- A PRINCESA -
- 01 -
COMEÇO
Quase meio-dia e o avião fez
pouso no aeroporto de Kiev, capital da Ucrânia. Representantes da Embaixada
brasileira estavam no local para receber a notável pianista de cunho
internacional a senhorita Olga Hans que, pela vez primeira, visitava a Ucrânia.
Por igual, também estavam os representantes do governo ucraniano para prestar
as boas vidas a talentosa musa. Olga recebeu os abraços de toda classe
diplomática – brasileira e ucraniana – e, mesmo sem falar fluente a língua do
país em visita, apesar de ter descendência da Ucrânia, ela agradeceu as puras
homenagens que lhe emprestavam aquelas autoridades em um mundo desconhecido e
só falado por guerra. Após instantes, Olga
foi apresentada à impressa que estava toda inquieta em saber algo que pudesse
espalhar como uma grande surpresa. Repórteres, colunistas, cinegrafistas, TVs e
tantos mais acotovelados para pegar algo inesperado. “A Princesa Nua” era uma peça do século 18 de autor desconhecido,
porém de nascimento ucraniano, certamente. Talvez de Odessa ou outras cidades
como Cracóvia, Donetsk e Mykolaiv. As questões eram várias e a moça, de 30 anos
mantinha-se tranquila com a sanha agressiva dos repórteres. Após meia hora, se
deu por encerrada a palestra da primeira visita de Olga.
Brasileira por nascimento, Olga
Hans teve início nos estudos de piano em escola do Rio Grande do Sul. Com o
tempo, ele migrou para uma Faculdade da Alemanha e, após, percorreu vários
países, como Itália, França, Bélgica, Holanda, Inglaterra Áustria e Estados
Unidos. Pela vez primeira estava, agora, na Ucrânia, pais de seus antepassados.
Um fogo enorme subiu por suas pernas ao sentir a Ucrânia naquele momento. Os
estadistas de ambas as nações se preocuparam em levar Olga para o seu
apartamento de hotel. A moça preferiu ficar hospedada no Radisson Blu, de Kiev.
Hotel de pleno luxo. Em contrapartida,
os pobres de Kiev eram mais pobres do que os do Brasil. A Igreja Católica
ajudava aquela pobreza com a distribuição de alimentos, roupas, calçados nas
horas mornas da noite. Os pobres eram o máximo da pobreza, com vestes rotas,
vestindo camisolões e comendo o que lhe ofertavam na tardia hora em um carro
pequeno modelo Volks no meio da principal rua da cidade.
Logo que entrou em seu
Apartamento, Olga procurou olhar a rua principal da cidade. Era um encantamento.
Um cartaz estrelando Matt Damon. Automóveis estacionados ao longo da avenida.
Um caso à parte: veículos sobre a calçada de pedestre e um homem idoso a
caminhar. Uma cabeça em gesso, decapitada, com certeza, posta ao lado do
calçamento. Provavelmente, de um oficial militar. Mais além uma casa de comida
feita na hora. Indo mais, um cartaz a mostrar os preços das comidas servidas
para qualquer um. De repente, Olga apreciou ao lado e viu uma mulher muito bem
vestida em trajes de cetim, chapéu a cabeça e sapatos vermelhos.
Olga
--- Loucura! - - relatou ao ver
tudo aquilo. E se afastou do saguão.
Uma mulher vestida de negro era
comum em todas as cidades. Porém, Olga teve oportunidade de ver aquele traje
atraente, delicado e soberbo em uma virgem mulher que causou espanto. Buscando
a sala de refeições, Olga logo viu a assistente, moça de 25 anos de nome
Malusha, funcionária do Itamarati. Foi surpresa a presença de Malusha. A moça
informou ser do Itamarati e estava ali para acompanha-la por onde Olga quisesse
ir. Naquele instante era hora de almoço. E se Olga queria ser servida em sua
sala de estar.
Malusha
--- Aqui temos de tudo um pouco.
Você ou a senhora é quem decide. Eu acho por bem fazer as refeições aqui mesmo.
Não? - - quis saber
Olga
--- Deixa eu passar o susto. - -
sorriu Olga com a mão no coração.
Malusha
--- Peço-te desculpas. - - sorriu
por seu lado.
Após algumas horas, Olga preferiu
conhecer a cidade e fez com Malusha um tour em um veículo oficial do Itamarati
visitando a cidade como um todo. Malusha era quem dirigia o veículo e foi
mostrando pelas fachadas os museus, casas de comércio, repartições, catedrais,
mosteiros, parques e monumentos históricos. Para completar, os bosques, trens e
praça. Toda a maravilha Olga pôde se deleitar.
Já era noite quando as moças
retornaram ao hotel. E, Malusha, chamou a atenção de Olga que à noite tinha
ensaio da Orquestra Municipal. Olga confirmou.
Às 9 horas da noite Olga estava
no palco do Teatro, onde cumprimentou o Maestro Irap Orel e os demais membros
do grupo orquestral e falou que a peça, A
Princesa Nua, era uma antiga obra feita, provavelmente, por um músico do século
XVIII e conhecido por Taraz de Odessa pelo que ela já sabia em seus estudos
sobre música erudita. Toda composição ela havia remetido há alguns meses à Kiev
e tudo isso foi aceito, pois o nome de Taraz de Odessa, apesar de ser tão pouco
divulgado, era conhecido de estudiosos de música daqueles tempos. E Olga
vasculhou o baú de coisas antigas, onde encontrou tal preciosidade musical. O
Maestro Irap Orel estava entusiasmado com a descoberta da moça.
Irap
--- Eu desconhecia tal fato.
Quando me mostraram essa obra, eu fiquei surpreso. Fui a fundo para descobrir
tal mistério até que me chegou as mãos pedaços do ensaio. E eu escrevi para a
senhorita quando me chegou a obra por completo. Magnifico, senhora! Magnífico!
- -
Olga
--- Isso. Eu encontrei em um baú
onde se guarda as tralhas do meu avô. E nem estava procurando por essa peça. Eu
mostrei a meu pai e ela nem soube dizer ao certo. Então, eu fiz um ensaio e
ouvi toda a melodia por completo. Aí começou o que está agora aqui. Para os
repórteres, isso é um “furo” de reportagem. Para mim, e um achado brilhante. E
eu decidi divulgar a peça no país de origem. - -
Irap
--- Está bem. Vamos agora juntar
o que você encaminhou e marcar a data da apresentação. A estreia, por assim
dizer. Seria um concerto? - -
Olga
--- É bem provável. - - sorriu
A pianista continuou a conversa
por boa parte do tempo, alegando ter o autor procurado conhecer a tal princesa
de verdade ou apenas fazer uma peça sobre alguém conhecida. É tanto que os
nomes não conferiam com pessoas existentes naquela época, em 1800 e mais. Outro
caso: o autor desapareceu por completo ou talvez nem mesmo ele teve existência
podendo ser um autor plenamente desconhecido do grande ou mesmo do pequeno
pública. Um menestrel desses de rua. Bardo, criador de suas próprias histórias
viajando de cidade em cidade. Olga conhecera um bardo, contador de histórias
viajando de lugar em lugar. Por isso, ela teve em mente saber se Taraz de
Odessa existiu ou não pelas cidades onde passou. Ou se não passou, porque a
vida de um menestrel era sempre deambulando a contar amores eternos.
Irap
--- Eu ouvi muitos desses
cantadores de meio de estrada. Eles faziam poesias, versos, canções sem querer
fazer ao certo. Cantavam, cantavam pela vida a fora. Por isso, temo ser esse um
desses cantadores de estradas. - -
Olga
--- Mas, o menestrel era um homem
entendido em música. Na minha terra, tinha um cantador que fazia histórias
incríveis cantando a doce amada. Eu era menina quando esse bardo passava lá
pela frente de minha casa. Depois, o homem sumiu. Nunca mais eu o vi. - -
Irap
--- Não Europa toda tinham vários
menestréis. Ainda hoje eles perambulam de taberna em taberna. Como assim dizer:
eles são uns loucos esquecidos. - -
Olga
--- Uma noite dessas eu vi um
outro bardo versejando canções enigmáticas. Versos tristes. É verdade.
Irap
--- Interessante. São vários os
artistas esquecidos. Então, vamos à luta. Eu vou estudar o texto de agora em
diante. Por favor, a senhorita leve os seus textos e eu fico com os meus. E
vamos ao ensaio. - -
Olga
--- Certamente. - - sorriu.
Daquele dia em diante a pianista
e o maestro começaram a fazer estudos do enigmático texto, procurando corrigir
algo que não estivesse certo ou levar avante o que estava correto. Olga se
ocupou do dia em diante, ao piano, no AP do hotel ouvindo os acordes que
pudessem ser tão desiguais ou coisa enfim. A cada dia havia encontros dos dois
estudiosos comparando o que se fazia sentido ou não. E foi assim que sucedeu em
definitivo. Olga e Malusha ficaram mais
amigas daquele dia em diante. Apesar de ter um nome estranho, Malusha era
também brasileira e estava a serviço do Itamarati por todo esse tempo.
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