
enxota o cão. E ficou sempre de alerta por toda a tarde. Ninguém lhe apareceu
nem mesmo para dar um Ciao. Chegou a noite e tudo estava calmo, o seu marido
voltou e foi logo perguntando.
Othon
--- Onde está a moça? - -
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