sábado, 11 de março de 2017

A PRINCESA NUA - 01 -

- A PRINCESA -
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COMEÇO

Quase meio-dia e o avião fez pouso no aeroporto de Kiev, capital da Ucrânia. Representantes da Embaixada brasileira estavam no local para receber a notável pianista de cunho internacional a senhorita Olga Hans que, pela vez primeira, visitava a Ucrânia. Por igual, também estavam os representantes do governo ucraniano para prestar as boas vidas a talentosa musa. Olga recebeu os abraços de toda classe diplomática – brasileira e ucraniana – e, mesmo sem falar fluente a língua do país em visita, apesar de ter descendência da Ucrânia, ela agradeceu as puras homenagens que lhe emprestavam aquelas autoridades em um mundo desconhecido e só falado por guerra.  Após instantes, Olga foi apresentada à impressa que estava toda inquieta em saber algo que pudesse espalhar como uma grande surpresa. Repórteres, colunistas, cinegrafistas, TVs e tantos mais acotovelados para pegar algo inesperado. “A Princesa Nua” era uma peça do século 18 de autor desconhecido, porém de nascimento ucraniano, certamente. Talvez de Odessa ou outras cidades como Cracóvia, Donetsk e Mykolaiv. As questões eram várias e a moça, de 30 anos mantinha-se tranquila com a sanha agressiva dos repórteres. Após meia hora, se deu por encerrada a palestra da primeira visita de Olga.
Brasileira por nascimento, Olga Hans teve início nos estudos de piano em escola do Rio Grande do Sul. Com o tempo, ele migrou para uma Faculdade da Alemanha e, após, percorreu vários países, como Itália, França, Bélgica, Holanda, Inglaterra Áustria e Estados Unidos. Pela vez primeira estava, agora, na Ucrânia, pais de seus antepassados. Um fogo enorme subiu por suas pernas ao sentir a Ucrânia naquele momento. Os estadistas de ambas as nações se preocuparam em levar Olga para o seu apartamento de hotel. A moça preferiu ficar hospedada no Radisson Blu, de Kiev. Hotel de pleno luxo.  Em contrapartida, os pobres de Kiev eram mais pobres do que os do Brasil. A Igreja Católica ajudava aquela pobreza com a distribuição de alimentos, roupas, calçados nas horas mornas da noite. Os pobres eram o máximo da pobreza, com vestes rotas, vestindo camisolões e comendo o que lhe ofertavam na tardia hora em um carro pequeno modelo Volks no meio da principal rua da cidade.  
Logo que entrou em seu Apartamento, Olga procurou olhar a rua principal da cidade. Era um encantamento. Um cartaz estrelando Matt Damon. Automóveis estacionados ao longo da avenida. Um caso à parte: veículos sobre a calçada de pedestre e um homem idoso a caminhar. Uma cabeça em gesso, decapitada, com certeza, posta ao lado do calçamento. Provavelmente, de um oficial militar. Mais além uma casa de comida feita na hora. Indo mais, um cartaz a mostrar os preços das comidas servidas para qualquer um. De repente, Olga apreciou ao lado e viu uma mulher muito bem vestida em trajes de cetim, chapéu a cabeça e sapatos vermelhos.
Olga
--- Loucura! - - relatou ao ver tudo aquilo. E se afastou do saguão.
Uma mulher vestida de negro era comum em todas as cidades. Porém, Olga teve oportunidade de ver aquele traje atraente, delicado e soberbo em uma virgem mulher que causou espanto. Buscando a sala de refeições, Olga logo viu a assistente, moça de 25 anos de nome Malusha, funcionária do Itamarati. Foi surpresa a presença de Malusha. A moça informou ser do Itamarati e estava ali para acompanha-la por onde Olga quisesse ir. Naquele instante era hora de almoço. E se Olga queria ser servida em sua sala de estar.
Malusha
--- Aqui temos de tudo um pouco. Você ou a senhora é quem decide. Eu acho por bem fazer as refeições aqui mesmo. Não? - - quis saber
Olga
--- Deixa eu passar o susto. - - sorriu Olga com a mão no coração.
Malusha
--- Peço-te desculpas. - - sorriu por seu lado.  
Após algumas horas, Olga preferiu conhecer a cidade e fez com Malusha um tour em um veículo oficial do Itamarati visitando a cidade como um todo. Malusha era quem dirigia o veículo e foi mostrando pelas fachadas os museus, casas de comércio, repartições, catedrais, mosteiros, parques e monumentos históricos. Para completar, os bosques, trens e praça. Toda a maravilha Olga pôde se deleitar.
Já era noite quando as moças retornaram ao hotel. E, Malusha, chamou a atenção de Olga que à noite tinha ensaio da Orquestra Municipal. Olga confirmou.
Às 9 horas da noite Olga estava no palco do Teatro, onde cumprimentou o Maestro Irap Orel e os demais membros do grupo orquestral e falou que a peça, A Princesa Nua, era uma antiga obra feita, provavelmente, por um músico do século XVIII e conhecido por Taraz de Odessa pelo que ela já sabia em seus estudos sobre música erudita. Toda composição ela havia remetido há alguns meses à Kiev e tudo isso foi aceito, pois o nome de Taraz de Odessa, apesar de ser tão pouco divulgado, era conhecido de estudiosos de música daqueles tempos. E Olga vasculhou o baú de coisas antigas, onde encontrou tal preciosidade musical. O Maestro Irap Orel estava entusiasmado com a descoberta da moça.
Irap
--- Eu desconhecia tal fato. Quando me mostraram essa obra, eu fiquei surpreso. Fui a fundo para descobrir tal mistério até que me chegou as mãos pedaços do ensaio. E eu escrevi para a senhorita quando me chegou a obra por completo. Magnifico, senhora! Magnífico! - -
Olga
--- Isso. Eu encontrei em um baú onde se guarda as tralhas do meu avô. E nem estava procurando por essa peça. Eu mostrei a meu pai e ela nem soube dizer ao certo. Então, eu fiz um ensaio e ouvi toda a melodia por completo. Aí começou o que está agora aqui. Para os repórteres, isso é um “furo” de reportagem. Para mim, e um achado brilhante. E eu decidi divulgar a peça no país de origem. - -
Irap
--- Está bem. Vamos agora juntar o que você encaminhou e marcar a data da apresentação. A estreia, por assim dizer. Seria um concerto? - -
Olga
--- É bem provável. - - sorriu
A pianista continuou a conversa por boa parte do tempo, alegando ter o autor procurado conhecer a tal princesa de verdade ou apenas fazer uma peça sobre alguém conhecida. É tanto que os nomes não conferiam com pessoas existentes naquela época, em 1800 e mais. Outro caso: o autor desapareceu por completo ou talvez nem mesmo ele teve existência podendo ser um autor plenamente desconhecido do grande ou mesmo do pequeno pública. Um menestrel desses de rua. Bardo, criador de suas próprias histórias viajando de cidade em cidade. Olga conhecera um bardo, contador de histórias viajando de lugar em lugar. Por isso, ela teve em mente saber se Taraz de Odessa existiu ou não pelas cidades onde passou. Ou se não passou, porque a vida de um menestrel era sempre deambulando a contar amores eternos.
Irap
--- Eu ouvi muitos desses cantadores de meio de estrada. Eles faziam poesias, versos, canções sem querer fazer ao certo. Cantavam, cantavam pela vida a fora. Por isso, temo ser esse um desses cantadores de estradas. - -
Olga
--- Mas, o menestrel era um homem entendido em música. Na minha terra, tinha um cantador que fazia histórias incríveis cantando a doce amada. Eu era menina quando esse bardo passava lá pela frente de minha casa. Depois, o homem sumiu. Nunca mais eu o vi. - -
Irap
--- Não Europa toda tinham vários menestréis. Ainda hoje eles perambulam de taberna em taberna. Como assim dizer: eles são uns loucos esquecidos. - -
Olga
--- Uma noite dessas eu vi um outro bardo versejando canções enigmáticas. Versos tristes. É verdade.
Irap
--- Interessante. São vários os artistas esquecidos. Então, vamos à luta. Eu vou estudar o texto de agora em diante. Por favor, a senhorita leve os seus textos e eu fico com os meus. E vamos ao ensaio. - -
Olga
--- Certamente. - - sorriu.
Daquele dia em diante a pianista e o maestro começaram a fazer estudos do enigmático texto, procurando corrigir algo que não estivesse certo ou levar avante o que estava correto. Olga se ocupou do dia em diante, ao piano, no AP do hotel ouvindo os acordes que pudessem ser tão desiguais ou coisa enfim. A cada dia havia encontros dos dois estudiosos comparando o que se fazia sentido ou não. E foi assim que sucedeu em definitivo.  Olga e Malusha ficaram mais amigas daquele dia em diante. Apesar de ter um nome estranho, Malusha era também brasileira e estava a serviço do Itamarati por todo esse tempo.


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