- ORQUESTRA -
- 30 -
ASSASSINATO
Era passado um
tempo e o senador chamou Othon para informar que o seu caso já estava pronto.
Era preciso de sua presença no Tribunal, em Natal. Então, com os seus
advogados, Othon resolveria a questão. O homem conhecia muito bem o Escritório
de Advocacia e tinha dia e hora marcados. Ele e seus advogados estavam
presentes, uma hora antes. A sua mulher, Norma, chegou um pouco depois. Ambos
não se falaram. E não havia meninos presentes. Apenas Norma, além da doméstica
Neta – foi a mais paciente cumprimentando Othon além de formular questões
fúteis -. De resto, foi apenas com os advogados, de cada lado. A questão
pendente era do imóvel desocupado, entregue as traças onde o homem tinha
deixado os seus pertences, como DVDs, livros entre outras tranqueiras.
Adv. Defesa
--- O senhor
tem algo a reclamar? - - indagou em murmúrio
Othon
--- Se ela
quiser me dar os DVDs, tudo bem. Se não, deixa p’ra lá. - - comentou em
sussurro.
A questão
demorou menos de uma hora e o Juiz analisou o processo e em seguida despachou o
divórcio. Foi essa a decisão. A questão dos filhos foi dada conta da própria
mãe. O homem não fez questão, a não ser de uma visita quando pudesse. Havendo
telefonemas para Othon, por parte dos filhos, o homem prontamente atendia. A
questão das despesas, também foi resolvida de imediato. No mesmo dia, Othon e
os seus advogados retornaram a São Paulo. O homem sentia-se leve como uma
pluma. Às vezes sorria. Em outras, nem tanto. Calava-se. Homem pensativo em
casos havidos. Doenças! A mulher a cuidar! Os filhos! A casa do interior! A
fazer sexo. A olhar os AP dos demais pela máquina fotográfica. A moça estava
nua. Toda nua! Ele a via. Tirava fotos. Sorria! Beleza! Com isso, o sono chegou
nesse momento para ele, uma autoridade do Fisco. Homem que saiu do prédio de
uma esquina da Ribeira, em Natal, para um local mais aprazível em São Paulo.
Sexta-feira,
Othon falou a sua secretaria, Maria, que à noite tinha um concerto no Teatro
Municipal para convidados, e ele havia sido convidado com sua esposa – ou
mulher, namorada, talvez filha ou amante -. Haviam várias peças a ser
apresentadas, incluindo peças de Haendel, Liszt, Palestrina, Wagner, Beethoven
e demais. Seria um espetáculo insofismável. Se bem pudesse, ela vestiria um
traje completo e escuro, talvez em negro.
Maria
--- Está bem.
Eu sigo à noite. - - disse a moça
O homem sorriu
e de sua mesa fitou por mais uma vez a fêmea. Devagar, a moça fitou também com
o rosto abaixado e um sorriso na face. Era a alegria sem fim de um homem de
meia classe. O dia se passou e a noite eles estavam no Teatro Municipal para a
companhia de muitos os demais. Gente gorda, muito gorda. Homens e mulheres.
Classe média, classe rica. Um luxo só. Podia-se notar nos vestidos de classe.
As mocinhas tinham em suas vestes, plumas e colares além de sapatos chiques
para dar inveja ao mais pobres, gente baixa, por assim falar. Havia de tudo a
se apresentar. Senhoritas de uniforme
arroxeado a distribuir senhas, com um sorriso na face aos que entravam no
recinto de luxo. Por dentro, a plateia a ficar em frente ao palco. Nas laterais,
os camarotes. O palco, coberto por uma cortina vermelha e franjas douradas. Era
hora do início do espetáculo entre murmúrios, tossidas entre tantos.
No meio da
apresentação, o Governador do Estado estava presente, ocupando o seu camarote
especial onde vasta plateia se abanava pelo calor que fazia, e neste instante
um atirador de elite alvejou o Estadista de forma letal. O atirador tentou
escapar, mas a segurança impediu colhendo de chofre o adverso elemento. Nesse
instante, o atirador disparou um balaço contra si próprio não se sabendo quem
fora o mandante do atroz assassinato. Houve tumulto em todo o salão do Teatro e
uma ambulância, de imediato, chegou pondo aquela autoridade no seu interior, já
morto, pois o tiro foi fatal disparado a curta distância. A orquestra entrou em
silencia e a cortina foi fechada. O povo atordoado foi quem, em desespero,
procurava saída a qualquer custo não se importando por qualquer porta ou local.
Polícia acercou-se do prédio enquanto que soldados muito bem armados, de caras
lacradas para não se conhecer, armados até os dentes, era a ostensivo esquadrão
todos a postos a correr para guardar as mais breves saídas para, se alguém
ainda procurasse se meter em fuga. Do Teatro Municipal, lágrimas e prantos, era
tudo o que ouvia de um povo sentindo-se culpado por tal tragédia macular. Todo o pessoal que se destinava a sair era
revistado e cada um pusesse a mostra dos arrogantes militares. Mulheres gordas
ao desmaio, homens robustos a abanar suas damas. O caos imperou ao ponto de
ninguém poder sair para qualquer lado ou local. Os recintos internos do famoso
do Teatro Municipal eram vasculhados de ponta a ponta e mesmo os músicos eram
constrangidos em não poder sair para lugar algum.
As três horas
da madrugada ainda estava os policiais de prontidão vasculhando toda gente
ainda não inspecionada. As matronas ficaram em um local mais quietos onde os
seus maridos as puseram. O ruge-ruge de gente a pedir informações era maior do
que se podia supor. Uns procuravam suas mães, outros buscava a noiva, namorada
ou irmãs. Os veículos, na plena rua, eram orientados pela Guarda, depois dos
passageiros serem revistados, a tomar outro caminho. Nem carro de som tinha
permissão de trafegar pelos lugares mais distantes. Enfim, já o dia
amanhecendo, milhares de pessoas procuravam ver os jornais para saber do caso
havido na noite anterior.
Maria
--- Que
horror! Ainda estou tremendo de medo! - - dizia a mulher de forma angustiada
Othon
--- Todo
cuidado é pouco. A polícia está à procura de mais gente metida nessa confusão.
– -alertou
Maria
--- Eu não
temo. Mas, sei lá. Estou me tremendo toda. - - fez questão em declarar.
No sábado, ao
meio dia, o casal saiu para o almoço e ouvir as conversas dos demais, a boca
fria, cada um dizendo uma lorota qualquer. A Polícia montou guarda em todas as
ruas paulistas a procura de elementos malsinados ou alguém que pudesse dar
melhores informações à polícia investigativa. Othon e sua mulher o adentraram
em um restaurante a lá francês conhecidíssimo da alta roda dos glutões onde se
podia servir de alto e bom-gosto, inclusive de coisa do mar como lagostas e
peixes dos mais variados gostos. Naquela hora, Maria, vestida a um bom estilo
teceu o olhar para ver os mais importantes clientes ao fazer as caras e bocas.
Maria
--- O
movimento ainda parece fraco. - - argumentou
Othon
--- Talvez a
hora. É cedo ainda. - - explicou
Maria
--- E o
enterro do homem? Você vai? - - indagou
Othon
--- Ainda não
programaram nem o velório! Eu tenho que ir, de qualquer jeito! - - disse como
se estivesse arrependido do fato
Maria
--- É um
chororô danado! Desculpe! - - sorriu e calou.
Othon
--- É assim. O
povo lastima! Que se pode fazer? É a vida. Amanhã já é outro dia. - - desculpou
Maria
--- Olha o
garçom aí. Peça lagosta p’ra mim. - - sussurrou.
Às quatro
horas da tarde, Othon e Maria estavam se acercando do Palácio onde já havia
gente até demais, porem o corpo do Governado não havia chegado ainda.
Certamente os técnicos em embalsamamento ainda estavam preparando o cadáver
para expor no Salão Negro onde o ex-Chefe de Estado ficaria pela noite inteira.
O novo Governador já havia sido empossado, apesar do silencio profundo em torno
do caso. Ouvia-se serenes de carros de polícia a transitar em alta velocidade,
para cima e para baixo. Com certeza a procura de algum meliante desde a noite
passada quando houve o assassinato do Governador.
Maria
--- Chegamos
cedo? - - perguntou
Othon
--- Um pouco.
É melhor voltarmos. Seis horas já é possível. - - falou em murmúrio
Maria
--- Tem gente
as pencas. - - murmurou
Othon
--- Até
biriteiros! - - falou
Nesse ponto,
um dos tais, o bêbado, se acercou do palácio e de imediato, falou alto
Bêbado
--- Eu sei
quem foi o mandante do crime. Eu sei. - - disse o ébrio caindo para qualquer
lado.
Outro bêbado
gritou com seu companheiro de bebedeira.
Cachaceiro
--- Sabe nada.
Cala tua boca que bem melhor. - - disse o outro
Bêbado
--- Eu sei. Eu
sei. Quer ver eu dizer? Quer? - - falou o ébrio para lá e para cá.
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