domingo, 27 de novembro de 2016

A MORTE NA ESTAÇÃO - 30 -

- ORQUESTRA -

- 30 -

ASSASSINATO

Era passado um tempo e o senador chamou Othon para informar que o seu caso já estava pronto. Era preciso de sua presença no Tribunal, em Natal. Então, com os seus advogados, Othon resolveria a questão. O homem conhecia muito bem o Escritório de Advocacia e tinha dia e hora marcados. Ele e seus advogados estavam presentes, uma hora antes. A sua mulher, Norma, chegou um pouco depois. Ambos não se falaram. E não havia meninos presentes. Apenas Norma, além da doméstica Neta – foi a mais paciente cumprimentando Othon além de formular questões fúteis -. De resto, foi apenas com os advogados, de cada lado. A questão pendente era do imóvel desocupado, entregue as traças onde o homem tinha deixado os seus pertences, como DVDs, livros entre outras tranqueiras.
Adv. Defesa
--- O senhor tem algo a reclamar? - - indagou em murmúrio
Othon
--- Se ela quiser me dar os DVDs, tudo bem. Se não, deixa p’ra lá. - - comentou em sussurro.
A questão demorou menos de uma hora e o Juiz analisou o processo e em seguida despachou o divórcio. Foi essa a decisão. A questão dos filhos foi dada conta da própria mãe. O homem não fez questão, a não ser de uma visita quando pudesse. Havendo telefonemas para Othon, por parte dos filhos, o homem prontamente atendia. A questão das despesas, também foi resolvida de imediato. No mesmo dia, Othon e os seus advogados retornaram a São Paulo. O homem sentia-se leve como uma pluma. Às vezes sorria. Em outras, nem tanto. Calava-se. Homem pensativo em casos havidos. Doenças! A mulher a cuidar! Os filhos! A casa do interior! A fazer sexo. A olhar os AP dos demais pela máquina fotográfica. A moça estava nua. Toda nua! Ele a via. Tirava fotos. Sorria! Beleza! Com isso, o sono chegou nesse momento para ele, uma autoridade do Fisco. Homem que saiu do prédio de uma esquina da Ribeira, em Natal, para um local mais aprazível em São Paulo.
Sexta-feira, Othon falou a sua secretaria, Maria, que à noite tinha um concerto no Teatro Municipal para convidados, e ele havia sido convidado com sua esposa – ou mulher, namorada, talvez filha ou amante -. Haviam várias peças a ser apresentadas, incluindo peças de Haendel, Liszt, Palestrina, Wagner, Beethoven e demais. Seria um espetáculo insofismável. Se bem pudesse, ela vestiria um traje completo e escuro, talvez em negro.
Maria
--- Está bem. Eu sigo à noite. - - disse a moça
O homem sorriu e de sua mesa fitou por mais uma vez a fêmea. Devagar, a moça fitou também com o rosto abaixado e um sorriso na face. Era a alegria sem fim de um homem de meia classe. O dia se passou e a noite eles estavam no Teatro Municipal para a companhia de muitos os demais. Gente gorda, muito gorda. Homens e mulheres. Classe média, classe rica. Um luxo só. Podia-se notar nos vestidos de classe. As mocinhas tinham em suas vestes, plumas e colares além de sapatos chiques para dar inveja ao mais pobres, gente baixa, por assim falar. Havia de tudo a se apresentar.  Senhoritas de uniforme arroxeado a distribuir senhas, com um sorriso na face aos que entravam no recinto de luxo. Por dentro, a plateia a ficar em frente ao palco. Nas laterais, os camarotes. O palco, coberto por uma cortina vermelha e franjas douradas. Era hora do início do espetáculo entre murmúrios, tossidas entre tantos.
No meio da apresentação, o Governador do Estado estava presente, ocupando o seu camarote especial onde vasta plateia se abanava pelo calor que fazia, e neste instante um atirador de elite alvejou o Estadista de forma letal. O atirador tentou escapar, mas a segurança impediu colhendo de chofre o adverso elemento. Nesse instante, o atirador disparou um balaço contra si próprio não se sabendo quem fora o mandante do atroz assassinato. Houve tumulto em todo o salão do Teatro e uma ambulância, de imediato, chegou pondo aquela autoridade no seu interior, já morto, pois o tiro foi fatal disparado a curta distância. A orquestra entrou em silencia e a cortina foi fechada. O povo atordoado foi quem, em desespero, procurava saída a qualquer custo não se importando por qualquer porta ou local. Polícia acercou-se do prédio enquanto que soldados muito bem armados, de caras lacradas para não se conhecer, armados até os dentes, era a ostensivo esquadrão todos a postos a correr para guardar as mais breves saídas para, se alguém ainda procurasse se meter em fuga. Do Teatro Municipal, lágrimas e prantos, era tudo o que ouvia de um povo sentindo-se culpado por tal tragédia macular.  Todo o pessoal que se destinava a sair era revistado e cada um pusesse a mostra dos arrogantes militares. Mulheres gordas ao desmaio, homens robustos a abanar suas damas. O caos imperou ao ponto de ninguém poder sair para qualquer lado ou local. Os recintos internos do famoso do Teatro Municipal eram vasculhados de ponta a ponta e mesmo os músicos eram constrangidos em não poder sair para lugar algum.
As três horas da madrugada ainda estava os policiais de prontidão vasculhando toda gente ainda não inspecionada. As matronas ficaram em um local mais quietos onde os seus maridos as puseram. O ruge-ruge de gente a pedir informações era maior do que se podia supor. Uns procuravam suas mães, outros buscava a noiva, namorada ou irmãs. Os veículos, na plena rua, eram orientados pela Guarda, depois dos passageiros serem revistados, a tomar outro caminho. Nem carro de som tinha permissão de trafegar pelos lugares mais distantes. Enfim, já o dia amanhecendo, milhares de pessoas procuravam ver os jornais para saber do caso havido na noite anterior.
Maria
--- Que horror! Ainda estou tremendo de medo! - - dizia a mulher de forma angustiada
Othon
--- Todo cuidado é pouco. A polícia está à procura de mais gente metida nessa confusão. – -alertou
Maria
--- Eu não temo. Mas, sei lá. Estou me tremendo toda. - - fez questão em declarar.
No sábado, ao meio dia, o casal saiu para o almoço e ouvir as conversas dos demais, a boca fria, cada um dizendo uma lorota qualquer. A Polícia montou guarda em todas as ruas paulistas a procura de elementos malsinados ou alguém que pudesse dar melhores informações à polícia investigativa. Othon e sua mulher o adentraram em um restaurante a lá francês conhecidíssimo da alta roda dos glutões onde se podia servir de alto e bom-gosto, inclusive de coisa do mar como lagostas e peixes dos mais variados gostos. Naquela hora, Maria, vestida a um bom estilo teceu o olhar para ver os mais importantes clientes ao fazer as caras e bocas.
Maria
--- O movimento ainda parece fraco. - - argumentou
Othon
--- Talvez a hora. É cedo ainda. - - explicou
Maria
--- E o enterro do homem? Você vai? - - indagou
Othon
--- Ainda não programaram nem o velório! Eu tenho que ir, de qualquer jeito! - - disse como se estivesse arrependido do fato
Maria
--- É um chororô danado! Desculpe! - - sorriu e calou.
Othon
--- É assim. O povo lastima! Que se pode fazer? É a vida. Amanhã já é outro dia. - - desculpou
Maria
--- Olha o garçom aí. Peça lagosta p’ra mim. - - sussurrou.
Às quatro horas da tarde, Othon e Maria estavam se acercando do Palácio onde já havia gente até demais, porem o corpo do Governado não havia chegado ainda. Certamente os técnicos em embalsamamento ainda estavam preparando o cadáver para expor no Salão Negro onde o ex-Chefe de Estado ficaria pela noite inteira. O novo Governador já havia sido empossado, apesar do silencio profundo em torno do caso. Ouvia-se serenes de carros de polícia a transitar em alta velocidade, para cima e para baixo. Com certeza a procura de algum meliante desde a noite passada quando houve o assassinato do Governador.
Maria
--- Chegamos cedo? - - perguntou
Othon
--- Um pouco. É melhor voltarmos. Seis horas já é possível. - - falou em murmúrio
Maria
--- Tem gente as pencas. - - murmurou
Othon
--- Até biriteiros! - - falou
Nesse ponto, um dos tais, o bêbado, se acercou do palácio e de imediato, falou alto
Bêbado
--- Eu sei quem foi o mandante do crime. Eu sei. - - disse o ébrio caindo para qualquer lado.
Outro bêbado gritou com seu companheiro de bebedeira.
Cachaceiro
--- Sabe nada. Cala tua boca que bem melhor. - - disse o outro
Bêbado
--- Eu sei. Eu sei. Quer ver eu dizer? Quer? - - falou o ébrio para lá e para cá.

Nenhum comentário:

Postar um comentário