domingo, 30 de outubro de 2016

A MORTE NA ESTAÇÃO - 04 -

- TEATRO -
- 04 -
TRAVIATA
Acossada com os sapatos de salto alto, as meias a beliscar seus membros, um arrocho por conta era por demais no seu traje. E assim, Norma comentava baixinho os desacertos de sua roupa. O traje de gala era plenamente sofisticado com um comprimento de varrer o chão. Um vestido feito com um tecido glamoroso com seda e tafetá. Flores e broches foram detalhes esmerados. Um par de calçado salto alto combinando com a cor do vestido. Brincos de chandelier. Um diamante e uma pulseira. Brincos simples e um belo colar competindo com seu brilho. Joias de verdade – alugadas – e uma bolsa de mão combinando com o vestido e os sapatos. Uma glamorosa maquiagem de noite.
Norma
--- Chateação! Tudo apertado! - - reclama a moça
Othon
--- Acalme-se. Estamos no Teatro. Esse povo não é chique. As damas fazem de conta que são chiques. Acalme-se. - - sorrio baixinho para a sua dama
O tempo foi passando, cadeiras, camarotes, gerais e freezer totalmente lotados. Depois das 9 horas da noite ouviu-se uma batida surda. Em poucos momentos abriram-se as cortinas. Um silêncio total. Apagaram-se as luzes. Apenas o palco era iluminado. Atores surgiram do palco. Após ruídos aplausos, houve-se silencio total. A orquestra assumiu a festa com o tocar lento aparecendo uns acordes e, logo após ligeiras fase começando o canto de atores bem vestidos, com roupa do tempo em que se fez a ópera, 1852 por Giuseppe Verdi. Conforme estudiosos, o título da Obra é “A Mulher Caída”, baseado no romance “A Dama das Camélias”, de Alexandre Dumas. O silêncio era quebrado quando a plateia ovacionava ao fim de um ato. Foram quatro, na sequência. A noite de festa, o primeiro. O relacionamento amoroso, no segundo. O grupo de mascarados, no terceiro. Por fim, o quarto Ato, a morte da moça! Houve palmas e lágrimas entre o povo da plateia. Um soberbo espetáculo chegado ao fim depois de muita ovação.
Com o povo na rua, alguns chorando, outros alarmados com a Ópera e entre todos, estava Norma a falar baixinho ao seu companheiro:
Norma
--- Não entendi nada com os gritos ferinos dos cantores. Mas achei engraçado. Até mesmo no fim com a mulher morrendo. - - sorriu e calhou
Othon
--- Aquela é uma ópera. Sinal de quem toca ou tocava para uma nobre plateia. La Traviata é uma das muitas, como “Carmem”, de George Bizet, “A Flauta Mágica”, de Mozart e assim por diante.
Norma
--- O senhor conhece essas? - -
Othon
--- Algumas as tenho.  - - sorrio se voltando para Norma
Nessa noite, ao chegar em seu apartamento, Othon tomou um gole de vinho e a festa continuo com Norma. Eles, enfeitiçados, fizeram sexo. Foi a primeira vez. Na cama. E nos outros dias, fizeram sexo da rede, na cadeira e até mesmo no elevador do edifício. Othon estava em êxtase.  Bastava chegar em seu apartamento, à noite, o primeiro a fazer era sexo. Sexo pela primeira vez e pelas outras vezes. Um dia, já era mais de um mês, o homem chegou eufórico com uma máquina fotográfica à mão para observar um outro apartamento, no edifício em frente, quando uma moça tomava banho no chuveiro elétrico. Alí mesmo ele fez as fotos. E assim continuou a fazer durante tempos. A sua mulher nada fazia a não ser sorrir. Eles se amaram em profusão até um dia em que ele propôs um casamento. E assim ficaram noivos de fato
Norma
--- Quando? - -
Othon
--- Amanhã. Depois. Um dia qualquer. Nós chegamos ao Juiz e pronto. –
Norma
--- E a Igreja? –
Othon
--- Você tem religião? - -
Norma
--- Nem sei bem. - - declarou confusa
No final do mês – era o segundo mês – ele entrou em gozo de férias. Já casados, os dois pegaram um avião e foram para São Paulo. Ela nunca voara de avião. Por isso mesmo teve medo. Quando o aparelho começou a se preparar para sair, algo demais ocorreu. A mulher, nervosa, ficou em pânico, pois queria saber o que diabo era aquilo
Othon
--- Nada demais. O bicho se preparando para voar. –
Norma
--- Bicho? Que bicho? - - quis saber
Othon
--- O Boeing. Esse cavalo de aço. Avião. - - respondeu sorrindo
Logo em São Paulo, a primeira coisa a fazer foi se hospedar em um hotel de classe, pois nos outros não valia a pena. Por isso Othon procurou um estilo London Classe assim como estavam ainda em sua cidade. Um hotel dessa casse valia a pena gastar muito. E por lá se fixaram por uma semana, observando de tudo um pouco. Ela, sempre agarrada ao braço do marido. Um cinema, uma boate, um Teatro e demais aquisições de DVDs célebres, como Tommy Dorsey, Count Basie, Benny Goodman, Glenn Miller, Artie Shaw e tanto outros. Foi uma semana de farra e sexo para a eternidade. Eles voltaram com uma mala cheia de brindes, presentes para os conhecidos, como Bebé a dona do Bar onde eles se conheceram há mais de dois meses. Tinha de tudo para se ofertar, até blusão de frio e casaco de lã de pura estampa.
Acaba a festa, um mês depois Othon já estava no trabalho. A moça, no serviço comum como todas donas de casa. Em um dia qualquer da semana, Norma estava esperando o marido para indagar sobre um caso. Ela foi indagada se estava a necessitar de uma empregada. De surpresa, ela perguntou quem a mandou. A empregada lhe disse ter sido um homem lá de baixo. Então Norma matutou.
Norma
--- Lá de baixo? Mas, quem? - -
Empregada
--- Ele disse que procurasse a senhora. –
Norma
--- Já basta de empregada. Mas, venha mais tarde que eu todo a decisão de quem falou. –
E trancou a porta das ventas da empregada, pois a mulher, bem nova ainda, não lhe foi possível responder mais algo. Passou o tempo até quando chego ao apartamento o seu marido com uma fome dos diabos. Entre uma coisa e outra a mulher resolveu indagar sobre a tal doméstica que apareceu de repente causando temor para quem quisesse. Uma doméstica desse jeito não se encontrar nunca.
Othon
--- O homem lá de baixo? Que homem é esse? Quando foi que ela esteve aqui? - -
Norma
--- Pelas nove horas. - - replicou
Othon
--- Eu não mandei ninguém. Se você quiser, a vontade e tua! - - respondeu
Norma
--- Por mim não aceito. Ela surgiu do mato? - -
Othon
--- Do mato! É possível! Das brenhas, possivelmente. - - sorriu
Norma
--- É possível. - -
E a conversa terminou nesse passo. E se a doméstica aparecesse na sua porta outra vez, ela enxotava, como se enxota o cão. E ficou sempre de alerta por toda a tarde. Ninguém lhe apareceu nem mesmo para dar um Ciao. Chegou a noite e tudo estava calmo, o seu marido voltou e foi logo perguntando.
Othon
--- Onde está a moça? - -

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