segunda-feira, 28 de novembro de 2016

A MORTE NA ESTAÇÃO - 31 -

- O TREM -
- 31 -

VINGANÇA

Naquele dia, Norma acordou mais cedo que nos outros. Ela pensava em Noca, sua mãe. Algo impulsionava a mulher para um degrau. Desde o dia em que assinou o divórcio, ela ficou taciturna. Apenas dissera que aquele edifício era um acaso como “´é esse” e nada mais. Othon não entendeu com perfeição. Sexo? Nunca mais fizera com alguém, pois não havia homem capaz de fazer sexo com ela ao seu modo. Quem avistasse Norma, para ela era um “chato”, coisa ruim, imprestável. Do lado bem alto do edifício, estavam os apartamentos nobres. Via-se o mar solitário a vir quebrar bem perto, na praia, para depois voltar. O vento gelado cobria o rosto de Norma como querendo lhe dar um beijo eterno.
Norma
--- Noca. Minha velha! Você se lembra do riacho? Lembra mesmo? Era lindo! - - dizia a mulher
Noca
--- Agora está seco. Muito seco. A ponte? É uma penúria! - - falou a finada.
Norma
--- É mesmo! Mossoró também não tem água. Nem outros municípios. - - confirmou
Noca
--- Serra do Mel é outro. Seco de fazer dó. - - relatou.
Norma
--- Quantos municípios estão assim! Deus nos acuda! - -tristonha
Noca
--- Mais de 153 municípios. Não chove mais nesses municípios. Caicó está um Deus dará. - - falou
Norma
--- Deus dará! E o Governo? - - quis saber
Noca
--- Quem governa isso aqui? Fecham-se Bancos. Eu prefiro estar aqui. - - lembrou
Norma
--- Se eu pudesse também ia! - - vaticinou
Noca
--- E quem te empata? - - quis saber
Norma
--- Não tem um negócio de Deus? - - indagou
Noca
--- Deus é só fantasia. Venha! - - chamou
Naquela manhã, Norma, ao saiu de seu AP, recomendou à secretária, Neta, cuidados com os meninos porque ela passaria na Igreja além de fazer compras para casa.
Norma
--- Só isso. Tenha cuidado. - - advertiu
Norma saiu, passeando pela praça sem atenção voltada para ninguém, ver as árvores, plantas rasteiras, pássaros silvestres, carroças puxadas a burros, pessoas a sorrir enquanto andavam, escolares, um cego sentado no chão quente a pedir esmola a cada qual que passasse, homens em zig-zag caminhando com pressa, mulheres carregando sacolas, moças tomando sorvetes, um rapaz a olhar uma vitrine de relógios de marca, madames a sair de um shopping, carros e bus a passar com pressa. Um calor intenso. Um rio, uma pedra onde o povo fazia orações, um trem, um barulho de um apito, uma ação, um golpe fatal. A mulher havia saltado para a morte trágica.
O trem nem sequer apitou. Seguiu em sua marcha e o povo que estava perto foi quem gritou pedindo ajuda para uma coitada. Logo, logo, o maquinista ouviu o barulho. E então parou a locomotiva e, consequentemente os carros há uma boa distância. O povo da linha acorreu para ver de perto o estrago feito na pobre mulher. Um dos passageiros foi o primeiro a chegar e olhar o corpo estraçalhado daquela mulher que não se identificava. Sem braços, cabeça partida, troncos aos pedaços. Os agentes do trem foram os primeiros a chegar e ordenar a todos a ficar fora do trágico imprevisto. Foram horas a fio até que o rabecão chegou para colher o resto daquela aparente mulher. Os carros de polícia estavam a postos guarnecendo o local. Tao logo soube, a reportagem chegou ao deprimente caso. Cada um que disse o ocorrido. Nada de mais se encontrava. Uma morte na estação foi o que mais se argumentou. Em casa, a doméstica Neta ouviu apenas o noticiário porque não se mostrava os pedaços do corpo da mulher devidamente estraçalhado. Para alguns, o dizer é que ela morava alí. Nenhuma coisa aparente sucedia   
Já era quase noite, Tiago chegou ao AP de Norma e ouviu de Neta a preocupação que ela estava com o sumiço de Norma.
Neta
--- Ela saiu de manhã dizendo que estava indo à Igreja e não deu mais notícias. - - preocupada
Tiago.
--- Oxe. Nem falou onde estava? - - indagou assustado
Neta
--- Não! Já disse. Que coisa! - - alarmada
Tiago
--- Será que foi atropelada? - - indagou com olhar inquieto
Neta
--- Sai p’ra lá! Que coisa! - - bateu na mesa
Tiago
--- Mas é o que sucede. Chame a polícia! - -
Neta
--- Chama tu. Eu tenho medo! - - relatou assombrada.
Tiago
--- Pois eu chamo. - -
Tiago procurou o distrito mais próximo e foi até ao local onde prestou queixa. Nesse instante, um policial civil falou ter sido uma mulher que se suicidou na manhã desse dia na linha do trem.
Policial
--- Ninguém foi buscar o cadáver. - -
Tiago
--- Cadáver? Será possível! Uma mulher inda jovem? - - perguntou
Policial
--- Só indo no necrotério. Vá lá! - - relatou
Tiago pegou o caminhão e se largou para o necrotério da Secretaria de Saúde, numa velocidade estarrecedora, quase voando, como se podia dizer. Para o louco motorista não havia tranco ou barranco que o impedisse de deter e em um instante deu de cara com várias pessoas a procura de entes queridos também mortos naquele tempo. O homem saltou de caminhão mais que apressado em busca de informação. Tão logo as buscas efetuadas, encontrou-se um corpo quase irreconhecível, porém tendo um vestido de cor branca. O rapaz ficou de uma forma estarrecida.
Tiago
--- Creio ser esse o corpo da mulher. Eu vou ligar para a secretária da senhora Norma para conferir a identificação. - - falou com remorso
Dentro de momentos, Tiago falou pelo celular com moça Neta, solicitando a sua presença naquele estabelecimento pondo as crianças em casas de amigos enquanto identificava se era mesmo a senhora Norma. Houve encrencas de vai ou não vai, pois, a moça tinha medo de olhar defuntos. Chegado ao fim, tudo se aquietou. E cheia de temor, com a mão na boca, Neta, nem querendo olhar de perto, ainda assim confirmou de Norma a mulher completamente lacerada não se podendo vislumbrar ao certo a sua fisionomia.
Neta
--- É ela sim. O colar, as roupas mesmo rasgadas, sapatos. É ela. Mas porque a senhora fez isso?
Tiago
--- Quem sabe? Só ela mesma! E eu, aqui, feito um palerma. E os filhos? - -perguntou
Neta
--- Uma criada que mora perto. - - disse ela soluçando de remorso
Tiago
--- Vou ligar para o doutor Othon. Ele tem que saber. - - e passou a ligação para Othon
E falou curto e grosso sem pedir nem permissão.
Tiago
--- Seu Othon. Que fala é Tiago. Sua mulher morreu. Pulou em cima do trem. - -
Othon
--- Quem mesmo? - - preguntou mais vagaroso 

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