terça-feira, 1 de novembro de 2016

A MORTE NA ESTAÇÃO - 06 -

- PACIENTE -
- 06 -
CUIDADOS

Todos os cuidados foram prescritos até sarar a cirurgia feita em Othon naquele sábado. Após certo tempo, o homem já estava sarado. Mesmo assim, Othon devia tomar bastante cuidado com o álcool, o cigarro (que ele nem fumava), e a comida industrializada. O pâncreas é o órgão situado próximo ao duodeno, imprescindível para a digestão e produção de enzimas. Se o pâncreas estiver intoxicado, a digestão se tornará dificultada. A alimentação sempre é o primeiro fator para o órgão começar a falhar. Chá, água e sucos de frutas são mais recomendados. Com isso, Othon, já bastante nervoso, tomou mais cuidado ainda.
Othon
--- Nada de guloseimas. Vinho, nem pensar. Comida carregada? Tô fora! Pronto. - -
Norma
--- E nada de sexo? - - sorrio.
Othon
--- Bem. Isso a moça não falou. - - sorrio
Entre outros sábados, o casal foi estar com Bebé, a mulher do Bar. De imediato, a visita do par causou espanto a sua desatinada presença àquela hora do dia. Othon não bebia coisa alguma que contivesse álcool por esses tempos da vida. Por isso não quis mais beber, a não ser, água. Ele esteve internado cuidando do pâncreas e tudo ou qualquer coisa já espantava lhe. Como um homem decente, ele se esquiva com temor.
Bebé
--- Nada mesmo? - - indagou admirada.
Norma
--- Nada. - - sorriu e olhou seu marido
E passaram em revista a vida que levaram, até mesmo São Paulo, após o casamento o que casou espanto a dona do bar.
Bebé
--- Mas casou mesmo? Até na Igreja? - - perguntou apreensiva
Norma
--- Na Igreja, não. A Igreja é assunto para depois! - - sorriu
E a conversa ainda prosseguia mesmo com o Bar em franco movimento, pois era um sábado. As três pessoas entraram para mais distante do centro onde puderam conversar de forma bastante animada. E nessa conversa, surgiu algo por demais excitante.
Bebé
--- Agora me deu na telha. Essa semana, este aqui o homem de nome Nestor procurando por você. Disse-me que há tempos procurava te encontrar para dizer que sua está quase que morta.
Norma
--- Nestor? Será o homem que eu conheço? Nestor! - -
Bebé
--- Sim. Nestor. Ele mancada por uma perna. Nestor. Eu me lembro. - -
Norma ficou assustada. E olhou para o seu marido. Parece que alguma coisa lhe empatava com certeza a falar. Seus olhos marejaram. Após breve espaço de tempo, a mulher conseguiu pronunciar certas palavras desencontradas;
Norma
--- Amor. Nestor. Sei quem é. Chamavam-no de cego por uma deficiência de visão. Ele veio aqui me procurar com um recado da minha mãe. Eu nem falava com ela. Éramos, como se diz, intrigadas porque ela me maltratava. Agora, está morrendo. Que faço? - - perguntou lamentosa
Othon
--- Vamos lá. E se possível ainda hoje! Vamos! - - disse o homem com pressa
Norma
--- Não sei se dá! Amanhã é mais certo. - - lamentou a mulher
Embora ainda duvidado que sua mãe estaria à beira da morte, Norma procurou não se lembrar dos dias melancólicos vividos no passado naqueles tempos. Sofria muito lembrar de tudo quanto passou. Certa vez foi tomada por meretriz por sua mãe, apesar de ter apenas 10 anos de idade. E ela não sabia sequer o que era meretriz. Ela, menina ainda, apenas fazias as bonecas de pano, os seus cavalos de pau entre outras coisas simples a sua vida de criança. Muitas vezes chorou por conta desse caso, pois pensava que a palavra queria dizer ser ela uma “bruxa”, coisa cruel. Era como uma mulher que causaria a morte. Uma bruxa. As vezes lembrava do rio, do banho tomado nua. Aqui era apenas normal. Tomar banho no rio inteiramente nua. Coisa simples para uma menina de seis anos ou mesmo de cinco anos até mais idade. Casos que nunca esquecera com o tempo já com seus 25 anos ou mais ainda. Era tanto que Norma costumava falar contra as meretrizes como sendo elas mesmas umas bruxas. E então, sorria com aquele desvario.
O dia estava ainda chegando as duas horas da madrugada quando Norma chamou o seu marido para “ir andando, pois, a vida era curta”. E em seguida com a mala cheia de roupas, às mais variadas para doar as famílias mais carentes, Norma seguiu viagem. Eram três horas de viagem no mais tardar, se não tivesse transito interrompido no meio do caminho. O vento frio cobria os vidros da frente do carro com as mariposas inescrupulosas a vir esbarra no para-brisa para morrer no instante. Aquilo era normal para o homem apesar de ser angustiante logo após. Ter que limpar tudo aquilo com água e pano seco.
Othon
Ô lamentos d’alma. Essas mariposas! Coitadas! Vivem para morrer com pouco tempo! - -
Norma
--- Um baque e pronto. - - falou a mulher
Era madrugadinha, cinco e meia da manhã. Passada a ponte, então tinha a entrada para o lugarejo. Uma cidade pobre. Tinham muitas carnaubeiras pela estrada. Fazia-se a cera de Carnaúba para dar brilho aos assoalhos. Coisas de muita renda para os ricos proprietários dessa mata. Após trafegar por breves instantes, cruzando com caminhões e automóveis. Às vezes com carroças puxadas a jumento, Norma chegou a sua casa. Pouca gente. Três, no muito. Ela saltou do carro acompanhada de seu marido. Foi entrando e dando um bom dia meio atrapalhado.
Norma
--- Bom dia. Não sei se é bom dia. Mas fica assim. Onde está a minha mãe? - - indagou
Moça
--- No quarto. Está dormindo. Eu acho que não passa de hoje. Muito magra. Quase um esqueleto. Vamos! - - falou a moça
Norma
--- Já foi ao médico? - - indagou baixinho
Moça
--- Já. Eles mandaram de volta para a casa. P’ra mim, ela não demora muito! Entre! - - falou
Norma adentro ao quarto onde estava uma cama de solteiro do mais humilde colchão, uma coberta, um par de travesseiros, um vaso sanitário, um retrato da Virgem Maria, um crucifixo e mais uma porção de quinquilharia ao redor. A mulher, quase ajoelhada, pegou as mãos da idosa, mulher dos sessenta anos e as beijou. E deitou as mãos em cima do corpo da anciã.
Moça
--- Ela diz que não morria sem pedir perdão a senhora! Foi isso! - - falou a moça
Norma olhou com atenção a face enrugada da velha senhora. Por fim, disse:
Norma
--- Estou aqui, minha mãe! Abençoa-me? - -
Anciã
--- Deus te faça feliz. - - murmurou já sem forma para falar.
E após isso entrou em coma. Passaram-se várias horas até que a anciã veio ao óbito. A casa já estava plena de gente. Cada um que perguntasse.
Mocinha
--- A velha morreu? - -
Outra
--- Cala tua boca, miséria! Não está vendo gente da cidade? - -
Anciã
--- Vou rezar um rosário. - - falou murmurando a anciã 

Nenhum comentário:

Postar um comentário