- PACIENTE -
- 06 -
CUIDADOS
Todos os cuidados foram
prescritos até sarar a cirurgia feita em Othon naquele sábado. Após certo
tempo, o homem já estava sarado. Mesmo assim, Othon devia tomar bastante cuidado
com o álcool, o cigarro (que ele nem fumava), e a comida industrializada. O
pâncreas é o órgão situado próximo ao duodeno, imprescindível para a digestão e
produção de enzimas. Se o pâncreas estiver intoxicado, a digestão se tornará
dificultada. A alimentação sempre é o primeiro fator para o órgão começar a
falhar. Chá, água e sucos de frutas são mais recomendados. Com isso, Othon, já
bastante nervoso, tomou mais cuidado ainda.
Othon
--- Nada de guloseimas. Vinho,
nem pensar. Comida carregada? Tô fora! Pronto. - -
Norma
--- E nada de sexo? - - sorrio.
Othon
--- Bem. Isso a moça não falou. -
- sorrio
Entre outros sábados, o casal foi
estar com Bebé, a mulher do Bar. De imediato, a visita do par causou espanto a
sua desatinada presença àquela hora do dia. Othon não bebia coisa alguma que
contivesse álcool por esses tempos da vida. Por isso não quis mais beber, a não
ser, água. Ele esteve internado cuidando do pâncreas e tudo ou qualquer coisa
já espantava lhe. Como um homem decente, ele se esquiva com temor.
Bebé
--- Nada mesmo? - - indagou
admirada.
Norma
--- Nada. - - sorriu e olhou seu
marido
E passaram em revista a vida que
levaram, até mesmo São Paulo, após o casamento o que casou espanto a dona do
bar.
Bebé
--- Mas casou mesmo? Até na
Igreja? - - perguntou apreensiva
Norma
--- Na Igreja, não. A Igreja é
assunto para depois! - - sorriu
E a conversa ainda prosseguia
mesmo com o Bar em franco movimento, pois era um sábado. As três pessoas
entraram para mais distante do centro onde puderam conversar de forma bastante
animada. E nessa conversa, surgiu algo por demais excitante.
Bebé
--- Agora me deu na telha. Essa
semana, este aqui o homem de nome Nestor procurando por você. Disse-me que há
tempos procurava te encontrar para dizer que sua está quase que morta.
Norma
--- Nestor? Será o homem que eu
conheço? Nestor! - -
Bebé
--- Sim. Nestor. Ele mancada por
uma perna. Nestor. Eu me lembro. - -
Norma ficou assustada. E olhou
para o seu marido. Parece que alguma coisa lhe empatava com certeza a falar.
Seus olhos marejaram. Após breve espaço de tempo, a mulher conseguiu pronunciar
certas palavras desencontradas;
Norma
--- Amor. Nestor. Sei quem é.
Chamavam-no de cego por uma deficiência de visão. Ele veio aqui me procurar com
um recado da minha mãe. Eu nem falava com ela. Éramos, como se diz, intrigadas
porque ela me maltratava. Agora, está morrendo. Que faço? - - perguntou
lamentosa
Othon
--- Vamos lá. E se possível ainda
hoje! Vamos! - - disse o homem com pressa
Norma
--- Não sei se dá! Amanhã é mais
certo. - - lamentou a mulher
Embora ainda duvidado que sua mãe
estaria à beira da morte, Norma procurou não se lembrar dos dias melancólicos
vividos no passado naqueles tempos. Sofria muito lembrar de tudo quanto passou.
Certa vez foi tomada por meretriz por sua mãe, apesar de ter apenas 10 anos de
idade. E ela não sabia sequer o que era meretriz. Ela, menina ainda, apenas
fazias as bonecas de pano, os seus cavalos de pau entre outras coisas simples a
sua vida de criança. Muitas vezes chorou por conta desse caso, pois pensava que
a palavra queria dizer ser ela uma “bruxa”, coisa cruel. Era como uma mulher
que causaria a morte. Uma bruxa. As vezes lembrava do rio, do banho tomado nua.
Aqui era apenas normal. Tomar banho no rio inteiramente nua. Coisa simples para
uma menina de seis anos ou mesmo de cinco anos até mais idade. Casos que nunca
esquecera com o tempo já com seus 25 anos ou mais ainda. Era tanto que Norma
costumava falar contra as meretrizes como sendo elas mesmas umas bruxas. E
então, sorria com aquele desvario.
O dia estava ainda chegando as
duas horas da madrugada quando Norma chamou o seu marido para “ir andando,
pois, a vida era curta”. E em seguida com a mala cheia de roupas, às mais
variadas para doar as famílias mais carentes, Norma seguiu viagem. Eram três
horas de viagem no mais tardar, se não tivesse transito interrompido no meio do
caminho. O vento frio cobria os vidros da frente do carro com as mariposas
inescrupulosas a vir esbarra no para-brisa para morrer no instante. Aquilo era
normal para o homem apesar de ser angustiante logo após. Ter que limpar tudo
aquilo com água e pano seco.
Othon
Ô lamentos d’alma. Essas
mariposas! Coitadas! Vivem para morrer com pouco tempo! - -
Norma
--- Um baque e pronto. - - falou
a mulher
Era madrugadinha, cinco e meia da
manhã. Passada a ponte, então tinha a entrada para o lugarejo. Uma cidade
pobre. Tinham muitas carnaubeiras pela estrada. Fazia-se a cera de Carnaúba
para dar brilho aos assoalhos. Coisas de muita renda para os ricos
proprietários dessa mata. Após trafegar por breves instantes, cruzando com
caminhões e automóveis. Às vezes com carroças puxadas a jumento, Norma chegou a
sua casa. Pouca gente. Três, no muito. Ela saltou do carro acompanhada de seu
marido. Foi entrando e dando um bom dia meio atrapalhado.
Norma
--- Bom dia. Não sei se é bom
dia. Mas fica assim. Onde está a minha mãe? - - indagou
Moça
--- No quarto. Está dormindo. Eu
acho que não passa de hoje. Muito magra. Quase um esqueleto. Vamos! - - falou a
moça
Norma
--- Já foi ao médico? - - indagou
baixinho
Moça
--- Já. Eles mandaram de volta
para a casa. P’ra mim, ela não demora muito! Entre! - - falou
Norma adentro ao quarto onde
estava uma cama de solteiro do mais humilde colchão, uma coberta, um par de
travesseiros, um vaso sanitário, um retrato da Virgem Maria, um crucifixo e
mais uma porção de quinquilharia ao redor. A mulher, quase ajoelhada, pegou as
mãos da idosa, mulher dos sessenta anos e as beijou. E deitou as mãos em cima
do corpo da anciã.
Moça
--- Ela diz que não morria sem
pedir perdão a senhora! Foi isso! - - falou a moça
Norma olhou com atenção a face
enrugada da velha senhora. Por fim, disse:
Norma
--- Estou aqui, minha mãe!
Abençoa-me? - -
Anciã
--- Deus te faça feliz. - -
murmurou já sem forma para falar.
E após isso entrou em coma.
Passaram-se várias horas até que a anciã veio ao óbito. A casa já estava plena
de gente. Cada um que perguntasse.
Mocinha
--- A velha morreu? - -
Outra
--- Cala tua boca, miséria! Não
está vendo gente da cidade? - -
Anciã
--- Vou rezar um rosário. - - falou
murmurando a anciã
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